ARTV, por causa da crise (que é também deontológica) da imprensa e por causa da decadência da direita portuguesa, é o canal televisivo mais importante para a cidadania. Nele podemos ver e ouvir os protagonistas parlamentares, governativos, institucionais e qualquer cidadão com a obrigação de responder ao Soberano. Há muito e variado para descobrir sobre o centro político da República, e talvez o registo das comissões de inquérito seja o conteúdo mais valioso posto à disposição de todos na sua vertente documental. Por um lado, as questões tratadas nas comissões de inquérito são inerente e especialmente graves. Por outro, essa gravidade é inerente e invariavelmente palco de polémica e baixa política, quando não chicana ou pura canalhice. A radical diferença está em se dar tempo aos cidadãos na berlinda para se explicarem sem serem interrompidos – isto é, permite-se que se exerça o direito à palavra e ao bom nome.
Apesar da abundância de informação da maior relevância política, esperar que a programação e matérias deste canal suscitem sequer uma ensonada referência junto do bom e sofrido povo é do foro das patologias delirantes. Só jornalistas de política, outros políticos e uma mão-cheia de malucos (como aqui o pilas) é que aceitariam perder três horas, cinco minutos e trinta e dois segundos para descobrir o que foi dito na audição de uma senhora com vasto currículo ao serviço do CDS e do regime. As pessoas normais não o fazem, por excelentes razões: têm bem mais e muito melhor onde gastar o seu precioso tempo. Preferem pagar o preço de ignorarem voluntariamente o acontecimento, ou ficarem involuntariamente na ignorância por ninguém falar dele, ou levarem com interpretações distorcidas de fragmentos tirados do seu contexto. As pessoas normais, na normalidade de serem tratadas como borregos por uma comunicação social que na sua enorme maioria actua como extensão de partidos e grupelhos da direita (inclusive na RTP), fazem construções lógicas a partir de premissas maradas. Uma das ideias indiscutíveis mais populares, também porque difundida e festejada televisivamente por um ilustre Conselheiro de Estado braço-direito de um popularíssimo Presidente da República, é a de que Armando Vara foi condenado sem provas num processo de sucata&robalos para assim poder ser castigado pelo que esse ilustre Conselheiro de Estado declara que o bandido fez na CGD e no BCP. Será verdade que Vara era o “todo-poderoso” na CGD, capaz de dominar os restantes administradores e directores de forma a servir o seu mestre diabólico de nome Sócrates? Poderia alguma vez ter sido verdade esta demente fantasmagoria repetida de forma maníaca por bostas e papada por broncos?
Não era necessário esperar pela audição de Celeste Cardona para sabermos que uma pulhice é uma pulhice. Vamos na 2ª comissão de inquérito parlamentar à Caixa e ainda não apareceu ninguém que tenha deixado a menor das dúvidas acerca da legalidade e controlo administrativo dos processos internos, inclusive nas decisões de crédito no centro das explorações políticas. Aspectos questionáveis existiram, existem e existirão sempre neste banco e em todos no Mundo, mas um cenário de manipulação criminosa por um Governo socialista de uma entidade também nas mãos do PSD e do CDS é bojarda insana. Como explicar, então, que se continue a usar a calúnia para encher o espaço mediático dominado pela direita? Ouvir Celeste Cardona e depois ir à procura dos ecos e efeitos das suas declarações é uma lição a respeito do fenómeno. Os editorialistas, colunistas e políticos que andam há anos a berrar contra o alegado uso da CGD pelo PS de Sócrates para tomar o controlo do BCP ficaram calados. Naquilo que se chama a “opinião” não se inscreve o que Celeste Cardona jurou ter testemunhado e assumido. Problemazito: o que ela revela prova estarmos perante um crime, sim, mas não cometido por Vara. E não há quem se atreva a desmentir a sua palavra.
Quando à direita a política se reduz à mais obscena e raivosa calúnia, e quando à esquerda se pactua com essa calúnia por razões ideológicas (os bancos, o dinheiro, o capitalismo e os “falsos socialistas” não prestam, cantarolam PCP, BE e quejandos), esperaríamos do PS, o alvo sistémico, e do Presidente da República, o suposto garante da integridade da democracia e da decência na República, uma intervenção célere e corajosa na defesa do Estado de direito. Estão em causa as instituições Justiça e Parlamento, será coisa pouca? Acontece que Palácio de Belém, São Bento e Rato pretendem deixar que Vara e Sócrates continuem a ser linchados mesmo que se torne crescentemente patético tentar conciliar os interesses subterrâneos do regime com o princípio da razão suficiente. Aparentemente, neste momento todos os agentes políticos com fáctico poder ganham com este circo onde dois bodes expiatórios vão servindo para entreter a turbamulta e os profissionais da canalhice que a açulam. Resta, no espaço público onde somos comunidade, esse oásis da ARTV para qualquer um que prefira passear-se neste planeta sem ser enganado por aldrabões e seus patrões.
Todos estão a par do ocorrido,mesmo os mais distraidos. Todos sabem o que se tentou com a operação Marquês e o êxito eleitoral que obteve,não fora a argúcia
de António Costa e os objetivos teriam sido alcançados.
A. investigação até agora conhecida é um arrazoado de patranhas imberbes, começando pelas “sólidas” provas que sustentaram a detenção de Sócrates. E a partir daí foi sempre a somar dislates e contradições e até a Celeste Cardona. repugna,honradamente,colaborar no desvario.
Atenção ao”nem para porteiro” do eng. Belmiro; mostra a profundidade onde essa gente consegue descer…
CANALHAS!