Minoru Nagashima esteve em Portugal pela primeira vez em 1998 para ver a EXPO, mas não esteve muito tempo fora daquela a que ele chama «a cidade dos ventos». Desde 1999 que vive na Costa do Castelo e apanha todos os dias o eléctrico 28. Desce no Camões e sobe a Rua da Rosa com o material às costas.
Sim, porque Minoru Nagashima é pintor. Pinta na rua. O mesmo é dizer um repórter de imagens, um gravador de lugares, um caçador de luz. Sim, porque quando a luz perde a força, obscurecida por alguma tempestade ou por um simples aguaceiro, quando a neblina do Tejo empurra e derrota a força da luz, aí o nosso amigo Minoru Nagashima arruma as telas e os pincéis, fecha a caixa, despede-se do Senhor Oliveira (o filósofo que do Quiosque verde tudo observa) e volta para a sua casa na Costa do Castelo.
Mas não pára. Continua a observar com toda a atenção as suas paisagens. Rua D. Pedro V, Elevador da Bica, Senhora do Monte, Calçada de S. Francisco, Jardim de S. Pedro de Alcântara, São Tomé… Sem esquecer o Príncipe Real, o ponto central do seu trabalho.
Agora que está quase a terminar a sua exposição na Livraria Ler Devagar, na Rua da Rosa nº 145, em pleno coração do Bairro Alto, queria com esta pequena crónica fazer uma saudação a um artista discreto, simples e educado que um dia apareceu no Príncipe Real e nunca mais de cá saiu.
Pelo volume e pela importância do seu trabalho de pintor, Minoru Nagashima já faz parte da paisagem. Com a sua intuição chamou este bocado de Lisboa «a cidade dos ventos», mas a verdade é que os velhos daqui sempre chamaram a este espaço «o pai do vento». Ora aí está como um japonês recém-chegado ao Príncipe Real acertou logo com o espírito do lugar.
José do Carmo Francisco
Paisagem, Fernando. Perguntei-te uma vez uma dúvida e nem me ligaste…
Sei que paisagem é um agregado de pagus – demarcações rurais do tempo do império Romano, habitadas por paganus, que além de camponeses eram pagãos – e que o Carlos Magno agregou em condados.
Tem pouco a ver com o landscape que por sua vez vinha da escola holandesa da pintura renascentista, creio, com o correspondente termo em holandês, que não sei escrever de cor.
Mas a pergunta não era essa, mas sim se o verbo ‘pagar’ também não vinha de pagus (e impostos a pagar)… Acho muito provável que os pagãos subjugados pagassem impostos aos senhores.
Se calhar não tem fundamento nenhum, não conheço a etimologia de ‘pagar’, mas lá que faz sentido, faria.
Bem, o comentário saiu algo imperfeito. Claro que os pagãos foram cristianizados mais ou menos à força, desde Constantino e também foram agregados em episcopados. E claro que pagavam impostos aos senhores, condes ou bispos. Depois o CM até instituiu os missi dominici para controlarem os condes e os bispos.
Mas a dúvida sobre o verbo mantém-se, sabendo-se que não havia dúvida sobre os sujeitos.
Obrigado, em qualquer caso.