Já nada nos surpreende, mas mesmo assim

É estranho que o Governo precise, através de Poiares Maduro e Álvaro Santos Pereira, de chamar o PS para um diálogo com vista a um consenso sobre crescimento. Crescimento, repare-se. Provavelmente a única matéria no mundo que suscita o consenso nacional, planetário, galático e até universal, pois sabe-se que até o universo se encontra em expansão.

Dir-se-ia que um governo com maioria absoluta apenas apelaria à colaboração do maior partido da oposição caso precisasse de garantir uma certa paz social para aplicar medidas difíceis e impopulares e fosse forçado a garantir a vigência dessas medidas para além da legislatura por imposições externas, dado estar em curso um programa de ajuda. Chamar o PS para subscrever medidas de crescimento é, no mínimo, desnecessário e sem virtude aparente. Pelo que o mais certo é tratar-se de uma estratégia assente em esperteza saloia.

Suponhamos que Seguro aceita dialogar e até subscrever as medidas em causa. Seria esse gesto interpretado como tendo igualmente subscrito os cortes que se anunciam a todo o momento, embora tardem? Para efeitos de Troika e de paz social, são afinal esses que importam.

E se, para precaver tal interpretação a todos os títulos abusiva, Seguro recusar o convite? Passará a ser acusado de não querer medidas para o crescimento? Aí temos que rir, mas, do que conhecemos do personagem, seria útil Seguro ser aconselhado, para a resposta, por gente inteligente.

Ou será que, indo ainda mais longe, uma vez entrado em São Bento atraído pelo isco da discussão sobre crescimento à volta de umas torradas, a ideia seja sequestrar o homem até ele assinar a próxima austeridade do Gaspar?

Aguardemos, pois, para ver se o Tozé quer mesmo ir lanchar com os meninos daquele Jardim Infantil. Fazer amigos, sei lá.

O dirigente nacional do PS, Miguel Laranjeiro, disse este sábado, em Santa Maria da Feira, que a carta enviada esta semana pelo Governo ao secretário-geral do partido, António José Seguro, para um novo encontro de trabalho para debater o plano do ministro da Economia para o crescimento chega com “dois anos de atraso”.

Em declarações aos jornalistas à entrada para o XIX Congresso Nacional do PS, que decorre no Europarque, em Santa Maria da Feira, o secretário nacional dos socialistas para a organização declarou que se o “convite é sério não faz sentido que se meta nos jornais antes de o interlocutor responder”.

5 thoughts on “Já nada nos surpreende, mas mesmo assim”

  1. bem observado.escrever uma carta para dividir louros do “crescimento” com os adversarios,é uma atitude pouco habitual na politica e vinda de quem vem dá para desconfiar!julgo que seguro vai entalar passos coelho,como não sei.seria bom que houvesse palpites no aspirina sobre o procedimento mais adequado.

  2. Ja nos esquecemos que o PS assinou o memorandum da troika, mastrich, o tratado de Lisboa , a adesao ao euro?

    Dentro deste quadro expliquem lasque política de esquerda e de crescimento é que vao fazer?

  3. oh sebento! explica lá o que é que o partido comunista assinou até hoje que não sejam recibos de subvenções partidárias pagas pela democracia que tanto contestam.

  4. Após a breve declaração do representante do PSD no Congresso do PS, no final
    dos trabalhos em que, de forma sucinta classificou o Seguro de demagogo por
    exigir outras políticas para combater a críse agravada pelo des-governo … não
    poderá haver outra resposta de que, continuar a pedir a demissão do governo
    por incompetência, por não saber defenir o que é o interesse nacional!
    A questão que deve ser posta com clareza à troika é saber se eles querem receber
    os fundos que nos emprestaram ou preferem ir para a fila do ToTTa, se vieram
    para nos ajudar ou para “enterrar”??? Depois será mais fácil decidir !!!

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