Cofinados – IV

«What can be asserted without evidence can also be dismissed without evidence.»


 

Christopher Hitchens

 

Se José Sócrates cometeu crimes de corrupção, como primeiro-ministro, onde estão as provas? Onde estão nas 4000 páginas de despacho acusatório, 53 000 de investigação, 77 000 de documentação anexa, 8 000 de transcrições de escutas telefónicas, 13,5 milhões de ficheiros informáticos, 103 horas de vídeos de interrogatórios e 322 de depoimentos áudio de testemunhas? E se isto parece muito, se parece bastante, acrescentemos ainda esse pormenor de, como primeiro-ministro, Sócrates já ter os seus dias intensamente expostos às mais variadas testemunhas dos próximos no Governo e no partido, mais os ocasionais na sua preenchidíssima agenda, mais os jornalistas, mais os populares. Donde, a tal corrupção no valor de 30 milhões, com a sua extraordinária logística executiva e bancária, talvez tenha sido organizada por ele e cúmplices com recurso exclusivo à telepatia. Sem o perigo de gerar registos para autoridade ver, ainda por cima à borla e não carecendo de bateria.

É uma hipótese. A de não existir sequer uma singular prova de corrupção. A ser assim, tal não faria prova de não ter realmente existido corrupção, óbvio, pois sabe-se lá. Até Deus se desiludiu, não só com Adão mas também com um terço de todos os anjos que existiam quando Lúcifer teve o seu amok, palavra da Bíblia. O que leva a pensar que Deus não é grande espingarda como criador, por um lado, e que algo parecido nos pode acontecer a todos, por outro. Contudo, a não existência de provas teria uma interessante consequência: o tribunal ficaria tentado a inocentar Sócrates ou, ao invés, a inventar uma condenação. Que também o pode fazer, querendo.

A condenação do jornal Correio da Manhã e cinco jornalistas pelo Tribunal da Relação de Lisboa a indemnizar a jornalista Fernanda Câncio num montante agregado a rondar os 25 mil euros, por danos causados pela publicação de notícias que atentaram contra o seu bom nome e honra, alimenta a suspeita de não se encontrar no processo matéria para satisfazer a máquina sensacionalista insaciável da Cofina. Porque é simples. Na noite da detenção de Sócrates no aeroporto, talvez até bem antes, algum criminoso no Ministério Público entregou a jornalistas a primeira versão do que viria a ser a acusação. Em Novembro de 2014, apostavam tudo no Grupo Lena, pelo que saiu essa versão na imprensa logo no dia seguinte. Depois essa historieta caiu e vieram outras, e outras. Se alguma delas se aguentasse, porventura a Cofina precisaria de publicar mentiras, inventar à descarada?

Os factos suscitam várias conjecturas. Talvez a Cofina quisesse perseguir Fernanda Câncio por ódio, inveja, vingança de algum dos seus chefes, e bute com calúnias para cima dela. Talvez a Cofina quisesse atacar Fernanda Câncio por ela ser um alvo político disponível dada a sua relação pessoal com Sócrates ao tempo, e bute com calúnias para cima dela. Ou talvez a estratégia e cultura da Cofina seja a de explorar a ignorância, misoginia e miséria moral da sua audiência sempre que pode, e a jornalista surgia como presa indefesa, donde bute com calúnias para cima dela. Vou gastar os 10 euros que tenho no bolso para marcar uma tripla nisto.

Neste caso, provou-se a ausência de escrúpulos, decência, respeito pelos privilégios constitucionais dados ao jornalismo para o ser. Trata-se de um caso isolado, um insólito pedaço de merda nos anais da Cofina, um azar do caraças a envolver cinco abnegados jornalistas, mandados e mandantes? Pois, pá.

17 thoughts on “Cofinados – IV”

  1. Daqui deste tribunal já se de decidiu que só poderá haver dois resultados do julgamento de socrates: ser inocentado ou, através de condenação inventada, ser preso politico.
    Diz o valupi que também é jurista.

    Pode ser mais complicado, ou não.

  2. Ah, bem me parecia, a cancia era só um pretexto para berrar pela suposta inocência do narcisista mentiroso compulsivo psicopata social versão aparolada das berças .

  3. Claro, a Câncio não interessa uma pevide. À boleia dela e da cofina vem a certeza da inocência ou da prisão politica, no caso de socrates não poderá haver aplicação da justiça que não seja esta.

    Já agora, se o valupi quer usar a Fernanda Câncio a pretexto de socrates, que eu saiba, estas declarações da jornalista não levaram a conflitos com a visão e o dn:

    “Se fizesse ideia da relação pecuniária entre Santos Silva e Sócrates teria feito perguntas por considerar a situação, no mínimo, eticamente reprovável”.

    “… um ex PM que tratava como insulto qualquer pergunta ou dúvida sobre a proveniência dos fundos que lhe permitiam viver desafogadamente; que recusou receber pela sua prestação como comentador na RTP de 2013 a 2014; que ostentou, na saída do governo, a rejeição da subvenção vitalícia a que tinha direito por ser deputado eleito desde 1987 (e que agora está a receber), não teve afinal, desde que abandonou o governo até janeiro de 2013, quando se anunciou consultor da Octapharma, outros meios de subsistência senão o dinheiro do amigo (à generosidade do qual terá continuado a apelar mesmo quando auferia um ordenado de mais de 12 mil euros brutos por mês). Ou seja, fingiu ante toda a gente que tinha fortuna de família, rejeitando até rendimentos a que tinha direito como alguém que deles não necessitava. Urdiu uma teia de enganos. Mentiu, mentiu e tornou a mentir.
    Mentiu ao país, ao seu partido, aos correligionários, aos camaradas, aos amigos. E mentiu tanto e tão bem que conseguiu que muita gente séria não só acreditasse nele como o defendesse, em privado e em público, como alguém que consideravam perseguido e alvo de campanhas de notícias falsas, boatos e assassinato de caráter (que, de resto, para ajudar a mentira a ser segura e atingir profundidade, existiram mesmo). Ao fazê-lo, não podia ignorar que estava não só a abusar da boa-fé dessas pessoas como a expô-las ao perigo de, se um dia se descobrisse a verdade, serem consideradas suas cúmplices e alvo do odioso expectável.”

  4. “Ou seja, fingiu ante toda a gente que tinha fortuna de família, rejeitando até rendimentos a que tinha direito como alguém que deles não necessitava. Urdiu uma teia de enganos. Mentiu, mentiu e tornou a mentir.”

    sim. urdiram uma teia de mentiras e continuam a bater com os cornos no muro das lamentações por falta de provas ou factos que aguentem uma sessão de julgamento.

    tou mêmo a ver, mais uma certidão para um processo de “simulação de riqueza por rejeitar subsídio estatal”.

  5. «Mentiu ao país, ao seu partido, aos correligionários, aos camaradas, aos amigos. E mentiu tanto e tão bem que conseguiu que muita gente séria não só acreditasse nele como o defendesse, em privado e em público, como alguém que consideravam perseguido e alvo de campanhas de notícias falsas, boatos e assassinato de caráter (que, de resto, … existiram mesmo).»

    Discordo disto em absoluto. O 44 mentiu a toda a gente, sim, mas é falso que minta bem. Para aldrabão compulsivo mente até muito mal. Como já disse muitas vezes, basta ouvi-lo uns minutos ou conhecer o seu longo histórico de trafulhices – nada na vida dele é limpo ou normal. Só enganou os que queriam ser enganados… e a quem agora dá jeito dizerem-se enganados.

    O que se passa é que o seu partido, os seus “correligionários, camaradas e amigos” são uma pandilha de pulhas como ele. A maioria disfarça melhor que ele, não ia a correr viver numa casa de luxo dum ‘amigo’ em Paris, mas todos foram coniventes e andam ao mesmo.

    Não houve qualquer ‘assassinato de carácter’, não há o que assassinar. O carácter dele é o excremento que se vê: um parolo narcisista, egocêntrico e megalómano que aldrabou toda a sua vida e enterrou um país em proveito próprio. Tudo o que se diga dele é pouco.

    Os volupis e outros piaçabas só falam da provas e condenações porque sabem que é quase impossível provar e condenar um trafulha de alto calibre nesta bandalheira em forma de país. Não que o calibre do 44 seja muito alto, mas subiu e roubou o suficiente para safar-se. Claro que jamais falam da inocência dele, da sua fortuna inexplicável ou das ‘fotocópias’ que pedia.

    Eles bem sabem que defendem um FDP. São FDP como ele.

  6. Tu também continuas a ser um!

    https://conversa2.blogspot.com/2015/10/o-44-e-ex-namorada-de-socrates.html
    “Ando há meses com vontade de dizer isto, e vai ser hoje: trocar o nome de uma pessoa por um número é uma estratégia para ferir deliberadamente a dignidade humana. Em termos simbólicos, chamar “44” ao José Sócrates não é muito diferente de lhe tatuar esse número no braço. Em termos simbólicos, repito. Durante meses, uma certa comunicação social usou e abusou dessa estratégia e não foi impedida, por quem de direito, de introduzir nos nossos costumes uma prática de raiz ideológica nazi.”

  7. ” A maioria disfarça melhor que ele, não ia a correr viver numa casa de luxo dum ‘amigo’ em Paris, mas todos foram coniventes e andam ao mesmo.”

    1 – não tinha nada para disfarçar, já não era primeiro-ministro, podia dormir onde quisesse e com quem quisesse sem ser obrigado a dar satisfações às porteiras da inquisição.

    2 – não fazes nenhuma ideia do que são casas de luxo em paris e em portugal, mas tanto não é exigível à bimbalhada que masca palitos papagueando ventrulhice da folha e quejandos.

    3 – conivente és tu com a merda na ventoinha.

    4 – sim, “é quase impossível provar e condenar” quando não há crime, provas, testemunhas e ou queixoso, a única coisa que têm são umas cenas baseadas em recortes de jornais ou uns recortes de jornais baseados em cenas anónimas, nada que preocupe a tua reduzida massa encefálica. pois, a única alternativa para condenar o gajo é validar percepções, recortes de jornais e eventualmente testemunhos de idiotas como tu que estejam dispostos a fazê-lo a troco de qualquer coisa.

    5 – já fechar edição lembrei-me que também podem fazer uma lei com efeito retroactivo a condenar criminalmente os políticos que abdiquem temporária ou definitivamente de subvenções.

  8. «Se José Sócrates cometeu crimes de corrupção, como primeiro-ministro, onde estão as provas? Onde estão nas 4000 páginas de despacho acusatório, 53 000 de investigação, 77 000 de documentação anexa, 8 000 de transcrições de escutas telefónicas, 13,5 milhões de ficheiros informáticos, 103 horas de vídeos de interrogatórios e 322 de depoimentos áudio de testemunhas?»

    Precisamente. Não há provas nem qualquer testemunho direto acerca das acusações atribuídas ao ex-Primeiro Ministro José Sócrates; há apenas uma eleição de uma maioria absoluta de alguém capaz de fazer parecer uns pigmeus toda a oposição. E por isso toda a oposição unida da direita à esquerda levantou o braço e a alva mão na AR para rejeitar o PEC IV. Mãos sujas e indignas de gente com sentimentos patrióticos.
    Todos juntos assumiram-se pulhas e cobardolas ao associarem-se, naquela hora, aos traidores a Portugal Cavaco Silva, Passos Coelho e Durão Barroso os quais sabendo aprovado em Bruxelas o dito pacote fingiram nada saber para derrubar o governo e obrigar este à falência e o país a ser obrigado a uma troika punitiva sobre o povo português; para mais, rancorosamente, os pulhas-bandidos-asaltantes políticos vieram admitir ter tomado tal atitude como punição dos portugueses por serem mal comportados e malandros.
    Tudo o resto vem, especialmente, desta atitude anti-portuguesa, não obstante a carga dos broncos santanistas e similares já vir desde as primeiras eleições em conformidade com o medo tremendo face às qualidades políticas, ideias e poder de inovação percepcionadas no candidato Sócrates.
    Assim, com toda a oposição implicada no golpe de derrube do governo puderam os reacionários “cm” e “MP” fazer uma parceria para imaginar, inventar e aplicar um método pidesco de modo a sujar com lixo sobre lixo o carácter carismático impulsivo mas nunca calculista nem oportunista e muito menos corrupto.
    A corrupção foi a base do modelo acordado entre “cm” e “MP” que, em moto contínuo, se baseavam e alimentavam um no outro; como corruptos em “entente” um com o outro tudo que um dizia ou fazia era validado pelo outro e vice-versa. Chafurdaram a vida pessoal de Sócrates, a via familiar, a vida política, as amizades e amores sob todos os ângulos, modos e maneiras miseráveis, pidescas.
    E o resultado final dos pulhas todos que lavantaram a alva maozinha na AR, dos pulhas do jornalismo de sargeta e da justiça pidesca, após mais de dez anos de discussão e acalmia político-emocional, face a ‘zero provas’ e, pelo contrário, provas abundantes de jornalismo e MP corruptos, dizia, todos os pulhas da nossa severa ‘inteligência’ política são agora ‘adoradores’ de soluções morais; o homem é culpado de ser como é, isto é, de ser melhor que eles, logo, deve ser julgado e condenado sem necessidade de provas.
    Assim, o homem Sócrates, com provas ou sem provas, de qualquer modo ou à força, tem de ser ser imolado no altar da “boa consciência” dos pulhas que o condenaram, à priori, na praça pública.

  9. «não fazes nenhuma ideia do que são casas de luxo em paris e em portugal»

    Faço, merdolas: um apartamento num bairro nobre de Paris que custou 3 milhões + obras em 2012, com as fotos que são públicas, é certamente luxo. Há mais luxo que isto? Sim, há casas em Paris que custam dezenas de milhões. E então? Ninguém diz que é a mais luxuosa de todas.

    Em Portugal, um apartamento num edifício premium no centro de Lisboa vendido por 675.000 euros em 2015 – a outro trafulha, este do Paquistão – é certamente luxo. Tal como um apartamento T4 com 300m2 e vista mar na Ericeira, que custa hoje perto de um milhão, é o quê? Frugal?

    Nenhum sec. Estado, ministro ou PM pode pagar estas casas, muito menos enquanto faz férias e vidinha de lorde, compras em lojas caras, ‘doações’ a amigas/amigos coloridos, etc.

    O seu dono, merdolas, como todos os bandidos da laia dele – pulhíticos parolos vaidosos – é viciado em luxo. Toda a vida fez trafulhices para ter bens de luxo. Não consegue controlar-se. Daí ter sido apanhado e preso, algo espantoso neste país de corruptos, e é tão óbvio e tão reles que foi abandonado até pelo gangue do PS e pelo advogado dele, um dos dos maiores mafiosos do país.

    Sendo um piaçaba ignorante v. desconhece o ditado da mulher de César, mas este caso vai além disso: já nada neste mundo pode fazer o 44 parecer honesto. Mesmo que se safe do processo e seja indemnizado em mil milhões ninguém, além duma dúzia de otários, vai acreditar que viveu anos à conta dum amigo a quem pedia ‘fotocópias’. Mais ninguém é assim tão estúpido, compreende?

    Pior: além de trafulha e coveiro do país, um ex-PM de 60 e tal anos que admite calmamente chular a mãe para fazer vida de luxo é… o quê? Que chamar-lhe? Haverá nome para isto?

  10. Argumentar contra a imbecilidade: “Maria Adelaide de Carvalho Monteiro, a mãe do primeiro-ministro José Sócrates, comprou o apartamento na Rua Braamcamp, em Lisboa, a uma sociedade off-shore com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, apurou o Correio da Manhã. Em Novembro de 1998, nove meses depois de José Sócrates se ter mudado para o terceiro andar do prédio Heron Castilho, a mãe do primeiro-ministro adquiria o quarto piso, letra E, com um valor tributável de 44 923 000 escudos – cerca de 224 mil euros –, sem recurso a qualquer empréstimo bancário e auferindo um rendimento anual declarado nas Finanças que foi inferior a 250 euros (50 contos).”

    Arranjem lá uma explicação para isto…. talvez o passo seguinte fosse pedir o extrato bancário do Santos Silva em 2005…
    Imbecis

  11. Uma cambada de invejosos que aqui comenta que não conhece Sócrates de lado nenhum mas,
    que vilmente tem todas as certezas que o Rosário não tem e o aldrabão Alexandrino não tem e simplesmente assina de cruz ,o Eça é que tinha razão: um país de invejosos.

  12. «Maria Adelaide de Carvalho Monteiro comprou o apartamento na Rua Braamcamp, em Lisboa, a uma sociedade off-shore com sede nas Ilhas Virgens Britânicas. Em 1998, nove meses depois de Sócrates se ter mudado para o terceiro andar do prédio Heron Castilho, a mãe do primeiro-ministro adquiria o quarto piso, letra E, com um valor tributável de 224 mil euros, sem recurso a qualquer empréstimo bancário e auferindo um rendimento anual declarado nas Finanças inferior a 250 euros.»

    Pois é, Rolando, pois é. O Red Bull pode dar asas, mas a pulhítica dá ricas vidas e brutas casas. O PS em particular é melhor que a lotaria… ganha sempre sem precisar comprar bilhete.

    «Uma cambada de invejosos»…

    Não invejosos, Luis: cornos mansos. Esta canalha chula-nos, saqueia-nos e endivida-nos, sai fresca e impune para Paris ou para novos tachos, deixa-nos cá os calotes para pagar, e nós que fazemos? Nada. Algo tem de mudar. Na Ericeira não faltam candeeiros onde pendurar canalhas.

  13. Como este comentário vai ser censurado, dirijo-o aos autores do canal.
    O passado foi lá atrás.
    Já a trama ao Costa foi há pouco tempo e parece que ninguem se rala.
    O LOW FARE no seu melhor, e o Costa ralado, foi fazer figura patética e dizer parvoíces na UE a mamar uns milhares por conta.
    A cambada para não variar voltou a dar tiros nas patas e agora leva com esta corja de novo.
    Tragam este tema para discussão a ver se a cambada abre os olhos.

  14. O que não falta é candeeiros para pendurar o Cavaco, o Relvas a e vários laranjinhas que sabem lavar muito bem a corrupção no concelho de Mafra e quem se fode é a Ericeira

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