A história a quem a trabalha

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Se tiverem tempo e disposição – e doses cavalares de auto-controlo, a bem do vosso ecrã – ouçam o discurso acima. Não precisa de ser todo, os primeiros 20 minutos bastam. Ao contrário do que possa parecer, este é um bom discurso de Passos Coelho. Um muito bom discurso. Não por ter mais ou menos disparates, falsidades e distorções, atenção, mas porque representa toda a narrativa da direita sobre a crise  no seu estado quase puro. Aliás, não me recordo de outro discurso, mesmo no resto da direita, onde essa narrativa estivesse explicada tão exaustivamente e em tanto detalhe. Tudo o que ainda hoje justifica o assalto da direita ao poder lançando o país para o resgate, tudo o que justifica a atitude subserviente à Europa disfarçada de patriotismo de pin na lapela, tudo o que justifica as medidas perfeitamente disparatadas para a economia ditadas por um fanático da idade da pedra em termos económicos, tudo isso está lá. A culpabilização exclusiva do país está lá. O moralismo de pacotilha, está lá. O “não há alternativas” apoteótico está lá.
Agora repare-se numa coisa: Passos Coelho não tem absolutamente problemas nenhuns em falar do passado. Aliás, este passado que é construído neste discurso é o seu melhor amigo, porque lhe permite justificar, culpabilizando os outros, todo o presente. A direita, neste momento, é dona e senhora do passado. A história deste governo e das suas politicas é uma narrativa, coerente e convincente, de toda uma série de eventos que culminam na sua governação e nas medidas que “tem de tomar”. Quem controla o passado consegue definir o presente e apontar o futuro.
Pelo contrário, quem se recusa a falar do passado com a desculpa envergonhada de “olhar para o futuro” aceita que os adversários o definam nos seus próprios termos, e para sua vantagem.
Seria bom que os responsáveis do PS ouvissem com atenção este discurso. Está lá tudo o que precisam de combater, e não fazem. E dos fracos, não reza a história.

10 thoughts on “A história a quem a trabalha”

  1. A ocasião já é de rotura. O nojo do primeiro memorando da troika já passou.O PS necessita de outro secratário geral. AJ Seguro não serve.

  2. Nunca aceitei e considero de repugnante o cobardia do PS que com frequência é achincalhado com o passado do anterior governo sem ao menos repor a verdade contando a história tal como ocorreu.Com tal atitude desrespeita um passado que não é de ignomínia como sucede com o da direita e perde como está a perder nas sondagens face ao (des)governo mais odiado da história da democracia.É mais que tempo de mudarem de “estratégia”e de secretário -geral.

  3. Pouca gente se recordará da campanha na comunicação social a favor de António Seguro para suceder a Socrates, quando já se adivinhavam dificuldades no governo minoritário do PS.
    Campanha que tinha por trás umas boas mãozinhas do PSD.
    Seguro está onde Passos e o PSD quiseram que ele ficasse. A comunicação social ajudou e o palhaço subiu ao palco.
    Enquanto Seguro estiver á frente do PS, o governo do confisco estará sempre …seguro.

  4. O discurso pareceu-me um filme. Não sei se de guerra , então o título sería “corpo a terra que venhem os nossos”, pois quem nos pode matar são os proprios. não sim?
    Se o filme fosse um Western , não acho o título, mas a cena principal sería a do xefe dos sioux com as maus em alto e a dizer os ianques, “nós rendimo-nos, tudo está bem , vocês fizeram tudo bem feito, faremos o que voçês ordenem. Aa culpa de todo isto foi do outro xefe, lobo de cabelo branco, ele foi o grande gatuno, tudo o fez ele e sempre será ele o culposo de tudo” . Jau.

  5. Mandaram-me esta por e-mail. Não sei quem é o autor:

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    “A tartaruga em cima do poste”

    Enquanto suturava um ferimento na mão de um velho, cortada por um caco de vidro indevidamente deitado para o lixo, o médico começou a conversar com o doente sobre o país, o governo e, fatalmente, Passos Coelho.

    Disse o velhinho: “Bom, o senhor sabe… o Passos Coelho é como a tartaruga em cima do poste…”

    Sem saber o que o velho queria dizer, o médico perguntou o que significava uma tartaruga num poste. E o velho respondeu:

    “É quando se segue por uma estradinha, vê-se um poste e lá em cima está uma tartaruga a tentar equilibrar-se. Isso é uma tartaruga num poste.”

    Face à cara de espanto do médico, o velho acrescentou:

    “Não se entende como ela chegou lá.
    Não se acredita que ela lá esteja.
    Sabe-se que não subiu para lá sozinha.
    Sabe-se que não deveria nem poderia lá estar.
    Sabe-se que não vai fazer absolutamente nada de jeito enquanto lá estiver.
    Não se entende porque a colocaram ali.
    Então, tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer e providenciar para que nunca mais suba, pois lá em cima não é definitivamente o lugar dela.”

  6. Tendo chegado ao régio conhecimento que a alguns súbditos do reino passou despercebida a publicação de um édito com informações de relevo na área da coprologia, e para não descurar a formação científica dos referidos súbditos, de importância crucial na época de concorrência global que atravessamos, foi superiormente decidida a sua republicação, com o auxílio dessa magnífica ferramenta que dá pelo nome de copy paste. Eizi-a:

    “Espíritos pouco preocupados com o rigor da ciência não hesitarão em classificar o intriguista parvalhatz como um filho da puta, na linha da exaustiva investigação e sistematização feita por Alberto Pimenta sobre essa odienta e odiosa figura. De um ponto de vista puramente científico, porém, tal classificação terá de ser considerada um erro, pois o parvalhatz, coliforme invejoso, hiperactivo e bilioso, não nasceu de ventre de mulher. O seu surgimento foi o funesto resultado da partenogénese acidental (e até então inédita) de um cagalhão vagabundo saído do cu de um cão raivoso em estertor de peido final por afogamento, depois de o dono o ter atirado de uma ponte. Tendo dado à costa não muito longe de uma saída de esgoto, o dito cagalhão foi acidentalmente pisado por um pescador desportivo que se abeirou da margem para mijar, acabando a azarada (e involuntariamente pestífera) sola do sapato do pobre homem, no regresso a casa, por espalhar pela urbe a infecção.

    Não se contesta que ser um filho da puta é o propósito primeiro e último do parvalhatz, o sonho molhado da sua abjecta existência. Mas a realidade objectiva é que, reunindo embora praticamente todos os requisitos necessários à sua classificação como tal, falta-lhe um, que o rigor científico considera crucial: apenas tendo na sua génese um ventre de mulher se poderia afirmar, com propriedade, ter o parvalhatz como matriz uma meretriz. Um verdadeiro filho da puta, legítimo, da Bayer.

    Uma coisa é gotejar para a existência à boleia do peido final de um “Canis lupus familiaris”, ou, como dizem os brasileiros, de carona. Outra, bem diferente, é a bênção de provir de uma cona. Do aqui exposto se infere, aliás, outra impossibilidade ditada pelo rigor científico, que é a de mandar o parvalhatz para a cona da mãe, pois nunca a teve. É uma desagradável intimação (possibilitada pelo privilégio da origem) a que todos nós, humanos, já fomos ocasionalmente sujeitos, mas também disso está livre (por manifesta impropriedade) o coliforme parvalhatz, que apenas pode ser mandado para o cu do cão.

    Pelos motivos acima aduzidos, e por mais que macaqueie e papagueie o “Homo sapiens sapiens”, não ultrapassará nunca, o besuntas parvalhatz, a incómoda mas descartável condição de coisa pegajosa e malcheirosa na sola do sapato de quem percorre as ruas do mundo dos homens.

    Estabelece-se, assim, por decreto régio, que o nome científico do coiso, de acordo com as regras da Nomenclatura de Lineu ampliada, será averbado nos Anais do Reino e Arredores como “Parvalhatz coliformis biliosus hiperactivus”, embora a generosidade de uma bula papal autorize, excepcionalmente, o uso da designação popular “filho da puta” para facilitar a vida ao povo martirizado pela crise, sem tempo nem paciência para a exactidão da ciência.

    Devem, porém, ainda que de forma voluntária, abster-se de tal atitude facilitista os espíritos amantes do rigor, que utilizarão apenas a designação científica.

    Promulgue-se.”

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