FIVE O’CLOCK TEAR
Coisa tão triste aqui esta mulher
com seus dedos parados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher
Coisa mais triste o seu vaivém macio
p’ra não amachucar uma invisível flora
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora
Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la
E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito
E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos
E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio do silêncio
colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes
Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada
Emanuel Félix
Este é um dos grandes poemas do nosso século XX poético. Descobriu-o em 1982 mas ainda a tempo. EScrevi sobre ele no Diário POpular algures por alturas de 1984. É um poema perfeito dum poeta perfeito em tudo o que empreendeu fazer. Como se diz na minha terra – boa malha!
Belíssimo!
Realmente, é uma boa malha.
concordo.
Obrigado em nome do Emanuel.
Nota para a Cláudia: eu não amuo de vez em quando, o que eu não tolero é falta de respeito aos meus amigos. Esse é o meu ponto fraco. Ou forte, conforme se queira. Espero que o Natal te tenha apanhado com saúde e boa disposição.
Obrigado, daniel! Um abraço! Que coisa bonita, e feliz, este poema aqui (re)po(u)s(t)ado!
algem tem uma compia do poema “Pedra” do Emanuel Felix?
Estava precisando uma boa dose de Aspirina, entrei aqui depois de alguns meses ausente. Por acaso. Que acaso,lindo! Encontrei Emanuel Félix e seu belíssimo FIVE O’CLOCK TEAR. Há 5 anos,num fevereiro gelado (aí) e ensolarado (aqui) ele partiu deixando saudade e como “(…)as sementes são enterrados./Penetram/a dimensão só a eles acessível/atraídos pelo mistério do renascimento/e da fertilidade sem tréguas/ Como as sementes/esperam/ o seu regresso à vida/sob uma nova forma.(…) Do seu Poema “Os Mortos e as Sementes”.
Minha homenagem a quem postou seus poemas, e a ele uma saudade sem fim.
De uma “rapariga” Brasil-açoriano que nunca esqueceu o poeta e morre de inveja das “Raparigas lá de Casa”