Como 99% dos portugueses, não gosto da actual ministra da Saúde. É incompetente, errática e, suspeito, pouco entusiasmada com a utilidade do SNS. No entanto, o grande problema que é para os médicos do hospital do Barreiro (por exemplo) prestarem também serviços no hospital de Almada ultrapassa o meu entendimento.
Arquivo da Categoria: Penélope
O Presidente dos Estados Unidos, ladies and gentlemen
Não sabia que a “burqa” estava na ordem do dia, mas a posição do PS surpreende-me
Não deve haver em Portugal muitas mulheres que enverguem a burqa. Eu ainda não vi. O niqab sim, já vi, e fiquei bastante impressionada com o conformismo e o estoicismo que aquelas mulheres revelam, sobretudo no Verão. Mas hoje, as notícias dizem que foi votada, assim de repente, uma proposta do Chega na Assembleia da República que visava a proibição (ao que parece apenas da burqa!) no espaço público invocando razões de segurança e de igualdade.
Evidentemente que, vinda do Chega, esta proposta tem todas as intenções e mais alguma menos a de garantir a igualdade entre os sexos. No entanto, expurgando a proposta dos seus autores do momento*, todos devíamos concordar que a burqa ou o niqab, pelo que representam de opressão das mulheres (e as iranianas que o digam), não podem ser aceites no espaço e nas instituições públicas de um país ocidental civilizado. Fora de casa, as mulheres não devem transformar-se em vultos, sem identidade, sem personalidade, sem corpo, por força de princípios de insegurança masculina, ou de convicções sobre a inferioridade feminina, ditados sabe-se lá por que tarados há não sei quanto tempo.
Antecipo já as idiotices que irão ser ditas sobre a liberdade de cada um de escolha da indumentária, a liberdade religiosa, a comparação com as freiras católicas, a tolerância e por aí fora. Não me convencem. Nunca me convencerão. A burqa e o niqab são mais do que uma indumentária, são um símbolo de uma civilização oposta à nossa (inferior mesmo, arrisco dizer) em matéria de costumes e não só, não são uniformes de uma congregação restrita que, só por si, não representa a posição do catolicismo em relação às mulheres, e só são impostas às mulheres. Além disso, considero o voto contra um desrespeito por todas as corajosas raparigas e mulheres que foram presas ou mortas em determinados países por quererem desenvencilhar-se de tais trapos e deixar o cabelo ao vento. A posição do PS é incompreensível. O que é que acontecia se tivessem votado a favor? Nada de mal e tudo de bom, assim tivessem querido ao mesmo tempo subalternizar o Ventura e sus muchachos (machistas e boçais) e defender os valores da dignidade, da igualdade, da liberdade e distanciar-se de vez dos retrógrados da geringonça, que se borrifam para todas as religiões (e bem), menos a islâmica. Mas está difícil. O argumento de que, assim, as pobres mulheres não vão sair de casa é risível, além de ridículo. Pelo contrário, se a perspectiva é a de não poderem sair de casa, talvez façam qualquer coisinha para sair dessa escravidão. Estão em Portugal, afinal.
*A propósito do asterisco lá atrás, deixo aqui a lista dos países europeus que proibiram ou restringiram o uso da burqa ou do niqab em locais públicos, instituições de ensino, hospitais, etc., sem que tivesse sido o André Ventura, demagogo e populista execrável, a propor:
França, Bélgica, Áustria, Bulgária (proibição total); Países Baixos, Dinamarca, Alemanha, Suíça, Itália, Espanha (Catalunha), Noruega (proibição parcial ou localizada); Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Rússia (proibição em certos locais/regiões).
As razões foram várias, mas não certamente o racismo. Se tiver sido a islamofobia, a culpa é deles? Deve haver sequer culpa?
Em Lisboa, perdeu o Pedro Nuno e… a flotilha
O PS tem que esquecer de vez a geringonça. Teve o seu momento, em circunstâncias muito específicas (depois dos anos negros da dupla Troica/Passos Coelho), mas acabou. Por duas razões: o PCP, sobretudo desde que começou a guerra na Ucrânia, passou para um nível de contradição, desadequação e repúdio que jamais tivera, o que se soma à morte do comunismo enquanto ideologia política. E que não se pense que os 10% que a cara laroca do João Ferreira conquistou passariam directamente para a coligação, caso se tivesse querido juntar. Não passariam, e a Alexandra Leitão também não ganharia.
O Bloco tem-se afundado lentamente por falta de objectivo, pelo definhar do esquerdismo e porque a liderança da Mariana Mortágua só veio agravar a situação: nada empática, pose rígida, fraca oradora, mais à vontade em salas de interrogatório. Ultimamente, o grande objectivo de ser presa pelas autoridades de Israel, a exibição de tal acontecimento como troféu e prova da maldade dos judeus e a ideia mítica de Gaza contribuíram para a sua descredibilização. Oh, que imbecil, então não és sensível à vontade de levar ajuda a quem sofre? Neste caso, perdoem, mas não. Se a Mariana não tivesse sido detida, a viagem teria sido uma desilusão e um flop para ela (já que os “alimentos” eram apenas um pretexto). A situação naquela parte do mundo não é classificável na simples dicotomia de “os bons e os maus”. A dita ajuda, a existir, era tão insignificante que nem a Sofia Aparício (que vi em entrevista num canal) sabia bem em que consistia nem onde seguia. Depois, o sonho daquela gente de “ver Gaza e morrer” (salvo seja), como testemunhei ao ouvir uma inglesa da flotilha num outro canal, era tão alucinado que só provoca dó ou o riso. Gaza é uma situação demasiado séria para ser tratada por poetas. Poetas à distância, pois se penetrassem naquele antro e sobrevivessem depressa se deixariam de romantismos. Por isso, não, a Mariana junto à Alexandra Leitão não foi bonito de ver e, pior do que isso, não lhe deu votos.
Seja como for, a Alexandra Leitão não foi boa escolha e eu própria teria dúvidas sobre o meu voto não fora o Moedas ser a tamanha incompetência que é. Continuo a não perceber, porém, mesmo com o handicap da Geringonça, por que razão se votou maioritariamente naquela incompetência. Vão ser mais quatro anos de estagnação, que muitas freguesias da capital preferem à coligação “das esquerdas”. Dá que pensar e o José Luís Carneiro, que até me está a surpreender pela positiva, pela sua vitalidade e simpatia, tem algumas arrumações e revisões de estratégias a fazer no partido.
Apresenta-se o orçamento na véspera de eleições autárquicas (e uma nota sobre outro tema)
Primeira observação: não se percebe por que razão o Ministério Público não abriu ainda um inquérito crime a Luís Montenegro por causa da Spinumviva, da casa de Espinho, etc., quando estão em causa conflitos de interesses, fraude fiscal, abuso de poder e recebimento indevido de vantagem. O facto de António Costa se ter demitido por causa da existência de um inquérito à sua pessoa (e com base na mera menção do seu nome em telefonemas, num caso que não deu em nada, como se previa) não devia ser critério para a opção por uma averiguação preventiva que pouca investigação permite no caso de Montenegro. E a esperteza-saloia de que todos desconfiamos no que toca à sua empresa não é aceitável. Nem jurídica nem politicamente.
Do que veio à luz ontem, deduz-se que os procuradores com o caso nas mãos consideram imprescindível a abertura de um inquérito, mas o PGR, Amadeu Guerra, tem receio de enveredar por aí. E porquê? Por achar que o que está em causa não o justifica? Como assim? Por causa da instabilidade política que tal decisão suscitaria? Por “lealdade” para com Montenegro, que foi quem o escolheu para o cargo? Perguntas legítimas. Até porque falta documentação (pedida há muito) e nem tudo cabe no âmbito de uma averiguação preventiva, como o PGR decerto sabe. Espera pelo fim das autárquicas? O Dr. Amadeu Guerra prometeu não desiludir em matéria de isenção, integridade e transparência. Estamos atentos, mas preocupados, para não dizer “estupefactos e revoltados”. Mas não tranquilos.
Segunda observação: o Passos Coelho anda por aí na campanha a espalhar charme… que horror, desculpem, não sou a Helena Matos nem o Miguel Pinheiro, eternos carentes. Charme nenhum, credo. Espalha sim, mas uma única ideia desde que começou a abrir a boca: a aproximação ao Chega de André Ventura seria algo extremamente positivo para o PSD e para o país. Aliás, ele próprio foi quem lançou o André Ventura na política e, pelos vistos, está a amar as suas poses nazis, o seu discurso violento, as suas mentiras, o seu elogio ao salazarismo, a má educação dos seus apoiantes. Se o Montenegro for à vida, teremos não um, mas dois Venturas nos palcos. Novamente, que horror.
«««««««««««««««««
Sobre Gaza: Contente, muito contente, com o alívio que o acordo representa para a população de Gaza e para os reféns israelitas e suas famílias, assim como para os prisioneiros palestinos libertados. Espero que desta vez seja de vez e considero que só uma solução radicalmente diferente das que têm sido aplicadas até agora tem alguma hipótese de vingar. Chega de mortes. Que se construa algo de positivo e produtivo em Gaza. Chega de dependência de ajudas humanitárias. As pessoas de Gaza são tão capazes como quaisquer outras.
Espero que o problema da Cisjordânia também conte com a colaboração de todos os interessados (árabes, judeus, palestinos, turcos, jordanos, europeus) para a sua resolução, que, a meu ver, tem que implicar o fim dos colonatos, também de uma vez por todas, mesmo que tal implique causar apoplexias nos judeus ortodoxos radicais, fanáticos e alucinados.
Mariana Mortágua está contra o plano de paz para Gaza, mas o Hamas não. E agora? Junta-se à Irmandade Muçulmana? Busca refúgio no Hezbollah?
Estou a ser injusta. Na verdade, há um ponto do plano de paz em que o Hamas partilha a opinião com a Mariana – não pode ser um governo internacional transitório chefiado por Tony Blair (que ela considera um criminoso de guerra, pelo apoio à invasão do Iraque) a liderar a pacificação e o período de transição. O Hamas (que não disse nada sobre o Tony Blair) defende que essa liderança seja entregue a “tecnocratas palestinos”. Quais e se existem, não sabemos. Mas espero que o Hamas no-los apresente em breve, entregue os reféns e saia de cena. Mariana é mais radical do que o Hamas ao rejeitar liminarmente tal plano, mal ele viu a luz. Basta ler o que publicou. Possivelmente nem a entrega dos reféns lhe agrada. Folgo em saber que o Hamas não lhe deu ouvidos.
A população de Gaza está a passar horrores entre as garras e sobre os túneis do Hamas e as bombas do Netanyahu. Toda a gente que vive fora dali gostaria que o horror acabasse. Mas a flotilha nada adianta e nada adiantou. Pelo contrário. Se os seus membros, como a Mariana, recusam liminarmente o plano de paz que está em cima da mesa e o Hamas o aceita, só podem querer a continuação da guerra e assim lá se vai o pacifismo e a compaixão por quem sofre. No dia em que o Hamas ou os palestinos reconhecerem o Estado de Israel, a Mariana morre de desgosto ou atira-se da ponte.
É estranho o que acontece, para quem usufrui de toda a liberdade que o mundo ocidental lhe oferece: nunca por nunca ser se vê esta mulher e as alminhas da sua índole a manifestarem-se contra alguma coisa, uma coisinha qualquer, referente aos países muçulmanos, aos islamitas radicais ou aos muçulmanos presentes na Europa que são violentos ou simplesmente rejeitam os nossos padrões de vida. Estes são sempre uns desgraçadinhos, vítimas de discriminação ou do tenebroso Ocidente, onde ela alegremente vive e onde os outros já vivem ou gostariam de viver. Esta esquerda bacoca anda definitivamente do lado errado da História e não admira que se afunde aos olhos do eleitorado. Deixou de atribuir importância à democracia e à liberdade, a não ser para poder defender causas perdidas, não percebe que não há causa mais nobre neste mundo do que defender o que levou séculos a conquistar e é inveja de todos e lutar contra os seus inimigos. Mariana devia ter orgulho de ser ocidental e livre. Mas não. Provavelmente, as pessoas que se manifestam nas ruas pela Palestina “from the river to the sea” são mais um joguete nas mãos dos russos, para os quais todos os meios são bons para desestabilizar o Ocidente – a extrema-direita, a extrema-esquerda, não importa, tudo o que possa desestabilizar é bom. Estão a ter algum sucesso.
E depois entram em cena os movimentos como o Chega (a imitar os MAGA), que visam resolver tudo à força. Donde lhes vem a atractividade? Uma boa parte virá do excesso de compreensão da esquerda para com os desmandos e os crimes de quem não quer deixar a Idade Média e a quer impor aos outros e do seu ódio ao Ocidente, esquerda essa que, ao mesmo tempo, quer ser hiperavançada em matéria de costumes. Tem que se decidir.
Yes! Foram detidos
Socorro! Irão ser interrogados, cabeça dentro de água e…? Não. Nada. Amanhã ou depois estarão de volta, cabeças secas. Só espero que não se venham queixar de não poderem largar a carga em Gaza. Seria o cúmulo. Que piada é que teria chegarem à praia, largarem a comida e virem embora? Giro, giro é serem parados, irem presos, passarem dois dias do Yom Kipur a comer sanduiches de recheios Kosher e acusar os israelitas de selváticos genocidas.
Enfim, não sou insensível. Mostraram compaixão pela população devastada de Gaza e quiseram levar-lhe alimentos. Foram longe e alguém (igualmente solidário(?)) pagou. Uma boa acção, sem ironia. Eu acho que os alimentos serão entregues e, nesse particular, podem ficar descansados. Agora, o benefício para os habitantes de Gaza foi grande? Não foi. Terá sido isto um acto de coragem? Não, de todo. O desfecho era mais do que conhecido e, se temessem mesmo a morte, o fuzilamento, a decapitação e outros horrores normalmente cometidos pelos islamitas, nem sequer teriam ido. Como é que eu sei? É fácil. Alguém vê manifestações dessas mesmas pessoas (e já nem digo viagens, meras manifestações) contra a opressão inqualificável dos talibãs em relação às mulheres (mortas para o mundo em vida)? Ou contra a repressão no Irão, não só contra os opositores, mas mais uma vez contra a liberdade das mulheres? Eu não vejo. Se calhar compreendem os dramas, se calhar, porque também é possível que considerem os talibãs o fruto do colonialismo ocidental, desculpando-os, como ao Hamas, mas não querem ser vistos e mais tarde esfaqueados ao virar da esquina. Pois é. A coragem é falsa e a solidariedade é selectiva. Valeu o passeio.
E Mariana em cruzeiro pelo Mediterrâneo
Não sei se, dentro do género, não teria sido mais heroico fazer um rali Paris-Dakar na versão Ceuta-Gaza, em camiões pelo norte de África, para levarem qualquer coisinha à população palestina em fuga permanente para lado nenhum. Mas tenho a noção de que seria mais exigente, com mais obstáculos (nomeadamente diplomáticos) e muito menos prazenteiro, já que todos os países do norte de África se têm mostrado pouco interessados em acolher palestinos e facilitar ajudas, além de hostilizarem as pessoas LGBT. De barco acaba por ser mais poético e mais livre de muçulmanos bizarros. E há convívio e tal.
Entretanto, certo é que o Bloco ficou sem líder por tempo indeterminado, o que, no plano político nacional, não aquece nem arrefece, mas fica mal. Mariana anda em passeio. A flotilha vai até lá para ser corrida, já se sabe, ou numa hipótese mais remota e altamente improvável, afundada, podendo ou não descarregar a comida. O afundamento não vai acontecer, com pena de alguns membros mais excitados da flotilha, que vai apenas regressar.
Gaza está na boca do mundo inteiro e não vai ser a flotilha a chamar a atenção para o problema. Pelo que não se pode descartar a hipótese de tudo isto constituir um divertimento de fim de Verão. Eventualmente alguns membros serão presos e depois libertados, só para dizerem com conhecimento de causa que os judeus são uns cães, insensíveis e genocidários. Não esperam com certeza que, no meio desta guerra, o Governo de Israel os receba e os leve a fazer um tour por Telavive, Jerusalém ou Gaza. Se, numa de ousadia, desembarcarem e decidirem “invadir” Gaza e ir lutar ao lado do Hamas são idiotas, porque, na realidade, o Governo de Israel pode estar a levar a violência a níveis inqualificáveis, mas o Hamas é um bando de assassinos, incapaz de suscitar simpatia, muito menos de trazer progresso, bem-estar e tolerância a qualquer local ou população que seja. O seu core business é outro.
Em Portugal há, neste período, uma campanha eleitoral e a verdade é que a Mariana já desistiu do Bloco, não havendo bandeiras da Palestina que lhe valham. Por mim, o fim do Bloco é um desfecho mais do que natural. A Mariana foi um erro de casting: tem postura de inquisidora, não de líder. Mas o Bloco também se tornou inútil. Se é preciso agarrar-se à causa de grupos muçulmanos violentos e obscurantistas, que vêem nas mulheres fábricas de produção de mártires e penduram os homossexuais de guindastes, para ter protagonismo, é bom que o partido desapareça de vez. Nunca vejo pessoas como a Mariana protestar contra o Hamas. Talvez o considerem uma vítima.
Nota: É um facto que a população de Gaza está encarcerada e sofre de uma maneira inimaginável. Sem casa, quase sem comida, sem terra. Gostaria de viver em paz, mas a inveja e o ódio ao vizinho instigados pelos radicais que a controlam sobrepuseram-se a tudo o resto, culminando no “festim” e nos festejos do 7 de Outubro de 2023. O medo do próprio Hamas também impera. Ao ponto de toda a gente parecer ter pactuado com a construção da gigantesca rede de túneis para fins militares em todo o território, desviando com isso milhões de ajuda que poderiam ter sido empregues no desenvolvimento daquela sociedade.
O Hamas, como outros grupos extremistas muçulmanos, não luta apenas contra um “colonizador” específico, segue uma cultura de morte, nomeadamente contra os seus próprios cidadãos. Sendo intrinsecamente violento, existe, como os outros, sobretudo para exterminar judeus e os chamados “infiéis”. Porém, não existisse Israel, e a luta seria a mesma e igualmente violenta, contra o Ocidente e os seus valores (ver o ISIS, a Irmandade Muçulmana, o Hezbollah, etc.) ou simplesmente contra seitas rivais (ver Síria). O que fazer com tudo isto? Nem destruir Israel nem matar todos os gazenses são soluções viáveis. Os países ricos do Golfo são os únicos que podem fazer de Gaza um sítio habitável. Mas para isso é preciso 1) acordarem com o Irão o reconhecimento do Estado de Israel, 2) gostarem dos palestinos e 3) imporem o fim do Hamas. Tudo difícil.
O manicómio vai bem, por definição
O puto Donald quer tanto imitar o amigo Vladimir e mostrar-se grande como os grandes que agora inventa uma guerra com a Venezuela para poder ter um Ministério da Guerra e exibir o seu poder de fogo. Problemazinho: a Venezuela é um país cujo regime ditatorial e corrupto é fortemente apoiado pela Rússia, que forneceu as técnicas de falsificação e as garantias para que o Maduro se mantivesse no poder apesar de ter claramente perdido as últimas eleições. Neste momento de grande confusão, em que os exilados do regime de Maduro estão a ser corridos dos Estados Unidos, não posso dizer se há aqui algum tipo de perigo ou se o Donald anda apenas a divertir-se sem consequências, ou até se tem autorização do Putin para brincar nesta zona. Mas no seu narcisismo patológico nem vê que quem se está a divertir à grande são outros com as figurinhas que faz e o poder que lhes atirou subitamente para o regaço.
O actual presidente dos Estados Unidos sente-se mais seduzido pelos grandes ditadores e autocratas do que pela geopolítica, de que não percebe nada nem quer perceber. E assim pensa que convidando para sua casa na Florida os membros do G20 formará uma amizade global de ricos e poderosos para lustrar o seu ego e pensar que lhe prestam vassalagem. O suicídio em directo e a conta-gotas da América.
Ah, o alargamento da NATO. Que perigo
C’est à dire: nenhum país mais pode entrar na NATO e alguns dos que lá estão e que interessam ao Czar devem sair e, de preferência, desarmar-se. Só assim haverá paz. Pax Vladimira. O Vladimir quer mandar na NATO.
Mas… mais devagar. Há perguntas a fazer. A NATO, por acaso, tem por objectivo, declarado ou oculto, invadir a Rússia? Quando, como, porquê? Sequer algum país no mundo tem por objectivo invadir a Rússia? A Geórgia, a Chechénia, o Cazaquistão, o Azerbaijão, a Ucrânia ou, já agora – os Estados Unidos, a Polónia – sonham invadir a Rússia? Ameaçam a Rússia? A mim parece-me que o Napoleão e o Hitler já se tramaram o suficiente.
Este disparate alardeado pelo Putin e seus porta-vozes serve para quê? A resposta é óbvia: dar ao mundo e aos cidadãos russos (em geral desligados, mas enfim, alguns estão a morrer) a impressão de que a Rússia está sob enorme ameaça e assim justificar os seus actos de agressão sobre os vizinhos, num ataque de possessividade imperialista (claro que os colonialistas eram e são os outros). Dizer que a NATO é um perigo à sua porta e o seu alargamento uma ameaça dá para rir quando olhamos para Kaliningrado e todo o arsenal nuclear russo nas fronteiras com a Europa. Então, perigo porquê? Quem está em perigo é quem não pertence à NATO (e a ver vamos, com o agente laranja ao comando). Portanto, ainda por cima estando a NATO num “tem-te não caias” devido ao louco do outro lado do Atlântico, este argumento do alargamento da NATO como ameaça à paz e eventual causa da guerra faz ainda menos sentido. Sentido nenhum. Por isso, arranja lá outra, ó Vladimir. Mais vale dizeres que a Ucrânia é tua e que tem que te ser fiel ou morre. “Ou me amas ou te mato”. Que tirania e que insegurança aí vai. Se fosses atraente e cavalheiro tudo seria diferente.
Se bem me lembro, a Rússia vivia tranquilamente lá na sua imensidão gelada e menos gelada, sob um regime execrável, é certo, mas instalado e aceite, trocava de cadeiras cadenciadamente entre Medvedev e Putin, vendia o seu petróleo e o seu gás a quem queria, principalmente aos europeus, a prole mais jovem do chefe bem confortável na Suíça, os seus oligarcas a circularem pela Europa, passeando os iates pelas ilhas mediterrânicas, filhos a estudarem na Europa ou nos Estados Unidos, atletas a competirem em todo o lado, enfim, ricas vidas, não incomodadas. Será que a Ucrânia, um país soberano, mas com o qual a Rússia poderia interagir e com vantagem se o quisesse fazer civilizadamente, vale a mudança de hábitos, a destruição e a carnificina? Caramba. Tinha que ser um ex-KGB a chegar ao poder?
É, pois, mais do que legítimo que a Ucrânia, atacada só porque sim, peça ajuda para se defender.
E aqui estamos. Mortes e mais mortes. A Rússia é um gigante militar, mas a maioria dos ucranianos não quer subjugar-se ao regime que lá vigora. É mais do que natural que os antigos Estados da ex-União Soviética se queiram defender contra um destino semelhante, em vez de assistirem impávidos aos apetites do senhor Putin. O alargamento da NATO não é perigoso para ninguém, e tem justificação. O desejo dos seus novos membros de ameaçarem ou de invadirem a Rússia não é de certeza. É o contrário.
Ainda falta muito?
Quando é que o PCP vem dizer que Trump, o presidente da, desde sempre, “única potência imperialista, militarista, agressora e capitalista do mundo”, é um grande pacifista e que, com ele, a América está finalmente a apresentar alguma sanidade e a aproximar-se do lado bom da Galáxia, aquele em que os cidadãos são carneiros mudos e os dirigentes vitalícios, eternos, por serem os únicos detentores de sabedoria, como o Xi, o Vladimir e o Kim, enquanto a Europa e as suas democracias só atrapalham?
Mas quem sabe os novos tempos de amor do casal Donald-Vladimir os deixem desnorteados e incrédulos, sem inimigo útil, e, envergonhados de aplaudir, prefiram o silêncio. Eu aguardo.
Drama existencial para a Europa: impedir a todo o custo que o empreiteiro de Washington caia de vez para o lado de Moscovo
Mas porque é que a Europa não manda o Trump passear? Esta é a pergunta que toda a gente faz, mas que nenhum líder europeu democrata e responsável quer ou pode concretizar.
Hostilizar Trump neste momento ao ponto de uma incompatibilização grave deixaria, por um lado, a Ucrânia sozinha e aniquilada e, por outro, a Europa encurralada entre dois blocos liderados por tiranos autocratas amigos e sem capacidade militar para se defender de um, quanto mais de dois. Demasiado mau, demasiado perigoso, dado o carácter vingativo dos personagens em causa. Trump não é um democrata nem um líder respeitador do direito (nacional e internacional). Não conhece nem quer saber desses conceitos. É um empreiteiro e pato-bravo, além de showman televisivo, sem conhecimento algum quer de política quer da História. Aprecia, porém, como é típico, a fidelidade cega.
As técnicas de liderança do ditador russo são-lhe, por isso, atractivas: exercício da liderança sem contestação, prisão para os adversários, silenciamento da oposição, falsificação das estatísticas, órgãos de comunicação social que apenas reproduzem a propaganda do governo, sentimento de superioridade (do próprio – infundadíssima – e do país), repressão sobre quem contraria os seus interesses, militarização do regime, perpetuação no poder, enriquecimento pessoal e partilha da riqueza só com quem o reverencia, etc., etc. Tudo o que Putin faz (excepto atirar adversários políticos de janelas abaixo e envenenamentos. Por enquanto). Porque haveria Trump de hostilizar Putin, se quer ser como ele? Aliás, quando está cada vez mais perto de o conseguir?
O drama de tudo isto não é só para os ucranianos. É-o em quase igual medida para os europeus, para a Europa democrática em particular (e resta saber se seria diferente com uma Europa não democrática, assunto para outro artigo). Perante esta situação inédita e assaz inesperada de entendimento entre a Rússia e os Estados Unidos com base em princípios ditatoriais, de agressão e imperialistas comuns e em amizades pessoais (ou poder de chantagem) entre malfeitores, temos visto a Europa, infelizmente, mas realisticamente, a fazer a única coisa possível: tentar a todo o custo “puxar” o empreiteiro de Washington para o seu lado, entre outras coisas chamando-lhe “aliado” e enfatizando o poder da NATO.
Sempre me perguntei se o chamado “agente laranja” dá sequer um “dime” por esta aliança. Ele não quer saber da Ucrânia para nada (a não ser para lhe dar o Nobel da Paz, ideia que me engasga) e, da Europa, apenas lhe interessam os campos de golfe que ainda cá tem, os empreendimentos do genro, o Papa por causa dos seus eleitores beatos e as decorações imponentes dos seus palácios e catedrais, que pretende copiar. De resto, é demasiada História, demasiada intelectualidade para a sua cabeça. Admirando Putin, o que é que a NATO lhe diz quando poderia fazer acordos bilaterais para bases militares e armamento? Quase nada.
Estamos então neste drama do artigo 5.º. Temos o nosso poder militar disperso e inferior ao dos Estados Unidos e da Rússia. O vizinho do flanco Leste tomou o gosto de mandar mísseis para os vizinhos sem o mínimo gesto hostil da maior potência militar do mundo, seu principal adversário de há décadas e nosso aliado. A ida dos líderes europeus a Washington é, sim, desesperada. Não vale a pena os comentadores de serviço mencionarem este facto como lamentável. É o que é. A cimeira do Alasca foi um erro tremendo do ponto de vista da segurança europeia. De cada vez que se encontra com Putin, Trump fica mais apaixonado e solidário. Agora há que reverter os estragos. Votos de bom sucesso. Mas a coisa está preta, como se constata pelo vídeo acima.
Curiosidade(s)
- No Alasca, na próxima semana, teremos frente a frente um homem que ordenou a invasão militar de um país vizinho e outro homem que declarou, há apenas alguns meses, a sua intenção de anexar um país vizinho, o Canadá, e ainda a Gronelândia. Este segundo, alegadamente, a tentar pôr fim à guerra iniciada pelo primeiro só porque, enfim, só porque lhe disseram que seria o maior se o fizesse.
A minha curiosidade prende-se com o tipo de diálogo que poderá ter lugar. Vamos especular?
– Então, Vladimir, vamos acabar com isto?
– Oh p´ra ele. Então já desististe do Canadá, pá?
– Vamos esquecer isso, pá. “Tariffs are great”. Chega de mortandade?
– Mas como é que tu ias conquistar o Canadá sem matar ninguém, ó seu grandessíssimo Nobel da Paz?
– Vladimir, “my man”, estou tão rico como tu. E olha que tenho mais força do que tu.
– Ai tens? Queres apostar?
– Calma, pá. Queres deixar de vender petróleo?
– Agora digo eu, calma, pá. Eu dou-te o Nobel da paz se desmilitarizares o palhaço. Depois é cá comigo.
– Palhaço? Eh eh, boa! “You got it”. Vou tentar, pá. Mas só se concordares com um cessar-fogo. “You know, that’s what folks are expecting back home. And I could build so many beautiful, gorgeous towers in Moscow! So, deal?”
Não enveredei propositadamente por um tipo de diálogo mais picante, envolvendo vídeos ou fotos comprometedoras, porque nada se sabe sobre essa possibilidade de chantagem, embora seja sempre uma possibilidade (de modo nenhum a única) perante a bonomia e a camaradagem com que o tirano de Moscovo tem sido tratado.
2.
O major-general Agostinho Costa, um verdadeiro admirador, mais do que isso, um apaixonado pela pátria russa, pela estratégia do regime russo e pelas capacidades intelectuais dos seus dirigentes, sempre que exprime as suas opiniões fá-lo em nome de um “nós” assaz bizarro. Se repararem, diz sempre “Nós achamos”, “Nós entendemos que”, “Nós confirmámos”. A minha curiosidade é a seguinte: quem é “Nós”? Repito, ó Agostinho, estou intrigada, quem é “Nós”?
- Terceira curiosidade: há ou não militares nos Estados Unidos revoltados com o rumo que a democracia americana está a tomar e com a Kim Jong-un..nização do regime e da nação? Às tantas não há mesmo.
A percepção (correcta) de que há demasiadas pessoas a viver em barracas
Muito se tem falado nas percepções a propósito do número de imigrantes no país e do que por cá fazem de bom ou de mau. Uns dizem que a criminalidade aumentou por causa dos imigrantes, o que as autoridades policiais desmentem, outros que não há qualquer problema com as comunidades imigrantes, que são necessários braços (de fora) para trabalhar, que todos vêm por bem e que, na sua esmagadora maioria, são pacíficos. Eu estou convicta que sim. Não gosto, porém, como ninguém gosta, da vinda de novas redes criminosas, como o perigoso PCC brasileiro, que podiam bem não se internacionalizar por cá, mas acompanharam a vinda de muitos e pacíficos brasileiros que por cá se têm instalado. Ossos que é preciso roer.
Os números exactos de imigrantes são desconhecidos, o que é de lamentar. Convinha ter um quadro mais preciso para se saber do que se fala. A diferença entre um forte afluxo de estrangeiros que se vêm estabelecer no país e uma invasão é facilmente reconhecível (e explorável). Por exemplo, numa aldeia pacata/definhante de 500 ou 1000 habitantes (ou num bairro lisboeta), a chegada de 500 ou 1000 paquistaneses, nepaleses e indianos aproxima-se do conceito de “invasão”. Aproxima-se, mas não é, pois trata-se de pessoas pobres e sem armas nem poder. Se não estão de passagem (como acontece com as “invasões” de turistas) e começarem a impor os seus hábitos, tradições, culturas e religiões na sociedade pequena em que é suposto integrarem-se, é bem possível e natural que os locais, depois de acharem piada à novidade e até sentirem gratidão pela juventude, reajam mal. Tudo depende também do grau de “acicatamento” dos chamados preconceitos. Mas qualquer preconceito precisa de um período probatório para se desvanecer. Se se desvanece ou não, depende. Mas uma aldeia ou um bairro, por si sós, não podem proclamar-se territórios independentes dentro do país global. Por conseguinte, há a obrigatoriedade de cumprimento das regras em vigor no país. Até agora, é o que tem acontecido. Mas mais ou menos com as barracas… não é?
Por exemplo, não é permitido por lei desviar electricidade ou água das redes de abastecimento, nem é permitido construir sem licença nem condições sanitárias, e muito menos é permitido ocupar terrenos privados para esse fim. Tudo isto é o que fazem os moradores das barracas que começaram a surgir nos arredores de Lisboa quase sem que ninguém se apercebesse. Os movimentos/associações ditas humanistas dizem que, por pena dessas pessoas, há que fechar os olhos. Não têm posses para mais. Nem alternativas (será mesmo assim?). Claro está, não são essas associações nem nenhum dos seus membros os donos dos terrenos nem seus vizinhos. Por outro lado, sabemos que, uma vez permitidas 50 barracas, depressa se avolumarão 5000, o que não pode ser aceite.
Acontece que, neste caso, não estamos no domínio das percepções. As barracas existem mesmo, são muitas e não podem ser aceites nem à face da lei nem à face dos nossos valores civilizacionais e níveis sanitários. O autarca de Loures está a ser bruto? Não me parece. Em Almada faz-se o que ele fez. É um problema. Toda a gente tem que saber o que pode ou não fazer à face da lei. Nenhuma das pessoas que vi entrevistadas me pareceu destituída. O mal já vem de trás, claro. Não devia ter vindo para Portugal nenhum adulto (incluindo as “esposas”) que não tivesse perspectivas de trabalho e de sobrevivência tal como a sociedade, os municípios e o mercado se apresentam. Digo sobrevivência para si e para os filhos também.
E agora que cá estão? Agora, há um trabalho a fazer. Nem todas as pessoas que vivem nas barracas o fazem pelas mesmas razões. Já dei por mim a pensar que o dinheiro que muitos gastaram a comprar as placas de zinco, madeira e outros materiais daria bem para vários meses de renda e de contas de água e luz num apartamento com condições. Nem todos os que ali estão são incapazes de pagar rendas. Ouvi uma senhora moradora dizer que estão melhor ali, nas barracas, porque assim estão mais perto dos seus países, dos seus “iguais”. Enfim. Assim é difícil. E também muito fácil responder o que todos estamos a pensar.
Neste momento, tudo deve ser discutido de forma clara, deixando de lado os chavões do ódio, de um lado, e as acusações de extremismo esquerdista que se alimenta da pobreza e das barracas, do outro. A base deve ser a inadmissibilidade das barracas num país do primeiro mundo, a recusa da indignidade daquelas condições sanitárias, a inadmissibilidade dos roubos e também, sim, o respeito pelo sentir das populações do concelho. Ricardo Leão irá ganhar a Câmara de Loures e não será por “o ódio” ter vencido. Não sejamos básicos. A imigração sem condições deve, de facto, ser resolvida. Sem prejuízo de se resolver ao mesmo tempo o problema dos preços da habitação e da falta dela (que afecta também os não imigrantes) e o da distribuição dos imigrantes por outras regiões que não a grande capital. Cada caso daquelas pessoas é um caso e assim deve ser avaliado e tratado (havendo também oportunistas), de modo a que apenas reste um número residual de barracas até poderem ser eliminadas. Não posso, pois, estar contra os autarcas que querem pôr fim a tanta ilegalidade e falta de higiene.
Saiu a sorte grande à Ghislaine?
A degradação da democracia americana está a atingir um nível quase inimaginável. Diria que as chamadas “Repúblicas da Bananas” eram, apesar de tudo, mais discretas.
Quem, como eu, segue no X um punhado de ilustres democratas com as entranhas revolvidas desde a reeleição do Trump, constata dia após dia, mês após mês, a repetida e crescente indignação destas pessoas com o discurso, as políticas, o comportamento e os abusos de Donald Trump ao ponto de já quase lhes faltarem as palavras para comentarem o que veem. Esperavam o pior, é claro, mas não com esta gravidade.
Trump, recordemos, é um indivíduo que, alegadamente rico, se julga acima da lei, aliás julga ter todo o direito de não a cumprir, muito menos agora que é presidente e descobriu que pode fazer o que quer, e que, tendo extensa matéria criminal a persegui-lo, resolve passar a controlar as instâncias judiciais do país e garantir assim que não será mais na sua vida incomodado. Mas mais: que, se possível, irá silenciar os adversários com ameaças e acções judiciais (se as chantagens não funcionarem) com desfechos favoráveis garantidos, pois terá os juízes na mão, nomeadamente os do Supremo. É o caso agora com a perseguição a Obama, após se ver “entalado” com o caso Epstein. Pelo caminho, procurará garantir que ninguém o tirará da Casa Branca. Entretanto, transformou a sede do Governo na sede dos seus negócios, ganhando milhões com esquemas vários.
Temos então que o homem enche os bolsos na Casa Branca, internacionalmente admira ditadores e assassinos da índole de Putin e Kim Jong Un, desconhece o conceito de aliados, ignora a História, desrespeita todo o mundo (menos os tais ídolos), rodeia-se de fiéis incompetentes, desde que fiéis, manda para prisões rodeadas de jacarés e outras de enorme violência em El Salvador ou no Sudão pessoas estrangeiras que não cometeram qualquer crime enquanto trabalhavam nos Estados Unidos, gaba-se disso e goza, perdoou aos bandidos que assaltaram o Capitólio, enfim. O rol de enormidades e alarvidades é extenso. São abusos e escândalos permanentes de que não há memória num país considerado democrático.
Nas últimas semanas, na iminência de ver comprovadas as suas ligações ao falecido pedófilo Epstein e, suspeita-se, a sua participação nos crimes de abusos sexuais de menores por este cometidos, tornou-se evidente que arrisca perder a sua base de apoiantes, mesmo os mais brutos e fanáticos, incluindo os que por ele invadiram o Capitólio sem problemas em matar pessoas. Tudo isto porque a grande teoria da conspiração abraçada por muitos desses seus apoiantes dizia que os democratas lideravam uma rede de pedofilia a nível mundial, com Hillary Clinton à cabeça, e Trump seria o único ser à superfície da Terra capaz de a destruir. Dizia o Guardian em 2020:
“The QAnon conspiracy theory is vast, complicated and ever changing, and its adherents are constantly folding new events and personalities into its master narrative. But the gist of it is that national Democrats, aided by Hollywood and a group of “global elites”, are running a massive ring devoted to the abduction, trafficking, torture, sexual abuse and cannibalization of children, all with the purpose of fulfilling the rituals of their Satanic faith. Donald Trump, according to this fantasy, is the only person willing and able to mount an attack against them.”
Fantástica teoria! Agora, ser ele o pedófilo é que não pode ser. Seria o fim. Ser “impeached”, impensável.
A “Madame” que recrutava as miúdas para consumo de Epstein, Ghislaine Maxwell, encontra-se presa e a cumprir uma pena de 20 anos de cadeia. Está, obviamente, por dentro do esquema todo, sabendo sem dúvida quem eram os outros clientes das jovens prostitutas (que ela angariava) para além do Jeffrey. A Advogada Geral, Pam Bondi (trumpista), disse (em Maio) que tinha diante de si a lista de clientes e que o nome de Trump constava da mesma. Como o ruído e a pressão se tornaram demasiados (apesar dos desmentidos posteriores de Bondi) e vergonha é coisa que não assiste ao Donald, a ideia será agora levar o Departamento de Justiça (totalmente dominado) a interrogar a “Madame” Maxwell (algo totalmente inédito) para, aparentemente, que esta diga que nunca na vida viu Donald Trump a fazer fosse o que fosse de errado, muito menos que fosse cliente ou sequer frequentador dos círculos de Epstein. A paga para esta operação de limpeza, penso eu, será o perdão da pena. Assim, à descarada. Tudo indica que será esta a escapatória escolhida por Trump. Aliás, já hoje lhe perguntaram se iria perdoar a Ghislaine, ao que ele respondeu que o pode fazer, mas que ainda não pensou nisso (para rir).
E os americanos nada poderão fazer a não ser, mais uma vez, escandalizar-se. Até porque o mal está feito: como é que naquele país se pode admitir como candidato a Presidente um vigarista com o currículo e o cadastro do Trump? Como?
A esquerda ligeira e suicida
A propósito da pretendida construção de uma mesquita em Samora Correia, a jornalista Fernanda Câncio escreve um artigo no DN a defender a liberdade religiosa (e, logo, de construção da dita mesquita), pondo em pé de igualdade o islão e o catolicismo (e o judaísmo, para se mostrar abrangente) neste nosso Portugal europeu.
Sendo eu ateia, não posso deixar de criticar este igualitarismo cego, que acaba com pessoas a fazerem figuras como a de envergar “keffiehs” palestinianos em defesa de visões do mundo e da sociedade muito piores do que as do tempo das cavernas. Como se os adeptos do islão, e os imãs, fossem todos boas pessoas que apenas rezam a um deus diferente, inofensivo, compatível, e alheio aos poderes políticos, partilhando no fundo os nossos valores. Infelizmente, assim não é.
Para o bem e para o mal, em termos religiosos, a Europa foi historicamente coutada da igreja de Roma, desde Constantino, e, nessa base, muita da nossa história se forjou séculos depois nos combates contra o islão. O facto de, por cá, posteriormente, termos evoluído – e que alívio – no sentido de a religião ser um assunto pessoal, privado, não podendo misturar-se com o poder político, não significa que, do lado do islão, a evolução tenha sido no mesmo sentido. Alguns indicadores apontam para que não tenha havido evolução nenhuma, nem a nível da separação entre poder secular e religioso, nem no sentido da visão do mundo e da sociedade, e esse é o grande problema. Não é, por isso, invulgar haver mesquitas por essa Europa fora em que se incita a audiência ao ódio aos ocidentais, os chamados “infiéis”, e à “jihad”, apesar da enorme tolerância daqueles à já referida liberdade de culto, incluindo do islão, no território europeu.
A igreja católica já foi violenta, prepotente, corrupta, abusadora? Sim, foi. Muitos dos seus membros foram, eventualmente ainda são, criminosos. Lembro os abusadores sexuais de crianças. Que apodreçam nas prisões. Não se pode, porém, dizer que a igreja católica represente algum perigo generalizado hoje ao nosso modo de vida livre (e só Zeus sabe como sou contra a designação de “Parque Papa Francisco” para o parque junto ao Tejo). A perda de poder político retirou à igreja muitos dos seus malefícios. Não é o caso do islão. Na Europa, as manifestações de apoiantes muçulmanos que mantêm a fidelidade ao islamismo de cada vez que o Médio Oriente se incendeia devido, nomeadamente, ao conflito com Israel é, para mim, um sinal de que as portas não podem estar totalmente abertas a todo o tipo de valores (há quem fale em “multiculturalismo”) e que o Ocidente está hoje, de certo modo, condicionado pelo tipo de população que aceitou acolher. O facto é que os valores não são todos aceitáveis. Quantas pessoas lutaram e morreram, no Ocidente, para finalmente remeterem a religião para o domínio íntimo, para conseguirem igualdade de direitos, liberdade para as mulheres, liberdade sexual, etc., para acabarem com as guerras religiosas? Não têm conta. Mas conseguiram.
E então? Proíbem-se as mesquitas? As novas mesquitas? Contrariando a liberdade de culto? A questão não é simples. Se for feito um inquérito à população, eu diria que a resposta será claramente um não às mesquitas. Nalguns casos muitas pessoas acrescentariam, se pudessem, “os muçulmanos que vão para a terra deles”. O que historicamente tem respaldo suficiente. Mas essas pessoas apreciam o Chega. No entanto, são conhecidos e elogiados o pacifismo e a boa convivência de quem dirige e frequenta a mesquita central de Lisboa, em Campolide, e provavelmente outras. Quando o Chega os ataca mostra ser tão mau e repugnante como os piores radicais islâmicos. Um salazarento bafiento.
Em suma, é preciso ver e são precisas regras, em meu entender. Hoje em dia muitas comunidades islâmicas formam guetos e representam focos de conflito e violência em países como o Reino Unido, a França ou a Alemanha. É natural que se queira evitar chegar aí. É cegueira escamotear estes problemas, ainda que seja gente da laia do Ventura a falar neles.
Mas, voltando atrás: e se um grupo de pessoas quiser construir uma mesquita num determinado sítio, com financiamento próprio que não o de radicais e antiocidentais? Nesse caso, se, ouvidas as populações, for concedida a licença, terá que ficar claro que qualquer incitamento à guerra aos “infiéis”, à submissão das mulheres e à preponderância da Sharia sobre as leis da República deve implicar a expulsão (ou prisão) do Imã.
Assim, querer levar a lei da liberdade de culto à risca, fazendo equivaler as instituições católicas às islâmicas em Portugal é convidar a população portuguesa a repudiar ainda mais esta esquerda. Não é que o grosso dos imigrantes muçulmanos seja mal-intencionado. Mas os que levam a religião muito à letra, que são muitos, criam claramente uma barreira intransponível à integração numa sociedade ocidental, com repercussões na sua descendência. Nós evoluímos no sentido de pôr a religião no seu devido lugar. Guerras por questões religiosas deixaram de fazer sentido e de acontecer. Os muçulmanos estão a trazer a questão religiosa outra vez para a ordem do dia e isto é incontestável. É o recuo à Idade Média. Com tudo o que se passa no Médio Oriente e as suas repercussões na Europa, o problema das mesquitas não pode ser tratado com a ligeireza com que os puristas da liberdade religiosa o tratam. Geralmente ateus, note-se, e de esquerda.
Como assim, gostei deste texto do Carlos Guimarães Pinto?
Os critérios do Tavares
Resposta: porque Augusto Santos Silva e (sobretudo) José Sócrates se manifestaram contra.
Reparem que estamos a falar de um A. J. Seguro que nada de notável fez enquanto secretário-geral do PS, muito pelo contrário, sempre inseguro, ficando célebre a sua expressão “abstenção violenta”, que o expôs ao ridículo, relativa ao orçamento de Estado em 2011, este sim violento, governava então Pedro Passos Coelho. O mesmo Seguro que estava posto em sossego desde que António Costa o varreu marimbando-se no “qual é a pressa”, mas que uma precipitação do Pedro Nuno veio ressuscitar.
Imagino a fúria com que o Tavares assistiu à entrevista do Sócrates de anteontem (CNN, 22h00). Um dia destes ainda lhe dá uma coisinha má. Mas o Seguro passou logo a ter direito a pedestal, não importa se ainda for enterrar mais/ dividir o PS. De qualquer modo, o Marques Mendes não se sairá melhor, porque o almirante, a avaliar pela entrevista que ontem deu, já ganhou. Esta é uma observação minha objectiva. Não sei em quem votarei.
A saúde pública ainda existe? Como diabo se consegue uma consulta num centro de saúde?
Decidi experimentar marcar uma consulta no centro de saúde (UCSF) da Alta de Lisboa. Disseram-se que, se fosse de manhã cedo, poderia ser atendida no próprio dia. Atrasei-me e só lá cheguei às 8h20. Responderam-me que já tinham sido atribuídas todas as 10 vagas para aquele dia e que as pessoas contempladas tinham começado a formar fila bem antes das 7 da manhã. Desconhecendo como aquilo das marcações funcionava, fui embora e entretanto lembrei-me que, em Fevereiro do ano passado, obtive uma consulta bastante rapidamente no mesmo centro mandando uma mensagem com um pedido de consulta para um endereço de correio electrónico (extenso) que na altura me deram, e tentei a minha sorte repetindo o processo. A resposta nunca veio, ou por já não existir tal modalidade de marcação, por alteração do endereço ou por outra razão que me escapa.
Telefonei. Responde-me uma gravação standard, do tipo “para marcações, deixe o seu número de telefone que nós contactá-la-emos logo que possível”. 15 dias volvidos, nada. Desloquei-me novamente ao local. Deram-me uma senha para ser atendida num balcão, onde me pediram os mesmíssimos dados que dera no telefonema, me deram um papelinho comprovativo e me disseram para aguardar que me contactassem. Cinco dias depois, nada também.
Confesso que, mais do que furiosa, estou intrigada. Se nem uma consulta para um centro de saúde se consegue, como se chega a consultas especializadas em hospitais? Mistério. As pessoas que lá se encontravam para consultas, há quantos meses (ou anos) as tinham conseguido marcar? Ainda estarão doentes? Será isto admissível?
Claro que pode haver outros centros de saúde que funcionem bem. Este parece-me uma desgraça total. Mas uma sobrinha que teve um bebé há três meses (Sacavém), disse-me que na semana passada a criança ainda não tinha levado qualquer vacina, razão pela qual até tinha receio de andar com ela em parques com miúdos, para já não falar da tentativa que fizera para ter acompanhamento da gravidez no público, que começaria ao sétimo mês!
“Ai que medo!”, diz o Vladimir
Diz o Donald na sua rede Truth Social:
“Disgusting“. Se esta criatura claramente “deranged“, vergonhosa e asquerosa que preside aos Estados Unidos para ficar rico sempre soube que o russo quer a Ucrânia toda, por que razão se mostra admirado por ele estar a bombardear em força as populações civis em todo o território? E, se nada fez até à data para prejudicar a Rússia, nem sanções, nem aumentos de tarifas, nada, e críticas só das fofinhas, por que motivo o facto de o Vladimir querer ficar com todo o país vizinho haverá de significar “a queda da Rússia”? Não afirmou ele próprio que queria ficar com o Canadá e com a Gronelândia, se necessário pela força? Tudo mau demais.
Se o homem não quer saber da Ucrânia para nada, pois que tenha a coragem de a abandonar e de a entregar ao amigo Vladimir, que se encarregará de chacinar os ucranianos a seu bel-prazer. De caminho, permita que se instale uma guerra na Europa com as tentativas seguintes de ocupação ou devido a intervenções directas e inevitáveis da Europa no conflito. Mas, se não quer que isso aconteça, pois lá se ia a sua reputação de “pacifista” (até me engasguei), e sobretudo os negócios, então que pressione devidamente os russos e ajude como deve ser os ucranianos.
Não bastando o facto de o Kremlin actual ser um autêntico cancro mundial, só fazem mal, espalhando armas, violência e desinformação, ter um agente patológico na Casa Branca que simpatiza com ele é quase paralisante.