Nota: Este poema não é meu! E, embora seja do Eduíno de Jesus, também não é dele! Tratou-se de uma brincadeira em que sou reincidente. Do seu livro “Os Silos do Silêncio” catei um verso aqui, outro acolá, e, juntando-os, dei-lhes a aparência de um poema novo. Portanto, todos os versos são do Eduíno, a colagem é que é minha. Não mudei nada, a não ser um plural que transformei num singular.
Poema de destroços
Lembro-me de tudo:
Um gesto a abrir,
rosas brancas na haste,
o milagre do pão, a ternura que deixaste
como um rio desliza,
num silêncio de gumes.
Os adeuses digo,
único passageiro no navio.
Levo o saibro das lágrimas,
e vou sozinho. A guitarra da chuva persiste.
Se eu tinha coração? De ouro…
Quase ia dizendo puro,
uma árvore à beira da vida.
Consumiu-o depressa a labareda
neste desolado cais.
No cais da Saudade, morre um sonho mais.
A esfumada paisagem, o porto solitário.
Depois o imenso, profundo oceano,
enquanto o céu ainda é azul.
Comerei o pão que deixaste
para a minha fome,
uma esmola para o pobre marinheiro.
Haverá um sinal?
Apenas um sinal no céu:
Os deuses que tivemos devorámos.
Coração apagado,
uma açucena na estrumeira.
Pior é morrer
culpado de alguma culpa inocente.
E a noite. A noite, por fim, indiferente.
Afinal toda a poesia não passa de uma oração aos destroços ligando de novo aquilo que o tempo, o vazio e a distância ajudaram a separar. Um belo trabalho que explica o que é viver entre terra e mar. Nos Açores há mais poetas por quilómetro quadrado.