“Não trabalhamos com arroz”. O que pode retorquir uma pessoa que se senta esfomeada num restaurante de Évora para saborear a sua feijoada quadrimestral ao obter esta resposta inesperada do empregado a quem sugere que se terá esquecido do arroz? Ups?
Faço parte dos 50% de portugueses (estimativa muito conservadora) para quem o molho da feijoada com o arroz branco vale 80% do prazer e para quem, quando a carne propriamente dita não abunda, aquelas partes gordurosas do animal que por lá se apresentam no prato são meros condimentos (para mim, uma espécie de males necessários).
Conformada com a minha sorte e engolindo os feijões guisados ao som da marcha fúnebre mental “sim, mas não é a mesma coisa”, dei por mim a pensar qual seria a razão da adopção de tal princípio gastronómico. É certo que da ementa apenas constavam pratos como sopa de cação, pezinhos de coentrada, migas e outras coisas ligeiras, como febras com batatas fritas e sericaia. Seria a fidelidade radical aos produtos tradicionais da região? Mas a zona de Alcácer e a Comporta e os seus arrozais não ficam assim tão distantes! Será o proprietário alérgico?
E o feijão, já agora? Poder-se-á afirmar com segurança que é produto muito típico da região? Em que escala de tipicidade? Consultando rapidamente as enciclopédias, aprende-se que a leguminosa Phaseolus vulgaris, importada da América do Sul há poucos séculos, “prefere solos de texturas ligeiras a medianas, bem drenados, leves, ricos” e que “é uma espécie exigente em água”. Será o caso do Alentejo?
Os fundamentalismos desiludem-me e este por maioria de razão, tendo em conta o estado de faminta expectativa. Atendendo a que, na mesa ao lado, alguém português que pedira febras manifestou igualmente o desejo de arroz, obtendo a mesma resposta, não seria aconselhável fazer encabeçar a ementa com o aviso de que o restaurante não “co-labora” com este tipo de gramínea em nenhum dos conjuntos de ingredientes confeccionados? E acrescentar que, ali, ama-se o porco até à loucura?
Já a cidade de Évora valeu o desvio.
Oh! Cara Penélope não sei se sabe mas fui um bocado maltratado pelo sr. jcfrancisco. Isto não são queixinhas que eu não sou desses, de andar a lavar a roupa suja aqui e ali. Ainda hoje estou para saber porque é que ele me tratou com tanto desprezo. Também não importa. Estive a ler a sua crónica sobre a falta de arroz que há, ou melhor, que não há por essas bandas onde ao menos os porcos são aos montes ou melhor andam pelos montes. E por falar em porcos se não se importa, porque a senhora parece ser uma pessoa delicada (aqui para a gente que ninguém nos ouve, não é como aquele sacrista do xico), gostava de falar no meu sobrinho Leitão – não é a pedir emprego que o rapaz ainda anda a estudar, ou faz que estuda – mas era para falar nele, como aquelas senhoras que mandam beijinhos para a família na Praça da Alegria com o Baião. Pois eu fiz uma quadra ao meu sobrinho que gostava que lesse. Aqui vai:
O meu sobrinho Leitão
caiu e ficou de borco,
tá crescido e matulão
inda um dia chega a porco!
Que acha? Se calhar acha uma porcaria como o ilustre poeta xico falou da minha veia poética que embora com algumas varizes ainda vai dando 2 p’rá caixa.
Adeus menina, passe bem.
E não se pode conhecer o nome desse sítio arrozófobo?
a feijoada alenteja não acompanha com arroz, batata frita, ovo estrelado ou salada
http://www.gastronomias.com/receitas/rec2594.htm
http://www.radiogranada.net/Semana%20de%2021%20Outubro.htm
há sempre a possibilidade de ensopar a molhanga com o guardanapo, pôr um funil na boca e espremer ou pedir uma colher, instrumento bué utilizado no alentejo.
Lá isso é verdade. Uma feijoadazinha sem o arrozinho branco a acompanhar deixa assim um gostinho a “falta-me qualquer coisa”. É mais ou menos como beber um bom tinto em copo de plástico.
Mas, se a feijoada alenteja não leva arroz para que diabo querem agora enfiar lá com ele?
Feijoada Alentejana: Ingredientes: 500 g de cabeça de porco, 1 chispe, 1/2 pimento vermelho, 1 chouriço de carne, 1 farinheira, 2 cebolas, 3 dentes de alho, 0/5 decilitro de azeite, 1 raminho de salsa, 2 cenouras, 300g de batatas, 1/2 de lombardo, 1 lata grande de feijão branco, sal, pimenta e cominhos q.b.
Então, querem dar cabo da nossa gastronomia.
Quem nos está a dar o arroz é o Passos.
Adolfo Dias: Eu gostei da sua quadra… Quanto à receita, não vi lá chouriço nem farinheira e muito menos batatas…
Anónimo das 16.43: Obrigada. Mas não era só a feijoada. Não havia arroz para nada.
Zeca Diabo: O restaurante era simpático, ar antigo, decoração rústica, com espaço cá fora para as crianças, ao lado de um moinho que lhe dá o nome e que se pode visitar.
O insólito não é a feijoada alentejana não levar arroz. Por acaso, um das minhas variedades de “feijoada” preferida é a cachupa, cuja receita original também não leva arroz. Normalmente, a feijoada à portuguesa (a transmontana) leva mesmo arroz e este, quando é bom (carolino) é essencial. O engraçado mesmo é o restaurante não “trabalhar” com arroz, um ingrediente básico da culinária portuguesa. Em qualquer outro restaurante bastaria a Penélope pedir um bocadinho de arroz para acompanhar que em cinco minutos aparecia uma caçoilinha com o dito, gentileza da casa. Agora só falta aparecer um restaurante que não trabalhe com batata…
Obrigado por ter gostado da quadra.
Quanto à receita, não viu lá chouriço nem farinheira e muito menos batatas… então se calhar não era uma feijoada alentejana.
Também me admiro que um qualquer restaurante não tenha arroz confeccionado para qualquer eventualidade. Mesmo que os pratos a servir não o contenham deveria haver por exemplo até para crianças que muitas vezes preferem o arroz a qualquer outro acompanhamento.
Não será o arroz que não trabalha com eles ?
Será que se pode levar arroz de casa ?
Lá teremos que molhar o panito no molho dos feijões ?!
Bom apetite !
Jnascimento
É caso para perguntar – já abalarem??? Agora mais a sério – foi mesmo azar. Vivi em Évora de 1972 a 1974, tive lá a minha filha Marta a estudar arquitectura paisagista de 2003 a 2008 e já lá regressei várias vezes e nunca esse assunto surgiu. Foi azar…
se calhar os alentejanos julgam que é o arroz, e não a batata, que faz sono. e até acaba por ser uma bela de uma campanha de prevenção rodoviária: se conduzir não coma arroz. e os turistas fazem uma viagem tranquila.:-)