A liberdade da islamofobia

Como de costume, neste país treslê-se o que se ouve e escreve. Disse no “Expresso” e no “Eixo do Mal” que “dou” aos muçulmanos todo o direito de se indignarem (desde que pacíficamente) da mesma maneira que “dou” aos jornais europeus todo o direito a parodiar Maomé. Dito isto, fui acusado de defender a violência dos muçulmanos (apesar das vezes que repeti que esse protesto só é aceitável se for pacífico) e de defender a limitação da liberdade de expressão (apesar das vezes que repeti a defesa da publicação dos cartoons, de quaisquer cartoons).

O que não aceito é que, só porque alguém usa da sua liberdade de expressão, não possa ser criticado. O que não aceito é que os muçulmanos, se reagem, são fanáticos, mas se os judeus reagem e chamam a meio mundo de anti-semita logo se explique que têm boas razões para isso. O que não aceito é que Cristo e Moisés sejam intocáveis na Europa e Maomé motivo recorrente de galhofa. O que não aceito é que se alguém que não seja judeu mande uma piada sobre judeus seja imediatamente suspeito de simpatias nazis e quem maltrate os muçulmanos apenas esteja a usar da sua liberdade de expressão. O que não aceito é que uma manifestação de muçulmanos seja sempre uma manifestação de “fundamentalistas”, uma manifestação de cristãos seja uma manifestação de “conservadores” e uma manifestação de judeus seja uma manifestação de “judeus”. O que não aceito é que haja “judeus ortodoxos”, “cristãos conservadores” e “islâmicos” (por isso, sempre “ortodoxos” e “conservadores”).

Sou contra a criminalização da liberdade de expressão. Sou contra a criminalização de opiniões homofóbicas, racistas, fascistas, negacionistas do Holocausto. Sou contra a proibição de ofender símbolos nacionais e de os destruir. Sou por toda a liberdade de expressão. Mas toda. E lamento que tantos só se lembrem dela quando se trata dos muçulmanos. Que tantos só se lembrem dos direitos da mulher quando se fala de muçulmanos, só se lembrem da separação entre Estado e Igreja quando se fala de muçulmanos.

Sei apenas o tempo em que vivo. E sei que a islamofobia é um dos maiores perigos que a Europa vive. Defendo a liberdade de todos os islamofóbicos. Mas não estou do lado deles. Como defenderia, nos anos 20 e 30, toda a liberdade aos anti-semitas para falar. Mas estaria na primeira linha contra eles. Infelizmente, faltou então quem se lhes opusesse. Como falta agora quem defenda os muçulmanos do preconceito.

PS: Uma associação islâmica belga está a publicar cartoons anti-semitas e a brincar com o Holocausto. E agora? Com nojo, digo que têm liberdade para isso. Com nojo, nojo, nojo. Espero que me caiam em cima os mesmos que antes, pelo nojo que agora sinto.

193 thoughts on “A liberdade da islamofobia”

  1. Jacobinismo anti-islâmico ?

    Já pensaram os nossos colaboracionistas caseiros com o eixo busho-blairdalhoco, que os jornais dos EU e do Reino Unido não alinharam na provocação blasfema ? Então já não seguem os vossos bem amados líderes ? Logo agora que eles tem razão ? Sim, nem tudo é mau na tradição anglo-saxónica. Eles têm um conceito a que atribuem muito valor, o common sense, que julgam dever temperar todas as posições políticas. E defender “à outrance” a liberdade de expressão, sejam quais forem as ofensas e fossos daí resultantes, tem muito pouco a ver com a sabedoria anglo-saxónica. Releva antes do mais puro jacobinismo “sans culotte”. Quelle horreur !

  2. Leio que o D.O. escreve “Sei apenas o tempo em que vivo”, e fico baralhada. Então não eras tu que lá em baixo, no post com o cartoon do “vermelho” me ameaçavas de me vires a explicar “um destes dias” uma data de coisas?

    Mas aproveito a tua confissão para te lembrar dois artigos da “Declaração Universal dos Direitos do Homem”

    Artigo 18.º
    Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum,
    tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

    Artigo 19.º
    Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e
    difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.
    (http://www.fd.uc.pt/hrc/enciclopedia/onu/textos_onu/dudh.pdf)

  3. Margarida,

    Ainda bem que escreves isso.

    Um dia destes falamos sobre Cuba.
    A nossa agenda começa a ficar cheia.

  4. Daniel
    Não ponho em causa a defesa da liberdade de expressão. O que já considero estranho é que se “compreenda” o direito à indignação quando esse mesmo direito já se transformou numa força de retaliação. só nesse sentido é que a história das bandeiras é importante: quem visse aquilo perceberia claramente qual seria o passo seguinte. ao contrário do que dizes, Cristo e Moisés não são intocáveis: há muito mm que o deixaram de ser Não vale a pena dar exemplos: são muitos, (mesmo sem ir aos “clássicos”), desde a “vida de brian” ao “god knows” de heller, passando por “life from golgotha” de Gore Vidal. Qt à islamofobia, não me parece que seja um problema da sociedade ocidental. Mas isso é outra questão.

    Um abraço
    constança

  5. Só mesmo o Daniel para me fazer voltar a escrever no aspirinaB.

    Falemos pois de Cuba, de uma vez… porque depois disso não tens mais assunto…

    Qual a tua opinião sobre Cuba, a China, a Coreia do Norte e o Vietnam?

    Qual a tua opinião sobre o Marxismo, o Leninismo, o comunismo e a social-democracia?

    Estou a ficar encantado não com as tuas opiniões mas com a tua falta delas…

    E já agora qual a tua opinião sobre o BE e os seus resultados eleitorais?

    Os teus argumentos estão a ficar bem “expresso”s…

  6. Constança,

    Na ficção as paródias com Maomé tb são corriqueiras. Eu falei de jornais portugueses de referência.

    Por exemplo, a imagem de Maomé a espancar um palestiniano, seria pulicada na Alemanha, em França ou na Áustria?

    Um abraço e, já agora, com um vergonhoso atraso, parabéns pelo blogue.
    Daniel

  7. Mas, e para ser justo tenho que reconhecer, o teu post, alarga um bocadinhoos horizontes áqueles que só olham os telejornais…

    O teu anti-pc é que já roça o ridiculo…

    podes pensar sei lá, talvez, psicodrama..

  8. João,

    Uma coisa de cada vez.Sobre os resultados do B já aqui escrevi. Sobre Cuba, ponho aqui um (de 3) textos que escrevi no Expresso. Diz tudo o que quero dizer sobre o assunto:

    “As Ruínas

    AS TRÊS grandes vitórias da revolução cubana? A educação, a saúde e o desporto. Os três grandes fracassos? O pequeno-almoço, o almoço e o jantar. Ouvida em Havana, de onde escrevo, a piada ganha um sabor amargo. Educados e saudáveis, os cubanos estão no entanto condenados à miséria e à frustração. Sitiados na sua própria ilha e massacrados com propaganda e doutrinação permanente, aos cubanos já não parece chegar a memória de uma revolução falhada e o ódio a um inimigo externo. Nas lojas do Estado – em Cuba até as vacas são do Estado – podemos ler pomposas declarações sobre os direitos dos consumidores, só não vemos nada para consumir. O sistema vive de um amontoado de mentiras. Até a economia paralela foi oficializada com a criação de uma segunda moeda (o peso convertível) que, sendo para os turistas, serve, na realidade, para comprar tudo o que falta nas lojas oficiais.

    Das filas para os supermercados, os cubanos podem ver alegres cartazes em que Fidel lhes diz que «todo va bien». Enquanto vêem as suas mulheres prostituírem-se nos hotéis, em troca de um punhado da moeda desejada, os cubanos ouvem, nos três canais estatais, na íntegra, os intermináveis delírios de Fidel, sempre impecavelmente mascarado de guerrilheiro. A revolução cubana, hoje, é isto: um monte de palavras, «T-shirts» para turistas que gostam mais de sonhos do que de pessoas, presos políticos, censura e autismo.

    Basta falar com um jovem cubano para saber que mais uma queda de Castro e tudo se desmoronará. O regime está como Havana, em ruínas. E para a grande maioria dos cubanos mais velhos, gente cheia de dignidade e que ainda se lembra de Batista, virá o que sempre temeram: o desembarque da escumalha do passado, desejosa de receber o seu quinhão num renascido bordel americano. Todas as esperanças desfeitas por um homem que, tendo o povo com ele, pronto para tudo, preferiu a solidão dos tiranos.”

  9. Isto é o que pensas de Cuba.

    Continuo, no entanto, a aconselhar-te o psicodrama.

    A tua análise está correcta se soubermos que olhas para cuba com olhos de social-democrata…

    Um social democrata que acredita em evoluções e não em revoluções…
    porque as revoluções podem colocar em causa os nossos jantares nos melhores restaurantes…

    A miséria que falas de cuba encontra-la em qualquer esquina deste Portugal moderno.

    Abraço, até sempre.

  10. João, você só diz disparates e insulta o povo cubano com a sua insensibilidade. Não há comparação possível entre o Portugal, onde o ordenado médio deve andar pelos 700 dólares, e Cuba em que é 9 dólares ! E um prato com um pouco de frango custa no mínimo 2. E a prostituição em massa das suas filhas , ou as remessas de familiares de Miami, é o que permite às famílias cubanas sobreviverem. Para não falar dos fuzilamentos (17.000 desde 1959) dos presos duranrte 30 anos por delito de opinião. Você é um palhaço estalinista que devia ser pendurado com o Grande Fuzilador SENIL…

  11. os muçulmanos que se defendam do preconceito de se usar Alah para se fazer explodir.

    Se em nome do cristianismo andassem cristãos a fazer o mesmo o mais que eu tinha era de calar se se fizessem cartoons com cristo feito Pierrot le Fou

    A diferença é só esta. Só se torna religiosa uma questão por preconceito de menoridade mental.

  12. Daniel Oliveira disse: “Sou contra a criminalização da liberdade de expressão. Sou contra a criminalização de opiniões homofóbicas, racistas, fascistas, negacionistas do Holocausto. Sou contra a proibição de ofender símbolos nacionais e de os destruir. Sou por toda a liberdade de expressão. Mas toda.”

    É assim mesmo! A liberdade de expressão é como a gravidez: ou sim ou sopas. Não há meio-termo.

    Mas se quiser ver contra que religião é que não há liberdade de expressão nenhuma, veja, por exemplo, aqui. Excerpto:

    *********
    «[…] sur plainte d’une association internationale, la LICRA (Ligue Internationale contre le Racisme et l’Antisémitisme), un tribunal civil français s’est, pour la première fois, arrogé le droit de fixer des limites à la liberté d’interprétation et de commentaire d’un texte biblique. Pour avoir osé écrire “Dieu [… ] ne peut pas nous enfermer dans des obligations folkloriques de circoncision ou de chapeau, ni s’enfermer lui-même dans les problèmes de notre cuisine et de nos temps de prière.” deux honorables disciples d’Ignace de Loyola ont été traînés sur le banc d’infamie, condamnés à une amende, et à revoir leur texte!

    «Le tribunal a estimé que “Le fait de qualifier de folklorique des obligations strictement observées par les Juifs depuis des générations comme étant le signe de leur appartenance à leur religion, ne peut être assimilé à une simple maladresse de style, mais est un manque de respect à l’égard de la religion juive dont les prescriptions essentielles sont ainsi tournées en dérision”.

    «En conséquence, le tribunal a ordonné la suppression du mot “folklorique” dans le passage incriminé par la LICRA. Il est évident que cette interdiction de “tourner en dérision” les us et coutumes de la religion juive est susceptible de s’étendre aux pratiques de toutes les religions. Désormais, les athées devront s’abstenir, à peine de sanctions pénales, de brocarder n’importe quel polichinelle sacralisé des religions qui prospèrent sous le drapeau de notre laicité.»
    *********

    E disse ainda Daniel Oliveira: “Uma associação islâmica belga está a publicar cartoons anti-semitas e a brincar com o Holocausto. E agora? Com nojo, digo que têm liberdade para isso. Com nojo, nojo, nojo. Espero que me caiam em cima os mesmos que antes, pelo nojo que agora sinto.”

    Não tenha tanto nojo e observe de mais perto. Pode ficar surpreendido. Experimente estas sugestões:

    Institute for Historical Review:
    IHR Homepage

    Alguns textos curtos, mas muito informativos (eye-openers, se quiser):
    Short texts

    Informação sobre tópicos concretos:
    IHR Articles”
    Por exemplo, suponha que quer saber como se explicam os montes de corpos em Bergen-Belsen (onde morreu de tifo a Anne Frank, depois de ter estado no campo “de extermínio” de Auschwitz), o que andou a fazer o comandante Kramer nas semanas anteriores à libertaçao etc. Procure primeiro dentro da página com o search do seu browser para a referência no título a “Bergen-Belsen”. Use o search da página apenas depois disso para procurar referências dentro de artigos do site por “Bergen-Belsen”, “Kramer”, “Anne Frank”, outras referências relevantes etc.

    Arquivo de som com entrevistas de grande interesse:
    IHR Sound
    Recomendo, em especial, as entrevistas com Mark Weber e Ingrid Rimland.

    Pode também solicitar uma neswsletter gratuita que lhe é enviada (frequência de 1 ou 2 por semana) com links a artigos e notícias internacionais relevantes.
    *********
    CODOH
    A “original home page” (esquerda) contém uma enorme quantidade de informação. A da direita contém links para artigos mais recentes, páginas pessoais do autor etc.
    *********
    AAARGH francês
    Praticamente todos os textos proibidos em francês e outras línguas. Arquivos Faurisson, Rassinier, os processos, polémicas etc. O “Dictionnaire biographique et thématique” (em cima) funciona muito bem como índice de pesquisa. Na janela inferior direita, tem “La Gazette du golfe et des banlieues” e o “Conseils de révision” com notícias e comentários recentes.
    *********
    HHP
    Pode começar por esta:
    Nonsense
    *********
    Arthur Butz:
    Butz
    Excelentes resumos, a partir da perspectiva global:
    Short introduction
    Context and Perspective
    *********
    David Irving, preso na Áustria:
    Irving
    *********
    Zundelsite, homenagem a Ernst Zündel, preso na Alemanha:
    Zundel
    *********
    Germar Rudolf, autor do relatório Rudolf, preso na Alemanha:
    Rudolf
    *********
    Air Photo Evidence (John Ball)
    Ball

  13. e sim, que se goze com marchinhas de judeus mascarados à holocausto só por causa de um filme, também. Não há nada mais estúpido que andar com pezinhos de lã em questões de paranóias.
    A religião não devia ter nada a ver com elas.

    Quanto á política essa é outra história.

    Se calhar a mais importante… e aí todos negociam porque todos andam ao mesmo- ao negócio

  14. Não resisti a “revisitar” um antigo post do Daniel De oliveira no Barnabé e ler os comentários: tanta virgem ofendida naquela altura. Qtas dessas virgens estarão, neste momento, a proclamar alto e bom som o seu amor à liberdade de expressão?
    Espreitem, vale a pena:
    http://barnabe.weblog.com.pt/arquivo/050990.html
    Ah! E sim, TODAS as sátiras são permitidas!

  15. A começar no título (“As Ruínas”), um reportório dos preconceitos do costume. Com algumas contradições interessantes. Vejamos:

    “Educados e saudáveis, os cubanos estão no entanto condenados à miséria e à frustração”. Educados, saudáveis, miseráveis e frustrados, tudo ao mesmo tempo?

    “Sitiados na sua própria ilha”, será o que acontece a quem está sujeito a um bloqueio, não será?

    “Nas lojas do Estado (…) não vemos nada para consumir” mas há “filas para os supermercados” para comprar nada? E vendem-se vacas nas lojas do Estado?

    “O regime está como Havana, em ruínas”, mas Fidel tem “o povo com ele”? E apesar do bloqueio já alguns bairros de Havana e (doutras capitais de província) já estão impecavelmente remodelados, ou só visitou os que não estão?

    Claro que o mais importante o D. O. não disse: que o país está organizado em 14 regiões, que cada região tem o seu complexo universitário e decide dos seus investimentos económicos e que portanto por lá não há o fenómeno de regiões desertificadas, subdesenvolvidas, que por lá se fez a reforma agrária e que há os mais diversos tipos de estruturas agrícolas e que se algumas vacas são proprietárias de unidades de produção estatais, outras serão de unidades cooperativas e bastantes até serão de agricultores individuais…; que Cuba é dos raros países com soberania alimentar – não propriamente por escolha mas porque nem vacas os USA autorizam que Cuba importe -; que de facto em Cuba a educação, a saúde, o desporto, a cultura e…uma caderneta mínima de subsistência são direitos de todos e cada um dos cubanos, do nascimento à morte.

    Mas tudo isto para o D.O. são peanuts…

  16. Senhor Oliveira, quando passaram no programa mais estupidificante da Sic Notícias (não é coisa fácil)imagens de um protesto de extremistas de direita, foste um típico ditadorzeco relativamente aos manifestantes, aliás como em vários textos (idiotas, como é apanágio)no Expresso (lembro-te aquele comentário ao caso do A.J.Jardim e o comércio chinês). Tu, tolerante? A mim não me enganas, pá. Cheio de histórias do Enver Hoxha ando eu. E para quando uma análise à Albânia da década de 70?
    Relativamente à religião, aqui é que se vê um dos grandes paradoxos dos transgender do Bloco. São (pseudo)tolerantes mas quando é para atacar o sionismo parecem do PNR e o quando é o catolicismo parecem da Maçonaria. Com a agravante, de, no teu caso, fazeres piadas mesquinhas e fáceis. E esses teus tiques e a defesa acintosa do “casamento” homossexual… Valha-nos o facto de desses genes sexualmente molestados não vir mais do mesmo, se assim for. Faz-te um homem, vai-te cultivar e vê se me pões esse Complexo de Édipo para trás das costas.
    Relativamente ao comentário de “moi”: uma vez mais, “busted”.

  17. É possivel ser educado e saudável e frustrado. A frustração vem aliás disso mesmo. Apesar da educação, não futuro.

    Sou ontra o bloqueio, mas não é o bloqueio que os impede de partir. É Fidel.

    Os bairros de Havana que estão restaurados são alguns dos turisticos. Para inglês ver. Afaste-se do centro e conheça Beirute nas caraibas.

    Fidel teve o povo com ele. Já não tem. Sobretudo não tem os jovens.

    O bloqueio é apenas americano. Os europeus exportam e investem em Cuba. O bloquio é péssimo, mas já começa a ter as costas largas. A incompetência de Fidel é tão danosa como o bloqueio.

    Só há filas em supermercados quando há pouco para vender. Quando há muito, geralmente as pessoas não percisam de esperar.

    Margarida, talvez lhe fizesse bem um banho de socialismo real.

    Eu estive em Praga durante e depois do comunismo (até lá vivi depois). Conheço Cuba. conheço a Hungria. Comigo, não precisa de debitar a propaganda. A RDA também era excelente, comiam imensa carne e democracia melhor não havia.

    Engane-se o tempo que quiser. Só lhe garanto que não faltará em Cuba quem queira trocar de lugar consigo.

    Por fim, recordo-lhe que o que escreveu ali (Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.” não tem qualquer aplicação em Cuba. Mas isso são pormenores, não é?

  18. Quando só queremos ver uma realidade tudo é possível até ter educação e não ter futuro, como agora defendes!

    Só mesmo do D.O. dizer que é o Fidel que não os deixa partir. É então o Fidel que tem os vistos que os USA não passam? Apesar dos acordos assinados entre Cuba e os USA, mas que os USA não cumpre?

    No centro, na parte velha de Havana, mesmo ao lado de bairros degradados há bairros restaurados. Aliás o plano de restauração da cidade até ganhou um prémio da UNESCO, já esqueceste?

    Tu dizes que não tem os jovens, eu digo que muitos terá e venha alguém que desempate! Pelo menos reconheces que “Fidel teve o povo com ele”. Já é um avanço…

    O bloqueio é contra todas as empresas de qualquer país que venham a negociar com Cuba. Até o banco suíço que comprou os dólares ao governo cubano foi sancionado. Há alguns governos europeus (e norte e sul-americanos, e africanos e asiáticos) que têm tido “tomates” para fazer acordos com Cuba, mas Cuba não tem liberdade de negociar livremente com qualquer empresa de qualquer país, porque quem o fizer não pode “estabelecer-se” nos USA. O bloqueio existe e até está muito mais refinado e apertado do que quando foi imposto há quarenta e tal anos. Ou nem sequer lês os documentos da EU ou da ONU?

    Afinal os supermercados às vezes até têm muitas coisas para vender? Estou a ficar ainda mais baralhada…

    Banho de capitalismo real apanho eu todos os dias quando vou e regresso para o trabalho, a maior parte das vezes, em pé nos transportes públicos, ou a pé quando eles tardam a aparecer. Já para não falar à noite quando me apetece ir a um cinema e desisto porque no regresso tenho que vir de táxi e a vida não dá para além do bilhete do cinema ter de pagar ao táxi.

    Eu confesso que tenho vivido por cá. Muitos anos com contractos de trabalho a prazo, mais de vinte anos sem médico de família, sempre a contar os tostões, três anos a poupar se quero viajar nas férias, mas não desgosto de todo pois tenho cá a família e os amigos.

    O que escrevi mais em cima são dois artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem. E ambos são aplicados em Cuba. Mas Cuba também aplica as leis sobre a segurança interna que por acaso são iguaizinhas às espanholas e bem mais benignas que as do Patriot Act.

    E não são pormenores, são coisas muito sérias, pois a própria CIA já admitiu um enormíssimo número de operações secretas para sabotar e derrubar o regime. E o plano para “regime change” em Cuba é actualizado todos os anos e é quatro vezes mais extenso que o plano de “ragime change” que fizeram para o Iraque. É mesmo muito sério e devia ser muito preocupante para quem se gaba de ter vivido nos ex-países socialistas e devia ter o sentido crítico para ao menos reconhecer que para os trabalhadores e a generalidade da população a vida “antes” era de facto melhor.

  19. Margarida

    Em Cuba a censura é completa e não há qualquer liberdade de imprensa.

    “Banho de capitalismo real apanho eu todos os dias quando vou e regresso para o trabalho, a maior parte das vezes, em pé nos transportes públicos, ou a pé quando eles tardam a aparecer. Já para não falar à noite quando me apetece ir a um cinema e desisto porque no regresso tenho que vir de táxi e a vida não dá para além do bilhete do cinema ter de pagar ao táxi.

    Eu confesso que tenho vivido por cá. Muitos anos com contractos de trabalho a prazo, mais de vinte anos sem médico de família, sempre a contar os tostões, três anos a poupar se quero viajar nas férias, mas não desgosto de todo pois tenho cá a família e os amigos.”

    Tenta apanhar um autocarro em Havana. Não podias ter escolhido pior exemplo.

    Todos os tostões que contes são bem mais dos que tostões que um médico cubano tenha para contar.

    Viajar é um sonho a que nem sequer se dão ao luxo. Não é verdade que a saida para a Europa dependa de vistos americanos.

    De facto, as pessoas acreditam no que querem acreditar.

  20. Já agora,

    é verdade que digo que Fidel não tem o povo com ele e tu dizes que sim. Só eleições livres poderiam esclarecer qual de nós os dois tem razão. Só que não há disso em Cuba, pois não?

  21. Cuba é um paraiso. Porque é que não vais viver para lá, ó Daniel. Atenção: para o meio do povo e não para as zonas de luxo !

  22. pois, o problema e: os judeus não destroem as embaixadas dos outros países nem amaeçam raptar e matar os seus habitantes… Cristo e Moisés não são intocáveis (presumo que viva neste mundo e leia jornais e vá ao cinema…)… o que está em causa não é ser simpatizante nazi… ou anti muçulmano, mas sim a resposta (democrática e civilizada, pois claro…) de inúmeros muçulmanos, a destruirem embaixadas, centros culturais e a ameçar de morte tudo o que seja Dinamarquês, Francês… Europeu em geral.
    os cartoons até poderão ser de mau gosto (alguns estão bem conseguidos, por sinal…), mas de mau gosto mesmo é o seu relativismo, que ainda não percebeu que só pode escrever este tipo de textos porque vive num Mundo que lhe dá a liberdade para tal, sem ser perseguido.
    Vai trabalhar malandro

  23. Por tudo e por nada o Euroliberal justifica o injustificável e desculpa o indesculpável. Está sempre a destilar veneno contra os judeus. Dá-me a impressão que fica contente de cada vez que morrem judeus em atentados. Nunca li nada dele a condenar os terroristas palestinianos, nem os atentados. Portanto, se lhe dessem as condições, penso que seria capaz de ir mais longe. Já disse em palavras o que fará em actos, se tiver oportunidade. Mas vem logo gritar contra as acções militares do Estado de Israel. Sendo assim, está com os monstros que colocam bombas nos autocarros repletos de crianças judias. Qual é a diferença entre esses autocarros a arderem com gente lá dentro e os fornos crematórios de Hitler? Nenhuma diferença!

  24. Chama-me malandro. Acha que essa é a reacção “democrática e civilizada” a uma diferença de opinião? Não é pois não?

  25. Qual o significado de escreveres 2 vezes, ó Daniel ?

    O que tu dizes é fumo. Num vi o Bloco dizer mal do regime de Cuba !

  26. Fui eu e digo o mesmo sobre Maomé. Relê lá o meu post aqui. Mas também me lembro da reacção de muita gente a esse meu post. Reacção livre e que ficou publicada e escrita. A de muita gente que, aliás, agora chora pela liberdade da blasfémia.

  27. ai, ficou ofendido porque lhe chamei malandro! espero que não se ache no direito de me queimar a casa… como acredito que não és ignorante de todo e já leste um pouco de história, penso que não és só malandro mas também um aldrabão populista. Já agora, porque não vais para um desses paraísos escrever os teus blogues? ah, não deixam?, pois…

  28. Publica os cartoons! Vê lá se tens coragem. Põe-os todos aqui. Há vários blogs a publicá-los. Tens medo ?

  29. “”dou” aos muçulmanos todo o direito de se indignarem” é igual a “Cristo não é familiar ou amigo de ninguém aqui. É uma personagem histórica. Pode ser gozada, sem que isso tenha de ofender ninguém.”

    Só se indignam os ofendidos, não? Porém, nas tuas palavras, mutatis mutandis, Maomé não é familiar ou amigo de ninguém aqui. É uma personagem histórica. Pode ser gozada, sem que isso tenha de ofender ninguém. Ou não?

  30. Medo, só vejo medo! Conversa fiada dos cobardes.
    E se lesses bem as notícias já sabias que as imagens que estão a aparecer nos países muçulmanos mostram o Maomé em actos sexuais. Foram feitas pelos próprios extremistas para incendiarem os ânimos!

  31. Relidas as suas afirmações no Aspirina B e devo afirmar que corrijo a interpretação anterior que tinha da sua argumentação/pensamento resultante da sua exposição na SIC Notícias.

    Somos uma nação pobre (estéril) e castrada (infecunda) … somos um povo descaracterizado, humilhado e cobarde cujos ídolos são uns, alguns de nós, a correr atrás de uma bola num campo relvado.

    “Eis aonde se chega na estrada do politicamente correcto: a intolerância religiosa não é de quem quer proibir os “cartoons”, mas de quem os publica.”

    http://sal-portugal.blogspot.com/
    JAC – Sal de Portugal

  32. Dizes que a “censura é completa” e que “não há qualquer liberdade de imprensa.” Deve-te ter escapado o artigo desta semana do Mário Bettencourt Resende sobre a imprensa nos USA. Aconselho-te a leitura. Aliás, basta pensar um pouco na nossa imprensa para ver a favor de quem por cá há “liberdade de imprensa”…
    “Tenta apanhar um autocarro em Havana.” Mas quem te disse que não apanhei? Aliás há alguém que não conheça a “frota” automóvel e rodoviária de Cuba? Já para não falar das bicicletas, motorizadas, motas, charrettes, etc. de tudo que por lá se movimenta com duas, três, quatro rodas, sem faróis, barulhentos e poluidores? Claro que se não fossem os brasileiros que para lá vendem autocarros de turismo, nem esta indústria se conseguia por lá desenvolver…mas só mesmo tu podias achar que eu viesse aqui defender o sistema de transportes cubano. E tanto quanto sei nem a Ford escapa ao bloqueio..
    Cada um de nós tem prioridades nos gastos, pelo menos os médicos, professores, empregados, agricultores, estudantes, reformados cubanos não têm que optar entre comprar os remédios, ou ir ao médico e comprar o leite e o pão do mês…
    Viajar é de facto um sonho, mas não poder visitar todos os anos a família é um pesadelo. Imagina só se o governo francês impusesse aos nossos emigrantes que vêm cá todos os anos nas férias (e ás vezes também no Natal) as restrições que o governo dos USA impuseram aos emigrantes cubanos, que agora, só de três em três anos podem visitar os familiares na Ilha?
    E sabes, governar implica opções e governar sob um bloqueio implica especiais restrições. É que a opção do governo cubano em manter abertas todas as escolas e todas as camas hospitalares depois da “queda do muro” e até em desenvolver outras questões sociais custa dinheiro e exige investimentos. Não se pode ter tudo, há prioridades e a abertura de viagens ao estrangeiro não é uma prioridade em nenhum país sujeito ao bloqueio. E tanto quanto sei na Europa há cada vez mais restrições à emigração.
    Há eleições livres em Cuba todos os cinco anos. Que elegem vereadores, Assembleias Municipais, Assembleias Regionais e a Assembleia Nacional. E são os eleitos que depois elegem os governos regionais e o governo nacional. É tanto quanto percebo um sistema complexo, mas não haverá dois sistemas iguais pois não? E nalguns países até há sistemas monárquicos, alguns até absolutistas, como no Nepal…

  33. Ainda sobre o post original:
    É legítimo elaborar cartoons por mais estapafúrdios que estes sejam, é legitimo queimar bandeiras (desde que sejam os proprietários a fazê-lo), já não me parece legítimo queimar embaixadas visto que se trata de destruir património alheio.

    Não me identifico com movimentos xenófobos que parecem estar a tirar proveito da situação, nomeadamente radicais Islâmicos, extrema direita dinamarquesa e restantes religiões que viram aqui uma bela oportunidade para questionar a laicidade do Estado.

    Não me agrada a posição hipócrita dos E.U.A., agora mostram-se compreensivos mas foram eles que puseram em prática a confusão entre o mundo árabe e terrorismo, foram eles que assassinaram imensos inocentes para poderem controlar mais uma zona estratégica petrolífera.

    Acho que o Islão tem no mínimo as prioridades trocadas, desconheço manifestações deste volume em protesto à situação em guantanamo, no entanto quando o Corão vai para a retrete e se fazem cartoons do profeta é o fim do mundo. Estão claramente mais ligados aos símbolos, aos ícones do que ligados solidariamente entre si enquanto seres humanos.

    Acho obviamente que os cartoons estão sujeitos a críticas, é isso mesmo liberdade de expressão.

    Quanto ao cartoon de Maomé com uma bomba na cabeça, eu interpreto, e tenho esse direito, como uma visão crítica da interpretação que o Islão faz do seu Deus. No entanto não sou xenófobo nem faço confusões do todo com a parte.

  34. Havana. 1 Fevereiro de 2006
    EUA retira licença a uma agência de viagens a Cuba
    POR NAVIL GARCÍA ALFONSO — do Granma Internacional
    A estrita vigilância que o governo dos EUA mantém sobre o cumprimento das restrições contra Cuba se radicalizou com a retirada da licença a uma agência sediada na Flórida, encarregada de organizar viagens à Ilha.
    Segundo o porta-voz do Gabinete de Controle de Bens Estrangeiros (OFAC), Molly Millenvise, estes controles visam fortalecer as disposições do OFAC para o cumprimento do programa de medidas contra Cuba.
    Desde 2004 a administração Bush decretou o tempo mínimo de três anos entre uma e outra visita dos cubano-americanos residentes nos Estados Unidos a Cuba. Esta medida afeta uma das agências que mais viagens negociava é ainda mais a familiares e turistas com destino à Ilha.
    Por ser a primeira vez que a OFAC retira uma das licenças se cria uma grande expectativa, pois segundo foi anunciado por esse escritório, realizará 25 auditorias similares a cada ano. Tamanha previsão põe em alerta 250 agências que em todo o território norte-americano enviam pessoas a Cuba.
    O controle das atividades que suponham qualquer interação com Cuba é ponto permanente na agenda da Casa Branca. Quanto às restrições das viagens, o governo norte-americano arrecadou, em 2004, mais de US$ 1,5 milhão em multas a cidadãos norte-americanos por viajarem a Cuba sem autorização do Tesouro. Cada sanção significa US$ 7.500 por pessoa. Isto sem contar as outras limitações para aqueles que conseguirem o visto especial, como são a proibição de levar consigo, de retorno ao território norte-americano, qualquer bem adquirido em Cuba, segundo consta no texto das medidas restritivas.
    Também não podem gastar mais de US$ 50 diários nem consumir rum nem charutos cubanos durante a estada na Ilha.
    O OFAC retirou a licença à agência Estrela de Cuba, alegando irregularidades na entrega de autorizações para viajar por motivos religiosos. Nos últimos tempos, segundo alguns meios de imprensa da Flórida, o índice de salvo-condutos outorgados pelo Departamento do Tesouro se inclina para as licenças especiais aos religiosos.
    O congressista do estado da Flórida, Lincoln Díaz-Balart, um dos inimigos mais ferrenhos de Cuba, tem utilizado sua influência política e aproximação ao governo para denunciar as “supostas viagens de santeiros que o que realmente perseguem é uma viagem turística”. Outros membros de bandos contra-revolucionários de Miami têm enviado cartas e inclusive se reuniram com funcionários do OFAC para que mantenham a política de mão dura.
    Ileana Ros-Lethinen, também congressista de origem cubana, apóia a posição de Díaz-Balart, conhecido por suas atividades na Câmara para promover e fortalecer sanções contra Cuba.
    Contudo, enquetes realizadas afirmam que a maioria dos cubanos residentes nos EUA são contra as regulamentações que cada dia afastam mais os familiares de ambos os países.
    A tarefa do OFAC afeta aproximadamente 10 mil pessoas que buscam alternativas para viajar, desde que Washington estabeleceu as proibições.
    Várias organizações que tentam acabar com o bloqueio norte-americano contra Cuba como é o caso de Pastores pela Paz e a Brigada Venceremos, são controladas também pelo OFAC, na busca de pretextos para impedir o direito dos cidadãos norte-americanos a viajarem livremente. Aproximadamente 200 membros desses grupos progressistas foram notificados e devem prestar conta ante o Departamento do Tesouro sobre suas últimas saídas do país.

  35. Havana. 3 Fevereiro de 2006

    Médicos cubanos partem para zonas inundadas da Bolívia

    SANTA CRUZ, BOLÍVIA, 3 de fevereiro (PL).– Os integrantes da brigada médica cubana que chegou à Bolívia para ajudar os danificadas pelas inundações, partiram hoje para as zonas atingidas e iniciar seus trabalhos.

    Assim foi informado por Prensa Latina, por Daniel Posadas, chefe do grupo, a tempo de precisar que os 140 profissionais serão destinados a 47 povoados do departamento de Santa Cruz.

    A cada uma das comunidades chegaram pelo menos dois médicos e se formaram grupos maiores para as localidades mais povoadas.

    Explicou também que cada um dos brigadistas levará consigo duas mochilas com 13 quilos de medicamentos e material de trabalho, destacando a acolhida dispensada pelos bolivianos.

    Os profissionais cubanos chegaram ontem a esta cidade do oriente boliviano, com o embaixador de Cuba na Bolívia, Luis Felipe Vázquez e foram recebidos pela vice-ministra de Relações Econômicas Internacionais, Maria Luisa Ramos e pelo vereador de Santa Cruz, Oswaldo Peredo, do partido do governo, Movimento ao Socialismo (MAS).

    O embaixador se entrevistou depois, com o presidente Evo Morales, e lhe entregou uma doação do governo cubano de US$ 100 mil.

    O chefe de Estado agradeceu emocionado ao presidente Fidel Castro e ao povo de Cuba, e o prefeito de Santa Cruz, Rubén Costas, declarou-se emocionado pela ajuda e pediu ao diplomata que transmitisse a seu governo o agradecimento dos santa-cruzenses.

    Durante as boas-vindas aos médicos, no aeroporto de Santa Cruz, o vereador Peredo, irmão mais jovem dos legendários Inti e Coco, combatentes da guerrilha do comandante Ernesto Che Guevara, manifestou seu agradecimento pela solidariedade cubana, em sua qualidade de “bolivariano e guevariano”.

    O embaixador Vázquez, de sua parte, assinalou que os médicos cubanos têm ampla experiência pois, atuaram no Paquistão, na Venezuela, na Guatemala, em El Salvador, no Haiti e em outros países. Informou também que eles trouxeram 20 hospitais de campanha prontos para serem instalados onde for necessário.

  36. Quanto à questão de publicar ou não os cartoons neste blog: defender a liberdade de publicação dos cartoons não significa defender esses cartoons.
    Eu acho que os cartoons devem ser publicados em blogues que concordem com eles, com a sua mensagem. Quem não gosta ou não concorda com eles pode defender o direito à sua publicação mas não deve publicá-los, não faz sentido.

  37. Estou em completa e total sintonia com o amigo Daniel.
    Já toda a gente opinou em público neste país; Escutei opiniões doutas e sapientes, opiniões da ralé de pé descalço e, claro, tomei notas.
    Estou a referir-me concretamente ao problema dos cartoons “ofensivos” à Nação do Islão.
    Na minha modesta opinião, nós Ocidentais temos o mau costume de medir os conceitos da virtude e da ignomínia do mundo pelos nossos próprios conceitos, o que a meu ver é tão ou mais intolerante que tudo o resto.
    Se alguma cultura tem a “ousadia” de pensar de modo diferente, está “feita ao bife” connosco: Selvagens, bandalhos etc…, são apelidados de tudo a mais umas botas! Mas que arrogância do caraças!
    O Islão é conservador a roçar o reaccionarismo no que ao conceito religioso diz respeito segundo os nossos olhos Ocidentais? Se calhar é! Mas isso dá-nos o direito de os ofender maliciosamente como fizeram esses “jornalistas”? Não dá! A nossa tão apregoada liberdade deve sempre PARAR ONDE A DOS OUTROS COMEÇA!
    Que diriam os Judeus se os Árabes fizessem um cartoon com a Tora a servir de vibrador a um rabi?
    Ou o que diria o Ocidente Católico se eles fizessem um cartoon com Jesus Cristo a posar para a Playboy?

    A verdade é que anda por aí muita gente interessada em acirrar os ânimos contra os povos do Médio Oriente, e nós, se não formos todos uma cambada de parvos, até sabemos quem são eles.

    Bom Domingo para todos, com o meu @bração, e tenhamos juízo, que para problemas já bem bastam os que bastam.
    Zecatelhado

  38. Estou em completa e total sintonia com o amigo Daniel.
    Já toda a gente opinou em público neste país; Escutei opiniões doutas e sapientes, opiniões da ralé de pé descalço e, claro, tomei notas.
    Estou a referir-me concretamente ao problema dos cartoons “ofensivos” à Nação do Islão.
    Na minha modesta opinião, nós Ocidentais temos o mau costume de medir os conceitos da virtude e da ignomínia do mundo pelos nossos próprios conceitos, o que a meu ver é tão ou mais intolerante que tudo o resto.
    Se alguma cultura tem a “ousadia” de pensar de modo diferente, está “feita ao bife” connosco: Selvagens, bandalhos etc…, são apelidados de tudo a mais umas botas! Mas que arrogância do caraças!
    O Islão é conservador a roçar o reaccionarismo no que ao conceito religioso diz respeito segundo os nossos olhos Ocidentais? Se calhar é! Mas isso dá-nos o direito de os ofender maliciosamente como fizeram esses “jornalistas”? Não dá! A nossa tão apregoada liberdade deve sempre PARAR ONDE A DOS OUTROS COMEÇA!
    Que diriam os Judeus se os Árabes fizessem um cartoon com a Tora a servir de vibrador a um rabi?
    Ou o que diria o Ocidente Católico se eles fizessem um cartoon com Jesus Cristo a posar para a Playboy?

    A verdade é que anda por aí muita gente interessada em acirrar os ânimos contra os povos do Médio Oriente, e nós, se não formos todos uma cambada de parvos, até sabemos quem são eles.

    Bom Domingo para todos, com o meu @bração, e tenhamos juízo, que para problemas já bem bastam os que bastam.
    Zecatelhado

  39. Daniel para alem dos teus inimigos de estimação, que não perdem uma para te cascar, e de um outro comentário mais sério, este debate sobre as caricaturas de Maomé, deveria ser visto á luz da batalha que se tem travado nos últimos anos, entre o racionalismo, e o fanatismo religioso.

    Depois das ilusões que todos tivemos de construir um mundo novo, muitos países de religião miçulmana foram governados por aquilo que se chamou socialismo arabe.

    Ideias mal aprendidas e pior postas em pratica, conduziram á corrupção ao desemprego, á revolta de uma população que via neses estrangeirados LAICOS a fonte de todos os males.

    È nessa brecha que penetram os religiosos, que se munidos do ALCORÂO e interpretando-o á sua maneira apontaram o Ocidente como o grande Satã o grande causador da estagnação da nação arabe, apelando aquilo que eles chamavam o retorno aos valores da tradição.

    A forma como o conflito israelo-arabe foi conduzido sobretudo por europeus e pelos EUA só acirrou o ódio, tudo era permitido a Israel em nome da sua defesa, tudo era condenado aos palestinos.

    A forma como os EUA lidaram com o problema do Afeganistão, do Iraque , as ameaças que pairam em cima da Siria e do Irão, são benesses para os fanaticos muçulmanos deitarem achas para a fogueira.

    Estou de acordo contigo, que fanáticos são fanáticos, o Bush diz-se ungido de Deus , seja lá o que isso fôr, e está em luta contra o inpério do mal, os fanáticos judeus querem o Grande Israel e se pudessem fariam uma total limpeza étnica dos palestinos, O Vaticano esse centro mundial do obscurantismo, e do reino das trevas, tenta controlar a vida de todos os cidadãos nos paises onde governantes cobardes se sujeitam aos seus ditames.

    Como dizia o Marx a religião continua a ser o ópio do povo.

    Lutar contra todas as ideias que defendam a intolerância, exigir o respeito pelo outro, e sobretudo defender a LIBERDADE, é a nossa tarefa do dia a dia.

    Brincar com crenças pode ser de mau gosto, e até repugnante, mas nada justifica que se possa apelar á censura.

    PS Margarida e João CUBA e a Coreia Do Norte são duas ditaduras, tenho a certeza que o PCP não defende hoje esses modelos para Portugal, ou estarei enganado…..

  40. “…o que a meu ver é tão ou mais intolerante que tudo o resto.”

    É verdade que somos intolerantes, demais até, agora tão ou mais que tudo o resto é que já me parece algo exagerado. É nestas coisas que eu não me identifico com a extrema esquerda, mesmo sendo eu de extrema esquerda.

  41. Desisto Daniel. Por mim acabou… que o teu sectarismo te faça muito feliz… No futuro talvez nos tornemos a ver… Continua a maravolhar-te com o teu umbigo.

    Quanto a mim, não mais comentarei os teus posts…

    Fica bem com os comentários do José Tim e companhia… eu, por mim não te faço nem mais um…

    Combate cuba até não poderes mais. Tenta por todos os meios combater o pc. Alia-te ao ps e arranja um emprego no psd ou nos empresários que o sustentam. Janta nos melhores restaurantes lisboetas e apela ao voto dos operários… (mas eles já não vão na tua conversa.)

    Abraço
    João

  42. Factos:
    A Agência Internacional de Energia Atómica remeteu para o Conselho de Segurança da ONU a análise do programa nuclear iraniano. Como retaliação, o Irão suspendeu unilateralmente o TNP (Tratado de Não Proliferação). Final da estória: o chefe da AIEA a fazer uma declaração não para explicar o sucedido, mas para justificar-se perante o Irão a opção tomada;

    Uns cartoonistas dinamarqueses, de um jornal tablóide lá do sítio, publicaram em Setembro umas caricaturas do profeta Maomé. Passados quatro meses, uma onda de protesto assola as virgens ofendidas muçulmanas, com destruição de embaixadas, queima de bandeiras, etc….Final da estória: As autoridades europeias vêm a público defender, não a liberdade de imprensa, mas o direito à indignação dos muçulmanos. (Os mesmos que aquando de Londres e Madrid nos pediram para não confudir o terrorismo islâmico e o islamismo…). Por outro lado, o Grande Ayatollah Ali al-Sistani, o líder do clérigo iraniano, condenou ontem as caricaturas e a «acção horrenda» dos jornais ocidentais. (Nota – este último período foi a concretização de um sonho há muito adiado: ter neste estaminé a presença de um Grande Ayatollah…dá logo outra seriedade à coisa);

    Conclusões:
    Ó meus amigos líderes europeus, se quereis ser serventis perante o poder do petróleo, façam muito bom proveito. Agora que eu – e mais uns milhões de gatos e gatas pingados – defendemos que a liberdade de imprensa é um pilar da nossa civilização, e que o Tratado de Não Proliferação Nuclear é uma das (poucas) boas coisas que V.exas se lembraram , é um facto que não podeis negar. Entendido?

    Ó meus amigos líderes muçulmanos, aprendei de uma vez por todas que eu prefiro – e mais uns milhões de gatos e gatas pingados – que façam uma caricatura do deus que a maioria da Europa segue, do que ter de receber um telefonema a meio de uma manhã qualquer a dizer que um familiar, amigo, colega ou filho ficou esfrangalhado no metro ou no comboio só porque cometeu o pecado capital de ir trabalhar…E nós, também estamos entendidos?
    Carlos Malmoro

  43. Pacheco: sabe perfeitamente que o regime que o PCP defende é o que está consignado na Constituição da República Portuguesa que é diferente
    dos regimes consignados nas constituições cubana e coreana. Mas não era isto que estava em discussão com o D.O.

  44. Caro João,

    Desculpa se para te parecer de esquerda devo defender uma ditadura. Já o disse várias vezes: entre um tipo de direita, democrata, e Fidel, escolho o primeiro. Estranhas? Eu não estranho que tu estranhes. Prioridades.

  45. Liga Árabe Europeia responde com desenhos anti-semitas

    A organização Liga Árabe Europeia reagiu às caricaturas do profeta Maomé com a publicação, via Internet, de desenhos anti-semitas, que, considera o movimento, «romperá com muitos tabus na Europa». A iniciativa faz parte de uma «campanha» lançada na sexta- feira, dia em que anunciou a «publicação sistemática de desenhos atrevidos» para «romper tabus e cruzar todas as linhas vermelhas», numa referência às caricaturas de Maomé.

    Na sua página na Internet, a organização publica um desenho de Hitler deitado na cama com Anne Frank, um símbolo judaico do Holocausto, e uma segunda imagem que questiona o extermínio de judeus.

    «Depois da lição que árabes e muçulmanos receberam dos europeus sobre liberdade de expressão e tolerância e depois de muitos diários europeus voltarem a publicar as caricaturas dinamarquesas do profeta Maomé, a Liga decidiu entrar no negócio das imagens e fazer uso do seu direito à expressão artística», refere a organização.

    «Tal como os diários europeus asseguram que apenas querem defender a liberdade de expressão e estigmatizar os muçulmanos, nós também destacamos que os nossos desenhos não pretendem ser uma ofensa a ninguém e não devem ser encarados como uma declaração contra nenhum grupo, comunidade ou acontecimento histórico», acrescenta.

  46. Margarida eu que sempre condenei as ditaduras de Salazar e Caetano, e as chapeladas que eram as eleições feitas nesse tempo, só posso dizer que quando houver eleições LIVRES em Cuba e na Coreia do Norte então esses paises poderão ser considerados democracia, até lá são ditaduras em que prevalece a opinião do partido único.

  47. Liga Árabe Europeia responde com desenhos anti-semitas!?
    Qual é a URL?
    Também quero ver (para me inspirar.
    Para já depois da alusão ao tio Adolfo na cama com a sobrinha já estou a imaginar o Maomé na cama com o Buda.
    Será iconoclasta?
    Demos graças a Marx e a Freud nossos pais.

  48. Daniel Oliveira escreve sobre liberdade de expressão, cartoons e islamofobia europeia a propósito de “tresleituras” do que escreveu no Expresso ou disse no Eixo do Mal. O seu texto é tão paradigmático de uma esquerda “amiga de seus próprios coveiros”, segundo a expressão de Milan Kundera, quanto, e precisamente por isso, de crítica fácil e óbvia.

    Quando D.O. diz que não aceita que só porque alguém usa da sua liberdade de expressão, não possa ser criticado defende o seu enquadramento (e não vale a pena negar que ele tentou este enquadramento) das críticas islâmicas aos cartoons dinamarqueses ao mesmo nível que estes últimos. Primeiro, os cartoons são cartoons, não são ameaças de morte, nem incitamentos ao assassinato ou declarações de guerra religiosa, tão pouco são ataques a edificíos religiosos, embaixadas, etc. Segundo, os cartoons dinamarqueses são publicados por um jornal privado em um país europeu, enquanto as críticas islamistas são feitas pela comunidade muçulmana por todo o mundo, de forma popular e institucional, e são feitas, muitas vezes em tom de grave ameaça, contra países inteiros senão mesmo contra todo o Ocidente.

    Depois diz: O que não aceito é que os muçulmanos, se reagem, são fanáticos, mas se os judeus reagem e chamam a meio mundo de anti-semita logo se explique que têm boas razões para isso. Falar dos judeus aqui é absurdo e, pelo menos, suspeito. Não se conhece nenhuma reacção das comunidades judias se quer comparável ao que está ocorrendo agora a propósito de qualquer “cartoons anti-semitas”.

    O que não aceito é que Cristo e Moisés sejam intocáveis na Europa e Maomé motivo recorrente de galhofa. Outra vez: D.O. recorre ao absurdo e a mentira. Constança Cunha e Sá dá os exemplos mais óbvios em comentário ao próprio post no Apirina B, e Vasco Pulido Valente a completa.

    Em seguida D.O. realiza uma declaração, delocalizadamente quixotesca, de príncipios em favor da liberdade de expressão, para dizer: sei que a islamofobia é um dos maiores perigos que a Europa vive. O que esta crise toda eventualmente serve para comparar é, precisamente, o grau de islamofóbica que é Europa agora mesmo, comparativamente ao grau de antiocidental que é o Islão actual. Queira ou não D.O. o resultado da comparação é claro.

    Depois, finalmente ou quase, D.O. se transforma em último guardião dos direitos humanos e nos reserva a todos os demais o estatuto de colaboradores nazis, activos ou passivos. Como defenderia, nos anos 20 e 30, toda a liberdade aos anti-semitas para falar. Mas estaria na primeira linha contra eles. Infelizmente, faltou então quem se lhes opusesse. Como falta agora quem defenda os muçulmanos do preconceito. Em primeiro lugar não tenho tão claro como D.O. o direito de liberdade de expressão de autênticos islamofóbicos, anti-semitas, anti-ocidentais, ou quaisquer outros. Incitações ao ódio, violentas, puras e explícitas podem perfeitamente não ser abarcadas no conceito de liberdade de expressão de uma sociedade democrática, e sempre na medida em que esta, querendo preservar-se como democrática, creia que proibir a liberdade de expressão de anti-democratas a coloca menos em risco que, permitindo-a. E, por outro lado, os cartoons sobre Maomé não podem ser consideradas incitações explícitas ou violentas ao ódio anti-islâmico. Tal como um preservativo no nariz do Papa tão pouco o é. O discurso nazi dos anos 20 e 30 esse sim estava plegado de infinitas incitações ao ódio, violentas e explícitas até a exaustão. É absurdo querer comparar uma coisa com a outra. O que talvez não seja tão absurdo é comparar o ódio contra Ocidente nos discursos dos imanes radicais do mundo muçulmano com o discurso da propaganda hitleriana contra o sionismo. Pode que não seja de todo uma coincidência que desde Irão se afirme, neste exacto momento, dúvidas sobre a existência do Holocausto. Como diz Vasco Pulido Valente: Daniel Oliveira que pense bem.

    O que é curioso no texto de D.O. é a defesa, defesa pouco hábil e sólida mas ainda assim uma defesa, que ele realiza de um tipo de visão do mundo que vai precisamente em contra do que o seu discurso é. Um discurso que precisamente na blogosfera o tornou conhecido pela sua imediatez, pelo uso da caricatura, do tudo vale, no ataque de idéias eventualmente pré-concebidas. Um exemplo explícito de uma herança fundamental da cultura ocidental, a do bobo da corte, o único que possuía o direito de ridicularizar até mesmo o rei. Este elogio do bobo da corte, tal como se entende no mundo Ocidental, se formou tardiamente em Europa, principalmente com o Iluminismo, em França com Voltaire e Diderot, e o Oriente seja ele Médio ou Extremo não o conhecem e nunca chegaram a incorporar, nem mesmo por empréstimo do Ocidente, em suas visões do mundo. Quando Salman Rushdie se defendia da fatwa de Komeini pelo seu livro “Versículos Satânicos” utilizou este bobo da corte, como uma reinvidicação dos romancistas e artistas em geral. Reinvindicou a imunidade do bobo da corte, este herói intelectual europeu essencial. Mas esta imunidade é alheia aos valores culturais não ocidentais e nunca poderia ser assimilada pelos que lhe condenavam à morte.

    (Na televisão entrevistam um jovem magrebí em Madrid, e lhe perguntam sobre as caricaturas de Maomé, o jovem responde que para os ocidentais é normal brincar com as suas autoridades, o Papa, Cristo, etc, mas para um muçulmano, “para nós”, isso não é assim. )

    É curioso, e de certa forma previsível, que fosse precisamente ele, o bobo da corte, quem viesse tornar, da forma mais explícita possível, definitivamente visível a fractura que separa o mundo muçulmano do mundo ocidental. Ao contrário do que previa Huntignton em The Clash of Civilizations (leiam, nem que seja, se se consideram capazes, para criticar), o Ocidente se enfrenta contra Maomé não apresentando Cristo como estandarte, mas este anão, deformado, defeituoso, e ele mesmo irrisório, que é o bobo da corte. Não se trata de uma ressurreição dos valores cristãos e tão pouco seria justo reduzir o episódio a uma suposta degeneração moral do mundo ocidental. É muito mais realista perceber que é o bobo da corte, este anti-herói, anti-gigante, deus fundamental da cultura laica ocidental moderna, quem é o verdadeiro odiado pela cegueira do fanatismo religioso muçulmano. Que depois venha um dos seus herdeiros lusos tentar defender o fanatismo islâmico e ofender de maneira tão ingrata o seu deus, chamando-lhe de islamofóbico…, só demonstra a voracidade deste deus, capaz do canibalismo ele mesmo.

  49. Caetera, se não conhece reacções dessas de judeus e outros cristãos, é ver as opiniões do Reverendo Pat robertson, ou dos extremistas que veneram o túmulo de Baruch Goldstein.

    “O Vaticano esse centro mundial do obscurantismo, e do reino das trevas, tenta controlar a vida de todos os cidadãos nos paises onde governantes cobardes se sujeitam aos seus ditames”.

    A. Pacheco, estou a ver que em algumas matérias ainda não está a par dos factos nem das políticas. Pensar que o Vaticano é “o reino das Trevas”, além deser uma imagem também ela mística, é patético. E a tal sujeição dos governantes é pura ilusão, a Igreja não tem intenções de alcançar o poder político, apenas de influenciar as sociedades com os seus ensinamentos e princípios. Ou, ao contrário de outras correntes, isso está-lhe vedado?

  50. Ó Caetera, tanto bla-bla para não dizer nada. O pasquim blasfemo dinamarquês é de extrema-direita xenófoba e encomendou os cartoons para ilustrar um livro sacrílego em que Maomé era acusado de pedófilo. A maior parte dos políticos e autoridades religiosas ocidentais consideram os cartoons provocatórios e altamente desrespeitosos do mundo islâmico. Quem é você para dizer o contrário ? Também é você um porco nazi-bushista que apoiou a carnificina do Iraque ? É anti-semita histérico ? Mas sobretudo, meta isto na cabeça: quem decide se tais desenhos satânicos são ou não blasfemos para o Islão, são os muçulmanos, não é você. E eles já decidiram esmagadoramente que o eram. Logo, os porcos antisemitas como você, só têm é de se calar. Não é interessse da Europa entrar em cruzadas. Já demos para esse peditório. Esse é desígnio dos colaboracionistas com a Coboilândia e o seu Mini-me, o estado pária de Israel.

  51. João Pedro concordarás comigo que comparar as reacções de um reverendo americano por mais famoso que seja ou “dos extremistas que veneram o túmulo de Baruch Goldstein” com a reacção da comunidade islâmica radical que temos visto acontecer no mundo islâmico é um pouco absurdo.

  52. Daniel,
    de acordo com o que dizes no post, mas a questão fundamental não é de grau de reacção (sempre me irritou também o facto de irem esperar o Le Penn e fazer algazarra e não o fazerem, por exemplo, com outros propagandistas de ideias xenofobas ou totalitárias) a questão essencial é a da desproporcionalidade dos meios de reacção, destruir as embaixadas dos paises mais tolerantes, solidários e fraternos é uma declaração de guerra da barbárie contra a civilização. Tudo o que dizes no post e disseste no eixo do mal é a nota de rodapé, mas faltou o texto. E o texto é que marcava uma posição sobre a coisa.
    Bom, pode não ser grave nem definitivo, acho que com o decorrer das discussões com a Margarida lá chegarás, é um tirocínio que estavas a precisar, acho até que quem te a enviou não foi o Comité Central para ajustar contas antigas, foi o Jorge Coelho para garantir ganhos futuros ;)

  53. “discurso da propaganda hitleriana contra o sionismo”

    Duvido que o Hitler alguma vez tenha feito algum discurso contra o sionismo (ou, já agora, que Luis XIV tenha feito algum discurso contra a politica de Bush).

    Aliás, quando os nazis ainda estavam a discutir o que faze com os judeus, uma ideia até foi mandá-los para a Palestina.

  54. Hoje um dos contactos que fiz por obrigação profissional encontrou do outro lado o Abdul, um português que professa a religião islâmica que herdou dos seus avós moçambicanos. Não sem pensar duas vezes, a primeira teria sido desnecessária se eu não tivesse sido educado na religião católica apostólica romana, decidi questioná-lo sobre o caso do momento. A curiosidade foi facilitada pela fama e pelo proveito do tipo estar sempre de bom-humor e de ser conhecido por ter uma carteira recheada de piadas que às vezes deixam os companheiros de profissão e de destino à procura do sentido de um “non-sense” bem refinado.
    Abdul, que me dizes do que se passa à volta dos “cartoons”? “Uma provocação” – respondeu-me, “não lhe dou importância”. Ponto final.
    Quando eu o provoquei, à espera de ouvir um comentário mais veemente, ele lembrou-me o Contexto (esta palavrinha importante em Comunicação), fala da ocupação do Iraque, da situação humilhante da Palestina e de umas eleições filhas de uma democracia menor, “não teria votado neles, mas estou aqui” e sentenciou que “houve quem se aproveitasse de um lado e do outro e a situação não serve nenhum dos lados”.

    A verdade é que a ira do outro lado das têvês fez saltar a tampa liberal e a musa inspiradora a uns tantos que trataram de debitar piedosos editoriais em defesa da liberdade de imprensa, escritos com a mesma tinta que aviltou há anos Saramago pelo seu “Evangelho Segundo Jesus Cristo” e que procurou crucificar o cartonista que enfiou um inocente preservativo no nariz do Papa – em que outro sítio poderia ele ser respeitosamente inserido?

    Voltando ao Abdul. Depois de falar sobre a importância da religião em zonas do globo onde ela é o que sobra do despojo, em que representa (estranhamente, para mim) o elo que sobra de identidade das pessoas, onde serve para resistir (e para oprimir, não são também muçulmanos os califas da Arábia Saudita que exploram até ao tutano os trabalhadores sauditas e dos países vizinhos? – atirei-lhe), o Abdul quis saber qual é a minha religião. Não acredito, “Agnóstico?, não sou agnóstico sou ateu, não acredito na existência de deus. Procurando desfazer o estereótipo, acrescentei que combatendo a ideia de deus sou a favor da liberdade religiosa porque defendo a liberdade de pensamento e de expressão tenha ela o mau gosto que tiver.
    “Para mim, isso basta-me e tens razão nessa da Arábia Saudita”. Fiquei a pensar se quem proferiu as últimas sentenças foi o islâmico ou o electricista, mas rapidamente mandei o pensamento às urtigas quando me apercebi do preconceito.
    O Abdul é o segundo islâmico que conheço, conheci outro e era um respeitado presidente de uma associação de estudantes. Não vejo nenhum deles a queimar bandeiras da Dinamarca. Da mesma forma que não detectei na minha mãe que quis salvar a infantil alma do filho obrigando-o a sentar os ossos na catequese qualquer tentativa de se apoderar do evangelho do Saramago da minha estante para o queimar em acto de fé.

    Algo sobre Cuba. É em nome das universidades, do número de médicos por habitante e sobretudo do sonho dos guerrilheiros da Sierra Maestra que admiro a Revolução Cubana.
    Talvez seja por ser ateu e não acreditar em deuses e desconfiar de profetas, não tenho a cegueira suficiente para esquecer que a Revolução (as revoluções) na sua competição com a democracia burguesa só são melhores se não encararem o ser humano apenas como um intestino. Isto é, a Revolução Cubana estaria mais saudável, defender-se-ia melhor, se o “social-democrata” Daniel Oliveira pudesse publicar as suas críticas no “Gramma”. Garanto que, mais bairros recuperados menos autocarros cheios, Cuba estaria mais próximo do paraíso.
    Não ando de Che (“o herói dos pequeno-burgueses”, como me dizia uma activista da UEC nos idos de 1975) estampado na camisola, apesar há 30 anos ver daqui uma medalha que reproduz a célebre fotografia do cristo comunista.
    Eu ateu me confesso: não gosto que faleis de Revolução de forma vã.

  55. Caetera: não vejo onde está o absurdo. são tão fanáticos como os que queimaram a bandeira de Dinamarca. Assentam todos no mesmo pressuposto da sua crença ser a única verdadeira e não ser susceptível de sofrer a mínima contestação e a dos outros, os infieis, ser mera blasfémia. Fizessem uma graça semelhante no Texas ou na parte judia de Jerusalém (talvez já não em Haifa ou Telavive)a cristo ou Moisés e as reacções eriam certamente semelhantes, com “fatwas” e “éditos” semelhantes.
    além disso, houve igualmente manifestações pacíficas na europa. Mas parece que as TVs preferiram o folclore sírio e libanês(não, não estou a desculpar os ataques aos consulados).

  56. não é fantástico que depois da publicação dos cartoons haja já (mais) milhentos muçulmanos prontos a dar razão ao cartoon de maomé com um turbante explosivo?

    acho que um grande desafio que o mundo tem pela frente é evitar a subida do fanatismo muçulmano. acho que os muçulmanos no geral sabem onde/como/quem/quando se criam os fanáticos. e tal como diz o presidente eleito é preciso que os bons muçulmanos expulsem os maus muçulmanos senão muito rapidamente vão ficar indiferenciáveis.

    sem querem entrar em comparação de guerras, acções em nome de ou número de mortos, acho que uma grande diferença que é logo um mau começo é que o profeta que joga pelo ocidente tem um currículo de perdão,dar a outra face, amizade e respeito pelo próximo enquanto o profeta dos muçulmanos é um mártir e difusor da jihad?.

  57. Daniel, Eu admiro a tua paciencia para aturares algumas coisas. nem me dava ao trabalho de responder. Não se pode propor um intercambio entre paises e mandar uns quantos para Cuba e para a Coreia e dar a hipotese a outros tantos de viver em Liberdade?
    Quanto ao post estou de acordo contigo, por muitas contardições entre posições semelhantes que alguns queiram encontrar entre pessoas de pensamento igual.

    Só uma nota: A blogosfera ficou mais interessante contigo. Os teus arqui inimigos que estavam orfãos saíram todos outra vez dos armários. Mesmo assim não aprenderam nada durante a espera.

  58. A prova de que os cartoons são obra da escumalha da extrema-direita dinamarquesa que apoia a criminosa cruzada dos terroristas bushistas no Iraque e que pretendia humilhar o Islão (do blogue Da Literatura):

    “Toger Seidenfaden, director do jornal dinamarquês Politiken, título de referência, entrevistado por Ana Navarro Pedro: «No Verão de 2005 […] um polemista dinamarquês, Kaare Bluitgen, muito conhecido pela sua islamofobia […] escreveu um livro sobre a vida de Maomé, destinado às crianças e à juventude dinamarquesa, que apresenta o Profeta como um pedófilo e um criminoso de guerra. O livro é provocante e, na minha opinião, vulgar. […] Bluitgen queixou-se publicamente que um ou dois desenhadores tinham recusado ilustrar o seu livro. Até hoje, não sabemos se isso foi um facto — o que sabemos é que publicou o livro, e com ilustrações.» Cf. Público de anteontem, página 5.

    2. O Jyllands-Posten, jornal popular de grande circulação — «o mais lido» da Dinamarca, segundo Seidenfaden —, deu eco às queixas de Bluitgen e convidou 40 caricaturistas a fazer cartoons de Maomé. Doze aceitaram o desafio. Os 12 cartoons foram publicados na edição de 30 de Setembro, acompanhados de um editorial que reivindica o direito a «desafiar, blasfemar e humilhar o Islão».

    A EUROPA CIVILIZADA NADA TEM A VER COM as actividades criminosas desta ralé nazi. Os muçulmanos têm todo o direito de defenderem a sua honra contra estes Van Gogh’s…

  59. “O que não aceito é que uma manifestação de muçulmanos seja sempre uma manifestação de “fundamentalistas”, uma manifestação de cristãos seja uma manifestação de “conservadores” e uma manifestação de judeus seja uma manifestação de “judeus”.”
    Pura demagogia. O que temos assistido nos últimos dias é a manifestações violentas por parte de radicais muçulmanos, os quais, no entanto, não representam a maioria dos muçulmanos. Não queira, porém, comparar o incomparável- Diga-me lá qual a última manifestação de cristãos que tenha assumido as proporções que estas têm assumido? E mesmo de Judeus? É pena que os seus anti-semitismo e anti-cristianismo primários não lhe permitam pensar e escrever de forma isenta e não sectária deste problema.

  60. (por lapso, pus o comentário como anónimo!)

    “O que não aceito é que uma manifestação de muçulmanos seja sempre uma manifestação de “fundamentalistas”, uma manifestação de cristãos seja uma manifestação de “conservadores” e uma manifestação de judeus seja uma manifestação de “judeus”.”
    Pura demagogia. O que temos assistido nos últimos dias é a manifestações violentas por parte de radicais muçulmanos, os quais, no entanto, não representam a maioria dos muçulmanos. Não queira, porém, comparar o incomparável- Diga-me lá qual a última manifestação de cristãos que tenha assumido as proporções que estas têm assumido? E mesmo de Judeus? É pena que os seus anti-semitismo e anti-cristianismo primários não lhe permitam pensar e escrever de forma isenta e não sectária deste problema.

  61. Os cartoons nem sequer têm assim tanta piada… Os tais da liga árabe estão bastante mais mordazes! Como diz a minha amiga Rain, levam-se demasiado a sério! E é tão confortável ser selvagem em nome de um ente superior qualquer que seja!

  62. D.O. Estou espantada! Tu que no teu post escreveste “Sou por toda a liberdade de expressão. Mas toda“ ainda não te apercebeste do autoritarismo e do despropósito da sugestão do teu correligionário Arruda (“ Não se pode propor um intercambio entre paises e mandar uns quantos para Cuba e para a Coreia e dar a hipotese a outros tantos de viver em Liberdade?”)? e se sim, ainda não o desautorizaste?

    Ou afinal a liberdade de expressão que tu defendes é tão somente aquela que melhor serve os propósitos dos coveiros das revoluções socialistas?

  63. ” que melhor serve os propósitos dos coveiros das revoluções socialistas?”

    Cara Margarida, aqui também está o Daniel ou não ? é que se estiver você está de parabéns o seu trabalho tem sido profícuo eh eh eh

  64. É verdadeiramente inusitado verificar como de uma penada só os comentadores e analistas das declarações do Daniel entendem não atingir o autor da mensagem (originalmente, o jornal dinamarquês), nem o transportador da mensagem (os jornais que republicaram os cartoons e a restante imprensa e blogosfera que lhes deram eco), mas, a par desse monstro que é, aparentemente, o Islão, o próprio comentador residente do Aspirina B. Curiosamente, o mesmo que se mostra indignado não só com os cartoons, mas também com as reacções selvagens dos extremistas muçulmanos.
    É impressão minha ou em vosso entender a liberdade de expressão devia ter limites para o Daniel Oliveira?

  65. Caro Solvstag,

    Para nós – inusitados – a liberdade de expressão do DO não devia ter limites, o que não nos impede de sermos críticos relativamente à forma como ele (ab)usa dessa mesma liberdade.

  66. Bom, o Rui sempre reconhece que a liberdade de expressão tem limites ou, por outra, que pode ser usada abusadamente.
    O que eu pergunto é se foi isso que os cartoonistas fizeram.

  67. Caro Rui,

    Penso que percebi, penso aliás que nos percebemos todos uns aos outros, e isso é importante.
    E concordo consigo quando escreve que a melhor forma de entender os problemas é tratá-los de forma isenta e não sectária.
    Por outro lado, este nosso diálogo é de facto uma questão de somenos no meio da maré dialéctica que por aqui vai crescendo.

  68. Caro João Pedro , eu vivi na ditadura de Salazar e Caetano e sei o papel de apoio que a hierarquia da Igraja Catolica deu a essa ditadura, a começar por esse odre de corrupção chamado Cardeal Cerejeira.

    Sei do atentado há bomba contra um cinema do quartier latin que passava A Ultima Tentação do Cristo.

    Sei dos ataques á bomba contra clinicas de interrupção de gravidez assistida nos EUA que já levram ao assassinato de medicos.

    Sei o poder da Opus Dei, mais uma estrutura tenebrosa fundada por um fascista apoiante de Franco, que impôe regras e consegue através do enorme poder financeiro levar os governos a apoiar leis restritivas dos direitos e liberdades dos cidadãos, o caso actual da Letónia e da Polonia é paradigmatico.

    O que está em causa, não é as religiões praticarem o seu Humus, o que está em causa é elas quererem impôr ás sociedades onde são maioritárias, a sua visão do que que se deve e pode fazer.

    Em suma dar a Cesar o que é de Cesar e ás religiões o que é das religiões.

    Não sei se me fiz entender…

  69. Pacheco: aí em cima, disse que “quando houver eleições LIVRES em Cuba e na Coreia do Norte então esses paises poderão ser considerados democracia, até lá são ditaduras”.

    Agora, mistura o papel da Igreja na ditadura portuguesa, com um atentado num cinema em Paris, com atentados contra clínicas que praticam IVG nos USA, com acções da Opus Dei na Letónia e na Polónia, para nos mostrar que as religiões querem “impôr ás sociedades onde são maioritárias, a sua visão do que se deve e pode fazer.”

    Contudo nunca o vi a pôr em causa as eleições em Portugal, em França, nos USA, na Letónia ou na Polónia, pelo que deduzo que acha que nestes países as eleições são LIVRES e que em todos eles vigora a verdadeira democracia. Só em Cuba (e na Coreia) é que não, tanto que as classifica de “ditaduras”.

    Fiquei portanto com a curiosidade de saber qual o seu critério para definir “eleições livres”. Se quiser fazer o favor de explicar…

  70. Tal como aconteceu no BdEII também estão a ver se batem o record de comentários da blogosfera? Deste blog suponho que já conseguiram, mesmo depois de apagarem as bigornas…

  71. Margarida, não tente criar fricções onde elas não existem. Eu e o o DO estamos habituados a discutir livremente no espaço político onde nos inserimos. E se há pessoa que não precisa que lhe digam o que deve fazer é ele. Mesmo quando não concordo sou obrigado a ser construtivo na crítica. Não é como alguém como tu que insinua que há eleições que não são livres mas é incapaz de dizer que na Coreia e em Cuba se vive uma ditadura.
    Quanto ao intercambio entendeu mal o que eu disse, o que aliás é normal, se há pessoas que acham Cuba o máximo e outras que querem saír de lá porque não fazer a vontade a ambos e colocar as pessoas nos sítios certos? Chama-se a isso LIBERDADE DE ESCOLHAS, coisa que tu não sabes o que é.

  72. A Pacheco, não me referia a católicos integristas ou à Igreja apoiante de Salazar, mas o seu comentário fazia menção ao catolicismo em geral. Se por um lado havia Cerejeiras, por outro também havia Antónios Ferreira Gomes ou Bentos Domingues, cujas concepções sociais e políticas eram opostas às do regime vigente.

  73. Confesso que posições como a da Margarida me impressionam profundamente.
    Trata-se de uma cegueira ideológica aflitiva.
    Será possível que alguém que se considera de esquerda e que está ou é simpatizante num partido que tanto combateu a ditadura de Salazar tenha tantas reticencias em relação a outras ditaduras?
    É triste que em pleno séc. XXI estejamos ainda a assistir a estas discuções.
    Depois de tudo o que se passou no séc. XX(auschwitz, hiroxima, gulags, etc., etc., etc.) é incrível que ainda haja pessoas de esquerda que desculpam o delirante e criminoso regime da Coreia do Norte!!!

  74. É uma questão de humor… sinceramente não me faz impressão este tipo de humor, mas compreendo que haja muita gente que fique bem chateada com isto… já agora se aqui forem 16 horas em Kuala Lumpur é meia noite…

  75. Tal como também o admiro por aturar aqueles que, por mais posts que ele publique a criticar o regime de Fidel Castro aínda o continuam a associar a esse regime porque para eles Esquerda = Apoiante de Fidel.
    Metam na cabeça de uma vez por todas que há gente profundamente de esquerda e simultaneamente profundamente democrata, que não admite qualquer ditadura, seja de direita ou de esquerda!

  76. 6 DE FEVEREIRO DE 2006 – INGERÊNCIA

    Hotel mexicano expulsa cubanos por ordem dos EUA

    A rede de hotéis Sheraton confirmou ontem (5/2) ter expulsado na sexta-feira uma delegação oficial cubana de um estabelecimento no México por ordem do Departamento do Tesouro dos EUA.

    “O Tesouro efetivamente exigiu que negassemos o acesso dos participantes cubanos ao Hotel Sheraton na Cidade do México”, disse Ellen Gallo, porta-voz da companhia Starwoods Hotels and Resorts Worldwide, da rede Sheraton.

    A medida, ordenada pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro, está relacionada ao “bloqueio econômico que os EUA movem contra Cuba, “segundo estabelecem as leis americanas”, explicou Ellen.

    Essas leis proíbem que cidadãos ou empresas dos Estados Unidos realizem negócios ou prestem serviços a Cuba, incluídos os de hotelaria.

    Os funcionários cubanos disseram na sexta-feira que tinham sido expulsos do hotel, localizado no centro de Cidade do México, por pressão do governo dos EUA.

    Ellen também confirmou a denúncia do vice-ministro de Indústria Básica e chefe da delegação cubana, Raúl Pérez de Prado, de que o hotel teria ficado com o dinheiro depositado para as reservas. “O dinheiro que pagaram foi enviado ao Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro por ordem deste escritório”, disse a porta-voz.

    Funcionários do Hotel Sheraton no México tinham confirmado a saída dos 16 funcionários cubanos na sexta-feira, mas foram instruídos a não comentar nada a respeito.

    Um funcionário da embaixada americana na capital mexicana se recusou a confirmar se o governo de Washington pressionou a matriz do hotel, mas disse que seu país “tem leis muito claras sobre o tratamento” com o povo cubano.

    A delegação cubana estava reunida desde quinta-feira no Sheraton com empresários dos EUA para explorar possibilidades de negócios no setor energético. Após a expulsão, a reunião continuou em outro hotel da cidade.

    O Starwoods Hotels and Resorts Worldwide possui 46 hotéis na América Latina, sob os nomes de Sheraton, Westin, Four Points, St. Regis e Luxury Collection.
    (http://www.vermelho.org.br/diario/2006/0206/0206_ingerente.asp)

  77. Achei uma certa piada a este parágrafo da Margarida:

    “Contudo nunca o vi a pôr em causa as eleições em Portugal, em França, nos USA, na Letónia ou na Polónia, pelo que deduzo que acha que nestes países as eleições são LIVRES e que em todos eles vigora a verdadeira democracia. Só em Cuba (e na Coreia) é que não, tanto que as classifica de “ditaduras”. ”

    Se bem compreendi, a Margarida acha que em Portugal, França, USA, Letónia ou Polónia as eleições NÃO SÃO LIVRES, ao contrário do que acontece em Cuba e na Coreia do Norte.
    Depois disto nem sei o que dizer, estou sem palavras!

  78. Margarida, obviamente a atitude que os EUA têm tido para com cuba é vergonhosa, mas parece-me que isso não pode desculpar tudo.

  79. Margarida, deixe-me fazer-lhe uma pergunta: concorda com a pena de morte?

    Talvez em situações revolucionárias, enquanto não se atinge a verdadeira sociedade comunista, e sobretudo quando estão em causa cidadãos vendidos ao imperialismo norte-americano…

  80. Rui Neves: se compreendeu isso, compreendeu mal. Se quer entrar na discussão (por mim seja bem vindo!) talvez pudesse então responder à questão que eu coloquei ao Pacheco (e já agora coloco-a também ao Arruda, ao “J” e ao Pedra) e que é: qual o seu critério para definir “eleições livres”.

    Pedra: eu “desculpei” alguma coisa a Cuba? No seu entender o que é que não se pode “desculpar” a Cuba?

  81. Pessoal, parem com estas polémicas e liguem imediatamente a televisão. No prós e contras o Vasco Rato está a debitar barbaridades em catadupa!

  82. Margarida, alguém impediu algum candidato de se candidatar nas últimas eleições presidenciais?
    Alguém a impediu de votar no seu candidato?
    Alguém manipulou a votação, houve fraudes, houve pessoas que votaram mais do que uma vez?
    Ou será que me vai dizer que o capitalismo não permite eleições livres porque ganham sempre os candidatos próximos do poder económico?
    E qual é então a sua solução? Suprimir a democracia?

  83. Não Rui Neves, não concordo com a pena de morte. Em circunstância alguma, mesmo em tempo de guerra. E mais: nunca concordei. E não adianta vir “lembrar-me” da que foi aplicada aos criminosos cubanos que raptaram um barco de turismo e durante uma imensidão de tempo mantiveram reféns os passageiros (entre os quais mulheres e crianças). E até lhe adianto que o disse cara a cara aos meus amigos cubanos. Aliás, já o SG do meu Partido lhes tinha dito quando lá foi, como já tinha dito ao Embaixador de Cuba, como os meus camaradas o disseram no Parlamento. Sorry, mas a nós não nos dá lições dessas. A mim em Cuba, às minhas objecções explicaram-me que a pena de morte foi aplicada por um Tribunal normal, num processo normal, com advogados de defesa e todas as garantias legais. Disse-lhes que independentemente das circunstâncias não concordava e que até tinha muita honra de Portugal ter sido o primeiro país a abolir a pena de morte.

    Não adianta pois vir para aqui com isso. Eu disse-lhes o que pensava. Mas há uma questão que para mim é sagrada, como aliás é para eles: a soberania de cada país decidir da sua política e do seu futuro, a soberania das decisões de cada um, a assumpção das responsabilidades pelas decisões que se tomam e o acarretar das consequências. Eles também me explicaram que tinha sido uma decisão extraordinária (tinham na prática já há imensos anos “congelado” a sua aplicação) mas que as circunstâncias extraordinárias a isso os obrigaram. E as circunstâncias extraordinárias era acções de pirataria anteriores desses fulanos (sequestro de avionetas que tinham causado mortes inocentes) e o facto de a Secretaria de Estado norte-americana ter divulgado uma ameaça pelo facto de Cuba não estar a garantir a segurança interna, e tudo isto coincidir com o início da guerra contra o Iraque. E eu mantive que em nenhuma circunstância aprovava a pena de morte. E mantenho.

  84. Rui Neves: repito-lhe a pergunta qual o seu critério para definir “eleições livres” e já agora qual o seu critério para definir “democracia”. Não adianta eu responder às questões que agora me está a pôr porque eu não me queixei de nada. Quem se queixou de que Cuba (e a Coreia) são ditaduras foi o Pacheco.

  85. Margarida, já agora façamos justiça a quem de direito: a república de San Marino aboliu a pena de morte dois anos antes de Portugal; a Venezuela dois anos antes de San Marino…

  86. Bom, se é contra a pena de morte em cuba, fico contente.
    Mas tal como os comunistas assinalam prontamente (e bem)qualquer deslise dos EUA (pena de morte, iraque, guantanamo, racismo, etc.) gostava de os ouvir criticar com a mesma veemência a situação em Cuba e na Coreia do Norte.

  87. Margarida, a minha noção de democracia é indissociável do multipartidarismo. Obviamente que o poder económico condiciona essa democracia, mas esse problema tem de ser resolvido sem recorrer a “ditaduras do proletariado”, que dão sempre os resultados que se sabe…

  88. Rui Neves: da Coreia deve perceber tanto como você (isto é rigorosamente nada) e portanto deixemos a Coreia de lado, pelo menos eu não gosto de falar do que desconheço.

    De Cuba li muita coisa, falei com muitos cubanos e já lá estive e até atravessei praticamente a ilha toda, pelo menos estive em dez das catorze regiões cubanas. De Cuba costumo ainda acompanhar a situação lendo o granma, on-line. Mas não percebo o que é que tenho de “criticar com veemência” em Cuba. Quando tenho reparos a fazer-lhes por exemplo quando leio alguma coisa e não concordo ou não percebo bem, faço o que costumo fazer com os meus amigos: mando-lhes um mail!

    Também nunca me viu por aqui (ou noutro sítio) a agredir gratuitamente nem os States nem ninguém. Quando há acções, afirmações, comportamentos de que discordo, critico ou denuncio, no concreto. Mas abstractamente nunca me viu a agredir ninguém porque eu não faço agressões, denúncias ou calúnias sem conteúdo, nem provoco por provocar.

  89. A minha, e a do meu partido também é indissociável do multipartidarismo. Aliás, os deputados da Assembleia Constituinte do meu partido tiveram um papel muito importante em que isso ficasse consignado na CRP, bem como o conceito da democracia ter as vertentes política, cultural, económica e social.

    E lembro-lhe que depois do 25 de Abril, quem manteve o conceito de “ditadura do proletariado” no programa foram os partidos “M-L” e os maoistas, nomeadamente a UDP e o MRPP e que nós os comunistas fomos gozados, amesquinhados, xingados e chamados de “revisionistas” por isso mesmo, que proclamavam aos quatro ventos que revolucionários eram eles…

  90. Queria aqui deixar bem claro que eu apesar de tudo não ponho Cuba e Coreia do Norte no mesmo patamar. O regime cubano que tantas esperanças e entusiasmo provocou por todo o mundo redundou numa ditadura. Podemos dizer que é uma ditadura relativamente “branda”. Bem, “branda” ou não é uma ditadura, com um partido único, com presos políticos, com censura, enfim com tudo aquilo que Porugal já conheceu antes do 25 de Abril. Claro que foram realizaram algumas coisas positivas mas não compensam de forma alguma as negativas.
    Quanto ao regime da Coreia do Norte é o regime mais hediondo que existe à face da terra, governado por um louco psicopata e tenho muita dificuldade em entrar em discução com alguém que defende ou desculpa este regime.

  91. Mas acho piada que a Margarida diga “deixemos a Coreia de lado”. Não lhe convém muito, suponho, apesar de tudo é melhor falar de Cuba.

  92. Percebo que o D.O. não lê. Por isso diz tanta asneira sobre Cuba. Mas “pesco” informações noutros sites: no rebellion da Venezuela, no Vermelho e no PT do Brasil, no resistir.info, no antiwar, até no pravda e no novostia on-line, veja lá. Sou muito dispersa nas leituras on-line que vou fazendo com bastante regularidade. Até “frequento” veja lá os sites dos cubanos de Miami, dos Repórteres Sem Fronteiras, do Le Monde, do Liberation, da IV Internacional…havendo tempo, dou a volta ao mundo!

    Mas o D.O. é que parece só consumir mais do mesmo. Eu não. Gosto muito de variar.

  93. Rui Neves: é mesmo porque nem nunca falei com ninguém que tivesse lá ido, nem encontrei ainda onde ler sobre o assunto. Claro que às vezes uma pessoa apanha umas tretas no site da CNN, ou mesmo do Le Monde Diplomatic. Mas é tudo tão insuficiente…se conhecer uma pista, até lhe agradeço que ma dê.

  94. Margarida, já li muitas vezes o Gramma. Até para ficar a saber um poco mais sobre o assunto deste post: a ausência de liberdade de expressão. Mas suponho que se escolhe os cubanos com quem fala como escolhe os jornais que lê, está muita coisa explicada.

  95. Rui: ou é ou não é ditadura, essa de ditadura branda não é nada. Eu peço-lhe desculpa, mas por hoje tenho de deixar a conversa por aqui porque amanhã às sete tenho de me levantar para o trabalho. Se quiser adiantar mais porque é que acha que Cuba é uma ditadura, faça o favor, amanhã à noite dou-lhe a minha opinião. Mas francamente adianto-lhe que às vezes pomos rótulos sem grande conteúdo. Mas amanhã continuamos, se quiser, claro!

  96. Margarida, não é preciso ir tão longe, basta comprar o Público de vez em quando…
    Para saber a natureza do regime da Coreia do Norte não é presiso muito mais…

  97. Porque é que Cuba É UMA DITADURA:

    – Tem um regime de partido único;
    – Não tem liberdade de expressão e opinião;
    – Tem presos políticos;
    – Não tem eleições livres.

    Chega?

  98. «[…]Infelizmente, faltou então quem se lhes opusesse»

    Como? Importa-se de repetir? faltou quem se lhes opusesse? Houve muito quem se opusesse. Já ouviu falar na II Guerra Mundial?
    E garanto-lhe que entre os opositores não estava nenhum muçulmano.

  99. Anonymous, acha que houve assim tantos opositores na Alemanha, na Áustria, em Itália, etc. E olhe que o partido comunista alemão tinha milhões de membros. No entanto eclipsou-se rapidamente e a generalidade da população não levantou muito a voz.
    Quanto à 2ª guerra mundial, ela não se deu propriamente por causa dos anti-semitas mas por causa da tentativa de Hitler de dominar toda a Europa.

  100. Se Hitler tivesse feito o que fez ao povo judeu exclusivamente dentro das suas fronteiras, acha que teria havido alguma guerra? Ou os outros países iríam assobiar para o lado?

  101. Eu não sou islamofóbico, tenho fobia de TODA religião. E sou favoravel a eliminação de todos os seres humanos religiosos e a proibição da prática religiosa. Só assim poderemos viver em mundo de progresso.

  102. Já o camarada Bernardino dizia “tenho dúvidas que a Coreia do Norte não seja uma democracia”. Estes comunas são hilariantes…
    E a Margarida que já foi tantas vezes a cuba e conhece aquilo tudo porque é que não faz também uma viagem até à coreia do norte?

  103. Peço desculpa pelo espaço que vou ocupar mas como a Margarida só lê o Gramma e outros que tais vou deixar aqui umas coisas sobre a Coreia do Norte e o seu “querido líder”:

    O Incrível Kim
    Por Tiago Tibúrcio
    quarta-feira, 13 de Fevereiro de 2002
    Não é tarefa fácil traçar o perfil do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Il, de tal forma a história da sua vida está envolta em mistério e secretismo. Melhor dizendo, há duas formas de contar a história do “Querido Líder”: a versão oficial, próxima da lenda e generosa nos adjectivos, onde avultam as suas inúmeras qualidades; e a outra, mais sinistra, que fala de um homem vaidoso e caprichoso e com um passado ligado ao crime.

    Kim Jong-Il é filho do “Grande Líder” Kim Il-Sung, o homem que governou a Coreia do Norte desde a sua criação (1948). Em 1994, a morte do “Grande Líder” catapultou o quase desconhecido Kim Jong-Il (pelo menos para a comunidade internacional) para a ribalta, sucedendo ao seu pai.

    Na altura, muitos analistas internacionais anteviram com esta sucessão o colapso do último regime estalinista do mundo. Oito anos volvidos, o regime parece, no entanto, tão sólido quanto no tempo do “Grande líder”. Mas a figura de Kim Jong-Il (que não se tornou Presidente, título conferido “para a eternidade” ao seu defunto pai) continua tão misteriosa quanto antes.

    Um nascimento invulgar

    No dia 16 de Fevereiro, Kim Jong-Il comemora 60 anos de vida. De acordo com a versão oficial, o seu nascimento, “o mais auspicioso feriado da Humanidade”, ocorreu no cume mais alto da Coreia do Norte, o monte Paekdu (berço mítico dos primeiros coreanos), acontecimento ao qual a natureza não foi indiferente, fazendo surgir no céu um duplo arco-íris e uma única estrela brilhante.

    Segundo os registos de Moscovo, no entanto, o “Querido Líder” terá vindo ao mundo não na Coreia do Norte mas na Sibéria, durante o exílio de Kim Il-Sung na antiga União Soviética, para onde fugiu da ocupação japonesa.

    Da sua infância ou juventude pouco se sabe, a não ser que cresceu na sombra do pai.

    Conta-se que durante a década de 60 terá estado na Alemanha de Leste (ex-RDA) a aprender a pilotar. Todavia, diz-se que tem um pânico atroz de voar. Enquanto líder, as únicas visitas que se conhecem que fez ao exterior (à China e à Rússia) foram feitas de comboio.

    O retrato que as autoridades norte-coreanas fazem de Kim Jong-il é o de um autêntico homem do Renascimento. Para além das qualidades que herdou do pai, como de “genial pensador” e “grande estratega”, Jong-Il é admirado como compositor, tendo escrito seis óperas em apenas dois anos, e arquitecto, tendo-se notabilizado por ter desenhado, sozinho, a monumental torre Juche de Pyongyang.

    A preparação para o poder

    Em 1964 obtém o diploma da Universidade Kim Il-Sung, sendo em 1980 designado oficialmente sucessor do pai.

    Mas é somente em 1991 que Kim Jong-Il ascende a uma posição de algum poder, quando é nomeado chefe das Forças Armadas, isto apesar de não ter no currículo qualquer experiência militar. A nomeação para este cargo foi interpretada pelo analistas internacionais como uma forma de refrear eventuais resistências quando chegasse o momento da sucessão. Esta viria a concretizar-se em 1994, aquando da morte do seu pai, e foi até hoje a primeira e única sucessão dinástica que ocorreu num Estado estalinista.

    A sua consolidação no poder não terá sido fácil, na opinião de alguns analistas. Kim Jong-Il só chega à liderança do Partido Comunista da Coreia três anos após a morte do seu pai. E a conservação do poder é feita em parte à custa de privilegiar a nomemclatura militar, o seu principal inimigo, no acesso a altos cargos dirigentes, onde pontificam também alguns familiares de Kim Jong-Il.

    O não-tão-querido líder

    Sabe-se que o “Querido Líder” casou duas vezes. Diz-se que exilou a sua primeira mulher, Hong Il-Chon (de quem teve uma filha), para casar a seguir com a que ainda tem, Kim Yong-Suk, união de que resultaram um filho e duas filhas. Terá tido ainda um romance com uma actriz, Sung Hye-Rin, de quem (diz-se) teve um filho, que repudiou.

    Na Coreia do Sul, Kim Jong.Il é conhecido como um “playboy” caprichoso, que recorre a saltos nos sapatos para colmatar a baixa estatura. Conta-se ainda que o virtuoso Jong-Il tem uma forte queda para a bebida, em particular por conhaque.

    Existem rumores que os desejos amorosos do líder norte-coreano levaram-no a mandar raptar jovens japonesas para serem trazidas para uma das suas luxuosas casas de campo, onde manterá um harém digno de qualquer sultão.

    No domínio do crime, é-lhe também atribuído o rapto, em Hong Kong, em 1978, de um realizador sul-coreano e da sua mulher, que manteve presos durante oito anos com o objectivo de poder produzir os seus próprios filmes, a sua verdadeira paixão. Os sequestrados só viriam escapar oito anos depois, durante uma viagem a Viena.

    Nos antípodas das biografias oficiais do líder norte-coreano, consta ainda que Kim Jong-Il terá estado por detrás do atentado na Birmânia que, em 1983, matou 17 elementos do Governo sul-coreano. Também se suspeita da sua implicação no atentado contra o avião da Korean Air, em 1987, nas vésperas dos Jogos Olímpicos de Seul, de que resultaram 115 mortos.

    Na lista das características sinistras que várias biografias fora de fronteiras atribuem a Kim Jong-Il, está também incluído um medo hipocondríaco de germes e traços de esquizofrenia. O medo de ser envenenado, diz-se, é somente atenuado por uma equipa de 40 elementos que provam todos os alimentos importados servidos ao “Querido Líder”.

  104. Poucas razões para comemorar
    Por Tiago Tibúrcio
    quarta-feira, 13 de Fevereiro de 2002
    Apesar dos muitos eventos previstos para celebrar o aniversário do “Querido Líder”, a população da Coreia do Norte não tem muitas razões para festejar. De acordo com agências humanitárias, mais de dois milhões de pessoas morreram na última década devido à falta de alimentos, resultado de desastres naturais (inundações e secas alternadas) e da ineficiência da economia mais planificada do mundo.

    Em Dezembro do ano passado, a ONU lançou mais um alerta para a situação que se vive no país e pediu uma ajuda de emergência. De acordo com as Nações Unidas, mais de 2,2 milhões de crianças norte-coreanas estão em risco de vida devido à crónica má nutrição e à carência de cuidados básicos de saúde. O sector da saúde está numa situação catastrófica, sem medicamentos, anestésicos, sabão, batas, luvas ou alimentos para os enfermos.

    A ONU pediu à comunidade internacional 611 mil toneladas de alimentos (cereais e outros produtos) para acudir cerca de 6,5 milhões de norte-coreanos.

    Este ano a ONU enfrenta um obstáculo adicional. A actual situação no Afeganistão, que concentra a atenção do mundo inteiro, pode levar a uma diminuição da ajuda dos doadores. Daí que a ONU tenha pedido menos 200 mil toneladas de ajuda do que no ano passado.

    A recente posição dos Estados Unidos de considerar a Coreia do Norte um dos países do “eixo do mal” deverá vir agravar mais ainda este cenário. Juntamente com o Japão e a Coreia do Sul, os EUA fornecem cerca de 80 por cento da ajuda alimentar recebida na Coreia do Norte.

  105. CRONOLOGIA
    Principais acontecimentos da Coreia do Norte
    quarta-feira, 13 de Fevereiro de 2002

    1945
    Final da Segunda Guerra Mundial e da ocupação japonesa da península. Coreia é dividida em duas zonas, ao longo do paralelo 38. O Norte torna-se comunista e o Sul fica na esfera de influência dos Estados Unidos.

    1946
    Criado o Partido Comunista da Coreia do Norte (Partido Coreano dos Trabalhadores), com o patrocínio da URSS.

    1948
    Proclamação, em Setembro (um mês depois da Coreia do Sul), da independência da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), com Kim Il-Sung como Presidente. Retirada das tropas soviéticas.

    1950
    Início da Guerra da Coreia. A China apoia o Norte e os Estados Unidos (à frente das forças das Nações Unidas) o Sul.

    1953
    Assinado armistício, que prevê a criação de uma zona desmilitarizada, pondo fim a uma guerra onde morreram cerca de dois milhões de pessoas.

    1960
    Aposta no sector industrial, que conhece grande crescimento.

    1972
    Negociações secretas para a reunificação da península.

    1980
    Kim Jong-Il designado oficialmente como sucessor do pai, o Presidente, Kim Il-Sung.

    1991
    Coreia do Norte e Coreia do Sul entram nas Nações Unidas.

    Kim Jong-Il nomeado chefe das Forças Armadas

    1992
    Coreia do Norte autoriza inspecções da Agência Internacional de Energia Atómica. Todavia, no terreno recusa acesso aos locais suspeitos de produziram armamento nuclear.

    1994
    Morte do “Grande Líder”. O filho, Kim Jong-Il sucede na liderança do país. Não se torna, no entanto, Presidente, título que ficará com o defunto Kim Il-Sung “para toda a eternidade”.

    Pyongyang aceita, depois de um mês de negociações em Genebra, congelar programa nuclear em troca de combustível e de dois reactores nucleares. O acordo assinado entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte visa “a paz e a segurança numa península coreana desnuclearizada”.

    1996
    Coreia do Norte atingida por cheias, às quais se segue fome generalizada.

    Pyongyang anuncia que não continuará a obedecer ao armistício que pôs termo à Guerra da Coreia. Coreia do Norte envia tropas para a zona desmilitarizada.

    Submarino norte-coreano detectado e destruído junto da costa da Coreia do Sul.

    Relações entre os dois países congeladas até que Pyongyang, pressionada pelos EUA, apresenta formalmente pedido de desculpas a Seul.

    1997
    Hwang Jang-Yop, um dos principais dirigentes do Partido dos Trabalhadores, refugia-se na embaixada sul-coreana em Pequim, e pede asilo político a Seul.

    1998
    Nações Unidas levam ajuda às vítimas da fome.

    Seul captura mini-submarino norte-coreano nas suas águas. Nove pessoas são encontradas sem vida no interior do aparelho.

    2000
    Cimeira histórica em Pyongyang entre Kim Jong-Il e o Presidente da Coreia do Sul, Kim Dae-Jung.

    Coreia do Sul amnistia mais de 3500 prisioneiros.

    Reencontro, marcado pelo grande simbolismo, entre cem famílias norte-coreanas com familiares do Sul, que a política tinha impedido de se verem.

    Presidente sul-coreano galardoado com o Prémio Nobel da Paz, pelos seus esforços para a reconciliação entre as duas coreias.

    2001
    Delegação da União Europeia visita Coreia do Norte na perspectiva de relançar processo de reconciliação com a Coreia do Sul.

  106. “Querido Líder” faz 60 anos
    A triste festa de Kim Jong-Il
    Por Tiago Tibúrcio
    quarta-feira, 13 de Fevereiro de 2002
    A Coreia do Norte, o último Estado estalinista do mundo, prepara-se para comemorar, no dia 16 de Fevereiro, o sexagésimo aniversário do “Querido Líder”, Kim Jong-Il. O povo vai ser chamado a celebrar o evento, como é de praxe neste tipo de regimes, mas tem poucas razões para o fazer. Vive num país devastado pela fome e pelo isolamento, do exterior mas também das próprias famílias, separadas pela divisão da península coreana em dois, em 1948.

    Kim Jong-Il está à frente dos destinos da Coreia do Norte desde 1994, ano em que morreu o seu pai, Kim Il-Sung. Este havia governado a Coreia do Norte desde a sua criação, em 1948, e deixou como herança uma governação assente no culto da personalidade, uma economia anacrónica (a mais centralizada do mundo) e uma população a morrer à fome.

    O nascimento da Coreia do Norte ocorre sob o signo da Guerra Fria. Depois do final da Segunda Guerra Mundial e da ocupação japonesa da península, a Coreia é dividida em duas zonas, ao longo do paralelo 38. O Norte torna-se comunista e o Sul fica na esfera de influência dos Estados Unidos. A independência ocorre três anos depois. Os anos que se seguiram foram marcados por reformas económicas e sociais do novo poder comunista, que causaram uma forte emigração para o Sul da península.

    A luta pelo ascendente na região por parte das potências estrangeiras conduz, em 1950, à guerra entre as duas coreias (o Sul, apoiado pelos EUA, e o Norte, pela China), que dura até 1953 e onde morreram dois milhões de pessoas.

    O isolamento da Coreia do Norte começa nos 50. Com o progressivo afastamento entre Pyongyang e Moscovo, Kim Il-Sung põe em prática a doutrina “Juche”, que consiste na procura da auto-suficiência do país.

    A Coreia do Norte conheceu ainda um período de crescimento económico durante os anos 60, devido ao forte investimento na indústria. Desde então, e em particular a partir dos anos 70, o país revelou uma incrível incapacidade de se adaptar aos novos tempos. Advogando ainda hoje a velha doutrina “Juche” e canalizando a maioria dos recursos para a indústria militar, a Coreia do Norte continua a reger-se pelos antigos manuais da economia planificada, avessa à iniciativa privada e ao investimento estrangeiro.

    O resultado está nas estatísticas do Programa Alimentar das Nações Unidas (PAM), que lançou há dois meses mais um pedido de emergência à comunidade internacional para acudir aos oito milhões de norte-coreanos que sofrem de subnutrição e sem acesso aos mais básicos cuidados de saúde.

    Nos últimos dez anos, calcula-se que mais de dois milhões de pessoas tenham morrido na Coreia do Norte por falta de alimentos. Estes números assombrosos não constam, no entanto, dos noticiários da Coreia do Norte, que pouco mais dão a conhecer do que a agenda diária do “Querido Líder”.

    A sucessão de Kim Il-Sung ainda fez alguns preverem o colapso do regime, cujo sustentáculo é o culto da personalidade do líder. O regime ainda terá tremido, aquando da deserção do ideólogo da nação, Hwang Jang Yop, em 1997. Mas Kim Jong-Il acabaria por consolidar a sua posição no poder em Pyongyang, promovendo os seus potenciais inimigos, os militares.

    Há oito anos à frente da Coreia do Norte, o “Querido Líder” protagonizou, em 2000, um feito histórico, ao reunir-se com o Presidente da Coreia do Sul, Kim Dae-Jung, o que acontecia pela primeira desde há mais de 50 anos. Num gesto de boa vontade, Kim Jong-Il permitiu que cem pessoas do Norte se encontrassem com familiares da Coreia do Sul, separados há mais de cinquenta anos.

    Apesar de estarem num impasse desde há um ano, as conversações para a reaproximação entre as duas coreias parece ser o único legado que Kim Jong-Il parece em condições de deixar. Quanto ao resto, está à frente de um regime que já expirou o prazo e que vai apodrecendo a pouco e pouco. A trágica dúvida é saber quantas vidas mais se perderão até ao ocaso do regime.

  107. Anónimo: esclareço-o que só fui uma vez a Cuba (o dinheiro não chegou para mais, por isso mesmo não “deu” para ir a muitos outros sítios onde gostava de ir, se bem que na minha lista de prioridades não esteja nenhuma das Coreias) e aproveito a oportunidade para lhe lembrar o” Esclarecimento de Bernardino Soares” de 25.2.2003, a propósito da tal frase que menciona:

    Tendo sido questionado por vários órgãos de comunicação social, sobre questões de democracia, tenho a declarar o seguinte:
    As concepções de democracia e de socialismo que no PCP defendemos para Portugal estão inscritas no nosso Programa.
    Quanto à Coreia do Norte é uma evidência que as concepções de socialismo e de democracia que defendemos estão nos antípodas das deste País, e que rejeitamos vigorosamente quaisquer tentativas para “colar” o PCP a experiências ou práticas pelas quais não é responsável e que são estranhas às suas concepções.
    Para nós a democracia política tem um valor intrínseco, mas não limitamos a democracia a esta vertente, embora ela seja essencial. Ela deve concretizar-se e aprofundar-se nas suas várias dimensões: democracia política, económica, social e cultural.
    O PCP mantém actuais as análises e as críticas que fez no XIII Congresso e que reiterou nos Congressos seguintes ao inaceitável “modelo” de socialismo que se edificou e que levou ao seu colapso.
    É também uma evidência que a democracia no nosso País tem vindo a ser empobrecida no campo da democracia política e designadamente nas vertentes da democracia económica e social.”

    Rui Neves: agradeço-lhe os artigos que enviou do Tiago Tibúrcio do Público sobre o Kim Jong-Il, mas se reparar bem ele baseia-se em “analistas internacionais” para escrever o que escreveu, além de que conceder-me-à que a história da Coreia do Norte não se há-he resumir nem à “biografia” do seu líder desde 1994, mesmo que acrescida duma “cronologia” de alguns acontecimentos…E sabendo nós do passado maoista do Director do Público, até por isso mesmo há-de concordar que não será o media mais isento para nos informar sobre a Coreia do Norte. Aliás o que está escrito nesses artigos é o que costumo encontrar na CNN, no Le Monde Diplomatic, no Washington Post, and so on…também sou leitora diária do Público. Quando tiver oportunidade e pachorra darei uma vista de olhos pelo site.

    Segundo a Wikipédia: Ditadura é um regime autoritário em que os poderes legislativo, executivo e judiciário estão nas mãos de uma única pessoa (ou grupo de pessoas), que exerce o seu poder de maneira absoluta sobre o povo. Deixo-lhe este texto que lhe permitirá concluir se sim ou não o sistema político e eleitoral cubano tem essas características:

    Perguntas sobre o Sistema Político e Eleitoral Cubano

    Por que em Cuba há um só partido?
    Para conhecer e entender o porque em Cuba só existe um partido é imprescindível buscar na sua história e no processo do devir das lutas sociais, políticas e libertárias do seu povo. Alguns antecedentes de todo este complexo são:
    ¨ Na primeira metade do século XIX na sua condição de colônia foram surgindo no país diversas correntes do pensamento político: o reformismo, o abolicionismo, o anexionismo e o independentismo.
    ¨ Em 3 de agosto de 1878, a Junta organizadora do Partido Liberal Autonomista proclamou seu programa cuja aspiração principal era converter a ilha numa província dos Estados Unidos.
    ¨ Em 1879, foi fundado o Partido União Constitucional cujo objetivo era que Cuba continuasse sendo uma colônia da Espanha.
    Os propósitos desses partidos e os que buscava a corrente anexionista (Anexar Cuba aos Estados Unidos) deixavam bem claro para o povo que para atingir a independência do país e fundar uma nova nação era imprescindível construir uma organização política bem diferente a dos partidos tradicionais.
    Interpretar o sentimento de liberdade de todo um povo e a realidade das condições históricas concretas do momento para atingir esses objetivos foi o grande mérito visionário de José Martí que ao fundar o Partido Revolucionário Cubano estava também forjando o fio condutor que levaria a Constituição do Partido Comunista Cuba.

    Porque o Partido Comunista de Cuba representa a continuidade histórica do Partido que fora fundado por José Martí?
    O programa do partido organizado por José Martí estabelece que o Partido Revolucionário Cubano foi fundado para lograr com os esforços unidos de todos os homens de boa vontade, a independência de Cuba e promover e auxiliar a de Porto Rico…..
    “Fundar um novo povo e de sincera democracia…” “fundar a pátria única..” para salva-la dos perigos internos e externos que a ameacem”. No dia 3 de abril 1892, José Martí publicou um artigo no jornal Pátria onde colocava: “O Partido Revolucionário Cubano é o povo cubano”.
    Cem anos depois, os objetivos programáticos do Partido Fundado por Martí; a união dos povos para garantir a absoluta independência, impedir a anexacão de Cuba aos Estados Unidos, salvar o país dos perigos internos e externos e fundar um povo novo, são os mesmos desafios, as mesmas necessidades, os mesmos perigos, os mesmos objetivos que enfrenta o povo cubano, e para garanti-los é que existe como único partido, o Partido Comunista de Cuba, e são essas as razões que explicam o porque esse partido é a continuidade do partido fundado por Martí.

    Por que os objetivos do Partido fundado por José Martí não puderam ser alcançados durante a etapa republicana de 1902 a 1958 sob um sistema pluri-partidário?
    Depois da saída de Cuba das tropas do Exército Espanhol, uma das primeiras providências do grupo de cubanos encabeçados por quem depois seria o primeiro presidente do país que representava os interesses dos Estados Unidos em conluio com o governador militar norte-americano, cujas tropas ocuparam a ilha durante 4 anos, foi dissolver o Partido Revolucionário Cubano. O objetivo era muito claro, tirar do povo cubano a única organização que podia pôr em prática os sonhos do herói cubano.
    De 1898 hasta 1908 existiram em Cuba 16 grupos e partidos de filiação republicana moderada conservadora, 3 grupos e partidos de filiação republicana moderada conservadora, 3 grupos e partidos de filiação união democrática e outros de diversas tendências.
    De 1910 a 1930 continuou desenvolvendo-se o pluripartidarismo com o crescimento de partidos de todas as tendências incluindo o Partido Comunista (várias vezes declarado ilegal). Nas eleições presidências participaram 13 partidos, nas eleições de 1940, 11 partidos. Continuaram participando em sucessivas eleições. No pleito que deveria ocorrer 1952 estavam inscritos 6 partidos de tendência governista e três de oposição. Não houve eleição por causa de um golpe militar apoiado e reconhecido pelos Estados Unidos. Em 1954 houve um simulacro de eleição, o ditador Fulgencio Batista numa tentativa de legalizar a situação do país realizou um pleito onde só concorreram os partidos que integravam à aliança com o partido do ditador, o Partido Liberal, o Democrata e o União Radical. Claro o ditador ganhou as eleições.
    A história demonstrou que nenhum desses partidos e nem o pluripartidarismo jamais conseguiram representar os objetivos do partido de José Martí para resolver os graves problemas do país como a miséria, o analfabetismo, o desemprego, a prostituição, os altos índices de mortalidade infantil e de doenças curáveis, corrupção na administração, discriminação racial e o que é mais importante garantir a liberdade e a independência da nação.

    Em que momento foi decretado o fim do sistema pluripartidarista?
    Quem adotou uma postura oficial contra o pluripartidarismo foi o ditador Fulgencio Batista em 10 de março de 1952 a 82 dias das eleições com o golpe de estado, uma das primeiras decisões deste governo militar foi a supressão da Constituição do congresso e os partidos políticos.
    O primeiro gabinete ministerial da revolução em janeiro de 1959 teve entre seus membros de diversos partidos políticos. Na medida em que a revolução adotava medidas a favor do povo, os representantes de ditos partidos se distanciaram do governo e muitos começaram a se enfrentar ao processo revolucionário. Finalmente, vários partidos transladaram suas atividades para o exterior, enquanto optaram pela auto-dissolução. Dessa maneira sem que mediasse qualquer decisão jurídica, o pluripartidarismo depois de 100 de existência deixou de existir em Cuba.

    O que representa o Partido Comunista Cubano para o povo revolucionário?
    A Constituição da República que foi aprovada pelo povo através do voto secreto e direto reconhece o partido como a vanguarda organizada da nação cubana, portanto a força dirigente da sociedade e o estado. O Partido Comunista Cubano representa e garante a unidade do povo na defesa da liberdade, independência, soberania da nação e defesa das conquistas revolucionárias.
    O partido guia o povo nos esforços para construir uma sociedade democrática e de justiça plena, baseada em profundos valores éticos, morais e humanos de igualdade e solidariedade. O partido pode desenvolver essa labor porque representa os interesses de todo o povo e não setores e grupos, nele cabem todos os cidadãos que reunindo as condições estabelecidas nos estatutos e regulamentos, desejem entrar nele de maneira voluntária, inclusive os que tenham ou não algum credo religioso. O partido pode realizar essa tarefa porque a própria população e de maneira particular os trabalhadores são os que propõem os candidatos a militantes e cabe a eles a decisão final de aceitar ou não essas candidaturas, além disso, o partido desenvolve sua atividade por meio da persuasão, da razão e educação política e a estreita e permanente vinculação política com as massas. A entidade pode cumprir tais objetivos porque não é e não pode ser um partido eleitoral, inclusive está proibido por lei de lançar e eleger candidatos e não pode participar no processo eletivo. O Partido Comunista é o povo cubano, tal como dissera Martí do Partido Revolucionário Cubano.

    ASSEMBLÉIA NACIONAL DO PODER POPULAR

    Como é o Parlamento Cubano?
    A Assembléia Nacional do Poder Popular (Parlamento) é o órgão supremo do poder do estado. Representa e expressa a vontade soberana do povo. É o único órgão com poder constituinte e legislativo da República.

    Quais são as funções da Assembléia Nacional do Poder Popular?
    São amplas e abrangentes, entre suas principais atribuições temos:
    ¨ Reformar a Constituição
    ¨ Aprovar, modificar e anular leis e submete-las a consulta previamente a consulta popular quando estime procedente.
    ¨ Decidir sobre a constitucionalidade das leis, decretos-leis, decretos e demais disposições gerais.
    ¨ Discutir e aprovar planos nacionais de desenvolvimento econômico e social.
    ¨ Aprovar os princípios do sistema de planejamento e direção da economia nacional.
    ¨ Decidir sobre o sistema monetário e de crédito.
    ¨ Aprovar a linha geral da política externa.
    ¨ Debater e aprovar o orçamento do Estado.
    ¨ Eleger o Presidente, o vice, o Secretário e demais membros do Conselho de Estado.
    ¨ Encaminhar as propostas do Presidente do Conselho de estado para nomear o Primeiro Vice-Presidente, os Vice-Presidentes e demais membros do Conselho de Estado.
    ¨ Exercer a mais fiscalização sobre os órgãos do Estado e do Governo.

    Como são eleitos os parlamentares (delegados) da nação, dos municípios e dos estados (províncias)?
    São eleitos pelo voto livre, direto e secreto dos eleitores.

    Como é a composição do Parlamento Cubano?
    O Parlamento Cubano é unicameral. Está formado por 603 deputados (um deputado por cada 20 000 habitantes ou fração de 10 000). Independentemente dessa proporção, o parlamento deve ter no mínimo dois deputados de cada Município. Até um 50 por cento dos deputados tem que ser delegados (vereadores) dos parlamentos municipais.

    Quantas mulheres integram a Assembléia Nacional do Poder Popular?
    Na Assembléia Nacional há 219 Deputados, o que representa 35,96% do total.

    Qual é a idade média dos Deputados de Assembléia Nacional?
    A idade média dos integrantes do Parlamento é de 47 anos.

    Qual é o nível de educação dos Deputados Cubanos?
    81,75% dos deputados possuem nível superior (universitário), 18,24% tem nível médio.

    O Chefe do Governo pode dissolver a Assembléia Nacional do Poder Popular?
    Ao fazer parte de Assembléia o Órgão Supremo do Poder de Estado, o Chefe de Estado e de Governo não pode dissolvê-la.

    O chefe do Governo pode vetar uma lei aprovada pela Assembléia Nacional do Popular?
    As leis que aprovam a Assembléia Nacional são de cumprimento obrigatório e entram em vigor quando se publicam no Diário Oficial da República ou na data em que a lei indica. As leis aprovadas pela Assembléia não podem ser vetadas pelo Chefe de Governo e nem pelo Executivo.

    A quem competem as iniciativas legislativas?
    As iniciativas legislativas competem:
    ¨ Aos Deputados da Assembléia Nacional do Poder Popular.
    ¨ Ao Conselho de Estado
    ¨ Ao Conselho de Ministros
    ¨ Às comissões da Assembléia Nacional do Poder Popular
    ¨ Ao Comitê Nacional da Central de Trabalhadores de Cuba e as Direções Nacionais das outras organizações de massas e sociais.
    ¨ Ao Tribunal Supremo Popular em matéria relativa à administração de Justiça.
    ¨ À Promotoria Geral da República em matéria de sua competência.
    ¨Aos cidadãos. Neste caso é requisito indispensável que a iniciativa seja exercitada por pelo menos 10 mil cidadãos na sua condição de eleitores.

    Quais são os principais privilégios dos Deputados da Assembléia Nacional do Poder Popular?
    A Constituição da República estabelece que a condição de Deputado não pressupõe privilégios pessoais nem benefícios econômicos.
    A Constituição da República estabelece que os Deputados da Assembléia Nacional de Poder Popular têm o dever de manter contato com eleitores, ouvir suas colocações, sugestões e críticas. Mas eles que prestar contas de suas atribuições, o qual é feito diretamente aos seus eleitores nas circunscrições eleitorais pelas quais foram eleitos e diante da Assembléia Municipal do Poder Popular da qual forma.

    Os deputados da Assembléia Nacional do Poder Popular gozam de imunidade parlamentar?
    O artigo 83 da Constituição coloca que nenhum deputado da Assembléia Nacional pode ser detido ou submetido a processo penal sem a autorização da Assembléia ou do Conselho de Estado se esta não estiver em atividade, salvo em caso de flagrante delito.

    Em algum momento de seu mandato o Deputado da Assembléia Nacional de Poder Popular presta conta de suas funções?
    Sim, a Constituição da República de Cuba estabelece que os deputados têm o dever de manter contato com seus eleitores, ouvir suas colocações, sugestões e críticas. Mas eles devem prestar contas de suas atribuições, o que é feito diretamente aos seus eleitores nas circunscrições eleitorais pelas quais foram eleitos e diante da Assembléia Municipal do Poder Popular da qual forma.

    Os Mandatos podem ser revogados?
    Todos os eleitos podem ter o seu mandato revogado a qualquer momento de seu exercício. A lei estabelece os motivos, as formas e os mecanismos para a revogação.

    SISTEMA ELEITORAL

    Como é o sistema eleitoral cubano?
    O sistema eleitoral cubano é regido pelos cânones internacionais. E por sua vez é fundamentado pela história, a cultura, a idiossincrasia e as características do nosso país com as suas especificidades.

    Quem tem direito a voto?
    Todos os cubanos, homens e mulheres maiores de dezesseis exceto:
    1. Os incapacitados mentais com a prévia declaração judicial de sua incapacidade.
    2. Os que estão impedidos temporariamente por haver cometido delitos que os colocam em dívida com a justiça.

    Quem tem direito a ser eleito?
    Os cidadãos cubanos, homens ou mulheres que se encontrem em pleno gozo de seus direitos políticos. Si são candidatos a Deputados pela Assembléia Nacional do Poder Popular devem ser maiores de idade.

    Os membros das Forças Armadas podem eleger e ser eleitos?
    Os membros das Forças Armadas Revolucionárias e de outros institutos armados têm o direito de eleger e ser eleitos assim como os outros cidadãos.

    Como se candidatam?
    Nenhuma organização política tem o direito de indicar candidatos. A lei concede aos cidadãos o direito de candidatar-se de forma direta e publicamente na reunião de eleitores.
    Para escolher os vereadores candidatos às Assembléias Municipais do Poder Popular se escolhe um candidato por zona eleitoral de um total de no mínimo dos e no máximo oito. Quando as eleições são para escolher vereadores às Assembléias Estaduais do Poder Popular. E os Deputados para a Assembléia Nacional são aspirantes indicados pelos vereadores da Assembléia Municipal.

    O voto é obrigatório?
    O voto não é obrigatório. Trata-se de um direito constitucional que estabelece que todos os cidadãos cubanos têm o direito de escolher e ser eleitos. É um direito e um dever cívico que se exerce de maneira voluntária e o fato de não fazê-lo não implica sanção.

    Como é a votação, pela sigla do Partido ou pelo nome de candidato?
    Não existem listas com siglas de partidos. O voto é feito diretamente pelo nome do candidato que se deseje. O voto pode ser branco ou nulo. Você pode não votar em nenhum candidato ou se abster do voto.

    Como são feitas as campanhas eleitorais?
    Os candidatos não podem realizar nenhuma atividade em favor de sua candidatura. Esta tarefa é de responsabilidade exclusiva das comissões eleitorais que a realizam com ética, civismo e patriotismo; sem preferências ou tendências de nenhum tipo e na que é ressaltada de maneira a destacar a importância de exercer o direito ao voto e os valores éticos e morais que devem possuir os candidatos. Os recursos são aportados pelo Estado e as Comissões Eleitorais garantem que não sejam realizadas ações discriminatórias, ofensivas, difamatórias e que denigram a imagem dos candidatos e, em caso de ocorrer algo dessa natureza, o agressor deve sofrer as penas previstas na lei.

    Quem garante a ordem pública durante as eleições?
    O cuidado em relação à ordem pública, especialmente no que se refere aos colégios eleitorais e à proteção das urnas, cabe aos estudantes do ensino fundamental 1 e 2, que cumprem tais atividades cívicas sob orientação da Organizacion de Pioneros a qual pertencem.

    Como se dá a apuração dos votos?
    Uma vez concluída a votação, em horário estabelecido por lei, imediatamente se dá a apuração dos votos de maneira pública, ou seja, na presença dos eleitores e das pessoas que queiram acompanhar a apuração, inclusive estrangeiros radicados ou que estejam visitando o país. Assim, o resultado de votação é conhecido prontamente, sem prorrogações de nenhuma natureza.

    Qual a porcentagem de eleitores que participam das eleições?
    Desde 1976, quando se deram as primeiras eleições, mais de 95 por cento dos eleitores têm exercido seu direito ao voto. Nas últimas eleições realizadas em 11 de janeiro de 1998 votaram 7.931.229 eleitores que corresponde a 98,35% do total onde resultaram válidos 94,98% dos votos emitidos. Foram anuladas 1,6 por cento das cédulas e 3,3% dos votos foram em branco.

    O CONSELHO DE ESTADO E O COMITÊ EXECUTIVO DO CONSELHO DE MINISTROS

    Quais são os órgãos superiores do Estado?
    A Constituição do país estabelece a Assembléia Nacional do Poder Popular (Parlamento) é o órgão supremo do poder do estado. Representa e expressa a vontade soberana de todo o povo. Outros órgãos são o Conselho de Estado e o Conselho de Ministros.

    Como é eleito o presidente do estado cubano?
    O Presidente do Conselho de Estado que é o órgão que ostenta a suprema representação do Estado é eleito através do voto direto e secreto dos deputados da Assembléia Nacional. Isto implica que o Chefe do governo cubano como prática tem que submeter a dois processos eleitorais. Primeiro tem de ser eleito como deputado pela população através do voto livre, direto e secreto e depois pelos deputados através do mesmo mecanismo.

    O que é o Conselho de Estado?
    O Conselho de Estado é o órgão do Parlamento Cubano que representa a Assembléia Nacional do Poder Popular entre um e outro período das sessões, executa os acordos desta e cumpre as demais funções que a Constituição lhe atribua. Tem caráter colegiado para fins nacionais e internacionais e detém a suprema representação do Estado Cubano.

    Quais são as atribuições do Conselho de Estado?
    Várias são as atribuições do Conselho de Estado, entre elas se encontram:
    ¨ Determinar a celebração das sessões extraordinárias da Assembléia.
    ¨ Determinar a data das eleições para renovação periódica do Parlamento.
    ¨ Fazer valer a proposta de seu Presidente aos membros do Conselho de Ministros entre um e outro período de sessão no Parlamento.
    ¨ Designar e mudar, a pedido de seu Presidente, os representantes diplomáticos de Cuba ante outros Estados.

    Quantos membros têm o Conselho de Estado?
    O Conselho de Estado está formado por 31 pessoas, incluindo seu Presidente e todos têm de ser deputados.

    Quando expira o mandato do Conselho de Estado?
    O Mandato confiado ao Conselho de Estado pela Assembléia Nacional do Poder Popular expira na posse do novo conselho de Estado eleito em virtude das renovações periódicas de Assembléia.

    Quem substitui o presidente do Conselho do Estado e em que circunstâncias?
    Em caso de ausência, enfermidade ou morte do Presidente do Conselho de Estado o substitui o primeiro vice-presidente.

    O que é o Conselho de Ministros?
    O Conselho de Ministros é o órgão máximo do Executivo e Administrativo e constitui o Governo da República.

    Quem são os integrantes do Conselho de Ministros?
    O Conselho de Ministros está formado pelo Chefe do Estado e do Governo que é o seu Presidente, o Primeiro Vice-Presidente, os Vice-Presidentes, os Ministros, os Secretários e demais membros que determinem a lei.

    Quem são os integrantes do Comitê Executivo de Ministros?
    O Comitê Executivo está formado pelo Presidente, o Primeiro Vice-Presidente, os Vice-Presidentes e outros membros do Conselho de Ministros que determinem o Presidente.

    Quais são as atribuições do Conselho de Ministros?
    Múltiplas são as atribuições do Conselho de Ministros, dentre elas se destacam:
    ¨ Organizar e dirigir a execução das atividades políticas, econômicas, culturais, científicas, sociais e das defesas acordadas pela Assembléia Nacional do Poder Popular.
    ¨ Propor os projetos de planos gerais de desenvolvimento econômico-social do Estado e, uma vez aprovados pela Assembléia, organizar, dirigir e controlar sua execução.
    ¨ Dirigir e controlar o Comércio Exterior.
    ¨ Dirigir a Política Exterior da República e as relações com outros governos.
    ¨ Aprovar tratados internacionais e submetê-los a aprovação do Conselho de Estado.
    ¨ Elaborar o projeto de orçamento do Estado e, uma vez aprovado pela Assembléia, velar por sua execução.

    A quem presta contas o Conselho de Ministros?
    O Conselho de Ministros é responsável e presta contas periodicamente de todas as suas atividades à Assembléia Nacional do Poder Popular.

    SISTEMA JUDICIAL

    Como se dá o cumprimento da justiça em Cuba?
    No artigo 120 da Constituição da República se estabelece que a função de aplicar justiça emana do povo e é exercida em seu nome pelo Tribunal Superior Popular e os demais tribunais instituídos pela Lei.

    Como são organizados os Tribunais cubanos?
    No artigo 121 da Constituição da República se estabelece que os tribunais constituem um sistema de órgãos estatais, estruturado com independência funcional de qualquer outro e subordinado hierarquicamente à Assembléia Nacional do Poder Popular e ao Conselho de Estado.
    O Tribunal Superior exerce a máxima autoridade judicial e suas decisões, nessa instância, são definitivas.

    A quem estão subordinados os Juizes em Cuba?
    No artigo 122 da Constituição da República se estabelece que os juizes, na função de aplicar justiça, são independentes e apenas devem obediência à lei.

    Como funcionam os tribunais?
    No artigo 124 da Constituição da República se estabelece que para os atos de aplicar justiça todos os Tribunais funcionam de forma colegiada e nos mesmos atuam, com igualdade de direitos e deveres, juizes profissionais e juizes leigos.

    A quem é facultado cassar os juizes?
    No artigo 126 da Constituição da República se estabelece que o poder de cassação dos Juizes compete ao órgão que o elege. Entenda-se Assembléia Nacional, Provincial (Estadual) ou Municipal do Poder Popular, segundo a competência.

    Quais as atribuições da Procuradoria Geral da República?
    No artigo 127 da Constituição se estabelece que a Procuradoria Geral da República é o órgão do Estado ao que compete, como objetivo fundamental, o controle e a preservação da legalidade, sobre a base do estrito cumprimento da Constituição, as leis e demais disposições legais, pelos organismos de Estado, entidades econômicas e sociais e pelos cidadãos; e a promoção e o exercício da ação penal pública em representação do Estado.

    A quem está subordinada a Procuradoria Geral da República?
    No artigo 128 da Constituição da República se estabelece que a Procuradoria Geral da República constitui uma unidade orgânica subordinada exclusivamente à Assembléia Nacional do Poder Popular e o Conselho de Estado.

    Quem elege o Procurador Geral da República?
    No artigo 129 da Constituição da República se estabelece que o Procurador Geral da República e os vice-procuradores gerais são eleitos e podem ser cassados pela Assembléia Nacional do Poder Popular.

    A quem o Procurador Geral da República presta contas?
    No artigo 130 da Constituição da República se estabelece que o Procurador Geral da República presta contas de sua gestão perante a Assembléia Nacional do Poder Popular na forma e com a periodicidade estabelecidas pela lei.

    Como são solucionados os conflitos trabalhistas em Cuba?
    O Decreto Lei Nº 176 de 15 de agosto de 1997 põe em vigor o atual sistema de justiça trabalhista. Esse sistema resume todas as experiências desenvolvidas em Cuba desde 1959 a respeito da participação dos trabalhadores e as Organizações Sindicais na solução de conflitos trabalhistas, nas empresas, estatais e toda e qualquer instituição.
    Nas empresas e nas estatais com 25 ou mais trabalhadores se constituem os Órgãos de Justiça Trabalhista de Base, os quais são compostos por três membros efetivos e três suplentes.
    A Central de Trabalhadores de Cuba (CTC) assume o processo de eleição dos trabalhadores que, desta forma, compõem cada órgão.
    Um dos membros efetivos é eleito pelos trabalhadores em assembléia e os dois restantes são designados: um pela administração, entre seus dirigentes, e o outro pelo sindicato, entre os integrantes de sua executiva.
    O presidente do órgão é um dos membros executivos, eleito pelos trabalhadores em assembléia e é o encarregado por convocar e conduzir as reuniões e de garantir o quorum. Os membros efetivos e seus suplentes são eleitos e designados por um prazo de três anos.

    Qual o procedimento para a solução dos conflitos trabalhistas?
    Os Órgãos de Justiça Trabalhista de Base são regidos pelos princípios processuais de imediatismo, comparecimento das partes, rapidez, simplicidade, impulso de ofício, oralidade, publicidade, uma vez que o comparecimento e outros atos podem ser presenciados pelos trabalhadores, e respectivos à legalidade, em virtude da qual os integrantes do órgão que dirimem o conflito devem obediência apenas à lei.
    O trabalhador descontente com a aplicação de uma medida disciplinadora por parte da administração pode formalizar a queixa correspondente perante o Órgão de Justiça Trabalhista de Base dentro do prazo de 7 dias úteis posteriores à sua notificação.
    Os trabalhadores também têm um prazo de 180 dias corridos para formular queixas relativas a seus direitos trabalhistas, a partir do dia seguinte à comunicação da violação ou da data na qual tomou conhecimento da mesma.
    Os conflitos trabalhistas suscitados pelas queixas dos trabalhadores devem ser resolvidos pelos órgãos como requisito prévio e obrigatório para a utilização da instância judicial.
    Contra a resolução ditada pelo órgão, o trabalhador ou a administração podem entrar com processo perante o Tribunal Municipal Popular.
    Contra a sentença dos Tribunais Municipais Populares as partes podem entrar com o pedido de revisão perante a sala dos assuntos trabalhistas do Tribunal Supremo Popular, no que se refere à disciplina quando a medida inicial imposta pela administração consistir em abandono definitivo da empresa.
    (http://www.embaixadacuba.org.br/CDH/cuba_e_os_direitos_humanos.htm)

  108. Margarida, ainda bem que concorda que artigos como estes do Público que aqui coloquei surgem por todo o lado incluindo o Le Monde Diplomatique, que não é propriamente um jornal direitista, ao serviço do imperialismo norte-americano.
    Eu coloquei aqui estes porque encontrei-os com facilidade numa busca na internet, mas há milhares de artigos idênticos ou ainda mais elucidativos nos mais diversos e insuspeitos órgãos de comunicação social.
    Quanto ao esclarecimento de Bernardino Soares, se ele entende que “Quanto à Coreia do Norte é uma evidência que as concepções de socialismo e de democracia que defendemos estão nos antípodas das deste País”, porque é que afirmou que tinha dúvidas que a Coreia do Norte não fosse uma democracia? E a Margarida, tem dúvidas ou não?

  109. Quanto à definição de ditadura da Wikipédia, concordo com ela e é exactamente o que se passa em Cuba. Trata-se de um regime autoritário em que todos os poderes estão directa ou indirectamente nas mãos de um grupo de pessoas (o partido comunista cubano), que exerce o seu poder de maneira absoluta sobre o povo.

  110. O historiador inglês Paul Johnson afirmou, acerca se o Alcorão é ou não um texto fundamentalista por natureza, o seguinte: “…quando falamos de fundamentalismo islâmico, na verdade estamos usando uma expressão enganosa. Todo o Islão é fundamentalista na essência. É uma característica congénita. Baseia-se na crença de que toda a palavra do Alcorão é verdadeira e imutável – algo que só o mais extremista dos extremistas sustentaria hoje num ambiente cristão, em relação à Bíblia. Em termos de religião comparada, não há nada de moderado no islamismo.
    Sim, há ensinamentos de paz no islamismo, mas eles não compõem o coração da doutrina.”
    Segundo este historiador, a palavra Islão não significa paz, mas sim submissão. Fundamenta esta ideia na Sura 9, versículo 5: “Matai os idólatras onde quer que os encontreis, e capturai-os, e cercai-os e usai de emboscadas contra eles …e mais adiante o livro insiste que nações, não importa quão poderosas, deverão ser combatidas até que abracem o Islão”.
    Se este autor, entre outros, parece ir longe de mais ao identificar a doutrina do livro com o comportamento dos fiéis, uma certeza resta, o texto do Alcorão contém em si mesmo bastantes ambiguidades que se prestam a todo o tipo de interpretações:
    Sura 2, versículo 191. Expulsai-os donde vos expulsaram! A perseguição dos crentes é pior do que o homicídio: não os combateis junto da Mesquita Sagrada antes de vos terem combatido, mas, se vos combatem, matai-os: essa é a recompensa dos incrédulos.
    versículo 193. Matai-os até que a perseguição não exista e esteja no seu lugar a religião de Deus. Se eles se converterem, não haverá mais hostilidade; esta não cessará senão para os injustos.

  111. Rui Nunes: há-de convir que em certas questões o Monde Diplomatique é mais papista do que o papa – não que tenha lá lido algo recentemente – há muito que deixei de o ler sistematicamente, fiquei com péssima recordação da “cobertura” que fez das guerras na ex-Jugoslávia…

    É óbvio (presumo que também para o Bernardino) que a Coreia do Norte não é uma “democracia tipo ocidental”, que também presumo que é a isso a que se refere.

    Daquele lado do mundo, nesta altura, a situação que acompanho com particular preocupação é a do Nepal e acho curioso que um monarca absoluto, impunemente encerre o Parlamento, despeça o governo, mande a tropa carregar contra manifestantes (há pouco mais de uma semana, mataram vinte e tal) e ninguém diga rigorosamente nada…

  112. Quanto às questões e respondidas do site da embaixada de Cuba é simplesmente patética a justificação para não haver um multipartidarismo:

    “O primeiro gabinete ministerial da revolução em janeiro de 1959 teve entre seus membros de diversos partidos políticos. Na medida em que a revolução adotava medidas a favor do povo, os representantes de ditos partidos se distanciaram do governo e muitos começaram a se enfrentar ao processo revolucionário. Finalmente, vários partidos transladaram suas atividades para o exterior, enquanto optaram pela auto-dissolução. Dessa maneira sem que mediasse qualquer decisão jurídica, o pluripartidarismo depois de 100 de existência deixou de existir em Cuba.”

    Então e porque é que não é permitida a criação de novos partidos, como acontece por exemplo em Portugal?

    Seria caso para rir, não fosse o caso de estarmos a falar de coisas importantes…

  113. Também gostei desta parte:

    “Como são feitas as campanhas eleitorais?
    Os candidatos não podem realizar nenhuma atividade em favor de sua candidatura. Esta tarefa é de responsabilidade exclusiva das comissões eleitorais que a realizam com ética, civismo e patriotismo; sem preferências ou tendências de nenhum tipo e na que é ressaltada de maneira a destacar a importância de exercer o direito ao voto e os valores éticos e morais que devem possuir os candidatos.”

    Isto sim, é a verdadeira democracia!

  114. Rui Neves: pergunta porque é que lá não autorizam a criação de novos partidos? Presumo que seja porque os constituintes assim o decidiram. Mas porque é que não lhes pergunta directamente? Basta mandar-lhes um mail, com certeza que lhe responderão.

    Quanto à minha posição, que aliás já esclareci, se estou de alma e coração com a CRP, sou por um regime multipartidário e pela democracia com as vertentes económica, política, cultural e social. Logo, terei divergências com todos os regimes que não contemplem essas condições.

    Mas sobre a questão dos presos políticos, como penso que já esclareci por aí, as autoridades cubanas dizem que nem sequer esses crimes de consciência está consignado no seu código penal, e que todos os detidos são-no por crimes tipificados e no caso dos crimes contra a segurança do Estado por acções e actividades. De qualquer modo dei-me ao trabalho de fazer uma pesquisa no Google e trago-lhe para aqui três notícias (as mais recentes que encontrei) que talvem o ajudem.

    Quanto aos comentários que faz, por mim esteja à vontade para gozar, penso que também os cubanos gozariam se soubessem que acabámos de ter umas eleições presidenciais onde houve 34 sondagens que tiveram a particularidade de nas 34, errarem todas em relação aos valores atribuídos ao Cavaco (para mais) e em relação aos valores atribuídos ao Jerónimo (para menos) e que nessas 34, o Louçã ficava em 25 à frente do Jerónimo…

    Mas cá vão as três notícias sobre presos e prisioneiros:

    1 – Presos políticos aumentam em Cuba
    2006/01/11 | 14:34

    A denúncia é da Comissão Cubana de Direitos Humanos, segundo a qual, em 2005, 53 pessoas foram condenadas ou processadas por motivos políticos

    A Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN, ilegal) afirma, num relatório parcial divulgado hoje, que o número de presos políticos em Cuba aumentou o ano passado para 333, contra 294 em 2004.
    A CCDHRN indica que, em 2005, 53 pessoas foram condenadas ou processadas por motivos políticos (13 no primeiro semestre e 40 no segundo) e 14 foram presas.
    O relatório sublinha que a lista parcial elaborada pela Comissão «reconhece a possibilidade segura de haver um número maior de presos políticos, uma vez que as organizações nacionais e internacionais de direitos humanos não têm livre acesso ao «enorme sistema prisional de Cuba».
    A relação de detidos, realizada com base no contacto directo com os familiares, distingue entre presos políticos processados ou condenados por delitos político-sociais, que abrange figuras como a emigração ilegal e a entrada ilegal de pessoas armadas com fins violentos, e delitos de consciência.
    http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=633052&div_id=291

    2 – JN, 07/02/06

    Milhares de vidas foram destruídas em Guantánamo

    Relatório da Amnistia Internacional acusa os EUA Ainda lá estarão mais de 500 detidos

    Milhares de vidas foram destruídas na Base de Guantánamo, na ilha de Cuba, acusa a Amnistia Internacional (AI) no seu último relatório, divulgado ontem, sobre presumíveis terroristas ainda detidos naquele campo militar e as suas famílias.

    “O centro de detenção de Guantánamo condena milhares de pessoas pelo Mundo a uma vida de sofrimento, tormentos e preocupações”, afirma a organização não-governamental britânica, calculando que estejam ainda detidos naquele campo dirigido pelos Esatdos Unidos da América, mais de quatro anos após ter sido aberto, mais de 500 homens oriundis de 35 países.

    A AI critica o segredo mantido pelas autoridades norte-americanas sobre o número exacto de detidos naquela Base militar, instando-as a elaborar uma lista precisa de prisioneiros, discriminando as suas nacionalidade e identidade.

    Segundo a Amnistia Internacional, vários prisioneiros terão tentado suicidar-se e várias dezenas estariam prestes a fazer uma greve da fome, “tão más são as condições de sobrevivência”.

    São também evocadas no relatório as acusações de que as autoridades norte-americanas, para evitar o aumento do número de mortos, teriam alimentado à força vários detidos, nomeadamente através de sondas nasais utilizadas sem qualquer anestesia.

    “Se estas alegações forem verdadeiras, a Amnistia Internacional considera isso como tortura ou maus-tratos”, lê-se no documento.

    No que se refere aos prisioneiros libertados daquela Base, a Amnistia lembra que, muitas vezes, o seu calvário não termina aí e que para muitos “a sua transferência não significa mais do que uma mudança de local de detenção ilimitada e ilegal para um outro local igualmente de detenção ilimitada e ilegal”.

    A Amnistia cita o caso do jordano Wisam Abd al-Rahman Ahmed, entregue à Jordânia em Abril de 2004, mas que continua detido desde então, em local desconhecido quer para os familiares quer para as organizações humanitária”.

    Quanto ao impacto de Guantánamo sobre os parentes dos detidos, a Amnistia salienta que “algumas famílias que sabem que os seus parentes estão ou foram feitos prisioneiros pelos EUA continuam sem saber onde eles se encontram ou mesmo se continuam vivos”.
    3 – agosto 21, 2003
    DA DEMOCRACIA NA AMÉRICA (ACT.)
    Pego no Diário de Notícias de terça-feira. Parto em busca de uma entrevista a que dei, nesse dia, uns relances descuidados. Falo, claro, do diálogo do historiador de cultura norte-americano Peter Gay com Martin Doerry e Jen Fleischauer do Der Spiegel. Pelo caminho, deparo-me com uma brevíssima nota que me passou então despercebida. Fala de um relatório do Departamento de Justiça norte-americano. Nesse relatório, de acordo com o DN, é indicado que cerca de 5,6 milhões de cidadãos norte-americanos já tiveram, pelo menos, uma experiência prisional (2,7 por cento da população adulta, isto é, 1 em cada 37 adultos). Menciona, também, que no final de 2001 a população prisional norte-americana andava perto dos 2,1 milhões de indivíduos. Estes números parecem, talvez, pouco expressivos. Ou melhor, são apenas números – absolutos e abstractos – e, por conseguinte, não parecem dar-nos uma noção, ainda que parcial, da sua relevância. Um exercício comparativo mostra-nos, todavia, a (insólita) dimensão do fenómeno. Nos Estados Unidos, em 1997, a população prisional era de 1.785.079 indivíduos. Esse número representa uma taxa de reclusão de 648 por 100.000 habitantes. Em Portugal, de longe o país da União Europeia com a taxa de reclusão mais elevada, ela era, à mesma data, seis vezes mais baixa: 145 reclusos por 100.000 habitantes
    (http://socioblogue.weblog.com.pt/arquivo/013174.php)

  115. Margarida, porque é que foi buscar a questão de Guantanamo? Parece-me que essa questão não é para aqui chamada. Ambos somos contra essa situação e não é por os EUA terem em muitas situações um comportamento deplorável que se deve desculpar Cuba.
    As nossa diferenças residem no facto de que, apesar de sermos ambos de esquerda, eu não tolero ditaduras, mesmo as que se reivindicam de esquerda. Não consigo conceber sistemas políticos onde não há liberdade política. Os nossos sistemas (da europa ocidental) não são perfeitos? Pois não, mas apesar disso perfiro-os ao sistema cubano.
    O ideal Marxista-Leninista era muito bonito mas infelismente não resultou em lado nenhum, não vale a pena bater mais na mesma tecla.
    Obviamente que devemos lutar por uma transformação nas nossas sociedades capitalistas ou neo-liberais, como quiser, mas sem nunca, em qualquer sircunstância abdicar da liberdade, do multipartidarismo e do respeito pelos direitos humanos, nunca!

  116. Margarida , se não entendeu , o que eu disse , paciência.

    Eu assumo que fui apoiante nos anos 60 e 70 do regimes chinês e albanês.

    Acompanhei com grande entusiasmo os heróis de Sierra Maestra.

    Desde muito cedo tive grande dúvidas sobre o capitalismo de Estado que se praticava no chamado Bloco Socialista.

    Desde muito cedo queria o meu Portugal liberto da ditadura, sem censura, onde pudesse livremente ver filmes COMPLETOS, pudesse sem problemas comprar os livros que me apetecia ler.
    Goatava de ir a um café e falar livremente sem que na mesa ao lado estivesse um bufo que nos denunciasse, e nos fizesse passar , horas , ou dias na António Maria Cardoso.
    Gostava liuvremente poder expressar as minhas opiniões, sem risco de perder o emprego ou pior ir passar umas férias a Caxias.

    Em suma com este Portugal sonhei, com o 25 de Abril muito se conseguiu , muito ainda está para realizar, mas apesar de tudo temos eleições livres, apesar dos Balsemões ainda há algum pluralismo nos meios de comunicação social, apesar dos Belmiros os trabalhadores têm algum poder de reivindicação dos seus direitos, em suma Portugal é apesar de tudo uma democracia.

    CUBA È O OPOSTO DISTO TUDO.

    Quanto aos cartoons sobre Maomé , alguns são repugnantes, são xenofobos, querem dar a ideia que TODOS os muçulmanos são terroristas, mas exigir a sua censura, atacar embaixadas, ameaçar matar cidadãos, não é o caminho.

    A Europa tem instituições, tem tribunais, a eles todos aqueles que se sentem ofendidos devem recorrer, e se o não fazem certamente não é por desconhecimento, é porque querem lançar lenha na fogueira e acirrar o fanatismo.

  117. Rui Neves: como já reparou eu não desculpo (nem deixo de desculpar) Cuba. Eu respeito Cuba e assim como entendo que no nosso país mandam os portugueses também entendo que em Cuba mandam os cubanos. Porque no fim, serão eles a aguentar com as consequências das decisões que tomam. E se não resisti a trazer para aqui a notícia do JN de hoje sobre Guantanamo foi para lembrar que essas centenas de desgraçados lá estão há já quatro anos – e alguns deles foram lá parar com 13 anos! – e ninguém se preocupa com eles e de muitos até as famílias desconhecem o paradeiro. E desconfia-se que muitos deles foram transportados nos tais aviões da CIA que também usaram aeroportos nacionais.

    Pela Europa, há muita gente que deixou de acreditar no marxismo-leninismo, mas nem todos desistiram de lutar por justiça social e em Cuba há muitos que ainda não desistiram nem da justiça social nem do marxismo-leninismo. Também por isso os respeito. Mas tal como você, dum modo diferente. Mas não é por o nosso “modelo” ser diferente que o deles passa por ser uma “ditadura”, mas tão somente um modelo, nalguns aspectos diferente do nosso.

    Pacheco: em Cuba vi filmes completos, se quisesse podia comprar livros completos ou arranjá-los emprestados numa qualquer biblioteca, passei horas nas Casas da Trova a falar com os vizinhos das mesas ao lado, passei outras horas nas esplanadas de Havana também a falar com quem me apeteceu meter conversa, até passei horas, na rua a falar com jovens que rondavam o hotel onde estava, para sacar uns cobres, ou com a guia e o motorista que nos acompanhavam. Até entrei numa Escola Primária e falei com uma professora e também falei com empregadas de farmácia, com vendedores de mercado, com cubanos emigrados em Miami, com portugueses emigrados no Canadá ou do Norte mas que habitualmente vão lá passar férias, com economistas que lá foram ver até que ponto o “bloqueio” era desculpa, nunca ninguém me disse de que partido era nem ninguém se lembrou de perguntar de que partido eu era. Um amigo que também foi nessa viagem, às tantas começou a embirrar com o modo como os cubanos tentavam sempre explicar tudo, por mais simples que fosse a nossa pergunta, e para o fim antes de perguntar qualquer coisa pedia: “diga só sim ou não!”. Claro que nunca o conseguiu, os cubanos nunca respondem a nada sim ou não, tentam sempre explicar a mais simples questão.

    Mesmo na TV, nos programas culturais e informativos, dão as notícias, mas depois há sempre os jornalistas que as desenvolvem, que as explicam. Um pouco como nos discursos de Fidel, que nem são tantos quanto o D.O. nos quis fazer crer, mas onde tudo é muito explicado.

    Estive lá numa altura em que estava a entrar em acção uma reforma do ensino preparatório, que segundo me explicou a guia andou em discussão com toda a sociedade três anos, e quando a aplicaram, mesmo assim, começaram com experiências piloto em várias regiões. Disse-me a guia que foi das mães que mais questões levantou, que mais dúvidas teve, mas que o filho estava numa das escolas da experiência e que agora ela era uma das mais activas a convencer outros que valia a pena essa reforma. É essa a maneira deles actuarem, explicando, dialogando, experimentando, avaliando, explicando, explicando sempre. E acha que quem assim procede não é uma “democracia”?

    Quanto aos cartoons, (eu andei a pregar noutras freguesias, i.e. blogues), mas desde o princípio defendi que devia haver respeito e bom senso e sempre discordei de agressões gratuitas a crenças alheias. Ora, sabendo agora que o O Jyllands-Posten, publicou os 12 cartoons acompanhados de um editorial que reivindicava o direito a «desafiar, blasfemar e humilhar o Islão»; sabendo ainda que foi depois da recusa do PM dinamarquês de reunir com onze embaixadores de países islâmicos que as organizações islâmicas dinamarquesas fizeram chegar a queixa à Liga Árabe e à Organização da Conferência Islâmica, em 27 de Outubro; que em 5 de Janeiro, depois de verem uma queixa indeferida pelo Ministério Público da Dinamarca, as organizações muçulmanas dinamarquesas anunciaram que iam apresentar queixa contra o «Jyllands Posten» no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos; que em 10 de Janeiro, um jornal católico norueguês «on-line», «Magazinet», solidariza-se com o periódico dinamarquês e republica os desenhos e que o mesmo faz o «Dagbladet», na edição da Internet; que em 1 de Fevereiro, no decurso deste contencioso crescente, os diários francês «France-Soir» e alemão «Die Welt» publicam as caricaturas «em defesa da liberdade de imprensa» e pouco depois jornais italianos, húngaros e espanhóis (pelo menos) fazem o mesmo; que só quando surgiram ameaças de bomba o director do «Jyllands Postem» pede desculpa «pela ofensa causada a muitos muçulmanos»; e que só agora o PM dinamarquês reuniu com os onze embaixadores e o MNE anunciou que o assunto ia ser derimido em tribunal …lamento ter de concluir que semeou ventos colheu agora tempestades.

  118. Oh margarida… seria interessante ler a opinião de um dos seus amigos cubanos, não ficou com mail de ninguem?

  119. “Mas não é por o nosso “modelo” ser diferente que o deles passa por ser uma “ditadura”, mas tão somente um modelo, nalguns aspectos diferente do nosso.”

    Ó Margarida, o regime do estado novo era uma ditadura? Porquê?

  120. Porque nem sequer a lei “normal” respeitava a “constituição” que eles tinham referendado (e onde as abstenções contaram a favor), porque tinham polícia política, porque tinham organizações paramilitares fascistas, porque tinham “tribunais especiais”, porque tinham a censura instituída, porque proibiram todos os partidos políticos e organizações sindicais, porque tinham a câmara corporativa, porque criminalizaram o comunismo, lembro-me assim de repente. À noite, com tempo sou capaz de me lembrar de muito mais.

  121. A verdade é que Cuba, apesar de mais de 40 anos de ingerências, agressões, sabotagens e do criminoso e ilegal bloqueio norte-americano ainda é um país que nos permite sonhar com um mundo melhor. Podem apontar muitos problemas em Cuba. Claro que os há e eu também os aponto, mas apesar de tudo está a li a ser construída uma alternativa ao capitalismo devastador que vemos ganhar terreno em todo o mundo e esse projecto merece a solidariedade de todos os que verdadeiramente se opõem a esse capitalismo devastador!

  122. Eu gostaria de saber se o Rui Neves, o a.pacheco e outros que se dizem de esquerda propoêm para combater a situação em que vive hoje o mundo?
    Qual é o vosso projecto? Como pensam mudar o mundo?
    Ou será que acham que o mundo está bem como está? Vão fazendo umas críticas aqui e ali, afirmando-se de esquerda mas provavelmente no fundo querem que tudo fique mais ou menos na mesma…

  123. E já que falo da Coreia do Norte, ainda não consegui perceber com clareza a posição da Margarida em relação a esse regime. E já agora se o/a H J nos quiser dar a sua opinião também agradeço.

  124. Caro Rui, são evidentes as diferenças entre as concepções de socialismo do PCP e do Partido do Trabalho da Coreia. Agora isso não impede que a RDP da Coreia tenha naturalmente a solidariedade de todos os que acreditam no ideal comunista.
    Não nos esqueçamos que os EUA ocupam militarmente a península coreana há mais de 60 anos, impondo a divisão do país. Não nos esqueçamos as atrocidades cometidas pelos EUA durante a guerra de 1950-53, com ameaças de utilizar a arma atómica. Não nos esqueçamos as provocações e agressões ao longo de 60 anos por parte dos EUA.
    Há 60 anos que o povo coreano está na primeira linha dos alvos do imperialismo norte-americano!

  125. Margarida,

    «A Coreia do Norte não é uma “democracia tipo ocidental”», nem Oriental. Não é uma democracia. Ponto.

    As coisas que eu já estou a escrever, por todos os santinhos! Daqui apouco estou aqui a explicar a alguém que o Franco e o Salazar não eram propriamente homens de grande porte democrático.

  126. A CRP no seu Artigo 46º (Liberdade de associação) estipula no seu ponto 4: Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista.. No entanto, o D. O. declara: “Sou contra a criminalização da liberdade de expressão. Sou contra a criminalização de opiniões homofóbicas, racistas, fascistas, negacionistas do Holocausto”.

    A CRP no seu Artigo 11º (Símbolos nacionais e língua oficial) estipula no seu ponto 1: A Bandeira Nacional, símbolo da soberania da República, da independência, unidade e integridade de Portugal, é a adoptada pela República instaurada pela Revolução de 5 de Outubro de 1910. E no seu ponto 2: O Hino Nacional é A Portuguesa. Mas o D. O. informa: “Sou contra a proibição de ofender símbolos nacionais e de os destruir”.

    Mais adiante o D. O. confessa que “defenderia, nos anos 20 e 30, toda a liberdade aos anti-semitas para falar. Mas estaria na primeira linha contra eles. Infelizmente, faltou então quem se lhes opusesse.” Perdeu o D. O. mais uma boa oportunidade para estar calado. Socorro-me do que escreveu António Vilarigues (Público, 02/05/2005): “Concorde-se ou não com os comunistas, goste-se ou não deles, a verdade é que foram eles que tiveram o triste privilégio de inaugurar os campos de concentração hitlerianos e de neles serem literalmente quase exterminados. O PC Alemão em 1933 tinha centenas de milhares de membros. Em 1945 eram pouco mais de mil. Nos países ocupados pela Alemanha e pelo Japão desempenharam um papel essencial, muitas vezes decisivo, na condução da Resistência. De 1940 a 1944, setenta e cinco mil comunistas franceses morreram torturados, fuzilados ou em luta directa com o ocupante. A história repetiu-se em Itália, na Checoslováquia, na Polónia, na Albânia, na Jugoslávia (1 milhão de mortos), na Hungria, na Bulgária, nas Repúblicas Bálticas. Na China, no Vietname, nas Filipinas, etc., etc., etc.. No mínimo exige-se dos seus adversários que respeitem a sua memória.”

    Portanto D. O. fique-se com os seus conceitos de liberdade e de democracia e com os seus amigos que eu fico com os meus, com a Constituição do meu país e com os meus camaradas.

  127. Mas será possível que ainda estão a discutir o mesmo assunto? H J, Margarida e outros que tais, deviam ter vergonha de estar aqui a defender regimes criminosos.
    As vossas opiniões, assim como as declarações de Bernardino Soares, os elogios a Estaline no Avante! ou as t-shirts de Estaline na festa do avante são actos vergonhosos e demonstram que infelizmente o pcp nunca deixou de ser estalinista e isso é uma coisa muito triste.

  128. Caro J., o pcp obviamente não defende Estaline nem faz qualquer sentido associá-lo ao “estalinismo”. O artigo a que se refere no Avante! não representa o pensamento político do pcp, mas apenas do seu autor e no próprio Avante! foi publicada uma nota nesse sentido. A questão das declarações de Bernardino Soares também foram prontamente esclarecidas e a questão das t-shirts na festa do avante é simplesmente ridícula. Foram vendidas penso que cerca de 20 t-shirts por pessoas que nada tinham a ver a organização da festa. Será que J. conhece a festa do avante, alguma vez lá foi?

  129. E já agora deixe-me esclarecê-lo. Eu não sou sequer militante do PCP, mas apenas simpatizante e votante e portanto as minhas opiniões só me responsabilizam a mim e não ao PCP.

  130. H J, fico contente por verificar que no avante há liberdade de expressão. Suponho que os renovadores também têm lá o seu espacinho para esporem as suas ideias…

  131. Confesso que é delicioso observar estas discuções entre comunas-caviar e comunas-comunas. Uns acham que cuba é o paraíso outros acham que é uma ditadura branda!
    E agora andam a discutir se a Coreia do Norte é ou não uma ditadura!
    Meu Deus! A esquerda ainda anda a discutir isto em 2006!!!

  132. Já agora dei-me ao trabalho de procurar o tal artigo do avante para aqui colocar porque acho que é uma verdadeira pérola:

    No 50.º aniversário da morte de Estaline

    Nostalgia russa pelos tempos do socialismo
    Manoel de Lencastre – Edição Nº.1549, 07-08-2003

    O 50º aniversário da morte de Estaline (05.03.1953) foi comemorado sem indiferença e com respeito na antiga URSS, mas noutros países com o habitual «grande espectáculo» que os «media» ocidentais costumam dedicar a todos os acontecimentos em que Estaline se distingue. Uma vez mais, vieram à baila os muitos milhões que teria mandado executar e, enfim, toda uma série de horrores a que a História, a verdadeira, não consente aval. O nome do escritor Alexandr Solzhenitsyn oferece constante fonte de apoio a todos os especuladores na matéria. A sua afirmação de que os «excessos» de Estaline teriam conduzido milhões de pessoas à morte, serve-lhes às mil maravilhas. Mas parece que as coisas não foram bem assim…

    Apesar de uma intensa barragem de comentários duvidosos, Moscovo abriu num dos museus da cidade uma exposição dedicada à vida e obra de Josef Vissarionovitch Djiugashvili. Tirando partido da crescente nostalgia do povo russo pelos dias em que o socialismo parecia afirmar-se e Estaline lhe dava credibilidade, os organizadores da exibição abriram ao público moscovita que acorreu ao Museu da História Contemporânea Russa (antigamente, o Museu da Revolução), diversas salas onde se apresentaram fotografias, cartas, documentação diversa e objectos que pertenceram ao antigo governante soviético. Este, através da agitadíssima carreira que se conhece, esteve no poder durante mais de três décadas. A sua morte foi profundamente sentida pelo povo das repúblicas soviéticas. A sua memória não se apagou do espírito daqueles que lhe conheceram a trajectória. É por isso que tantos milhares de pessoas, apesar da campanha imperialista que aponta as fomes, as guerras, as repressões, as purgas, os «gulags», como características chave da carreira de Estaline, acorreu à exposição demonstrando firme certeza nos ideais do comunismo e lastimando o rumo que os acontecimentos tomaram, entretanto.

    A acção de Estaline fez tremer os imperialistas (e ainda faz …)

    Estaline fez parte, inevitavelmente, do primeiro governo de comissários do povo saído da Revolução de Outubro, sobraçando a pasta das Nacionalidades. Nesse governo, a que Lenine presidia, entraram, também, Rykov (Interior), Milyutin (Agricultura), Schlyapnikov (Trabalho), Nogin (Comércio e Indústria), Lunacharsky (Educação), Stepanov (Finanças), Trotsky (Negócios Estrangeiros), Lomov (Justiça), Teodorovitch (Produtos Alimentares), Glebov (Correios e Telégrafos). Os assuntos militares eram dirigidos por uma comissão formada por Antonov-Ovseyenko, Krylenko e Dybenko.
    O papel de Estaline durante a guerra civil provocada pelas intrigas e pelas invasões dos países imperialistas que pretendiam sufocar o Estado socialista logo à nascença, é objecto de muitas, sempre controversas considerações. O mesmo tem de dizer-se quanto à chefia exercida durante a 2.ª Guerra Mundial. Mas existem poucas dúvidas de que Estaline se elevou ao mais alto nível de dirigente militar e político numa época cruel e rude em que liderou o país dos sovietes até à vitória final e à entrada do Exército Vermelho no Reichstag. Basta que notemos as principais revelações dos marechais soviéticos, Jukov e Rokossovsky, só para citar estes dois nomes históricos.
    Outro capítulo da trajectória de Estaline em que os dirigentes e os propagandistas do capitalismo mundial se mostram extremamente intransigentes e vorazes (compreende-se porquê…) é o da campanha da colectivização das terras. Mas a intransigência de Estaline era, igualmente, compreensível. Assim, a 6 de Fevereiro de 1928, dizia ele: «Os camponeses pobres e uma proporção considerável dos de nível médio, venderam e já entregaram ao Estado toda a sua produção de trigo. O governo pagou-lhes, segundo os preços acordados. Mas pode admitir-se que o nosso mesmo governo pague aos “kulaks” (grandes proprietários) duas vezes mais por iguais quantidades de trigo?». Os «kulaks», obviamente, foram liquidados como classe social. Mais tarde, em 1935, Estaline tinha, ainda, esta famosa conclusão para nos dar: «Deve compreender-se que de todas as preciosas formas de capital que existem no mundo, a mais decisiva é formada pelos homens e, entre estes, a mais preciosa são os quadros partidários».

    _____

    A voz da História

    Para Lenine, o fim aproximava-se. Mas com relutante ordem dos médicos, escreveu, ainda, o seu testamento político cujas primeiras notas começou a ditar a 24 de Dezembro de 1922. Dias depois, a 4 de Janeiro de 1923, incluiu uma adição que ficaria para a História e que transcrevemos:
    «Estaline é demasiado rude e este defeito, ainda que tolerável entre nós no tratamento de assuntos entre comunistas, torna-se inaceitável num Secretário-Geral do Partido. É por isso que sugiro que os camaradas pensem na maneira de o fazer sair desse lugar nomeando alguém que em todos os aspectos seja diferente do camarada Estaline e que, acima de tudo, seja mais tolerante, mais leal, mais educado, menos caprichoso e demonstre mais consideração pelos outros camaradas. Penso, ainda, que de um ponto de vista da salvaguarda dos interesses do nosso Partido contra eventuais divisões e partindo daquilo que já escrevi sobre as relações entre Estaline e Trotsky, isto não é um simples pormenor mas, se o fosse, tratar-se-ia, na verdade, de um pormenor que poderia assumir decisiva importância».
    O 13.º Congresso do Partido Comunista, agindo segundo as recomendações de Lenine e tendo presente o documento que acima citamos, decidiu alargar para 53 o número de membros do Comité Central, apesar da oposição de Trotsky. Mas, depois de discutido o documento preparado por Lenine, o Congresso decidiu manter Estaline no lugar de Secretário-Geral do Partido devido à sua luta consequente contra o trotskismo. Os delegados temiam, não injustificadamente, que a substituição de Estaline, nas condições do momento, só desse vantagens aos que haviam entrado na estrada do divisionismo. Entretanto, o próprio Secretário-Geral garantia estar preparado para corrigir os defeitos por Lenine descritos na sua carta.
    Mas os desenvolvimentos seguintes e a passagem do tempo indicam que Estaline não cumpriu a garantia prestada. Abusando do poder, promoveu o culto da sua própria personalidade acabando por cometer graves erros (mas não todos os que se lhe apontam), tanto em assuntos de política interna como noutros da área internacional. Por outro lado, note-se que a melhor homenagem que pode prestar-se ao chefe soviético, são os próprios imperialistas que a realizam ao continuarem, 50 anos após a sua morte, a massacrarem-nos com o que têm por enormidades e erros do Partido e de Estaline, mas que se revelaram vitórias de carácter histórico inegável – a construção do socialismo num só país; a electrificação de toda a URSS; a industrialização em massa; as grandes obras nacionais e o espectacular cumprimento dos Planos Quinquenais; a inolvidável e épica vitória do povo soviético, do Partido e do Exército Vermelho na 2.ª Guerra Mundial; o acesso à arma atómica para que se aquietassem os maníacos americanos.
    Quando apareceu Solzhenitsyn a glorificar as «vítimas» do estalinismo, e fazendo, portanto, «esclarecer» o mundo quanto ao que se passara, tanto o escritor como a máquina da propaganda imperialista que o fez e apoiou se esqueceram de notar que essas «vítimas» tinham vestido a farda do inimigo nazi e que a ele se tinham acolhido na expectativa de que a URSS perdesse a guerra. Mas essas expectativas saíram goradas, como todos sabemos.

    _____

    Cronologia

    21.12. 1879 – Nascimento de Josef Estaline;
    Julho de 1903 – Condenado a 3 anos de exílio na Sibéria por ter apoiado uma greve;
    Junho de 1906 – Casou com Ekaterina Svanize, filha de um ferroviário, que também se interessava por assuntos políticos. Ekaterina morreu em 1907, depois do nascimento de um filho, Vassily. Em 1918, Estaline casou com Nadezda Allilueva que lhe deu um filho, Yakov, em 1921, e uma filha, Svetlana, em 1925; Nadezda suicidou-se em 1932 e Yakov sucumbiria num campo de concentração nazi, em 1943; Svetlana transferiu-se para os Estados Unidos em 1966;
    1907 – Organizador de campanhas de fundos a favor do Partido bolchevique; encontrou-se com Lenine, secretamente, em Berlim;
    Outubro de 1917 – Revolução e tomada de todo o poder pelos sovietes;
    Abril de 1922 – Secretário-Geral do Partido Comunista;
    Janeiro de 1924 – Morte de Lenine;
    1929-1935 – Colectivização da agricultura;
    1937-1938 – Reorganização do sistema de quadros partidários através de purgas que atingiram altas personalidades da época consideradas figuras anti-Partido;
    Junho de 1941 – Invasão hitleriana da URSS;
    Novembro-Dezembro de 1941 – Derrota dos nazis às portas de Moscovo;
    Fevereiro de 1943 – Derrota dos nazis em Estalinegrado;
    Fevereiro de 1945 – Estaline discute o futuro de mundo em Yalta, com Churchill e Roosevelt;
    Abril de 1945 – O Exército Vermelho entra em Berlim e derrota Hitler;
    Maio de 1945 – Estaline preside à Parada da Vitória em Moscovo;
    Agosto de 1949 – Explosão de um engenho nuclear soviético;
    05.03.1953 – Morte de Estaline;

    Artigo publicado na Edição Nº1549

  133. Note-se ainda que
    “Uma vez mais, vieram à baila os muitos milhões que teria mandado executar e, enfim, toda uma série de horrores a que a História, a verdadeira, não consente aval.”

  134. Rui Neves: eu sou militante do PCP, mas obviamente as minhas opiniões só me responsabilizam a mim. O Avante é o órgão central do PCP. E como em qualquer semanário, no Avante os artigos assinados são da responsabilidade de quem os assina.

    Mas já que o “J” me acusa de estar a “defender regimes criminosos” reponho aqui mais um naco do artigo de António Vilarigues (“Reescrevendo a história”, Público, 02/05/05):

    “(…) Por outro lado, a realidade mostra-nos com uma clareza cristalina o papel que cada Aliado desempenhou na II Guerra Mundial.

    A desproporção quer nos meios envolvidos, quer nos consequentes resultados, é evidente. Na URSS os hitlerianos destruíram 1.710 cidades, 70.000 aldeias, 32.000 empresas industriais, 100.000 empresas agrícolas. Desapareceram 65.000 Km de vias férreas, 16.000 automotoras, 428.000 vagons. As riquezas nacionais da URSS foram reduzidas em mais de 30%. No território dos EUA, excepção feita a Pearl Harbour, não caíu uma só bomba, não se disparou um único tiro.

    Até começos de 1944 na frente sovieto-alemã operaram, em permanência, de 153 a 201 divisões nazis. Na frente ocidental, no mesmo período, de 2 a 21. Em 1945 a mesma proporção era de 313 para 118. De Junho a Agosto de 1944, ou seja, desde o início da Operação Overlord, as tropas fascistas perderam, entre mortos, feridos e desaparecidos, 917.000 na frente Leste e 294.000 na frente ocidental.

    A Alemanha perdeu na sua guerra contra a URSS o correspondente a 3/4 das suas baixas totais. Na frente soviética o exército japonês perdeu cerca de 677.000 homens (na sua maioria prisioneiros). Morreram, recorde-se, em todos os cenários da II Guerra, 250.000 norte-americanos, 600.000 ingleses, 27.000.000 de soviéticos (3 milhões dos quais membros do PC).

    Esta realidade está toda devidamente documentada. Porquê 16 anos depois da queda do Muro de Berlim, 14 anos depois do fim da URSS, continuar a escondê-la, a ignorá-la, a escamoteá-la? Porquê?”

    Dá para perceber agora quem foi o criminoso?

  135. Margarida, não esperava outra coisa de si: depois de defender Cuba e a Coreia do Norte só faltava mesmo defender o camarada Estaline.
    Mas mais uma vez desvia a conversa. Toda a gente conhece o papel da União Soviética na 2ª guerra mundial, não é isso que está em causa! O que está em causa é essencialmente o que ele fez no plano interno!
    A Margarida tem noção da gravidade do que anda aqui a escrever?
    Será que é preciso ir procurar algum artigo sobre os crimes de Estaline para pôr aqui?

  136. Paulo B, quando escrevi que Cuba é uma ditadura “branda” queria apenas dizer que há grandes diferenças entre Cuba e a Coreia do Norte.
    Mas obviamente são ambas absolutamente condenáveis!
    Salazar e Hitler também eram absolutamente condenáveis e no entanto os seus regimes tinham diferenças.
    Mas admito que a expressão foi infeliz.

  137. Público, 02/05/05, António Vilarigues*
    Reescrevendo a história

    A tentação de reescrever a história ao sabor das ideologias ou dos poderes dominantes, já vem de longe. É tão antiga como a própria história.

    Muito do que se diz e escreve a propósito das celebrações dos 60 anos da derrota do nazismo, tem esta chancela – adulteração da história. Já tinha sido assim em relação ao desembarque das tropas aliadas na Normandia em 1945, o chamado dia D. O fenómeno repetiu-se com o 60º aniversário da libertação de Paris.

    Duas vertentes dominam as “análises”: por um lado, a referência ao choque entre dois totalitarismos apresentados como de sinal igual – o nazismo e o comunismo. Por outro a tentativa de apresentar o contributo dos EUA e, acessoriamente, da Inglaterra como determinantes no desenrolar da II Guerra Mundial.

    Para fazer passar estas duas mensagens recorre-se aos mais variados métodos. Dos filmes de Hollywood às séries de TV. Dos documentários mais ou menos científicos, às análises escritas e faladas. Em todos eles um traço é predominante: a desvalorização, e mesmo o silenciamento quase total, sobre o papel da URSS e das diversas Resistências Patrióticas no esmagamento da máquina de guerra das potências do Eixo.

    Toda a realidade, seja ela económica, social ou política, é movimento segundo condições internas de mudança, de transformação. A análise deve ser concreta e em função da realidade concreta. Esta tese marxista, que me parece dever ser consensual, passa, obviamente, ao lado de todos a que nos temos vindo a referir. Seja por ignorância, seja por má fé.

    E, no entanto, o que nos mostra a realidade, essa “chata”?

    Mostra-nos, por um lado, que em nome do comunismo cometeram-se inúmeros crimes. Mas a matriz dominante desta ideologia é a da construção de uma sociedade sem classes, de homens e mulheres iguais, sem exploradores nem explorados. Onde vigorará o conceito “de cada um segundo as suas possibilidades a cada um segundo as suas necessidades”. Esta concepção de sociedade percorreu um longo caminho desde que começou a ser desenhada por Thomas Moore no seu livro A Utopia. Com Marx, Engels e Lenine ganhou novos e decisivos contornos, aprofundados pelos seus seguidores e que a moldaram até aos nossos dias.

    Em nome do comunismo, em quase todos os países onde os seus defensores existem, lutou-se e luta-se pela paz, pela independência, pela liberdade e pela democracia. Em nome dessa luta morreram e morrem milhões de seres humanos.

    Comparar esta ideologia com o nazi-fascismo, defensora de uma sociedade de exploração, de superioridade racial, de extermínio físico de povos e raças inteiros, de repressão e opressão, só mesmo por má fé. A política de “solução final” não abrangeu apenas os judeus. Alargou-se aos ciganos e aos eslavos. Em apenas 3 anos (1941-43) 1/3 da população masculina da Bielorússia foi aniquilada. Refira-se um facto, entre inúmeros outros, nunca citado na historiografia dominante: noventa e nove por cento dos quase duzentos campos de concentração nazis foram construídos a LESTE de Berlim!!!

    Concorde-se ou não com os comunistas, goste-se ou não deles, a verdade é que foram eles que tiveram o triste privilégio de inaugurar os campos de concentração hitlerianos e de neles serem literalmente quase exterminados. O PC Alemão em 1933 tinha centenas de milhares de membros. Em 1945 eram pouco mais de mil. Nos países ocupados pela Alemanha e pelo Japão desempenharam um papel essencial, muitas vezes decisivo, na condução da Resistência. De 1940 a 1944, setenta e cinco mil comunistas franceses morreram torturados, fuzilados ou em luta directa com o ocupante. A história repetiu-se em Itália, na Checoslováquia, na Polónia, na Albânia, na Jugoslávia (1 milhão de mortos), na Hungria, na Bulgária, nas Repúblicas Bálticas. Na China, no Vietname, nas Filipinas, etc., etc., etc.. No mínimo exige-se dos seus adversários que respeitem a sua memória.

    Por outro lado, a realidade mostra-nos com uma clareza cristalina o papel que cada Aliado desempenhou na II Guerra Mundial.

    A desproporção quer nos meios envolvidos, quer nos consequentes resultados, é evidente. Na URSS os hitlerianos destruíram 1.710 cidades, 70.000 aldeias, 32.000 empresas industriais, 100.000 empresas agrícolas. Desapareceram 65.000 Km de vias férreas, 16.000 automotoras, 428.000 vagons. As riquezas nacionais da URSS foram reduzidas em mais de 30%. No território dos EUA, excepção feita a Pearl Harbour, não caiu uma só bomba, não se disparou um único tiro.

    Até começos de 1944 na frente sovietico-alemã operaram, em permanência, de 153 a 201 divisões nazis. Na frente ocidental, no mesmo período, de 2 a 21. Em 1945 a mesma proporção era de 313 para 118. De Junho a Agosto de 1944, ou seja, desde o início da Operação Overlord, as tropas fascistas perderam, entre mortos, feridos e desaparecidos, 917.000 na frente Leste e 294.000 na frente ocidental.

    A Alemanha perdeu na sua guerra contra a URSS o correspondente a 3/4 das suas baixas totais. Na frente soviética o exército japonês perdeu cerca de 677.000 homens (na sua maioria prisioneiros). Morreram, recorde-se, em todos os cenários da II Guerra, 250.000 norte-americanos, 600.000 ingleses, 27.000.000 de soviéticos (3 milhões dos quais membros do PC).

    Esta realidade está toda devidamente documentada. Porquê 16 anos depois da queda do Muro de Berlim, 14 anos depois do fim da URSS, continuar a escondê-la, a ignorá-la, a escamoteá-la? Porquê?”

    * Consultor de informática

  138. Caro Rui, já que se deu ao trabalho de ir procurar esse artigo, podia ter tido a honestidade intelectual de publicar a nota que foi publicada no nº seguinte do mesmo jornal:

    Nota do Gabinete de Imprensa
    Esclarecimento sobre um texto publicado no Avante!
    O Gabinete de Imprensa do PCP divulgou a seguinte nota:

    «Face a referências feitas em outros órgãos de comunicação social a um artigo assinado no Avante! relativo a Estaline, o Gabinete de imprensa do PCP considera necessário esclarecer o seguinte:
    1. A posição do PCP sobre essa fase da vida soviética e esse dirigente não é traduzida por este ou aquele artigo ou por esta ou aquela opinião individual (que, como é o caso, responsabiliza apenas os seus autores), mas sim pela apreciação colectiva feita por órgãos responsáveis do PCP, designadamente os seus Congressos.
    2. E assim a posição colectiva do PCP sobre as questões em causa pode ser conhecida em inúmeros documentos, designadamente pelo que consta das Resoluções Políticas dos XIII e XIV Congressos, em que são analisadas as experiências positivas e negativas da construção do socialismo e as causas das suas derrotas, com uma apreciação crítica a erros e crimes que significaram não apenas um desvio mas um confronto com o ideal e projecto comunistas que consagram a democracia como uma componente essencial do socialismo.»

    Artigo publicado na Edição Nº1550

  139. Para a Margarida ír buscar um artigo do Público só podia ser do António Vilarigues!
    Mas confesso que não percebo muito bem onde quer chegar. Eu nunca comparei o comunismo ao nazismo em termos de ideologia, acho que isso não faz o mínimo sentido.
    Agora em termos de resultado acho que Estaline, Hitler e Mao Tsé Tung se equivalem: foram 3 monstros criminosos, mataram milhões de pessoas e é inadmissível que alguém os defenda!
    Mas para a Margarida, qualquer regime que se afirme comunista deve ser defendido, independentemente dos milhões de mortos que provocou…

  140. Jorge Messias

    «Barba Ruiva» e as igrejas russas

    No Tribunal de Nuremberga que julgou os principais criminosos de guerra nazis, foi lido um curto despacho da Chancelaria do III Reich com o seguinte texto: «Ficha Barba Ruiva. O Fuhrer decidiu o começo de “Barba Ruiva” para 22 de Junho de 1941». Quase simultaneamente, Hitler assinou o seguinte decreto: «Nomeio o Reichsleiter Alfred Rosenberg meu delegado para a resolução de todos os problemas relacionados com as regiões do centro da Europa. Vinte de Abril de 1941, Adolf Hitler.» Milhões de seres humanos foram, assim, condenados à morte e ao sofrimento.

    Esta nomeação para um alto lugar de direcção da Operação Barba Ruiva apenas dizia respeito à organização de certos aspectos do gigantesco assalto de destruição e saque dos recursos das populações e do Estado soviético. Ficavam de lado os aspectos puramente militares e policiais, da competência da Wermacht, das SS e das polícias controladas pela Gestapo e pelos serviços secretos. Com um sentido operacional tipicamente germânico, Rosenberg dividiu imediatamente os imensos territórios do Leste em comissariados do Reich dirigidos por quadros nazis dotados de plenos poderes. Toda a riqueza criada na vastidão que separava a Polónia dos Urais seria encaminhada para a Alemanha. Privadas da indústria, da agricultura e da pesca, do comércio ou da transformação dos minérios, caberia às populações russas inventar o modo de se auto-abastecerem sem recursos e de sobreviverem enquanto pudessem.
    Do Reich nazi chegaria, entretanto, uma torrente de colonos alemães que assumiriam a posse permanente dos recursos e das terras produtivas.

    Este plano de invasão, destruição e desmantelamento da URSS, partia de outra certeza dos estrategas nazis. As repúblicas soviéticas constituíam um autêntico mosaico de populações, etnias, crenças e credos, culturas, tradições tendências políticas. Os dirigentes nacional-socialistas dispunham de minuciosos «dossiers» sobre a matéria, organizados pelos serviços secretos, pelas universidades ou pelos intelectuais russos dissidentes. Acreditavam serem capazes de dividir para reinar, lançando minorias contra minorias. Os meses e anos que se seguiram à violação da pátria soviética vieram provar que, afinal, esses cálculos estavam errados. Primeiro, porque o conhecimento que os nazis tinham da avaliação dos outros povos perdia toda a lucidez, anulada pelo mito racista do super-homem ariano. Depois, por subestimarem os sentimentos de unidade pátria das populações da Rússia. E, ainda, por não terem entendido a capacidade de recuperação, resistência, organização e liderança do Partido Comunista soviético.
    As profundas contradições estratégicas dos dirigentes nazis foram-se tornando evidentes. Queriam seduzir as minorias religiosas e étnicas mas as exigências de guerra, em matérias-primas e em recursos humanos e materiais, bem como o cumprimento dos curtos prazos exigidos pelos Altos Comandos, reclamavam das hordas fascistas a imposição do terror. Centenas de igrejas e conventos de diferentes cultos foram saqueadas e os seus tesouros seculares seguiram o caminho do Grande Reich Alemão. Milhares de sacerdotes (só polacos, foram mais de 3000 ) tiveram o trágico fim de tantos outros patriotas, queimados, enforcados, fuzilados ou exterminados em campos como os de Dachau, Auschwitz, Buchenwald ou Bergen-Belsen.
    Os nazis não faziam distinção entre os diferentes credos. Lançavam fogo às barbas de um rabi judeu ou crucificavam-no, com a mesma indiferença com que fuzilavam no «muro preto» um padre católico ou ortodoxo ou enforcavam um fundamentalista religioso. Debalde se pode procurar uma ideologia nazi. Um nazi-fascista pertence, por definição, a uma organização rigidamente baseada no princípio das chefias (o fuhrerprinzip) que lhe fornece planos de acção claros e imediatos, com tarefas definidas e individualizadas. Quando assim acontece, um nazi sente-se bem. Tal como os jesuítas, o nazi nunca discute as decisões dos seus chefes. Obedece às ordens, mesmo que estas envolvam a prática de crimes intoleráveis. E encontra, deste modo, a sua paz de espírito. A ideologia, para ele, é fraqueza desprezível.
    Assim, de acordo com as determinações de Berlim, quando se iniciaram as operações militares de invasão da URSS e os exércitos nazis conseguiram avanços fulminantes, impôs-se a necessidade de policiar rapidamente os grandes espaços resultantes da deslocação da linha da frente militar. Os objectivos dessa tarefa eram múltiplos e imediatos: destruição de qualquer forma de resistência armada, apropriação de todos os valores do património russo e abertura de grandes áreas esvaziadas de população, de forma a permitir a instalação dos colonos germânicos. Criaram-se, pois, na retaguarda da frente, os chamados destacamentos especiais, constituídos por bandos de assassinos altamente disciplinados. Estes contingentes eram recrutados entre nazis fanáticos, criminosos comuns, soldados da Wermacht retirados da frente de combate, polícias e membros das SS e da Gestapo. Em Dezembro de 1941, cinco meses após a violação das fronteiras soviéticas, 34 mil judeus tinham sido exterminados em Kiev (muitos deles enterrados vivos), após a queda da cidade, e as «unidades especiais» procediam a fuzilamentos maciços, preferencialmente de comunistas, sindicalistas, intelectuais, sacerdotes, comissários políticos e administrativos, numa palavra, daqueles que, de qualquer modo, pudessem vir a enquadrar e a organizar as massas camponesas e operárias. Escusado seria procurar nesses crimes uma motivação ideológica. Os nazis matavam, roubavam e torturavam, só porque tinham recebido uma ordem dos seus chefes. Agiam em cumprimento estrito da vontade das chefias. Em meia dúzia de meses, concluiu o Tribunal de Nuremberga, as unidades especiais abateram mais que um milhão de cidadãos soviéticos. Na região de Smolensk foram assassinadas cerca de 125 000 pessoas. Na área de Leninegrado, 172 000. Em torno de Estalinegrado, 140 000. Na Crimeia, os nazis obrigaram 144 000 soviéticos a subir para barcaças que, depois, rebocaram para o alto mar e afundaram. Na região de Adesa, 300000 homens, mulheres e crianças, foram chacinados. A II Guerra Mundial deu lugar, nos territórios soviéticos, à destruição deliberada de 1760 igrejas do rito ortodoxo grego, de 237 templos católico-romanos, de 532 sinagogas judaicas e de vários locais de peregrinação como, por exemplo, Kiewo-Paherskaja, Lavra ou Nowy Jerusalém. Museus importantes, nomeadamente os de Tolstoi e de Tchaikowski, foram dinamitados.
    A morte, a doença, a fome, as epidemias e as destruições atingiam, indiferentemente, crentes e ateus, leigos e religiosos, comunistas e anticomunistas, criando, contrariamente ao que os nazis pretendiam, uma grande unidade entre o povo soviético. Ficou célebre a frase proferida em Estalinegrado pelos heróicos defensores da cidade: «Não há terra para além do Volga!», significando que a retirada perante os invasores, nem sequer podia ser admitida. Este sentimento era comum à esmagadora maioria do povo russo.

    A posição patriótica das principais igrejas

    Os generais e os dirigentes nazis enganaram-se, ainda, noutra avaliação decisiva, ao acreditarem que o mundo religioso russo iria agarrar com mãos ambas a ideia da destruição do regime soviético. A leitura nazi do mito da libertação continua a ser proposta nos tempos actuais. Mas os nazis acreditaram na sua própria propaganda, erro que os déspotas têm de evitar.
    Na era czarista só uma igreja, a Ortodoxa, era consentida pelo poder imperial. Todos os outros credos foram banidos e perseguidos. A tal ponto chegava a intolerância oficial que o Código do Império Russo estipulava que «se os pais baptizarem os seus filhos numa igreja diferente da Ortodoxa ou os educarem segundo os ritos de outras igrejas cristãs, serão condenados a penas de um ou dois anos de prisão». Os czares atribuíam à Igreja Ortodoxa subsídios superiores a 50 milhões de rublos, valor bem superior ao da verba destinada à Educação. Os salários das centenas de milhares de padres e monges eram pagos directamente pela Coroa.
    Quando se deu a Revolução Bolchevista de Outubro, em 1917, todo este panorama mudou drasticamente. Um dos primeiros decretos do governo provisório, a Declaração dos Direitos dos Povos da Rússia, estabelecia, no mês de Novembro, que «todos os privilégios e limitações religiosas e nacionais são abolidas». A partir de então, todos os cultos, comunidades e tendências religiosas eram iguais perante a lei. As igrejas ficavam separadas do Estado e proibia-se, nas escolas públicas, a exibição de emblemas ou de outros sinais confessionais e de culto.
    Tal como é inevitável no quadro das transformações democráticas de fundo, uma parte do clero ortodoxo reagiu mal à perda de privilégios. Durante pouco mais de dez anos, as relações entre o governo comunista e a igreja foram tensas. Mas o poder soviético manteve e alargou as garantias dadas, ao passo que a hierarquia ortodoxa foi aceitando as novas características da sociedade russa. Quando a barbárie nazi procurou destruir a URSS, funcionavam, em todo o território da União, milhares de templos e instalações religiosas ortodoxas, muçulmanas, católicas romanas, uniatas, luteranas, baptistas, judaicas, budistas, metodistas, etc. Todas elas tinham estruturas orgânicas diferentes entre si, livremente estabelecidas pelas respectivas comunidades, todas elas completamente autónomas do Estado Soviético.
    Todo este imenso universo crente cerrou fileiras e apoiou a resistência ao invasor teutónico. Mesmo no período do avanço acelerado das tropas nazis, mesmo quando as comunidades religiosas ficavam em território ocupado e os templos eram incendiados, conhecem-se actos heróicos de coragem e de firmeza, dos muitos sacerdotes e leigos que desafiaram a morte e a tortura.
    Houve excepções, evidentemente, como a do colaboracionismo da Igreja Católica Uniata, mas que representaram casos isolados. Sem dúvida que a fúria nazi acabaria por provocar uma aproximação entre as igrejas e a sociedade comunista.
    Ainda a guerra estava no seu auge, em 1943, verificou-se um encontro histórico ente Estaline e os três mais altos dignitários da Igreja Ortodoxa, Mons. Serge, Guarda do Trono Patriarcal, Mons. Alexis, Metropolita de Leninegrado, e Mons. Nicolas, Metropolita de Kiev. Repare-se que, nessa altura, em 1943, Kiev ainda estava nas mãos dos nazis e Leninegrado permanecia cercada. Desta reunião no Kremlin, saiu a convocação de um Concílio Geral, o qual teve lugar em 7 de Setembro, dele resultando a eleições de um Metropolita de Moscovo como figura máxima da Igreja Ortodoxa Russa. A igreja ortodoxa mantinha abertos ao culto, nessa altura de grandes riscos e sacrifícios, 20 mil templos, 67 mosteiros, 8 seminários, 3 academias teológicas e dispunha de 31 000 sacerdotes ordenados. Quanto à questão polémica de se saber se existia ou não, na URSS, liberdade religiosa, estes números podem falar por si.

    No Tribunal de Nuremberga que julgou os principais criminosos de guerra nazis, foi lido um curto despacho da Chancelaria do III Reich com o seguinte texto: «Ficha Barba Ruiva. O Fuhrer decidiu o começo de “Barba Ruiva” para 22 de Junho de 1941». Quase simultaneamente, Hitler assinou o seguinte decreto: «Nomeio o Reichsleiter Alfred Rosenberg meu delegado para a resolução de todos os problemas relacionados com as regiões do centro da Europa. Vinte de Abril de 1941, Adolf Hitler.» Milhões de seres humanos foram, assim, condenados à morte e ao sofrimento.

    Esta nomeação para um alto lugar de direcção da Operação Barba Ruiva apenas dizia respeito à organização de certos aspectos do gigantesco assalto de destruição e saque dos recursos das populações e do Estado soviético. Ficavam de lado os aspectos puramente militares e policiais, da competência da Wermacht, das SS e das polícias controladas pela Gestapo e pelos serviços secretos. Com um sentido operacional tipicamente germânico, Rosenberg dividiu imediatamente os imensos territórios do Leste em comissariados do Reich dirigidos por quadros nazis dotados de plenos poderes. Toda a riqueza criada na vastidão que separava a Polónia dos Urais seria encaminhada para a Alemanha. Privadas da indústria, da agricultura e da pesca, do comércio ou da transformação dos minérios, caberia às populações russas inventar o modo de se auto-abastecerem sem recursos e de sobreviverem enquanto pudessem.
    Do Reich nazi chegaria, entretanto, uma torrente de colonos alemães que assumiriam a posse permanente dos recursos e das terras produtivas.

    Este plano de invasão, destruição e desmantelamento da URSS, partia de outra certeza dos estrategas nazis. As repúblicas soviéticas constituíam um autêntico mosaico de populações, etnias, crenças e credos, culturas, tradições tendências políticas. Os dirigentes nacional-socialistas dispunham de minuciosos «dossiers» sobre a matéria, organizados pelos serviços secretos, pelas universidades ou pelos intelectuais russos dissidentes. Acreditavam serem capazes de dividir para reinar, lançando minorias contra minorias. Os meses e anos que se seguiram à violação da pátria soviética vieram provar que, afinal, esses cálculos estavam errados. Primeiro, porque o conhecimento que os nazis tinham da avaliação dos outros povos perdia toda a lucidez, anulada pelo mito racista do super-homem ariano. Depois, por subestimarem os sentimentos de unidade pátria das populações da Rússia. E, ainda, por não terem entendido a capacidade de recuperação, resistência, organização e liderança do Partido Comunista soviético.
    As profundas contradições estratégicas dos dirigentes nazis foram-se tornando evidentes. Queriam seduzir as minorias religiosas e étnicas mas as exigências de guerra, em matérias-primas e em recursos humanos e materiais, bem como o cumprimento dos curtos prazos exigidos pelos Altos Comandos, reclamavam das hordas fascistas a imposição do terror. Centenas de igrejas e conventos de diferentes cultos foram saqueadas e os seus tesouros seculares seguiram o caminho do Grande Reich Alemão. Milhares de sacerdotes (só polacos, foram mais de 3000 ) tiveram o trágico fim de tantos outros patriotas, queimados, enforcados, fuzilados ou exterminados em campos como os de Dachau, Auschwitz, Buchenwald ou Bergen-Belsen.
    Os nazis não faziam distinção entre os diferentes credos. Lançavam fogo às barbas de um rabi judeu ou crucificavam-no, com a mesma indiferença com que fuzilavam no «muro preto» um padre católico ou ortodoxo ou enforcavam um fundamentalista religioso. Debalde se pode procurar uma ideologia nazi. Um nazi-fascista pertence, por definição, a uma organização rigidamente baseada no princípio das chefias (o fuhrerprinzip) que lhe fornece planos de acção claros e imediatos, com tarefas definidas e individualizadas. Quando assim acontece, um nazi sente-se bem. Tal como os jesuítas, o nazi nunca discute as decisões dos seus chefes. Obedece às ordens, mesmo que estas envolvam a prática de crimes intoleráveis. E encontra, deste modo, a sua paz de espírito. A ideologia, para ele, é fraqueza desprezível.
    Assim, de acordo com as determinações de Berlim, quando se iniciaram as operações militares de invasão da URSS e os exércitos nazis conseguiram avanços fulminantes, impôs-se a necessidade de policiar rapidamente os grandes espaços resultantes da deslocação da linha da frente militar. Os objectivos dessa tarefa eram múltiplos e imediatos: destruição de qualquer forma de resistência armada, apropriação de todos os valores do património russo e abertura de grandes áreas esvaziadas de população, de forma a permitir a instalação dos colonos germânicos. Criaram-se, pois, na retaguarda da frente, os chamados destacamentos especiais, constituídos por bandos de assassinos altamente disciplinados. Estes contingentes eram recrutados entre nazis fanáticos, criminosos comuns, soldados da Wermacht retirados da frente de combate, polícias e membros das SS e da Gestapo. Em Dezembro de 1941, cinco meses após a violação das fronteiras soviéticas, 34 mil judeus tinham sido exterminados em Kiev (muitos deles enterrados vivos), após a queda da cidade, e as «unidades especiais» procediam a fuzilamentos maciços, preferencialmente de comunistas, sindicalistas, intelectuais, sacerdotes, comissários políticos e administrativos, numa palavra, daqueles que, de qualquer modo, pudessem vir a enquadrar e a organizar as massas camponesas e operárias. Escusado seria procurar nesses crimes uma motivação ideológica. Os nazis matavam, roubavam e torturavam, só porque tinham recebido uma ordem dos seus chefes. Agiam em cumprimento estrito da vontade das chefias. Em meia dúzia de meses, concluiu o Tribunal de Nuremberga, as unidades especiais abateram mais que um milhão de cidadãos soviéticos. Na região de Smolensk foram assassinadas cerca de 125 000 pessoas. Na área de Leninegrado, 172 000. Em torno de Estalinegrado, 140 000. Na Crimeia, os nazis obrigaram 144 000 soviéticos a subir para barcaças que, depois, rebocaram para o alto mar e afundaram. Na região de Adesa, 300000 homens, mulheres e crianças, foram chacinados. A II Guerra Mundial deu lugar, nos territórios soviéticos, à destruição deliberada de 1760 igrejas do rito ortodoxo grego, de 237 templos católico-romanos, de 532 sinagogas judaicas e de vários locais de peregrinação como, por exemplo, Kiewo-Paherskaja, Lavra ou Nowy Jerusalém. Museus importantes, nomeadamente os de Tolstoi e de Tchaikowski, foram dinamitados.
    A morte, a doença, a fome, as epidemias e as destruições atingiam, indiferentemente, crentes e ateus, leigos e religiosos, comunistas e anticomunistas, criando, contrariamente ao que os nazis pretendiam, uma grande unidade entre o povo soviético. Ficou célebre a frase proferida em Estalinegrado pelos heróicos defensores da cidade: «Não há terra para além do Volga!», significando que a retirada perante os invasores, nem sequer podia ser admitida. Este sentimento era comum à esmagadora maioria do povo russo.

    A posição patriótica das principais igrejas

    Os generais e os dirigentes nazis enganaram-se, ainda, noutra avaliação decisiva, ao acreditarem que o mundo religioso russo iria agarrar com mãos ambas a ideia da destruição do regime soviético. A leitura nazi do mito da libertação continua a ser proposta nos tempos actuais. Mas os nazis acreditaram na sua própria propaganda, erro que os déspotas têm de evitar.
    Na era czarista só uma igreja, a Ortodoxa, era consentida pelo poder imperial. Todos os outros credos foram banidos e perseguidos. A tal ponto chegava a intolerância oficial que o Código do Império Russo estipulava que «se os pais baptizarem os seus filhos numa igreja diferente da Ortodoxa ou os educarem segundo os ritos de outras igrejas cristãs, serão condenados a penas de um ou dois anos de prisão». Os czares atribuíam à Igreja Ortodoxa subsídios superiores a 50 milhões de rublos, valor bem superior ao da verba destinada à Educação. Os salários das centenas de milhares de padres e monges eram pagos directamente pela Coroa.
    Quando se deu a Revolução Bolchevista de Outubro, em 1917, todo este panorama mudou drasticamente. Um dos primeiros decretos do governo provisório, a Declaração dos Direitos dos Povos da Rússia, estabelecia, no mês de Novembro, que «todos os privilégios e limitações religiosas e nacionais são abolidas». A partir de então, todos os cultos, comunidades e tendências religiosas eram iguais perante a lei. As igrejas ficavam separadas do Estado e proibia-se, nas escolas públicas, a exibição de emblemas ou de outros sinais confessionais e de culto.
    Tal como é inevitável no quadro das transformações democráticas de fundo, uma parte do clero ortodoxo reagiu mal à perda de privilégios. Durante pouco mais de dez anos, as relações entre o governo comunista e a igreja foram tensas. Mas o poder soviético manteve e alargou as garantias dadas, ao passo que a hierarquia ortodoxa foi aceitando as novas características da sociedade russa. Quando a barbárie nazi procurou destruir a URSS, funcionavam, em todo o território da União, milhares de templos e instalações religiosas ortodoxas, muçulmanas, católicas romanas, uniatas, luteranas, baptistas, judaicas, budistas, metodistas, etc. Todas elas tinham estruturas orgânicas diferentes entre si, livremente estabelecidas pelas respectivas comunidades, todas elas completamente autónomas do Estado Soviético.
    Todo este imenso universo crente cerrou fileiras e apoiou a resistência ao invasor teutónico. Mesmo no período do avanço acelerado das tropas nazis, mesmo quando as comunidades religiosas ficavam em território ocupado e os templos eram incendiados, conhecem-se actos heróicos de coragem e de firmeza, dos muitos sacerdotes e leigos que desafiaram a morte e a tortura.
    Houve excepções, evidentemente, como a do colaboracionismo da Igreja Católica Uniata, mas que representaram casos isolados. Sem dúvida que a fúria nazi acabaria por provocar uma aproximação entre as igrejas e a sociedade comunista.
    Ainda a guerra estava no seu auge, em 1943, verificou-se um encontro histórico ente Estaline e os três mais altos dignitários da Igreja Ortodoxa, Mons. Serge, Guarda do Trono Patriarcal, Mons. Alexis, Metropolita de Leninegrado, e Mons. Nicolas, Metropolita de Kiev. Repare-se que, nessa altura, em 1943, Kiev ainda estava nas mãos dos nazis e Leninegrado permanecia cercada. Desta reunião no Kremlin, saiu a convocação de um Concílio Geral, o qual teve lugar em 7 de Setembro, dele resultando a eleições de um Metropolita de Moscovo como figura máxima da Igreja Ortodoxa Russa. A igreja ortodoxa mantinha abertos ao culto, nessa altura de grandes riscos e sacrifícios, 20 mil templos, 67 mosteiros, 8 seminários, 3 academias teológicas e dispunha de 31 000 sacerdotes ordenados. Quanto à questão polémica de se saber se existia ou não, na URSS, liberdade religiosa, estes números podem falar por si.

    Avante, Edição nº 1638, de 21/04/2005

  141. Margarida, toda a gente sabe os crimes que Hitler cometeu, nomeadamente contra os soviéticos, mas eu gostava era que me dissesse o que pensa de Estaline.
    Gostava de ter a sua opinião, não um artigo do avante ou do antónio vilarigues.

  142. Há aqui uma coisa que eu ainda não percebi: vocês não têm outros interesses na vida? É só cubas, coreias e estalines?
    Malta, descontraiam um bocado, vão beber um copo a algum sítio em vez de passar a noite nisto!
    Que deprimente!

  143. AS CINCO DIFICULDADES PARA ESCREVER A VERDADE

    Bertolt Brecht (*)

    Hoje, o escritor que deseje combater a mentira e a ignorância tem de lutar, pelo menos, contra cinco dificuldades.

    É-lhe necessária a coragem de dizer a verdade, numa altura em que por toda a parte se empenham em sufocá-la; a inteligência de a reconhecer, quando por toda a parte a ocultam; a arte de a tornar manejável como uma arma; o discernimento suficiente para escolher aqueles em cujas mãos ela se tornará eficaz; finalmente, precisa de ter habilidade para difundir entre eles.

    Estas dificuldades são grandes para os que escrevem sob o jugo do fascismo; aqueles que fugiram ou foram expulsos também sentem o peso delas; e até os que escrevem num regime de liberdades burguesas não estão livres da sua acção.

    1- A CORAGEM DE DIZER A VERDADE

    É evidente que o escritor deve dizer a verdade, não a calar nem a abafar, e nada escrever contra ela.

    É sua obrigação evitar rebaixar-se diante dos poderosos, não enganar os fracos, naturalmente, assim como resistir à tentação do lucro que advém de enganar os fracos.

    Desagradar aos que tudo possuem equivale a renunciar seja o que for.

    Renunciar ao salário do seu trabalho equivale por vezes a não poder trabalhar, e recusar ser célebre entre os poderosos é muitas vezes recusar qualquer espécie de celebridade.

    Para isso precisa-se de coragem. As épocas de extrema opressão costumam ser também aquelas em que os grandes e nobres temas estão na ordem do dia.

    Em tais épocas, quando o espírito de sacrifício é exaltado ruidosamente, precisa o escritor de muita coragem para tratar de temas tão mesquinhos e tão baixos como a alimentação dos trabalhadores e o seu alojamento.

    Quando os camponeses são cobertos de honrarias e apontados como exemplo, é corajoso o escritor que fala da maquinaria agrícola e dos pastos baratos que aliviariam o tão exaltado trabalho dos campos.

    Quando todos os altifalantes espalham aos quatro ventos que o ignorante vale mais do que o instruído, é preciso coragem para perguntar: vale mais porquê?

    Quando se fala de raças nobres e de raças inferiores, é corajoso o que pergunta se a fome, a ignorância e a guerra não produzem odiosas deformidades.

    É igualmente necessária coragem para se dizer a verdade a nosso próprio respeito, sobre os vencidos que somos.

    Muitos perseguidos perdem a faculdade de reconhecer as suas culpas. A perseguição parece-lhes uma monstruosa injustiça.

    Os perseguidores são maus, dado que perseguem, e eles, os perseguidos, são perseguidos por causa da sua virtude. Mas essa virtude foi esmagada, vencida, reduzida à impotência.

    Bem fraca virtude ela era! Má, inconsistente e pouco segura virtude, pois não é admissível aceitar a fraqueza da virtude como se aceita a humidade da chuva.

    É necessária coragem para dizer que os bons não foram vencidos por causa da sua virtude, mas antes por causa da sua fraqueza.

    A verdade deve ser mostrada na sua luta com a mentira e nunca apresentada como algo de sublime, de ambíguo e de geral; este estilo de falar dela convém justamente à mentira.

    Quando se afirma que alguém disse a verdade é porque houve outros, vários, muitos ou um só, que disseram outra coisa, mentiras ou generalidades, mas aquele disse a verdade, falou em algo de prático, concreto, impossível de negar, disse a única coisa que era preciso dizer.

    Não se carece de muita coragem para deplorar em termos gerais a corrupção do mundo e para falar num tom ameaçador, nos sítios onde a coisa ainda é permitida, da desforra do Espírito.

    Muitos simulam a bravura como se os canhões estivessem apontados sobre eles; a verdade é que apenas servem de mira a binóculos de teatro.

    Os seus gritos atiram algumas vagas e generalizadas reivindicações, à face dum mundo onde as pessoas inofensivas são estimadas.

    Reclamam em termos gerais uma justiça para a qual nada contribuem, apelam pela liberdade de receber a sua parte dum espólio que sempre têm partilhado com eles.

    Para esses, a verdade tem de soar bem. Se nela só há aridez, números e factos, se para a encontrar forem precisos estudos e muito esforço, então essa verdade não é para eles, não possui a seus olhos nada de exaltante.

    Da verdade, só lhes interessa o comportamento exterior que permite clamar por ela. A sua grande desgraça é não possuírem a mínima noção dela.

    2- A INTELIGÊNCIA DE RECONHECER A VERDADE

    Como é difícil dizer a verdade, já que por toda a parte a sufocam, dizê-la ou não parece à maioria uma simples questão de honestidade.

    Muitas pessoas pensam que quem diz a verdade só precisa de coragem. Esquecem a segunda dificuldade, a que consiste em descobri-la. Não se pode dizer que seja fácil encontrar a verdade.

    Em primeiro lugar, já não é fácil descobrir qual verdade merece ser dita. Hoje, por exemplo, as grandes nações civilizadas vão soçobrando uma após outra na pior das barbáries diante dos olhos pasmados do universo.

    Acresce ainda o facto de todos sabermos que a guerra interna, dispondo dos meios mais horríveis, pode transformar-se dum momento para o outro numa guerra exterior que só deixará um montão de escombros no sitio onde outrora havia o nosso continente.

    Esta é uma verdade que não admite dúvidas, mas é claro que existem outras verdades. Por exemplo: não é falso que as cadeiras sirvam para a gente se sentar e que a chuva caia de cima para baixo.

    Muitos poetas escrevem verdades deste género. Assemelham-se a pintores que esboçassem naturezas mortas a bordo dum navio em risco de naufragar.

    A primeira dificuldade de que falamos não existe para eles, e contudo têm a consciência tranquila. “Esgalham” o quadro num desprezo soberano pelos poderosos, mas também sem se deixarem impressionar pelos gritos das vítimas.

    O absurdo do seu comportamento engendra neles um “profundo” pessimismo que se vende bem; os outros é que têm motivos para se sentirem pessimistas ao verem o modo como esses mestres se vendem.

    Já nem sequer é fácil reconhecer que as suas verdades dizem respeito ao destino das cadeiras e ao sentido da chuva: essas verdades soam normalmente de outra maneira, como se estivessem relacionadas com coisas essenciais, pois o trabalho do artista consiste justamente em dar um ar de importância aos temas de que trata.

    Só olhando os quadros de muito perto é que podemos discernir a simplicidade do que dizem: “Uma cadeira é uma cadeira” e “Ninguém pode impedir a chuva de cair de cima para baixo”. As pessoas não encontram ali a verdade que merece a pena ser dita.

    Alguns consagram-se verdadeiramente às tarefas mais urgentes, sem medo aos poderosos ou à pobreza, e no entanto não conseguem encontrar a verdade.

    Faltam-lhe conhecimentos. As velhas superstições não os largam, assim como os preconceitos ilustres que o passado frequentemente revestiu de uma forma bela.

    Acham o mundo complicado em demasia, não conhecem os dados nem distinguem as relações. A honestidade não basta; são precisos conhecimentos que se podem adquirir e métodos que se podem aprender.

    Todos os que escrevem sobre as complicações desta época e sobre as transformações que nela ocorrem necessitam de conhecer a dialéctica materialista, a economia e a história.

    Estes conhecimentos podem adquirir-se nos livros e através da aprendizagem prática, por mínima que seja a vontade necessária.

    Muitas verdades podem ser encontradas com a ajuda de meios bastante mais simples, através de fragmentos de verdades ou dos dados que conduzem à sua descoberta.

    Quando se quer procurar, é conveniente ter-se um método, mas também se pode encontrar sem método e até sem procura. Contudo, através dos diversos modos como o acaso se exprime, não se pode esperar a representação da verdade que permite aos homens saber como devem agir.

    As pessoas que só se empenham em anotar os factos insignificantes são incapazes de tornar manejáveis as coisas deste mundo.

    O objectivo da verdade é uno e indivisível. As pessoas que apenas são capazes de dizer generalidades sobre a verdade não estão à altura dessa obrigação.

    Se alguém está pronto a dizer a verdade e é capaz de a reconhecer, ainda tem de vencer três dificuldades.

    3-A ARTE DE TORNAR A VERDADE MANEJÁVEL COMO UMA ARMA

    O que torna imperiosa a necessidade de dizer a verdade são as consequências que isso implica no que diz respeito à conduta prática. Como exemplo de verdade inconsequente ou de que se poderão tirar consequências falsas, tomemos o conceito largamente difundido, segundo o qual em certos países reina um estado de coisas nefasto, resultante da barbárie. Para esta concepção, o fascismo é uma vaga de barbárie que alagou certos países com a violência de um fenómeno natural.

    Os que assim pensam, entendem o fascismo como um novo movimento, uma terceira força justaposta ao capitalismo e ao socialismo (e que os domina). Para quem partilha esta opinião, não só o movimento socialista, mas também o capitalismo teriam podido, se não fosse o fascismo, continuar a existir, etc. Naturalmente que se trata de uma afirmação fascista, de uma capitulação perante o fascismo. O fascismo é uma fase histórica na qual o capitalismo entrou; por consequência, algo de novo e ao mesmo tempo de velho. Nos países fascistas, a existência do capitalismo assume a forma do fascismo, e não é possível combater o fascismo senão enquanto capitalismo, senão enquanto forma mais nua, mais cínica, mais opressora e mais mentirosa do capitalismo.

    Como se poderá dizer a verdade sobre o fascismo que se recusa, se quem diz essa verdade se abstêm de falar contra o capitalismo que engendra o fascismo? Qual será o alcance prático dessa verdade?

    Aqueles que estão contra o fascismo sem estar contra o capitalismo, que choramingam sobre a barbárie causada pela barbárie, assemelham-se a pessoas que querem receber a sua fatia de assado de vitela, mas não querem que se mate a vitela. Querem comer vitela, mas não querem ver sangue. Para ficarem contentes, basta que o magarefe lave as mãos antes de servir a carne. Não são contra as relações de propriedade que produzem a barbárie, mas são contra a barbárie.

    As recriminações contra as medidas bárbaras podem ter uma eficácia episódica, enquanto os auditores acreditarem que semelhantes medidas não são possíveis na sociedade onde vivem. Certos países gozam do raro privilégio de manter relações de propriedade capitalistas por processos aparentemente menos violentos. A democracia ainda lhes presta os serviços que noutras partes do mundo só podem ser prestados mediante o recurso à violência, quer dizer, aí a democracia chega para garantir a propriedade privada dos meios de produção. O monopólio das fábricas, das minas, dos latifúndios gera em toda a parte condições bárbaras; digamos que em alguns sítios a democracia torna essas condições menos visíveis. A barbárie torna-se visível logo que o monopólio já só pode encontrar protecção na violência nua.

    Certas nações que conseguem preservar os monopólios bárbaros sem renunciar às garantias formais do direito, nem a comodidades como a arte, a filosofia, a literatura, acolhem carinhosamente os hóspedes cujos discursos procuram desculpar o seu país natal de ter renunciado a semelhantes confortos: tudo isso lhes será útil nas guerras vindouras. É licito dizer-se que reconheceram a verdade, aqueles que reclamam a torto e a direito uma luta sem quartel contra a Alemanha, apresentada como verdadeira pátria do mal da nossa época, sucursal do inferno, caverna do Anticristo? Desses, não será exagerado pensar que não passam de impotentes e nefastos imbecis, já que a conclusão do seu blá-blá-blá aponta para a destruição desse pais inteiro e de todos os seus habitantes (o gás asfixiante, quando mata, não escolhe os culpados).

    O homem frívolo, que não conhece a verdade, exprime-se através de generalidades, em termos nobres e imprecisos. Encanta-o perorar sobre “os” alemães ou lançar-se em grandes tiradas sobre “o” Mal, mas a verdade é que nós, aqueles a quem o homem frívolo fala, ficamos embaraçados, sem saber que fazer de semelhantes ditames. Afinal de contas, o nosso homem decidiu deixar de ser alemão? E lá por ele ser bom, o inferno vai desaparecer? São desta espécie as grandes frases sobre a barbárie. Para os seus autores, a barbárie vem da barbárie e desaparece graças à educação moral que vem da educação. Que miséria a destas generalidades, que não visam qualquer aplicação pratica e, no fundo, não se dirigem a ninguém.

    Não nos admiremos que se digam de esquerda, “mas” democratas, os que só conseguem elevar-se a tão fracas e improfícuas verdades. A “esquerda democrática” é outra destas generalidades-álibís onde correm a acoitar-se as pessoas inconsequentes, isto é, os incapazes de viver até as últimas consequências as verdades que quer a esquerda, quer a democracia contêm. Reclamar-se alguém da “esquerda democrática” significa, em termos práticos, que pertence ao grupo dos ineptos para revolucionar ou conservar as coisas, ao clã dos generalistas da verdade.

    Não é a mim, fugido da Alemanha com a roupa que tinha no corpo, que me vão apresentar o fascismo como uma espécie de força motriz natural impossível de dominar. A escuridade dessas descrições esconde as verdadeiras forças que produzem as catástrofes. Um pouco de luz, e logo se vê que são homens a causa das catástrofes. Pois é, amigos: vivemos num tempo em que o homem é o destino do homem.

    O fascismo não é uma calamidade natural, que se possa compreender a partir da “natureza” humana. Mas mesmo confrontados com catástrofes naturais, há um modo de descrevê-las digno do homem, um modo que apela para as suas qualidades combativas.

    O cronista de grandes catástrofes como o fascismo e a guerra (que não são catástrofes naturais) deve elaborar uma verdade praticável, mostrar as calamidades que os que possuem os meios de produção infligem às massas imensas dos que trabalham e não os possuem.

    Se se pretende dizer eficazmente a verdade sobre um mau estado de coisas, é preciso dizê-la de maneira que permita reconhecer as suas causas evitáveis. Uma vez reconhecidas as causas evitáveis, o mau estado de coisas pode ser combatido.

    4- DISCERNIMENTO SUFICIENTE PARA ESCOLHER OS QUE TORNARÃO A VERDADE EFICAZ

    Tirando ao escritor a preocupação pelo destino dos seus textos, as usanças seculares do comércio da coisa escrita no mercado das opiniões deram-lhe a impressão de que a sua missão terminava logo que o intermediário, cliente ou editor, se encarregava de transmitir aos outros a obra acabada.

    O escritor pensava: falo e ouve-me quem me quiser ouvir. Na verdade, ele falava e quem podia pagar ouvia-o.

    Nem todos ouviam as suas palavras, e os que as ouviam não estavam dispostos a ouvir tudo o que se lhes dizia. Tem-se falado muito desta questão, mas mesmo assim ainda não chega o que se tem dito: limitar-me-ei aqui a acentuar que “escrever a alguém” tornou-se pura e simplesmente “escrever”.

    Ora não se pode escrever a verdade e basta: é absolutamente necessário escrevê-la a “alguém” que possa tirar partido dela. O conhecimento da verdade é um processo comum aos que lêem e aos que escrevem.

    Para dizer boas coisas, é preciso ouvir bem e ouvir boas coisas. A verdade deve ser pesada por quem a diz e por quem a ouve. E para nós que escrevemos, é essencial saber a quem a dizemos e quem no-la diz.

    Devemos dizer a verdade sobre um mau estado de coisas àqueles que o consideram o pior estado de coisas, e é desses que devemos aprender a verdade.

    Devemos não só dirigir-nos às pessoas que têm uma certa opinião, mas também aos que ainda a não têm e deviam tê-la, ditada pela sua própria situação. Os nossos auditores transformam-se continuamente!

    Até se pode falar com os próprios carrascos quando o prémio dos enforcamentos deixa de ser pago pontualmente ou o perigo de estar com os assassinos se torna muito grande.

    Os camponeses da Baviera não costumam querer nada com revoluções, mas quando as guerras duram demais e os seus filhos, no regresso, não arranjam trabalho nas quintas, tem sido possível ganhá-los para a revolução.

    Para quem escreve, é importante saber encontrar o tom da verdade. Um acento suave, lamentoso, de quem é incapaz de fazer mal a uma mosca, não serve. Quem, estando na miséria, ouve tais lamúrias, sente-se ainda mais miserável. Em nada o anima a cantilena dos que, não sendo seus inimigos, não são certamente seus companheiros de luta.

    A verdade é guerreira, não combate só a mentira, mas certos homens bem determinados que a propagam.

    5- HABILIDADE PARA DIFUNDIR A VERDADE

    Muitos, orgulhosos de ter a coragem de dizer a verdade, contentes por a terem encontrado, porventura fatigados com o esforço necessário para lhe dar uma forma manejável, aguardam impacientemente que aqueles cujos interesses defendem a tomem em suas mãos e consideram desnecessário o uso de manhas e estratagemas para a difundir.

    Frequentemente, é assim que perdem todo o fruto do seu trabalho. Em todos os tempos, foi necessário recorrer a “truques” para espalhar a verdade, quando os poderosos se empenhavam em abafá-la e ocultá-la.

    Confúcio falsificou um velho calendário histórico nacional, apenas lhe alterando algumas palavras. Quando o texto dizia: “o senhor de Kun condenou à morte o filósofo Wan por ter dito frito e cozido”, Confúcio substituía “condenou à morte” por “assassinou”.

    Quando o texto dizia que o Imperador Fulano tinha sucumbido a um atentado, escrevia “foi executado”. Com este processo, Confúcio abriu caminho a uma nova concepção da história.

    Na nossa época, aquele que em vez de “povo”,diz “população”, e em lugar de terra”, fala de “latifúndio”, evita já muitas mentiras, limpando as palavras da sua magia de pacotilha.

    A palavra “povo” exprime uma certa unidade e sugere interesses comuns; a “população” de um território tem interesses diferentes e opostos.

    Da mesma forma, aquele que fala em “terra” e evoca a visão pastoral e o perfume dos campos favorece as mentiras dos poderosos, porque não fala do preço do trabalho e das sementes, nem no lucro que vai parar aos bolsos dos ricaços das cidades e não aos dos camponeses que se matam a tornar fértil o “paraíso”.

    “Latifúndio” é a expressão justa: torna a aldrabice menos fácil. Nos sítios onde reina a opressão, deve-se escolher, em vez de “disciplina”, a palavra “obediência”, já que mesmo sem amos e chefes a disciplina é possível, e caracteriza-se portanto por algo de mais nobre que a obediência.

    Do mesmo modo, “dignidade humana” vale mais do que “honra”: com a primeira expressão o indivíduo não desaparece tão facilmente do campo visual; por outro lado, conhece-se de ginjeira o género de canalha que costuma apresentar-se para defender a honra de um povo, e com que prodigalidade os gordos desonrados distribuem “honrarias” pelos famélicos que os engordam.

    Ao substituir avaliações inexactas de acontecimentos nacionais por notações exactas, o método de Confúcio ainda hoje é aplicável.

    Lénine, por exemplo, ameaçado pela polícia do czar, quis descrever a exploração e a opressão da ilha Sakalina pela burguesia russa. Substituiu “Rússia” por “Japão” e “Sakalina” por “Coreia”.

    Os métodos da burguesia japonesa faziam lembrar a todos os leitores os métodos da burguesia russa em Sakalina, mas a brochura não foi proibida, porque o Japão era inimigo da Rússia.

    Muitas coisas que não podem ser ditas na Alemanha a propósito da Alemanha, podem sê-lo a propósito da Áustria. Há muitas maneiras de enganar um Estado vigilante.

    Voltaire combateu a fé da Igreja nos milagres, escrevendo um poema libertino sobre a Donzela de Orleans, no qual são descritos os milagres que sem dúvida foram necessários para Joana d’Arc permanecer virgem no exército, na Corte e no meio dos frades.

    Pela elegância do seu estilo e a descrição de aventuras galantes inspiradas na vida relaxada das classes dirigentes, levou estas a sacrificar uma religião que lhes fornecia os meios de levar essa vida dissoluta.

    Mais e melhor deu assim às suas obras a possibilidade de atingir por vias ilegais aqueles a quem eram destinadas. Os poderosos que Voltaire contava entre os seus leitores favoreciam ou toleravam a difusão dos livros proibidos, e desse modo sacrificavam a polícia que protegia os seus prazeres.

    E o grande Lucrécio sublinha expressamente que, para propagar o ateísmo epicurista confiava muito na beleza dos seus versos.

    Não há dúvida de que um alto nível literário pode servir de salvo-conduto à expressão de uma ideia. Contudo, muitas vezes desperta suspeitas. Então, pode ser indicado baixá-lo intencionalmente.

    É o que acontece, por exemplo, quando sob a forma desprezada do romance policial, se introduz à socapa, em lugares discretos, a descrição dos males da sociedade.

    O grande Shakespeare baixou o seu nível por considerações bem mais fracas, quando tratou com uma voluntária ausência de vigor o discurso com que a mãe de Coriolano tentou travar o filho, que marchava sobre Roma: Shakespeare pretendia que Coriolano desistisse do seu projecto, não por causa de razões sólidas ou de uma emoção profunda, mas por uma certa fraqueza de carácter que o entregava aos seus velhos hábitos.

    Encontramos igualmente em Shakespeare um modelo de manhas na difusão da verdade: o discurso de Marco António perante o corpo de César, quando repete com insistência que Brutus, assassino de César, é um homem honrado, descrevendo ao mesmo tempo o seu acto, e a descrição do acto provoca mais impressão que a do autor.

    Jonathan Swift propôs numa das suas obras o seguinte meio de garantir o bem-estar da Irlanda: meter em salmoura os filhos dos pobres e vendê-los como carniça no talho.

    Através de minuciosos cálculos, provava que se podem fazer grandes economias quando não se recua diante de nada. Swift armava voluntariamente em imbecil, defendendo uma maneira de pensar abominável e cuja ignomínia saltava aos olhos de todos. O leitor podia-se mostrar mais inteligente, ou pelo menos mais humano que Swift, sobretudo aquele que ainda não tinha pensado nas consequências decorrentes de certas concepções.

    São consideradas baixas as actividades úteis aos que são mantidos no fundo da escala: a preocupação constante pela satisfação de necessidades; o desdém pelas honrarias com que procuram engodar os que defendem o país onde morrem de fome; a falta de confiança no chefe quando o chefe nos leva a todos à catástrofe; a falta de gosto pelo trabalho quando ele não alimenta o trabalhador; o protesto contra a obrigação de ter um comportamento de idiotas; a indiferença para com a família, quando de nada serve a gente interessar-se por ela.

    Os esfomeados são acusados de gulodice; os que não têm nada a defender, de cobardia; os que duvidam dos seus opressores, de duvidar da sua própria força; os que querem receber a justa paga pelo seu trabalho, de preguiça, etc.

    Numa época como a nossa, os governos que conduzem as massas humanas à miséria, têm de evitar que nessa miséria se pense no governo, e por isso estão sempre a falar em fatalidade. Quem procura as causas do mal, vai parar à prisão antes que a sua busca atinja o governo.

    Mas é sempre possível opormo-nos à conversa fiada sobre a fatalidade: pode-se mostrar, em todas as circunstâncias, que a fatalidade do homem é obra de outros homens. Até na descrição de uma paisagem se pode chegar a um resultado conforme à verdade, quando se incorporam à natureza as coisas criadas pelo homem.

    RECAPITULAÇÃO

    A grande verdade da nossa época (só seu conhecimento em nada nos faz avançar, mas sem ela não se pode alcançar nenhuma outra verdade importante) é que o nosso continente se afunda na barbárie porque nele se mantêm pela violência determinadas relações de propriedade dos meios de produção.

    De que serve escrever frases corajosas mostrando que é bárbaro o estado de coisas em que nos afundamos (o que é verdade), se a razão de termos caído nesse estado não se descortina com clareza? É nossa obrigação dizer que, se se tortura, é para manter as relações de propriedade.

    Claro que ao dizermos isso perdemos muitos amigos; aqueles que são contra a tortura porque julgam ser possível manter sem ela as relações de propriedade (o que é falso).

    Devemos dizer a verdade sobre as condições bárbaras que reinam no nosso país a fim de tornar possível a acção que as fará desaparecer, isto é, que transformará as relações de propriedade.

    Devemos dizê-la aos que mais sofrem com as relações de propriedade e estão mais interessados na sua transformação, ou seja: aos operários e aos que podemos levar a aliarem-se com eles, por não serem proprietários dos meios de produção, embora associados aos lucros e benefícios da exploração de quem produz. E, é claro, devemos proceder com astúcia.

    Devemos resolver em conjunto, e ao mesmo tempo, estas cinco dificuldades, já que não podemos procurar a verdade sobre condições bárbaras sem pensar nos que sofrem essas condições e estão dispostos a utilizar esse conhecimento.

    Além disso, temos de pensar em apresentar-lhes a verdade sob uma forma susceptível de se transformar numa arma nas suas mãos, e simultaneamente com a astúcia suficiente para que a operação não seja descoberta e impedida pelo inimigo.

    São estas as virtudes exigidas ao escritor empenhado em dizer a verdade.

    (*) Texto de 1934. Tradução de Ernesto Sampaio.
    Publicado no Diário de Lisboa de 25/Abr/82.

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info

  144. A indústria do anticomunismo

    Por Emir Sader – Carta Maior

    Um escritor judeu residente em Nova York chamou de membros da “indústria do holocausto” os que vivem às custas do massacre sofrido pelos judeus – assim como pelos comunistas e pelos ciganos, tão esquecidos. São burocratas, “intelectuais”, “religiosos” que vivem da exploração do tema – literalmente vivem: ganham dinheiro, prestígio, espaço na imprensa e nas editoras.

    O mesmo se pode dizer do anticomunismo. O fim da URSS e do campo socialista deixou um tipo particular de viúva: os que viviam da “guerra fria”. Na Argentina, no momento da morte de Perón, um antiperonista radical – do Partido Radical – escreveu, desconsolado: “Nesse caixão vai metade da minha vida. Eu que cresci e vivi como antiperonista, o que vai ser de mim, de onde vou tirar o sentido da minha vida?” No desespero, sentia-se traído por Perón, que o abandonava à sua própria sorte.

    Um comunista me dizia outro dia que se deliciava em ler a sobrevivente literatura anticomunista, porque dá a impressão que o mundo está à beira do comunismo, que os dias do capitalismo estão contados. Essa fauna encontra vários exemplares por aí, viúvas da “guerra fria”, que tratam de viver do anticomunismo: colunistas de uma (ainda) bem vendida revista semanal, filho de um marqueteiro; um articulista de duvidosa existência (há quem diga que é pseudônimo de um esquerdista, que criou esse grotesco personagem para desmoralizar a direita), um editor cultural promovido por um assassino – todos personagens jurássicos, deslocados, que têm que criar o fantasma do comunismo para aparecerem como valorosos “salvadores do capitalismo”, cobrando polpudos salários por esse papel que se auto-atribuem.

    A mencionada revista semanal, saudosa dos tempos da bipolaridade EUA/URSS, destila periodicamente – entre capas sobre temas de saúde, de compras, de variedades, tiradas de revistas estadunidenses – seus venenos anticomunistas, de que pretende tirar proveito mostrando serviço ao grande empresariado e recebendo vantagens em troca.

    Pautas como o MST, Cuba, guerrilhas, PT, Venezuela (lembram-se da grotesca matéria de capa regozijando-se do golpe contra o “ditador” Hugo Chávez, uma das maiores gafes dos últimos tempo na imprensa brasileira) alternam-se com matérias fúteis de propaganda do “american way of life”.

    Nesta semana, por falta de pauta – o mundo e o Brasil lhes parecem suficientemente pobres de interesse – publica-se com estardalhaço – como se sugeria nos manuais de propaganda estadunidenses da “guerra fria” para os órgãos financiados e promovidos por eles – uma pífia matéria sobre suposto financiamento das Farc ao PT.

    As Farc são um prato cheio para os nostálgicos da “guerra fria”. Guerrilha, América Latina, Partido Comunista, tentativa de criminalização acusando-os de “narcoguerrilhas” – sem nunca mencionar os reconhecidos vínculos do presidente colombiano com os paramilitares e, através destes, com os cartéis (nunca usaram a expressão “narcopresidente”). A matéria não apresenta nenhuma prova concreta, refugiando-se em fontes que teriam desejado não aparecer. Nada ficará quando a espuma da onda baixar. Mas a onda está feita, repercutida em todo o resto da imprensa escrita do fim de semana, com direito a desmentidos e entrevistas na televisão.

    É esse o papel da imprensa da “guerra fria”. Desvia-se das pautas essenciais para o povo brasileiro e para o Brasil e resta o que os monopólios privados da mídia impõem. Uma senhora idosa declara, no Estadão, que é bem atendida pelo médico cubano que a atende em uma pequena cidade de 3 mil habitantes no norte de Tocantins – onde nenhum médico da burguesia vai. Mas o artigo publicado – sem uma outra versão, como pede o manual de redação desse jornal – na Folha de S. Paulo se preocupa com a validação do diploma da primeira geração de médicos pobres no Brasil.

    Supostamente preocupados com a saúde do povo brasileiro, sem se dar conta de que esses médicos vão trabalhar em cidades como essa de Tocantins, na saúde pública, e que não vão concorrer com a clientela rica dos Jardins. Se preocupam com o diploma da Faculdade Latino-americana de Medicina, em Cuba, país que têm um dos melhores índices de saúde do mundo, ao contrário do Brasil, onde predomina a medicina privada.

    Mas a indústria do anticomunismo precisa levantar os fantasmas da subversão, para poder vender seus serviços para uma burguesia covarde, disposta a qualquer coisa, para não perder nem os dedos, nem os anéis.

    in http://www.correiodobrasil.cidadeinternet.com/br

  145. Estive a lêr esta treta toda (menos o(s) copy/paste (da) margarida) e dou graças a uma qq entidade divina (certamente susceptível de ser ridicularizada [nem que invente um deus só meu, pronto]) por ir prá caminha, fazer um ó-ó descansado. Ó Daniel, não sei como é que aguentas esta estucha (a malta já anda a fazer apostas para o nº de comentários que este post vai ter),como é que aguentas tanta parvoeira.

    PS tenho cá umas suspeitas que a margarida não existe. É uma ficção duma pita qq que não tem mais que fazer.

  146. Rui Neves : pergunta-me o que eu penso do Estaline. Penso que foi o presidente da URSS e do PCUS e que conseguiu – com os sacrifícios e as mortes (27 milhões!!!) dos povos soviéticos – o mais importante: derrotar os invasores nazi alemão e japonês, e deu o mais importante contributo para o fim da II Guerra Mundial. E é por isso que mais de 60 anos depois da vitória sobre o nazi-fascismo e mais de 50 anos depois da sua morte, os seus inimigos ainda não lhe perdoaram a derrota que lhes infligiu.

  147. Margarida, a sua resposta é de uma tal gravidade que eu nem quero acreditar no que estou a ler!
    Segundo percebi a Margarida entende que todos os crimes de Estaline contra o seu próprio povo não têm qualquer importância porque conseguiu derrotar os invasores nazi alemão e japonês!
    Mas o que é que uma coisa tem a ver com a outra?
    Para derrotar os alemães era condição necessária o terror do povo soviético, os gulags, os processos de moscovo, a morte de milhões de camponeses na Ucrânia, etc., etc., etc.?
    E quem são esses supostos inimigos que ainda não lhe perdoaram a derrota que lhes inflingiu?
    Eu não conheço pessoalmente nenhum militante do pcp mas recuso-me a acreditar que essas ideias são comuns entre eles. Prefiro acreditar que estas ideias só são partilhadas por pequenas franjas fanáticas e ultra-radicais. Só pensando desta forma posso manter o respeito que tenho pelo pcp, pela sua luta no combate à ditadura de Salazar, pelo seu bom trabalho desempenhado em algumas autarquias, sindicatos, etc.

  148. Eu nas últimas autárquicas até votei no candidato do pcp, que ganhou as eleições no meu concelho, mas recuso-me a acreditar que o meu presidente de câmara defende estaline e a coreia do norte. Recuso-me a acreditar, é inconcebível!

  149. Margarida, desculpe mas pela parte que me toca a discussão fica por aqui. Gosto muito de discutir política com pessoas que têm pontos de vista diferentes ou até muito diferentes dos meus, mas digamos que tem de haver um mínimo denominador comum para que a discussão possa existir.
    Se em 2006 ainda há pessoas que põe em causa a existência dos crimes de Estaline ou defendem o regime da Coreia do Norte, não é possível ter uma discussão séria com essas pessoas. Da mesma forma, acho que não seria capaz de ter uma discussão com uma pessoa que negasse o holocausto, defendesse Hitler e entendesse que Salazar, Pinochet ou Franco até nem eram muito maus, tinham apenas uma concepção de democracia um pouco diferente da “ocidental”.
    Só me resta aconselhar-lhe que diversifique um pouco as suas leituras. Ler só o avante, o gramma e outras publicações do mesmo género é capaz de lhe dar uma visão das coisas um pouco enviesada, não lhe parece?
    E tenho esperança que um dia, como aconteceu com muitos outros, olhe para as coisas que tem andado aqui a escrever com uma imensa vergonha e arrependimento.

  150. Rui Neves: eu nem falei dos “crimes de Estaline contra o seu próprio povo”. Eu limitei-me a responder-lhe o que é que HOJE penso de Estaline. Mas posso contar-lhe o que é que já pensei dele.

    Pouco depois do 25 de Abril, era novita, um dia cheguei a casa e deparei-me com o meu irmão mais velho (e tenho 8 irmãos e este é ó único comunista) acabado de chegar do hospital, com a cabeça partida , os meus pais bastante nervosos, e todos numa grande algazarra. Perguntei o que é que se passava e quando o meu pai ia a começar a explicar que ele levara uma carga de porrada de um colega estalinista do MRPP que quase o tinha matado, na faculdade, foi interrompido por outro dos meus irmãos (este era do MRPP) com um desdenhoso “pouco se perdia, um social-fascista a mais ou a menos”, a que repliquei com uma bofetada e aos berros “começa já aqui a repressão social-fascista”. Penso que foi a minha resposta histérica que acalmou a cena, eu era das mais novas e nunca tinha levantado uma mão contra qualquer dos meus irmãos…a minha primeira impressão dum estalinista confesso, foi pois arrepiante. É que esses meus dois irmãos eram (são) umas jóias de moços, calmos, ponderados, nada agressivos. Foi a primeira vez que eu passei por uma cena tão irracional e até penso que foi isso que me fez aderir ao PCP, pouco depois. Porque senti a necessidade de intervir num partido responsável, contra fundamentalismos excessivos que até semeavam ódios no seio duma família, onde havia muitas formas diferentes de pensar mas que nas questões importantes era unida.

    No PCP aprendi que desde os anos 50’s tinham condenado as arbitrariedades e os crimes cometidos em nome do socialismo e do comunismo. Eu própria testemunhei aquando dum Congresso extraordinário (salvo erro no final dos anos 80’s), da denúncia desses crimes, arbitrariedades e erros. Mais recentemente e particularmente desde as comemorações dos 60 anos sobre a derrota do nazi-fascismo, estudei com mais pormenor o período histórico que antecedeu a II Guerra Mundial, e por isso dou importância ao papel incontornável de Estaline na vitória sobre o nazi-fascismo.

    Por isso é com algum nojo (às vezes), outras com alguma (indignação) que vejo que quem andou há 30 anos, de retrato do Estaline em punho, (Fernando Rosas, Major Tomé, Luís Fazenda, Pedro Soares, José Manuel Fernandes, João Carlos Espada, Francisco José Viegas, etc., etc.,) a combater (e a agredir) quem não o tinha por santo, a pedir-nos “responsabilidades” por Estaline…com tanto descaramento e espavento!

  151. Então o PCP condena os erros do passado? E nunca aceitou as mortandades estalinistas? Estou admirado: então porque cargas de água terá o Avante erguido a voz contra o relatório de Göran Lindblad, que afirmava (espantem-se!)que o Comunismo era responsável por uma série de crimes por todo o Mundo???

  152. o que me aborrece é que aqui só se fala em comunismo.
    ninguém comentou/criticou as sugestões revisionistas…
    monkeys…

  153. Tive uma reacção estranha a este post. Não me parece que Cristo e Moisés sejam intocáveis na Europa e Maomé motivo recorrente de galhofa, que alguém que diga uma piada sobre judeus seja imediatamente suspeito de simpatias nazis e quem maltrate os muçulmanos apenas esteja a usar da sua liberdade de expressão, que se distingam judeus e cristãos mas não “islâmicos” (por isso se fala em extremistas ou radicais ou – erradamente – fundamentalistas). Acho que está a exagerar, que não existe essa intolerância.
    Mas concordo com o direito dos muçulmanos a indignarem-se (desde que pacificamente) e concordo com a não-criminalização da opinião.
    Contas feitas, a islamofobia pode ser um perigo para a Europa – mas o extremismo islâmico (como vê, há quem não reduza os islâmicos a uma só categoria) é um perigo bem maior.

  154. Caro Daniel,

    gostei de ler que prefere uma Direita democrata a uma Esquerda Fidelista.

    Podendo estar a cometer uma enorme injustica, acho que outras caras do BE nao diriam o mesmo.

  155. É tão bom ter a barriga cheia e criticar, o que julgamos ser inviavel e utopico, refiro-me ao Comunismo.
    Os senhores neo-liberais, que presentemente detem uma bela conta bancária, montam o belo carrinho, ultimo modelo da serie x, que dá 200 e não sei quantos, que nem se preocupam com o meio ambiente, pois acham que isso é conversa de ecologistas antiglobalização, tem tanto medo do comunismo porque? Os mesmos já o declararam morto! Por que tanto medo? Falam-do de Cuba, está a fazer 45 ou 46 anos que dura o embargo dos EUA.

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