Segundo os dados de um inquérito às atitudes sociais dos portugueses apresentados hoje no Público, Portugal está entre os países da Europa “que mais manifestam racismo”.
É sempre bom conhecer as nossas realidades, ainda que elas possam desmentir velhos mitos (o “luso-tropicalismo”, a “Nação multirracial”) ou desagradar ao nosso amor-próprio e aos nossos sentimentos patrióticos. Não me soaria mal se a conclusão do estudo fosse a de que não somos muito diferentes dos europeus em geral em matéria de racismo. Dizer-se, porém, que somos dos povos mais racistas da Europa, soa-me a falso. São meras impressões minhas, pois são, mas o inquérito em causa também não me inspira confiança nenhuma.
No dito inquérito, Portugal aparece destacadamente no 1.º lugar dos 20 países europeus considerados numa comparação internacional quanto a “racismo biológico”, aquele que é geralmente considerado como a mais primária modalidade de racismo. As perguntas que pretendiam medir o racismo biológico foram estas: “Acredita que há raças ou grupos étnicos que nasceram menos inteligentes do que outros? Acha que há raças ou grupos étnicos que nasceram mais trabalhadores do que outros?” Tais perguntas, além de malparidas (os indivíduos é que “nascem”, não os grupos étnicos, e, de resto, à nascença, nenhum indivíduo é inteligente ou trabalhador), apenas indagam sobre crenças ou preconceitos, não sobre práticas discriminatórias. Pode haver correlação entre ambas, mas o preconceito racial (crença) e a discriminação racial (prática) não são a mesma coisa nem têm as mesmas consequências – algo que o inquérito ignora em absoluto.
Portugal aparece ainda no 5.º lugar quanto a “racismo cultural”, modalidade em que a liderança pertence à Noruega, país em que, estranha e paradoxalmente, o “racismo biológico” é dos mais baixos entre os 20 países (18.º lugar). A pergunta que serviu para avaliar o “racismo cultural” foi esta: “Pensando no mundo de hoje, diria que há culturas muito melhores do que outras ou que todas as culturas são iguais?” Uma pergunta particularmente condicionante e filha da mãe, porque quem não achar que “as culturas são todas iguais” será logicamente contabilizado como racista cultural.
Torna-se evidente que este inquérito (parte integrante, aliás, de um inquérito à escala europeia do European Social Survey) utilizou perguntas que previsivelmente conduziam a um tipo de resultado desejado. Com outras perguntas e outras metodologias, os resultados seriam provavelmente bastante diferentes.
De facto, outras fontes sobre temas idênticos, como os inquéritos periódicos europeus divulgados pelo Portal da Opinião Pública, não confirmam a liderança dos portugueses, nem no racismo nem na xenofobia. Nestes inquéritos periódicos europeus, as perguntas aos inquiridos e as metodologias são diferentes das do inquérito acima referido. Não se procura saber se o inquirido acredita que há raças que “nascem” menos inteligentes ou mais trabalhadoras, mas sim, por exemplo, se o inquirido recusa ter vizinhos de outras raças. Uma pessoa que diz (ou finge) que não é racista, mas que não quer vizinhos de outras raças ou não aceita que os seus filhos casem com pessoas de outros grupos étnicos (questões clássicas dos inquéritos sobre racismo) é, para mim, muito mais nitidamente racista do que uma pessoa que apenas acredita numa menor inteligência ou aptidão para o trabalho de certas raças, mas que apesar disso, na prática quotidiana, mostra respeitar e, sobretudo, não discrimina as pessoas de outras raças.
no lo sé…. los más antisemitas de europa ? los españoles , por supuesto , con los vascos encabezando el pelotón :)
o Júlio levanta problemas pertinentes . pore xemplo , acho os chineses muito mais trabalhadores do que nós , os japoneses muito mais inteligentes , a cultura indiana um must de equilbrio corpo e mente , os sulamericanos do Pacífico os seres mais maravilhosos do mundo ,portanto responderia de forma ” racista” ao inquérito.
Uma sugestão: em vez de textos a alimentar a indignação do momento, que tal a analisar e criticar os “estudos” que concluíram a coisa. É que depois há quem o faça – como o fez Ricardo Araújo Pereira em relação ao “escândalo” dos livros da Porto Editora – e depois constatamos que, após tanta indignação, tanto horror, afinal não havia nada. E que ao fim das contas, é o Público, com os seus jornalistas de bolso que gritam incêndio quando vêem o pôr do Sol, que fomenta esta coisa.
Pinto, O exemplo da análise de Araújo Pereira a uma notícia do Público é bastante mal parido. O mínimo que se pode dizer é que RAP nem sequer leu o artigo que chalaceou no muito fraquinho Governo Sombra. É muito baixa a coincidência entre o que está escrito e o que RAP disse que foi escrito.
Espera, a Hungria e a Polónia não lideram os país racistas? Caguem neste estudo, está borrado.
Miguel, primeiro convinha saber do que eu me estava a referir. Ele não comentou nenhum artigo mas os livros que foram censurados
Pinto, sei exactamente ao que se refere. Ricardo Araújo Pereira fez uma intervenção de 11’33” partindo do que alegadamente estaria escrito no jornal Público, contestando vários pontos do artigo do jornal, que acusou implicitamente de não ter feito o trabalho de casa e de não ter visto os livros. A intervenção de RAP começa por ser feita em contraponto ao jornal Público.
Não é uma intervenção que tem os cadernos como exclusivo ponto de partida e alvo. A crítica de RAP é uma crítica que acusa a comunicação social de ter feito um pé de vento por causa dos cadernos. E ponto por ponto RAP vai refutando o que o Público escrevera acerca dos cadernos, que afinal, pelo que o humorista sugere, nem serão assim tão dignos da atenção negativa que tiveram e que só a tiveram por terem sido distorcidos pela comunicação social e por jornais como o Público.
RAP é desonesto intelectualmente e parte de pressupostos martelados por ele para acusar o Público de não ter feito o que ele fez (comprar os livros e analisa-los) e fazer chalaças onde se devia ter seriedade. Vê-lo citado como paradigma de boa coisa por alguém que nem percebeu o modo de construção do discurso que estava a ver é assustador.
Em tempo: O Público é uma merda de um jornal e os directores são comissários partidários.
Miguel, a apresentação dos factos é perfeita (afinal sabia). A crítica pessoal (terceiro parágrafo) é que parece ter caído do nada.
O Ricardo Araújo Pereira é desonesto porquê?
Releia, releia. O que eu escrevi duas vezes é suficientemente claro.
está a referir-se a que tipo de raça, a raça negra?
seu atrasado mental: a única raça de humanos que conheço é a humana.