Uma das consequências da crise europeia é a grande atenção que agora prestamos, embora pelas piores razões, a tudo o que se passa nos restantes países. As eleições alemãs e as dificuldades de Merkel, as mudanças na Dinamarca, as exigências finlandesas, a os receios indignados holandeses e indignação receosa, mais ou menos xenófoba, dos austríacos, os esforços espanhois, o circo italiano, o desespero grego, a queda do governo da Estónia e as suas consequências. É uma atenção provocada pelo medo, pelos receios do que nos possa acontecer no futuro, pela consciência de que as acções dos outros têm um efeito directo na nossa vida a curto prazo. Tem sido marcado pela desconfiança, pelo exacerbar dos piores traços dos outros e pela exaltação dos nossos, pela crítica constante a roçar a intolerância. Mas acima de tudo isso, está um facto indesmentível: estamos a prestar muito mais atenção a quem está ao nosso lado, a conhecer-lhes os traços de personalidade, os defeitos e qualidades, as esperanças e receios, a vida e os líderes políticos, e a comparar com os nossos. Até há pouco tempo atrás, cada um de nós estava ocupado a gozar a prosperidade no seu canto, indiferente ao que se passava no resto da União. Hoje, as notícias dos outros são regularmente atiradas para as primeiras páginas dos media, ao lado das nossas tricas, em vez da secção “internacional”.
A construção de uma Europa de povos mais unida pelo conhecimento mútuo pode sofrer revezes, sem dúvida, mas ficará muito a dever a esta época que vivemos.
bem visto, a humanidade é bem defeituosa: vai olhando de canto para o melhor, sem mexer, enquanto está confortável na zona confortável. mas depois, quando a zona de conforto começa a descambar – levanta-se a curiosidade e o frenesim para o que já fora melhor mas que, de repente, está mais ou menos em descambamento tal e qual a zona confortável. há, aqui, uma espécie de consolo em ver o mal dos outros à semelhança do nosso, uma solidariedade de bolso roto de aldeia global. a humanidade é de um sadismo mordaz. :-)
Certíssimo. Como escreveu Aristóteles, e na sua época já era um antigo provérbio, “os amigos têm de provar o sal juntos”.
o sal, sim, mas o açucar e o jindungo também – ou não, Val? :-)
apesar de não ser óbvio, apenas expectável, refiro-me à gastronomia. há prova maior de amizade entre os povos, ou gentes, do que a troca de delícias doces ou salgadas ou misturadas, temperadas e apresentadas a rigor do sem rigor? não há. preparar alguma coisa com as mãos e com a alma para alguém tem magia – e é este tipo de magia, muito mais do que a do mistério, que vale a pena. :-)
parabens pelo optimismo antropológico. Sempre é gostoso ouvir optimismo é não pessimismo, concordo. Embora também podiamos dizer ” a sensu contrario” que destas olhadas de uns para os outros pode sair uma guerra, um salvesse o que puder, á insolidaridade etc.
Há para tudos:
pesimismo: setenta millhões de pessoas vão passar fome nos próximos anos na Europa por pouca produção agrícola. Prevêse uma guerra na Europa nos últimos próximos anos, virá dos Balcans.
Optimismo: Os hungaros deram a nacionalidade a tres milhões de pessoas repartidas pelas nazons próximas. Iste facto de não haver união europeia poderia ser causa de enfrontamento armado na zona.
Se europa sair viva desta, será mais europa, as crises são catarsis.