Liberais

No princípio eram a guarda avançada das ideias mais ilustres das Luzes e da Razão. Tomavam como bandeira a constituição dos direitos, a liberdade dos espíritos e a emancipação dos homens. Contra a cerração do dogma, a injúria do privilégio, o esmagamento do poder absolutista. Antepunham o direito natural ao pedigree.
– Deixai passar, deixai fazer quem faz! – E alguns desembarcaram no Mindelo.
Hoje afadigam-se a virar às avessas este mundo e o outro. Às bestas da natureza, recambiam-nas ao criacionismo, que o mundo todo está na mão de Deus. Porém aos homens reservam a dura selecção darwinista, porque o mundo é uma coutada dos audazes.
Idolatram o dividendo, cultuam bezerros de ouro. Aos que já não derem lucro, facilitam o antigo logradouro da superstição, e da crença no milagre. Dizem que é isso o progresso. E dão como garantido um favorzinho da fome, para nos meter na cabeça o conto do vigário.

Jorge Carvalheira

5 thoughts on “Liberais”

  1. o mundo está muito, muito perigoso e as pessoas muito, muito baralhadas. Leia-se o livro de Francis Wheen, «How Mumbo-Jumbo Conquered The World». Há uma tradução brasileira.

  2. O problema é que não sei por onde pegar para fazer um elogio ou meter no lixo este teu escrito. Um lamento nem sempre está cheio de razão. Foi por isso que se inventou a palavra “choramingas”. Desculpa lá o mau jeito, irmão.

  3. Já o vi escrever deliciosamente melhor.Aqui falta-lhe alma, ou se preferir, garra.
    Sabe o que lhe faz falta, Carvalheira? (não o tome como ofensa). Tirar das entranhas e pôr cá fora o dom que aquele Deus de que falava lhe deu e agarrar numa mulher e amá-la. Repare no que digo: amar e não estar à espera que o amem. Tudo isso você o mostra nos seus escritos, meu caro…

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