É tudo tão evidente: a necessidade de uns pede a necessidade de outros. Ambos ganham e crescem no simples convívio. Por que funesto destino não juntamos esta gente, antes os separamos uns dos outros e de nós? Já agora, mais uma receita que completa este quadro.
A vida pode ser mais inteligente. Há que repetir esta mensagem porque aumentam os incrédulos.
Muito bela esta foto, Valupi. Por tudo aquilo que nos consegue transmitir e permite adivinhar.
É verdade, a vida pode ser muito mais inteligente e humana.
A desumanização aumenta dia-a-dia. Cola-se à vida das pessoas e aquilo que outrora repudiávamos, hoje, silenciosamente, habita no recôndito mais permissivo do nosso coração. Daí a incredulidade. Mas V. sabe que o problema, infelizmente, é muito mais vasto. Que fazer?
Como se pode pedir ajuda a uma sociedade já de si tão débil e decadente?
Trabalho com idosos em regime de voluntariado e quando termina o pouco tempo que lhes posso dedicar venho sempre de coração partido e uma sensação desesperante de impotência.
A família desintegra-se hoje em dia com muita facilidade o que dificulta extraordináriamente a reinserção social do idoso.
Para além do ritmo alucinante em que vive a maioria das pessoas, existe uma outra causa, que a meu ver é a mais grave de todas: o desamor.
consequência, talvez, de excessivos psicologismos? é que me parece que o ressentimento substitui a gratidão. todos se queixam do que lhes faltou e poucos se lembram que sobreviveram para reclamar graças a alguém.
na escola do meu filho há falta de auxiliares, como em quase todas as escolas públicas, para conbrir as reais necessidades. à hora do almoço aparece uma senhora velhota, voluntária, que ajuda a tomar conta das crianças, a pôr ordem, a orientar as coisas. todos agradecem e, segundo parece, é um momento alto no seu dia.
É interessante verificar que hoje em dia a maioria pense, ou lhes pareça, que o ressentimento substitui a gratidão, daqueles que já foram tão importantes nas suas vidas.
Há pessoas que por sua própria natureza são recalcadas, ingratas, impertinentes até, só por feitio. Embora seja mais difícil, mas não é por isso que deixam de desmerecer atenção.
Susana, já alguma vez tentou averiguar porquê é que “segundo” parece, aquele que refere =é o momento alto do dia= da tal «velhota»?
Desde os meus 20 anos que presto algum serviço comunitário. Continuo a faze-lo, apesar da minha actividade não me dar grandes hipóteses para isso. Mas posso garantir-lhe que o maior problema dos idosos é o desamor.
E faço minhas as palavras do Valupi:
“Porque funesto destino não juntamos esta gente, (os idosos, não os velhotes) antes os separamos uns dos outrs e de nós?”
aragem, não tenho nada contra a velhice, por isso não vejo que «idoso» seja mais bondoso que «velho», ou inversamente. é o mesmo. escrevi-o de propósito, pois me irrita estes paliativos, como se dizer «velho» fosse mau.
como me perece evidente do meu comentário não defendia o ressentimento face á gratidão, mas antes o inverso.
claro que pensei, tanto que o referi: a senhora aprecia aqueles momentos, não só pela interacção de que usufrui, mas também porque está a ser mais do que útil: necessária. ajudando a geração das crianças, mas também a daquelas que delas se ocupam por razões profissionais.
A foto ilustra uma aliança perfeita. Sei disso por experiência porque quem tinha mais tempo para me ouvir não eram forçosamente os meus pais, mas sim a minha avó. Quando se é idoso, com uma vida despreocupada, afastado da azáfama da vida, dá tempo para filosofar e até para meter um grão de humor na visão do mundo. Eu adorava conversar com ela.
Estamos todos de acordo, os que aqui nos juntámos ao acaso: ao afastarmos os velhos da família e dos seus netos, mesmo que sem filiação, revelamos a nossa senilidade.