desprezo
Jazia morto na estrada. Aproximei-me.
Ao ritmo lento da decomposição, bailava um sorriso involuntário na face já ausente de carne. Retribuí o sorriso, com desprezo. Baixei-me, tirei-lhe o dinheiro. Voltando-me esqueci-o de imediato. Os mortos não merecem memória.
eu sei que tu sabes quem sou
sem comentários, Susana…
Não sei se sabes que eu sei quem tu és mas sei que sabes que não sabes quem sou :)
Susana, isto merece uma brincadeira para animar a tertúlia. Até pode ser cantada como um fadinho com a música do Fado das Horas:
Jazia morto na estrada
Aproximei-me, então
Ao bolso joguei-lhe a mão
Dele não quero mais nada…
Naquele dia aziago
Eu nem sabia quem era,
Tinha instintos de megera
Só por falta dum afago
Mas que acção mal parida!
Tem destas coisas a vida…
Hoje ainda apalermada
É que nem estava cocada!
Procurei por todo o lado
E vejo que o desgraçado
Jazia morto na estrada.
O que fazer deste gajo
Foi o que logo pensei
E ainda hoje não sei
O que vi naquele andrajo
Com mau aspecto e mau trajo
Nem bonito, nem gatão
Que me levou à paixão!
Depois do primeiro choque
Encarei aquele escroque.
Aproximei-me então.
Com os anos tudo passa.
Eram anseios ilusões
Fazia o euromilhões
Sempre sonhei ser ricaça
E o que foi uma ameaça
Passou a ser solução.
E naquela indecisão
Ao chegar à sua beira
Vejo a ponta da carteira
E ao bolso joguei-lhe a mão.
Saquei-lha de imediato
Tirei-lhe a chave do cofre
E num repente, de chofre
Como num último acto
Tirei ali o retrato
Àquela face cavada
Que tenho lá pendurada.
Qei que tu sabes quem sou
E meu amor tudo te dou
Dele não quero mais nada…
susana,
julgo que a expressão indicada aqui seja “Bem sacado!”. Estão muito bem sacados, ambos, que já li o outro post também.
zé,
perfeita, de facto, para o Fado das Horas. E não menos bem sacado, cada sacanço no seu género, evidentemente. Clap clap.
os textos não são meus, claro. seria incapaz de escrever uma coisa destas. no entanto aprecio esta escrita, e intrigam-me. não sei de quem são, mas parecem ser de alguém que me conhece.
… que eu vou.
Muito fixe. Promete!
hummm…
(um dia ia com dois amigos em passo estugado carcavelos-oeiras e, perto de uma das estações de comboio, deparamo-nos com um gato morto. eu dou o imediato grito:
– ‘olha um gato mortoooooooo!’.
(diz um dos amigos):
– ‘vê-llhe os bolsos e saca-lhe a carteira’.
nunca mais olhei para um gato morto da mesma maneira: primeiro inspecciono-lhe os bolsos. e depois saco-lhes a carteira. se estiverem mortos, claro.
valupi, prometo.
noveetal, vou passar a andar mais devagar nas auto-estradas se dizes que os gatos, quando mortos, ficam de bolsos cheios.
curioso. ainda pensei eu fosse isto
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