A: É verdade que Vítor Gaspar já não é visto há uns tempos porque está a planear na folha Excel os cortes de 4000 M€ na despesa do Estado social?
B: Sim, mas tem bons fundamentos para isso.
A: O que queres dizer? Referes-te ao relatório?
B: Sim, lá estão bem explícitos os nossos excessos.
A: Mas o relatório só tem pressupostos errados, gráficos desatualizados e, além disso, foi feito pelo próprio Governo!
B: Mas, justamente, não é o Governo que quer reduzir o peso do Estado? Então, tem de o justificar. E pedir a assinatura de um credor é apenas natural.
A: Mas está mal justificado. Nenhuma daquelas teorias tem grande sustentação.
B: Bom, é para isso que serve o período de debate aberto à sociedade civil, não achas?
A: Espera lá, mas a primeira conferência organizada para esse efeito realizou-se por convite e as intervenções não puderam sequer ser relatadas pelos jornalistas, logo, ninguém ficou a saber o que lá se disse.
B: Mas os que lá estavam debateram, não debateram?
A: Suponho que sim, sujeitos a uma regra inglesa mal transposta e, ainda por cima, rejeitada pelos próprios oradores.
B: Esquece a conferência. Nas televisões e rádios, não se debate outra coisa, pois não?
A: É verdade, mas, nas diversas intervenções, predomina largamente a contestação, não só ao relatório e à sua mais que duvidosa qualidade, como também ao debate propriamente dito e ao seu calendário e oportunidade, à falta de justificação para os cortes e ainda ao método seguido para as conferências oficiais com a sociedade civil, que impedirá a organização de qualquer outra, pondo a nu a total falta de seriedade da “discussão”. Como vês, ninguém descortina a mínima seriedade no lançamento deste suposto diálogo.
B: Mas o Governo é sério! Quer mesmo refundar o Estado.
A: E porquê subitamente e de afogadilho, para quê e com que pressupostos? Os que afirmam que Portugal gasta mais em pensões e prestações sociais em percentagem do PIB do que os restantes países da UE? Já se provou que isso é completamente falso.
B: Não temos economia para pagar a desempregados.
A: Porque o Gaspar a destruiu aceleradamente e intencionalmente, criando ainda maior número de desempregados do que os que resultaram da crise internacional, em 2009.
B: Pode ser. Mas uma reforma do Estado é sempre positiva.
A: Depende do modo. Penso que, em vez de reformar o Estado, o que se pretende é passá-lo à reforma, esperando que as suas funções essenciais morram cedo.
B: As piadas não ajudam. O que queres fazer agora? O debate serve precisamente para obtermos contributos…
A: Não vamos voltar ao início… Queres então que sejamos coniventes com as vossas opções?
B: Mas é importante haver discussão.
A: E porquê, nestas circunstâncias?
B: Ora, porque o Gaspar, apesar de não parecer, adora trabalhar com música, de preferência em altos berros. Sabes como é. Génios.
,,, mas o debate publico não se pode fazer no forum da TSF ?
F Pessoa: Poder, pode, mas ao abrigo da Chatham House Rule é mais chique. Quanto à verdadeira questão, o ruído é o que interessa, se percebeu.
Na nobre, altíssima, tradição do uso do diálogo para a exposição argumentativa, são as questões mais complexas que melhor aproveitam do formato. Belo exercício, Penélope.
Obrigada, Val.
Ora… génios? O mínimo é dezoito meses de solitária para se ver o que produzem. E reproduzem, claro.