O ser humano, mais do que uma grande besta, é um exímio catalogador. Do sistema geneológico da Poética de Aristóteles à Classificação Nacional das Profissões por parte da mui saudosa Secretaria de Estado do Emprego do Ministério do Trabalho da República Portuguesa, não faltam por aí exemplos dessa fúria taxonomista e mereológica. Reparemos na música: ele há o pop, o rock, o punk, o hip-hop, o trip-pop, o easy-listening, o lounge, o techno, o UK garage, o reggae, o ragga, o 2 step, a wave, a new-wave, a new wave of the new wave, o metal (heavy, speed, doom, trash, nu, gothic e quejandos) – no fundo, uma berdadeira Vavel de géneros e estilos que apenas servem para confundir o melómano e fazer sorrir o melófobo. Por isso, nos últimos dias, e apesar de possuir uma alma de ornitorrinco, resolvi dedicar algum do meu tempo a tão delicada matéria. E é agora com uma certa José Mourinhice fase pós-Chelsea que vou partilhar aquele que considero ser o único sistema mereológico válido e útil para classificarmos qualquer manifestação musical.

Simples, não é? Sem querer antecipar-me às críticas que algumas pessoas mais distraídas poderão fazer deste meu sistema de classificação, gostaria apenas de dizer que a concepção desse modelo não tem absolutamente nada a ver com o facto de andar há uma semana a ouvir Comicopera, a mais recente obra-prima de Robert Wyatt. Trata-se apenas de separar o trigo do joio, nada mais do que isso. A dupla seta que surge no esquema pretende significar que uma cover feita por Robert Wyatt é, no fundo, equivalente a um original seu, na medida em que uma versão sua possui sempre uma genuinidade que o original desconhece. Para exemplificar, deixo-vos dois temas do último disco: o primeiro é um original intitulado «Just As You Are» (em dueto com a brasileira Mónica Vasconcelos) e o segundo uma versão do tema «Del Mondo», uma canção original dos CSI (Consorzio Suonatori Indipendenti), um dos projectos musicais do grande Giovanni Lindo Ferretti. Descubram lá as diferenças.


Na taxinomia, esqueceste-te daquilo que eu mais gosto: alternativa pop e rock.
Com mais tempo, debruço-me sobre as letras em inglês, of course. Não gosto da língua italiana. Que Dante me perdoe.
Robert Wyatt. Que Robert Wyatt te perdoe.
Não preciso que ele me perdoe, pensando bem. Sou geneticamente alérgica a italianices. Só gosto de Pavarotti e Bocelli.
E lá se vai o Robert Wyatt por eu não gostar de italiano…
C’a ganda Lineu tu me saíste, pá!
pois tens toda a razão. e eu gosto muito da língua italiana. fica sempre sexy.
Ai susana, só às quase 3 da matina é que se pode afirmar que a língua italiana é sexy.
A língua italiana tem o seu quê de sexy forçado, de paladares mediterrânicos a saberem a marisco podre.
Este post entra para o meu Top of the Posts. Por causa do modelo mereológico, obviamente, mas não só. Também por outras coisas, que, somadas, dão outra coisa.
Grande Wyatt! Concordo 100% com a classificação!
É verdade o que se escreve. As versões de Robert Wyatt são canções de Robert Wyatt. Exemplos?
I´m a believer, de Neil Diamond ( também com versão dos Monkeys), nos anos setenta e Shipbuilding, de Elvis Costello, nos anos oitenta.
Fantásticas versões. Então o Shipbuilding, é simplesmente um clássico, todos os géneros confundidos.
RWyatt é comunista. Para o caso, tanto faz. A música dele, não é.
Gosto do Wyatt desde o Old Rotten Hat e os United States of Amnesia, com uma faixa East Timor, mas o gajo a tentar arranhar italiano é pior do que o Mário Soares a falar francês. Fiquei com curiosidade de ouvir o CSI Bolonha, que leio já não existe. Mandas-me um link para o original? Grazie.
Manda um e-mail que enviarei um MP3.
Estão-se a esquecer da versão de «Byko» de Peter Gabriel e de inúmeras mais: «Te recurdo Amanda», «La Yalada Alam», etc, etc.
sapkaj@gmail.com
Essa não se chama “La Ahada Yalam”?
LOL, cap. É isso é. Eu e a minha mania de saber as coisas de cor…
Não me mandaste nada, meu.
O João Pedro é de promessas, Nikita. Exactamente como o Santana Lopes ;-)
Tenho essa cena em vinil e ainda vai dar um certo trabalho em passar para mp3. Be patient.
Sou paciente, mas não esqueço.