Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão. Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.
11 thoughts on “Jovem, tens mais de 65 anos? Vem fazer uma revolução”
Mau, mau, amigo Val, já nos tiraram os descontos nos passes sociais, não nos tires tu também a possibilidade de fazer uma revolução. Temos de voltar a ler Tocqueville.
“Au dessus de ceux-lá s’élève un pouvoir immense et tutélaire, qui se charge seul d’assurer leur jouissance et de veiller sur leur sort. Il est absolu, détaillé, régulier, prévoyant et doux […]; il aime que les citoyens se réjouissent, pourvu qu’ils ne songent qu’à se réjouir. Il travaille volontiers à leur bonheur; mais il veut être l’unique agent et le seul arbitre.” in “De la démocratie en Amérique II” 4e. partie, chap.6, p.648. Interessante, eu diria até premonitório.
Revolução precisa-se e já temos um juiz supremo para criminalizar os culpados do “estado a que isto chegou”, a saber: os maus políticos, os maus governantes, os maus magistrados, os maus advogados, os maus patrões, os maus trabalhadores, os maus médicos, os maus presidentes da república e das regiões, os maus professores, os maus alunos, os maus pais, os maus filhos, os maus jornalistas, os maus policias e a corja imensa tanto dos eleitores efectivos como dos abstencionistas.
Juiiz Supremo Justiceiro: O inenarrável e impoluto Medina Carreira, que nunca foi governante, professor, patrão ou trabalhador, em suma, não fez a ponta dum corno na puta da vida e por isso está acima de qualquer suspeita e perfeitamente apto a criminalizar os restantes que somos todos.
Medina Carreira foi governante, Mário. Foi ele que, como ministro das Finanças, inaugurou os pedidos de mega-empréstimos do estrangeiro ao Estado português.
Eu sei que ele foi governante, Corrector. Estava a ironizar.
Que bela risada logo pela manhã, Val.
(mas, enfim, há revoluções para todas as idades)
O meu contributo para a “Revolução”
ainda não tenho 65 mas não falta muito.
“A morte do camponês”
Sentindo o camponês a morte já no peito
os filhos reuniu em volta do seu leito
e em tom grave lhes diz: Meus filhos vou morrer…
Os anos que vivi, vivi-os sem viver,
pois desde que nasci que outra coisa não faço
do que amanhar a terra e ao esforço do meu braço
qual a compensação?… se pela vida fora
só canseiras ganhei, as que vos deixo agora!
Sabeis o que é a vida? Eu sei que não sabeis…
Porque a vida não é isto que vós viveis.
Fiz de vós cavadores, honrados e leais,
também fui cavador e o foram já meus pais.
Vós que nunca saístes aqui da nossa terra
ignorais o que há p’ra além daquela serra!
Existe um mundo imenso onde vai lado a lado
o que é bom e o que é mau pois é de braço dado
que a luz e a escuridão, a vileza e a bondade,
o honrado e o ladrão, a mentira e a verdade,
e que muito produz e aquele que explora,
unidos como um só vão pela vida fora,
mas quem se verga e sofre a mais cruenta lida
é quem semeia o pão que é quem não vive a vida!
Mal desponta a manhã e já lá vai a gente
a terra revolver lançando-lhe semente,
sob o frio e o calor e com canseira tanta,
num desumano afã… quanta amargura, quanta?
E tudo para quê? Se não foge à pobreza
enquanto que o patrão multiplica a riqueza
pois quem nada produz é quem tudo amealha
e olha como um cão aquele que trabalha
e o pobre cavador sem reforma, sem nada…
Ou morre a trabalhar ao peso da enxada
ou quando mais não possa, irá, que triste sorte!
Esmolar de porta em porta e encontrará a morte
na valeta da estrada onde apodrece o pó!
e quem o explorou não tem remorso ou dó
porque já tem no peito a alma corrompida!
Isto é verdade meus filhos e isto não é vida.
Mas mesmo para além da Serra que ali está
p’ro pobre que trabalha a existência é má…
Muitos pedem trabalho e como não lhe o dão
têm que mendigar porque não tem pão!
De um homem para o outro a vida se contrasta,
a terra é p’ra uns mãe e p´ra outros madrasta!
Uns esbanjam na orgia o dinheiro à mão cheia
e outros que nada tem vão-se deitar sem ceia!
Enquanto um deita fora aquilo que não come,
outro que não tem pão agoniza de fome!
E a corrupção que grassa pelo mundo
faz desta vida bela um chavascal imundo!
Gente que mata até por ódio e por cobiça
e a força espezinhando a razão e a justiça!
Órfãos de pai e mãe chorando os seus pesares,
mulheres de pouca sorte enchendo os lupanares,
mães solteiras sem lar, velhinhos sem guarida…
Tudo isto existe sim, mas não é isto a vida!
O mundo é vasto e bom, fecundo e tem beleza,
a sua vastidão é a maior riqueza
e o pão que a terra dá dividido por todos
chegava a toda a gente e sobraria a rodos…
Porém esta riqueza está mal dividida
e a terra, bem comum, por uns quantos repartida
tem vastas vedações de muros e valados,
uns herdam quase o mundo, outros são deserdados,
são poucos que produzem e muitos os que comem
e a exploração do homem pela homem
gera a ira, a revolta e todo o mal da terra
por isso o mundo vive em permanente guerra!
Que belo não será este mundo que amamos
quando um dia afinal não existirem amos!
Assim se faz do homem a fera fratícida…
O mundo é isto sim, não é isto a vida!
Por vezes me quedei, quando nascia o Sol
e ia de enxada ao ombro em busca de trabalho,
a fitar encantado as pérolas de orvalho
que às pétalas oferece à tarde o arrebol,
a campina em flor tão linda a despertar,
a água no regato alegre a murmurar…
Num êxtase escutava a doce sinfonia
dum alado a saudar o dealbar do dia.
Corria p’los trigais prenhes de trigo loiro,
como se o campo fosse um vasto manto de oiro
e à tarde ao regressar enfim a nossa casa
fitando o pôr-do-sol, como uma enorme brasa,
que aos poucos se apagava ao longe no poente,
eu de novo vivia, eu voltava a ser gente…
Sentia então em mim a revolta incontida
porque o nosso viver é tudo menos vida!
Porém o mundo é vosso e está na vossa mão,
uni-vos como um só e filhos tereis pão!
Encerrai as prisões e abri muitas escolas,
a luz também é pão e acabam-se as esmolas.
Aos amos esteriões dai-lhes feroz batalha,
que a terra sempre foi e é de quem a trabalha,
num mundo sem patrões não há exploração,
dividindo-se os bens acaba-se a ambição,
fazei um mundo igual e acabarão as guerras
e fecundem depois os campos e as serras,
porque o progresso está no ventre das campinas,
nas fábricas, nos mares, nos campos e nas minas…
Depois filhos vereis toda a beleza infinda!
Do pão, da liberdade e desta vida linda!
E a voz do camponês, já muito enfraquecida,
a morrer ainda diz… – Sim… Isto é que é a vida!
Dezembro de 1952
Poemas da madrugada
José Rosa Figueiredo
coitados , com os filhos moles que criaram só se importarem russos ou outros homens rijos para fazerem a dita.
Este post só podia ser escrito por um instalado na vida.
Com gente desta, o estado novo ainda não era velho.
A revolução a fazer deverá ser é na mente dos acomodados, dos que se lamentam mas são incapazes de tomar qualquer atitude perante as maiores arbitrariedades de que muitas vezes são vítimas. Quando muitos mais tiverem consciencia e sentido crítico perante todos os atropelos e insanidades de que são vítimas, e sentirem realmente que a sua dignidade de ser humano é miseravelmente espezinhada, talvez comecem a reagir e, aí sim, é bem possível que nasça a revolução.
Agora que o Fado é património, que revolução é que havemos de fazer?
Não precisamos de pedir esmola como no tempo de Salazar, porque agora temos o Banco Alimentar.
Temos casas e estradas, praias e meio subsídio…choramos de barriga cheia.
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Este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório
Mau, mau, amigo Val, já nos tiraram os descontos nos passes sociais, não nos tires tu também a possibilidade de fazer uma revolução. Temos de voltar a ler Tocqueville.
“Au dessus de ceux-lá s’élève un pouvoir immense et tutélaire, qui se charge seul d’assurer leur jouissance et de veiller sur leur sort. Il est absolu, détaillé, régulier, prévoyant et doux […]; il aime que les citoyens se réjouissent, pourvu qu’ils ne songent qu’à se réjouir. Il travaille volontiers à leur bonheur; mais il veut être l’unique agent et le seul arbitre.” in “De la démocratie en Amérique II” 4e. partie, chap.6, p.648. Interessante, eu diria até premonitório.
Revolução precisa-se e já temos um juiz supremo para criminalizar os culpados do “estado a que isto chegou”, a saber: os maus políticos, os maus governantes, os maus magistrados, os maus advogados, os maus patrões, os maus trabalhadores, os maus médicos, os maus presidentes da república e das regiões, os maus professores, os maus alunos, os maus pais, os maus filhos, os maus jornalistas, os maus policias e a corja imensa tanto dos eleitores efectivos como dos abstencionistas.
Juiiz Supremo Justiceiro: O inenarrável e impoluto Medina Carreira, que nunca foi governante, professor, patrão ou trabalhador, em suma, não fez a ponta dum corno na puta da vida e por isso está acima de qualquer suspeita e perfeitamente apto a criminalizar os restantes que somos todos.
Medina Carreira foi governante, Mário. Foi ele que, como ministro das Finanças, inaugurou os pedidos de mega-empréstimos do estrangeiro ao Estado português.
Eu sei que ele foi governante, Corrector. Estava a ironizar.
Que bela risada logo pela manhã, Val.
(mas, enfim, há revoluções para todas as idades)
O meu contributo para a “Revolução”
ainda não tenho 65 mas não falta muito.
“A morte do camponês”
Sentindo o camponês a morte já no peito
os filhos reuniu em volta do seu leito
e em tom grave lhes diz: Meus filhos vou morrer…
Os anos que vivi, vivi-os sem viver,
pois desde que nasci que outra coisa não faço
do que amanhar a terra e ao esforço do meu braço
qual a compensação?… se pela vida fora
só canseiras ganhei, as que vos deixo agora!
Sabeis o que é a vida? Eu sei que não sabeis…
Porque a vida não é isto que vós viveis.
Fiz de vós cavadores, honrados e leais,
também fui cavador e o foram já meus pais.
Vós que nunca saístes aqui da nossa terra
ignorais o que há p’ra além daquela serra!
Existe um mundo imenso onde vai lado a lado
o que é bom e o que é mau pois é de braço dado
que a luz e a escuridão, a vileza e a bondade,
o honrado e o ladrão, a mentira e a verdade,
e que muito produz e aquele que explora,
unidos como um só vão pela vida fora,
mas quem se verga e sofre a mais cruenta lida
é quem semeia o pão que é quem não vive a vida!
Mal desponta a manhã e já lá vai a gente
a terra revolver lançando-lhe semente,
sob o frio e o calor e com canseira tanta,
num desumano afã… quanta amargura, quanta?
E tudo para quê? Se não foge à pobreza
enquanto que o patrão multiplica a riqueza
pois quem nada produz é quem tudo amealha
e olha como um cão aquele que trabalha
e o pobre cavador sem reforma, sem nada…
Ou morre a trabalhar ao peso da enxada
ou quando mais não possa, irá, que triste sorte!
Esmolar de porta em porta e encontrará a morte
na valeta da estrada onde apodrece o pó!
e quem o explorou não tem remorso ou dó
porque já tem no peito a alma corrompida!
Isto é verdade meus filhos e isto não é vida.
Mas mesmo para além da Serra que ali está
p’ro pobre que trabalha a existência é má…
Muitos pedem trabalho e como não lhe o dão
têm que mendigar porque não tem pão!
De um homem para o outro a vida se contrasta,
a terra é p’ra uns mãe e p´ra outros madrasta!
Uns esbanjam na orgia o dinheiro à mão cheia
e outros que nada tem vão-se deitar sem ceia!
Enquanto um deita fora aquilo que não come,
outro que não tem pão agoniza de fome!
E a corrupção que grassa pelo mundo
faz desta vida bela um chavascal imundo!
Gente que mata até por ódio e por cobiça
e a força espezinhando a razão e a justiça!
Órfãos de pai e mãe chorando os seus pesares,
mulheres de pouca sorte enchendo os lupanares,
mães solteiras sem lar, velhinhos sem guarida…
Tudo isto existe sim, mas não é isto a vida!
O mundo é vasto e bom, fecundo e tem beleza,
a sua vastidão é a maior riqueza
e o pão que a terra dá dividido por todos
chegava a toda a gente e sobraria a rodos…
Porém esta riqueza está mal dividida
e a terra, bem comum, por uns quantos repartida
tem vastas vedações de muros e valados,
uns herdam quase o mundo, outros são deserdados,
são poucos que produzem e muitos os que comem
e a exploração do homem pela homem
gera a ira, a revolta e todo o mal da terra
por isso o mundo vive em permanente guerra!
Que belo não será este mundo que amamos
quando um dia afinal não existirem amos!
Assim se faz do homem a fera fratícida…
O mundo é isto sim, não é isto a vida!
Por vezes me quedei, quando nascia o Sol
e ia de enxada ao ombro em busca de trabalho,
a fitar encantado as pérolas de orvalho
que às pétalas oferece à tarde o arrebol,
a campina em flor tão linda a despertar,
a água no regato alegre a murmurar…
Num êxtase escutava a doce sinfonia
dum alado a saudar o dealbar do dia.
Corria p’los trigais prenhes de trigo loiro,
como se o campo fosse um vasto manto de oiro
e à tarde ao regressar enfim a nossa casa
fitando o pôr-do-sol, como uma enorme brasa,
que aos poucos se apagava ao longe no poente,
eu de novo vivia, eu voltava a ser gente…
Sentia então em mim a revolta incontida
porque o nosso viver é tudo menos vida!
Porém o mundo é vosso e está na vossa mão,
uni-vos como um só e filhos tereis pão!
Encerrai as prisões e abri muitas escolas,
a luz também é pão e acabam-se as esmolas.
Aos amos esteriões dai-lhes feroz batalha,
que a terra sempre foi e é de quem a trabalha,
num mundo sem patrões não há exploração,
dividindo-se os bens acaba-se a ambição,
fazei um mundo igual e acabarão as guerras
e fecundem depois os campos e as serras,
porque o progresso está no ventre das campinas,
nas fábricas, nos mares, nos campos e nas minas…
Depois filhos vereis toda a beleza infinda!
Do pão, da liberdade e desta vida linda!
E a voz do camponês, já muito enfraquecida,
a morrer ainda diz… – Sim… Isto é que é a vida!
Dezembro de 1952
Poemas da madrugada
José Rosa Figueiredo
coitados , com os filhos moles que criaram só se importarem russos ou outros homens rijos para fazerem a dita.
(sobre um baixo e uma bateria)
Tens setenta anos e a Quarta Classe?
És um ancião ambicioso?
Vem ser um GNR (*)!
Procuras aventura e emoção?
Um barrete ou um boné?
Vem ser um GNR (*)!
GNR (*), EU QUERO SER!
(bis)
GNR!
Vem ser um tosco de um GNR (*)!
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GNR = grotesco nabo revolucionário…
Este post só podia ser escrito por um instalado na vida.
Com gente desta, o estado novo ainda não era velho.
A revolução a fazer deverá ser é na mente dos acomodados, dos que se lamentam mas são incapazes de tomar qualquer atitude perante as maiores arbitrariedades de que muitas vezes são vítimas. Quando muitos mais tiverem consciencia e sentido crítico perante todos os atropelos e insanidades de que são vítimas, e sentirem realmente que a sua dignidade de ser humano é miseravelmente espezinhada, talvez comecem a reagir e, aí sim, é bem possível que nasça a revolução.
Agora que o Fado é património, que revolução é que havemos de fazer?
Não precisamos de pedir esmola como no tempo de Salazar, porque agora temos o Banco Alimentar.
Temos casas e estradas, praias e meio subsídio…choramos de barriga cheia.