No DN de ontem, terça-feira 7 de Fevereiro, saiu um curto depoimento meu sobre a questão do momento. Como entre o ditar o texto ao telefone e a edição final se perde sempre qualquer coisa, eis aqui o texto restituido ao original:
“Ao contrário dos fundamentalistas e do próprio Vaticano, que se pronunciou recentemente sobre o assunto, sou da opinião de que a liberdade de expressão inclui ofender os outros nas suas crenças religiosas, voluntária ou involuntariamente. Vejo com agrado que parece começar a gerar-se entre nós um consenso neste sentido: ainda no ano passado, aquando da morte do papa, este princípio fundamental não tinha feito o seu caminho entre os nossos neoconservadores. Espero que, a longo prazo, estes acontecimentos possam ajudar de alguma forma a aumentar o espaço da liberdade de expressão para todos. Como é natural, a prova dos nove far-se-á quando for fácil caricaturar Maomé do lado de lá e ofender os cristãos do lado de cá.Também nesse momento será mais fácil demarcarmo-nos das espirais de racismo e indignação fácil como as que vivemos actualmente.”
Apesar da imperfeição e da pressa, aqui fica. É até ao momento a minha única tomada de opinião sobre este assunto crucial, assustador, mas fascinante.
Duas notinhas finais:
A primeira para notar que, após diversos dias de tensão com esta polémica, chegou o primeiro momento de alívio cómico sob a forma da ridícula nota do MNE Freitas do Amaral dedicada à questão dos cartunes.
A segunda para dizer que, uma vez que não sou actualmente membro de nenhum blogue de assuntos correntes, nos próximos tempos usarei (muito esporadicamente) a casa emprestada de amigos. Uma dessas casas é aqui a Aspirina, a quem agradeço pela hospitalidade. Outra casa emprestada será a pensão residencial Caravaggio Montecarlo, do João Macdonald, onde faço tenções de deixar um texto mais desenvolvido sobre a questão que nos tem ocupado.
Os bloggers, como as galinhas, cacarejam quando põem um post.
[Rui Tavares]
Já ninguém se entende, uns falam porque são livres e laicos, outros calam-se porque, também eles são livres, outros são condenados por, em liberdade falar e outros dizem que se deve falar sem dizer tudo.
Gostava de ver um cartoon sobre tudo isto.
Este senhor tem “tomadas de posição” sobre o assunto do momento? Porque não mesmo um comunicado, diante das cameras da TV, para nos dar a conhecer os seus elevados pensamentos Presunção e água benta… A propósito, “aquando” é uma forma do verbo aquar (escreve-se quando).
Unreconstructed: desculpe ser eu a ensiná-lo, mas para isso sou – noutros sítios – pago. Aqui estendo o magistério. De borla, veja a sua sorte.
«Aquando de» é português do melhor. Aprenda, homem. Lendo o Rui Tavares, por exemplo.
Eu achei a nota de Freitas do Amaral muito útil e adequada. Assim soubessem outros governos fazer sair notas semelhantes em tempo oportuno.
É claro que a liberdade de expressão inclui a liberdade de ofender religiões. Resta saber se essa ofensa tem alguma consequência positiva e útil.
Venâncio amigo, você é beirão?
Desculpe, Unreconstructed, mas essa do «beirão» escapa-me. Não faço ideia do que, no seu entendimento, possa ter a expressão adverbial «aquando de» com a valorosa província a que alude.
Para saciar a sua curiosidade: não sou. Você está até muito frio.
Corrijo: não é «adverbial» mas «prepositiva».
Sabemos que existe, em português, um «continuum» entre preposições, advérbios e conjunções. Mas não é desculpa.
Diz o Rui Tavares aqui: “Espero que, a longo prazo, estes acontecimentos possam ajudar de alguma forma a aumentar o espaço da liberdade de expressão para todos”
Disse o Daniel Oliveira lá em baixo: “Sou por toda a liberdade de expressão. Mas toda.”
Bem pregam estes são tomazes. Bem jogam com a pequenez de memória de todos nós. É que eu fui por eles censurado no Barnabé. Primeiro, sem aviso, no decurso duma discussão numa caixa de comentários, só me deixavam postar duas linhas (e o castigo durou uns quinze dias…). Depois instituíram no Barnabé a censura prévia, coisa em que nunca alinhei e por isso mesmo nunca me registei. Os que andaram pelo Barnabé devem lembrar-se dessas “cenas”.
Mas meses depois desses vergonhosos episódios estes dois censores praticantes aparecem por aqui como os neo-paladinos da “liberdade de expressão”! Pensam que somos todos neo-cons e desmemorizados? Se sim, comigo enganaram-se. É que eu tenho memória e detesto farsantes!
Ai, para o menino só há liberdade a sério «quando for fácil caricaturar Maomé do lado de lá e ofender os cristãos do lado de cá»? Pois para mim só quando for permitido insultar a sua santa mãezinha…