Sorte a nossa, seres nosso

O falecimento de João Pinto e Castro atingiu-me de surpresa. E doeu fundo. Tal como a Penélope, atribuía ao seu recente silêncio digital e mediático diferentes hipóteses explicativas benignas, a começar logo pela mais provável quando nada se conhece da vida privada de outrem: estar farto, ter mais e melhor onde gastar o seu tempo. Acresce que nunca com ele falei, apenas o lia com gosto e proveito.

O João destacava-se entre os autores da blogosfera política por aliar uma sólida cultura académica com uma longa experiência empresarial e um superior domínio da escrita. Resultado: os seus textos nascem de uma investigação exigente e de uma reflexão ágil, mas oferecem igualmente ao leitor um prazer estético e uma recompensa afectiva que se passa a querer consumir como néctar para a inteligência.

Estamos perante um belo e trágico exemplo de alguém que nunca fez parte da elite e que foi sempre um activo representante do escol português. Na elite usufrui-se dos diferentes poderes, no escol conservam-se, aumentam-se e partilham-se os diferentes saberes. Se é verdade que esta morte absurda nos deixa mais pobres, tanto o que o João ainda tinha para viver com os seus e também para dar à comunidade, igualmente verdadeira é a constatação de que o seu desaparecimento físico permite sentir parte essencial do invisível, do intangível e do inefável da sua pessoa.

Testemunhos:

A carta que nunca te escrevi.André Castro

João Pinto e Castro. Eras assim, na minha memóriaIrene Pimentel

joãof.

O tempo de João Pinto e CastroHelena Garrido

Textos fulcrais:

OS TRABALHOS DE SÍSIFO

Memorando para a salvação do capitalismo

13 thoughts on “Sorte a nossa, seres nosso”

  1. “Os trabalhos de Sísifo” é de leitura obrigatória; é um texto que resume, de forma clara e concisa, a situação presente da Europa e de Portugal.

  2. :-(
    a morte, o que é a morte?, acarreta sempre aquela coisa altruísta do que alimenta, para quem vai, e egoísta, do que é alimentado, para quem fica. é triste, é morte, é a vida. e quase sempre em vida as pessoas sentem uma espécie de confrangimento em mostrar, demonstrar, admiração, orgulho, respeito, paixão até, porque parece ser coisa pouca, motivo pequeno para querer privar com alguém. com a morte, a coisa engrandece e o confrangimento desaparece. e é bom e é triste e é absurdamente póstumo.

    (vê lá, Val, se não morres. e que nem te dê para a outra morte: a do abandono)

  3. shark, embora vá dar gasto à generosíssima esmola com que me brindas, pois a crise é terrível, eu sei que tu sabes que eu sei ser o João Pinto e Castro de um outro campeonato.
    __

    joaopft, nem mais, nem menos.
    __

    Olinda, a morte é parte da vida. Resta só saber qual – qual parte e qual vida.

  4. sim, claro. acho que era essa a ideia do poste, falar do joão e as preferências musicais ajudam ao conhecimento das pessoas.

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