De «Lisbon Blues», colectânea de José Luís Tavares, este poema.
Isto aqui é o paraíso —
fazer uma mija contra a sebe,
sem que a bófia nos interpele,
embora o frio nos morda a pele
e mil dele eu te deva.
Alguém chamaria a isto vida.
Diógenes teria encontrado aqui
o seu homem. Goethe o proto-tipo.
Ovídio não lamentaria o seu exílio
— alta estima tenho por ele
embora não perceba o latinório.
Amigos na folia, vejo cão
e perdigão. Mas uns bacanos
armados em al capone
semeiam deliciosa confusão.
Quando todos aguardavam o encore
abalaram de roldão.
Na contramão, cismando, ainda
lhes perguntei se de onde vinham
a manhã se bordava a fogo,
mas apenas a pólvora dos impropérios
e um arroto de aguardente velha deixaram
por essa pretérita manhã do burgo.
Não me levem a mal
A poesia não é uma arte
É um amor injusto
E raro
Muito raro
Meu caro
É o que digo, Fernando. Vais adorar o Daniel Jonas e o Daniel Maia-Pinto Rodrigues.
O poema é uma maravilha.
Muito bom. Este Intendente.