Poema de Natal
Quando Tu nasceste
que assombrosas e lindas e impossíveis coisas de acontecer aconteceram…
em Agosto ou Dezembro o certo é que nevou
e uma estrela se fez bordão de magos.
Até os anjos do céu sujaram as sandálias
nos currais de Belém.
Emanuel Félix
bonito. singelo e certo, como convém.
Belo poema do poeta perfeito. Nunca nada está a mais ou a menos. Divina proporção entre «cantar» e «reflectir» que todos os poetas de todo o mundo sentem como seu maior desafio. E que o terceirense resolveu de modo magistral. Boa ideia esta. Bom Natal para todos.
Muita semântica religiosa para o meu gosto. Só isto e a aletria para me darem enjoos.
Cláudia, não sei se reparou que isto é um poema, não é uma lição de catequese.
Não é um problema de gosto; será antes não saber sequer qual a importância da poesia de Emanuel Félix. E saber que todo o poema é uma forma de oração pois liga dois mundos separados pela morte, pela distância ou pelo esquecimento.
Não concebo poesia ligada àqueles vocábulos.
Então, Cláudia, perde alguma da melhor poesia e da melhor arte que há no mundo.
Dou graças a Deus e aos anjos e à Virgem Maria por perder tanta beleza sacramental.
Cláudia, convenceu-me. Eu pensara trazer aqui, de vez em quando, alguns poetas açorianos. Comecei pelo Emanuel Félix, que já morreu porque não cuidou da sua diabetes. Um amigo acima de toda a suspeita, uma memória para mim sagrada. Não gostei de o ver assim amesquinhado. Não o trarei cá nunca mais nem qualquer outro, para que o que eu faço com boa intenção não se volte contra eles. Isto dói. Como diria o próprio Emanuel: “Hoje, quero da vida/ Que ela seja tranquila;/ Que seja uma dor e doa,/ Mas uma dor boa:/ Sem o sal que na ferida/ A torna mais dorida.”
Procurarei não dar motivo a que alguém ponha sal nas feridas dos meus amigos. Sobretudo dos já mortos.
daniel, tolice. se a cada vez que alguem nao gosta desistissemos de por aqui o que quer que fosse, nesta altura o aspirina estaria acabado. ninguem esta’ alem da critica, ainda por cima. seja ela fundamentada, justificada, preconceituosa ou displicente. essa uma das gracas da liberdade.
mais, ao dizer isso esta’ a dizer que o “desgosto” da claudia e’ mais importante do que o gosto do jcf e meu…
mais acertado seria dizer: “claudia, se assim e’, entao vou continuar a por aqui coisas do emanuel, ate’ haver uma de que gostes. ora toma.”
Daniel, nas aulas de literatura, estudamos e analisamos o texto / poema em si ou a vida do autor?
Seguindo a linha do Daniel, eu deveria gostar de Weyergans só porque ganhou o Goncourt e odiar Proust e O’Neill porque eram paneleiros.
A literatura sentir-se-ia de tal injustiça, sofreria com visão tão redutora.
E aconselho-o a continuar com os poemas açorianos porque, no meio desses todos, pode ser que haja um de que eu goste.
e é aprender com a susana que ela não dura sempre
Susana, o problema da Cláudia é não gostar das palavras. Como se o facto de o mosteiro da Batalha ser dedicado a Santa Maria das Vitórias ou comemorar uma batalha lhe retirasse valor monumental e artístico.
Pôr o Emanuel Félix sujeito a exames destes? Ele que fez parte de uma antlogia na Irlanda dos Joyces e dos Shaws passando ignoto por Lisboa? Não, minha amiga, tolero tudo o que façam comigo ou digam de mim, mas já me tenho aborrecido muito por defender os amigos. Sem arrependimento.
Para resumir a situação, nada melhor do que citar José Martins Garcia, iconoclasta inclemente do Pico, mas lúcido até aos limites da inconveniência. “…proferida por Pessoa a palavra «merda» torna-se genial. então «porra».”
Gostei muito de conhecer este poema do Emanuel Félix. É cá dos nossos, do nosso lirismo, sem qualquer dúvida.
Já quanto à opinião da claudia – e totalmente legítima que ela é, por tudo e mais alguma coisa, e seja qual o ponto de vista – tem razão a susana, como é óbvio. Como é óbvio, Daniel.
Vivemos o esplendor do efémero das «opiniões». Toda a gente se arroga o direito de achar mesmo quando não anda à procura… Para mim é muito simples: uma opinião vale tanto como o peido dum cigano e não há coisa mais passageira do que o peido de alguém que está de passagem. Já o meu vizinho Agostinho da Silva dizia TANTO SE ME DÁ QUE CRITIQUEM OU QUE ELOGIEM, EU CONTINUO O MEU CAMINHO.
Daniel, já que o pantufa hoje até arrulhava, não te preocupes com o Emanuel. Eu não o conhecia, há campos em que sou um ignorante néscio, e nem me importo, mas à conta da tua indignação com o comentário da cláudia, até já li o poema três vezes e fiquei a gostar mais no fim do que no princípio. Da idéia sempre gostei mas da respiração demorei a atinar e ainda dou um tropeção num sítio que não contava.
Quanto à susana, aproveitemos todos ter aqui uma pitonisa.
Aliás como ela dizia: se não me comes viv@, como-te mort@. ( o @ deve-se ao artº 13º da CRP)
Vais ver que o Emanuel gostou da pantufada.
Fiquemo-nos pela pacificação da Susana e do Valupi. Obrigado, meus caros JCF e Z. Não por mim, mas pelo Emanuel.
(Nota: uma das coisas que me irritaram no comentário da Claúdia, para além do desrespeito que já condenei, foi ver naquela atitude o símbolo deste Portugal que esbanja para comprar uma colecção de arte contemporânea ou uma pintura de Tiepolo, e deixa cair de podres monumentos da nossa História. E nem vou para os muito grandes, sirva de exemplo a casa de Aristides de Sousa Mendes. Ah, e pede esmola para cuidar das crianças hospitalizadas.)
PP – Ou esta coisa exemplar: há uns anos, na Feira do Livro de Frankfurt, a Maria João Pires tocou Beethoven, Schumann e Schönberg. Mais ou menos como se os Cossacos do Don viessem a Portugal dançar o Vira e o Malhão. Que lhes tenham perdoado Carlos Seixas, Viana da Mota, Tomás Borba e muitos outros…
caríssimos,
Só hoje entrei neste beco da comenta. Tarde para opinar nesta conversa que está mais que acabada, sem lesões nem algo de imperdoável que se aponte a um lado ou outro (se é que existem dois). Apenas mais um exercício de opiniões, passe o gosto de algumas ou de outras. O melhor das conversas.
Mas o meu sentir açoriano ficou irrequieto. Tal como o meu sentir de homem das palavras, pese modestas. Por isso autorizei-me um recado directo. Daniel: “Somos herdeiros da maresia/que salga os olhos de olhar o mar /e temos rios de lava fria /que se recusam a desaguar”, palavras também do teu amigo finado. Quente, a lava destrói tudo na passagem. Acalma o vulcão, penteia os brancos, faz por serenar no peito a placa tectónica e prepara as próximas do nosso Félix. Não lhe dou mais duas sem que a Cláudia caia aos pés do teu particular gosto pelo poeta. Contrita, convertida e sequiosa de mais.
Gosto do Natal cá na casa.
Belo recado, RVN. Mas eu já disse que o meu ponto fraco é este, o de não desculpar faltas de respeito para com os meus amigos. De mim podem dizer o que quiserem, que não me verão nunca irritado ou “amuado”.
Olá Daniel! Esta coisa do novo aspirina identificou-me de pronto. Por ter andado arredado perdi o exacto momento em que colocou dois poemas do Emanuel nesta página depois de tanto ter defendido que continuasse na blogosfera para o fazer. Tenho de lhe agradecer por não deixar cair o nome de um grande poeta, Homem e amigo.
Deixe lá a Cláudia, que espero que o Five O’Clock Tear já tenha apascentado (o que hei-de ir conferir), porque afinal do Emanuel é um dos meus poemas preferidos. A moça já anda a merecer uma réplica assanhada há algum tempo, mas como tinha Unamuno entre os livros preferidos do seu perfil acabou por ser poupada.
Os comentários da Cláudia, a sua verborreia que simultaneamente associa a Unamuno, prova que a moça “misreads” e eu próprio costumo dizer que sou licenciado em Misreading, pelo que… retórica religiosa por retórica religiosa… mais uma vez não nos fica mal perdoar-lhe!
Para Emanuel Félix
Quando tu nasceste,
O mundo fez-se gala,luz e pompa
E não houve garça alguma ou veado branco
Que não corresse de brancura na verdura.
Quando tu cresceste,
Cresceu maior a luz,o fogo,o lume
Das palavras que colhias na raiz dos dias
Para as fazeres vertidas de sementes.
Quando tu morreste,
Houve o silêncio todo inteiro em ti
E a tua voz no leito dos teus dedos,
Pão da fome dos que temos sede.
LIA