Minha casa, minha vida
Sendo antiga é moderna
Fica longe não esquecida
Como a água da cisterna
Bebida no púcaro de barro
Entre o curral e o palheiro
Antes de guardar o carro
Com as artes de garageiro
Casa de empena fechada
Duas lojas e um balcão
Quase lhe chega à entrada
O mar em rebentação
Forno exterior, chaminé
Desenho em proporção
Empurra a vida esta fé
Todo o dia em oração
Giesta em flor, rasteira
Cheira bem entre os muros
Socalcos da vida inteira
Onde os frutos são seguros
Casa entre mar e terra
Limites da geografia
Onde o vento faz a guerra
E é relógio todo o dia
Memória
Tudo que sou, no imaginado
silêncio hostil que me rodeia,
é o epitáfio de um pecado
que foi gravado sobre a areia.
O mar levou toda a lembrança.
Agora sei que me detesto:
da minha vida de criança
guardo o prelúdio dum incesto.
O resto foi o que eu não quis:
perseguição, procura, enlace,
desse retrato feito a giz
pra que não mais eu me encontrasse.
Tu foste a noiva que não veio,
irmã somente prometida!
— O resto foi a quebra desse enleio.
O resto foi amor, na minha vida.
David Mourão-Ferreira, in “Tempestade de Verão”
Desiste, pá! Desiste de escrever aquilo a que chamas poemas. É tão mau, mas tão mau… Olha, vai para «garageiro», uma vez que dizes ter «artes» para isso, talvez te safes!
Grande badalhoco, monte de esterco, não vales nada, nem para «Luciano das ratas» serves…
Grande palhaço, monte de estreco, não vales nada, vai dar conselhos para o cano de esgoto…
oh minha linda casinha! agora temos arquitectura em verso por um conselheiro em canalização.
:-) cheiinha de curiosidade por essa casilha com mar em rebentação onde os frutos são seguros.:-)
Este burro não percebe que ninguém o ouve quando diz «desiste». Vai pregar para outra freguesia, grande camafeu!