Too big to save

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Deixem o Banco Espírito Santo falir. Já chega. Pesados os prós e contras, a minha posição é que a única intervenção do estado e do BdP daqui para a frente deve ser um desmantelamento ordeiro do banco, a activação da garantia de depósitos para proteger os clientes, e a vigilância apertada da restante banca. Não o digo de animo leve, mas temos que reconhecer que se há coisa que aprendemos com o desastre do BPN foi que por muito boas que sejam as intenções, e foram-no certamente, o estado, ou seja nós todos, não pode andar permanentemente a salvar bancos vítimas de má gestão, ou de crises, ou de má gestão resultante de crises, como até parece ser o caso. E que uma vez que um banco chega a uma situação em que o estado tem de o nacionalizar, então já é tarde demais, e os prejuízos serão sempre maiores, muito maiores que o inicialmente previsto. Aliás, lembram-se das confiantes previsões de Carlos Costa ainda há poucas semanas? De como estava tudo bem com o BES, que havia dinheiro suficiente para todas as eventualidades? Que o sector privado ia naturalmente salvar o banco, que até estava bastante barato? Como é que passámos dessa confiança para 3.6 mil milhões de prejuízo? Vamos repetir: 3600 milhões de Euros. O equivalente a 240 prémios do Euromilhões. Num só semestre.  É nisto que o estado se vai meter? Nenhum banco paga ao estado um seguro contra falências, pelo que a nossa obrigação de salvamento para com estes é zero. Aliás, a banca foi responsável directa pela maior crise desde a grande depressão, e adivinhem só: depois de serem salvos pelo dinheiro dos contribuintes, com má cara ainda por cima, já voltaram aos antigos hábitos. Ou seja, a capacidade da banca para aprender e se reformar é zero, a capacidade de exercerem uma gestão prudente é zero, o que tende a acontecer quando se desenvolve uma actividade sem risco. Note-se que, ao contrário dos anarco-capitalistas,não concordo que o estado deixe falir todas as empresas. Algumas, pelo know-how acumulado e dificuldade de reconstrução das respectivas industrias (industria automóvel ou aeronáutica, por exemplo), merecem ser apoiadas pelo estado durante tempos difíceis, para evitar perdas irreparáveis. Não é certamente o caso dos bancos. Um banco não produz rigorosamente nada, não necessita de base industrial, investigação,  maquinaria, fornecedores específicos, nada de nada. É um mero intermediário de dinheiro. Precisa apenas de capital, ou seja, é algo que se reconstrói num abrir e fechar de olhos, sem grandes preocupações de vazios. Se um banco implode, o espaço que este deixa não ficará vago por muito tempo. Alguém vai ocupar o seu lugar, e vai fazê-lo muito rapidamente.

Há no entanto que considerar o impacto que a falência do BES teria sobre as várias empresas cujas contas ou aplicações não estão cobertas por garantias de depósito. Mas aí, será certamente mais barato ao estado utilizar o dinheiro que iria enterrar num banco falido e em quem já ninguém confia para ajudar directamente  essas empresas, ponderando bem os empregos que elas representam, seja por linhas de crédito específicas, seja por outro meio qualquer. Para além de que,suspeito bem, o chamado smart money já abandonou o BES por esta altura. E caso não o tenham feiro, não foi certamente por falta de aviso. Quanto à exposição do resto da banca, mesmo o risco sistémico que certamente existe pode ser perfeitamente minimizado com uma gestão competente do processo de falência do BES. Algo que o  BdP tem, certamente, toda a competência e todos os instrumentos à sua disposição para o fazer.

O estado português, já dono de um grande banco como a Caixa Geral de Depósitos e em breve um Banco de Fomento, tem zero necessidade de juntar um Banco Espírito Santo em situação de insolvência à colecção, sabe-se lá com que custos para todos. Está na altura de Passos Coelho assumir não só as suas convicções de liberal como as promessas que desde o início fez relativamente ao BES e deixar o inevitável acontecer. A não ser que as convicções liberais só se apliquem quando se trata de pensões dos velhotes, salários dos funcionários públicos e subsídios de desemprego. E era só mesmo o que faltava que depois da triste experiência do BPN ainda viesse o PSD nacionalizar outro banco, com custos ainda maiores. O principal activo de um banco não é capital. É confiança. Coisa que o BES já deixou de ter. É deixá-lo morrer, e esperar que sirva de lição aos outros.

15 thoughts on “Too big to save”

  1. não concordo com a falência,mas defendo que deviam ir em cima dos bens da familia espirito santo amen.tambem acho que o governador devia ir com a nossa senhora!foi incompetente e cúmplice na mentira.segundo marques mendes na sic,a familia espirito santo na ultima seman espatifou mais mil milhoes.

  2. se falir, quem é que paga as próximas eleições do psd, legislativas e presidênciais? é a última grande oportunidade de financiar a próxima temporada fora do poder, da última vez estiveram à beira da falência e foi por uma unha encravada da velha que o john wayne de gaia não vendeu a sede para pagar os custos de porta aberta.

  3. Claro que vamos pagar até ao último tostão o deboche financeiro do Espirito Santo & Ca. Afirmou-se que o país tem sido arrastado para o abismo. A elite financeira do país tomou por completo as rédeas do poder, poder absoluto e capturou a presidência da república, o governo, o parlamento, o ministério público e as policias. De caminho, amestrou e conduziu pela trela, a seu bel-prazer, Louçã, Jerónimo e o Seguro -este só disse ao que vinha depois de se libertar da gaiola! Como estamos a constatar, Seguro não aparece só. Apresenta inesperados (?) apoios, como o Soares Jr, o Assis, o Alberto Martins, a Maria de Belém, o Manuel Machado etc. E agora digam-me lá: como pode este país escapar ao abismo? Por que nos admiramos com o que aí vem? Alguém pensa que vamos pagar 5 mil milhões pela roubalheira do BES/GES, quando 6 mil milhões pagamos nós pela banqueta-brincadeira-BPN do PSD? De um país onde as instituições fundamentais da república foram corrompidas esperava-se outra coisa que não o abismo? Esqueceu-se o verdadeiro preço a pagar pela completa corrupção da justiça? Quem vai confiar numa república -europeia!!!-onde a justiça foi dominada pelos gangsters de colarinho branco? Quem vai confiar num país onde vários ministros são apanhados a mentir flagrantemente e nada acontece? Nada! Nem um simples pedido de audiência ao PR para exigir decoro! Mas para quê um tal gesto, se o próprio presidente da república mentiu descaradamente sobre a sua pensão de reforma (“1300.00 euros. Mil e trezentos euros, ouviu bem!”). Perante esta ignomínia estávamos à espera de quê? Do milagre da senhora de fátima?

  4. Vega, tal e qual. Milhões por cento de acordo.

    Vai ser difícil explicar como é que não há dinheiro para a saúde, para a educação, para tudo o que seja estado social, mas está disponível a partir de hoje para o estado dos negócios especuladores e também dos negócios criminosos.

  5. Vega, infelizmente não tenho assim tantas certezas. Como pode o Bento em tão pouco tempo descobrir este novo número? Espírito Santo de orelha? Levou consigo uma varinha de condão, ou terá consultado a Maya?!
    Vitor, como todos os ‘espertiosos’ ecónomos de serviço, limitou-se à contabilidade fantástica. Espetou com todos os créditos efectuados aos diversos ramos do grupo e considerou-os incobráveis! Mas será que o são? Claro que não! Fê-lo talvez para prevenir surpresas ainda mais desagradáveis mas falar em 3,7 neste momento é tão especulativo como falar em 7,3 ou 2,1. São palpites apenas.
    O BES tem uma rede de balcões que interessa manter, clientes que importa apoiar, um país que importa servir. Quem lucrou com o negócio que pague. Uma auditoria independente feita pelo estado certamente descobrirá quem se aboletou e pode, se quiser, fazer reverter para o erário público as mais-valias resultantes da anulação das malfeitorias. Haja vontade política. Deixá-lo falir apenas fará que os ladrões fiquem descansados, os clientes encostados à parede obrigados a mudarem para outras marcas que fizeram o mesmo que o BES, mas que se safaram com empréstimos que todos estamos a pagar. E não me venham com a cantilena dos juros elevados (9%) que essa banca paga pelos empréstimos, porque a mim, se estiver na bancarrota, ninguém me emprestará nada se não tiver garantias. Ou será que um banco falido tem garantias?

  6. Parabens pelo post. Assim devería ser tal qual. A verdade económica e assim. Já ouvi a respeitados economistas dizer e razoar o mesmo na falência das caixar espanholas. No post fica tudo bem craro, e as soluções a tomar en quanto o banco falir. Concordo : é bem pior para os cidadãos o resgate financeiro, dinheiro para o lixo, que a falência.
    Se é isto tão craro, porque não se faz?. Á resposta ja foi dada en alguns comentarios, e como diz a canção de Dylan , à resposta está no ar.
    https://www.youtube.com/watch?v=0viv6RksMNA
    ( com simpatia para edie).

    no filme “margin call”, a reserva Federal dos EEUU deixa cair os especuladores que lhe pediam dinheiro para evitar o crack. Tal vez fosse na realidade Leman Brothers. Consecuencia houve uma crise mas alguem tinha de parar o sunami de dineiro especulativo no mundo.
    http://www.imdb.com/title/tt1615147/combined
    http://www.bloomberg.com/news/2014-07-14/espirito-santo-s-board-appoints-bento-to-replace-salgado-as-ceo.html

  7. reis,
    infelizmente não estamos nos EEUU, aqui o sistema é muito mais amigo do capitalismo especulador e menos do sistema social.
    Entretanto o que se ouve aqui -a confirmar daqui a uns minutos pelo governador do Banco de Portugal – é que o Estado vai mesmo emprestar os milhões (uma ponta do iceberg que será muito maior – há quem fale em 16 mil milhões) deixando aos restantes bancos portugueses o encargo de devolver esse dinheiro e tapar o buraco do BES para que ele sobreviva. Claro que contam com a venda do banco, que neste momento vale apenas 700 milhões, e a cair.A questão é: e quem vai tapar o buraco dos bancos obrigados a cobrir os prejuízos dos clientes BES? Ninguém. Por essa altura, o estado e o fundo de recapitalização não terão dinheiro e os clientes desses bancos ficarão a arder para salvar os do Bes. Chama-se a isto crise sistémica sem plano B – criada pelo próprio governo.
    Vou tratar do meu plano B- retirar o dinheiro do meu banco, para não ter que ficar sem cheta por causa da ajuda aos accionistas do BES, incluindo os bandidos Espírito Santo. Eu preciso desse dinheiro, eles não. Que o tragam dos offshores.
    Toda a minha simpatia para ti também, com esta. è apropriadamente sobre PORCOS.
    https://www.youtube.com/watch?v=QnlijUAuna0

  8. Sobre o facto apontado pelo Vega de que “os prejuízos serão sempre maiores, muito maiores que o inicialmente previsto”, como historicamente provado, foi-me ontem confidenciado por um jornalista que se mexe nos meios que já há algum tempo que se fala em 16 mil milhões de euros e não de 3 mil milhões (este número é para não levantar pânico imediato e nõ prejudicar o valor de venda do banco).
    Isto quer dizer que para salvar o BES, terão de rebentar com todo o sistema bancário nacional ou então acrescentar mais dívida – e que dívida – aos contribuintes.
    Do mal o menos: falência. Por muito que custe a quem não tem culpa no cartório (depositantes e empregados do BES). Conheço uma funcionária do BES que me diz que os levantamentos de depósitos cegaram a ser de 1 milhão por dia. É o que se recomenda.

  9. É claro que, num estado minimamente decente, o destino natural deveria ser a falência, não poderia ser outro.

    Das várias desculpas que tenho escutado, a mais ridícula de todas, é de que se acabaria o crédito para as empresas … então, não existem mais (outros) bancos para continuarem a conceder linhas de crédito ás empresas que se financiavam no BES ???

    Valha-nos Deus! Com um presidente que se gabava de não ser pressionável e que agora se transformou em moço de fretes do Governo e que envia legislação para o TC com uma lamentável nota (de recomendação e de intimidação) dizendo que está em causa o cumprimento do Acordo Orçamental, Portugal bateu definitivamente no fundo!

    Perdidas já as forças armadas (que no dizer até de alguns dos seus mais altos responsáveis, num cenário de guerra moderno, dificilmente se aguentaria mais de que umas seis horas, e que já nem sequer para defender o Povo, do inimigo interno, serve) constato com desespero, que até já o TC (porventura o último reduto) não resistiu às intoleráveis pressões do PM, deputados da maioria, e respectiva camarilha partidária.

    Então a Constituição diz que existe o direito à reforma, mas não estabelece um montante ? – Palavras do Presidente do TC.

    Pois …

    Isso não prenuncia já, nada de bom …

    A (nada) inocente ordem pela pela qual os diplomas (na minha opinião, todos inconstitucionais) são produzidos e submetidos ao TC, segue uma linha e uma ordem e uma lógica (aqueles que quer ver aprovados, os que diz que quer mas não quer, e os que não quer mesmo – caso dos cortes que afectam rendimentos de “cartolas”) e a ordem ou sequência das decisões (chumba-se dois, aprova-se os dois seguintes, e assim sucessivamente) mostra já a triste realidade e o estado a que o propalado “Estado de Direito” e a “separação de poderes” chegou.

    Só para que conste: aposentei-me em 2005 com 2.200 Euros brutos de vencimento mensal , acrescidos de remunerações acessórias mensais no valor de 600 Euros, sofri logo um corte de 10% sobre aqueles dois montantes (por via da reforma da Drª Ferreira Leite, que reduziu o valor das reformas para 90%), chego a 2013 e após as “reformas” introduzidas pelo angolano Passos Coelho, feitas as contas no final do ano, – ainda tive de pagar IRS no valor de 800 Euros! após a liquidação final ! – estou a receber 1.400 Euros por mês.

    Os descontos do IRS de retenção na fonte no valor de 6.901 Euros, foram considerados dedutíveis.

    Mas a CES, no valor de 2.196 Euros e a Sobretaxa de IRS no valor de 499 Euros, não !

    Idem, quanto aos descontos para a ADSE, por não serem agora, considerados como descontos obrigatórios.
    E convém referir que desconto para a ADSE, 14 meses, enquanto um funcionário no activo, desconta apenas 12 !

    Pelo andar da carruagem BES, não tardará muito, estarei a receber, 500 Euros, se não for menos …

  10. Pingback: Too big to save
  11. Nunca houve tantos a ganhar o que não esperavam se não fossem as falências. A suposta falência do BES/GES e Cia. é a grande oportunidade para grandes negócios que cruzam agentes do poder político com gente da banca e das finanças e suas agências acólitas.
    Isto não passa de uma imensa falcatrua em que o poder político é insuspeitadamente cúmplice e interessado.

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