Memória de uma cantiga na Feira de Rio Maior
Acaba de sair o livro «Cultura Popular em Almeirim» de Álvaro Pina Rodrigues, uma edição da «Cosmos» na colecção «Raízes», dirigida por Aurélio Lopes.
Numa primeira leitura ainda não sistemática e organizada, saltou-me à vista um capítulo intitulado «Romances profanos cantados» no qual descobri um texto cuja memória guardo dos tempos da Feira de Rio Maior, onde comecei a ir lá pelos idos de 1956. Era vulgar os cegos cantarem e venderem às pessoas na Feira uns folhetos com cantigas sobre casos de violência que aconteciam no hoje chamado Portugal profundo.
Aqui fica a reprodução do arranque de «Há um rapaz na Portela»:
«Há um rapaz na Portela / Que enganou uma menina / Levava o retrato dela / Gravado na concertina
Gravado na concertina / Gravado no violão / Levava o retrato dela / Amélia da Conceição»
Nesse tempo o termo «enganada» tinha um sentido e uma consequência: as raparigas ditas enganadas só acabavam por casar (quando casavam) com rapazes livres da tropa. Os pais das outras raparigas das aldeias sentenciavam sobre os «livres» – «Se eles o livraram algum defeito lhe acharam!»
Passados tantos anos ainda hoje me lembro dessa cantiga de Feira cantada pelos cegos. Mas ainda hoje me estranha a forma como a mesma terminava:
«Se me queres escrever / Dou-te a minha direcção / Benfica do Ribatejo / Amélia da Conceição.»
Talvez a moral da história esteja aqui – um amor perdido não é um amor morto.
Oh jcfrancisco muito antes de tal Pina já eu lidava com a cultura popular em Almeirim.
Tanto assim que escrevi a poesia abaixo que dediquei àqueles serventes de pedreiro que costumam dormir nos barracões junto às obras. E nem sequer descalçam as botifarras quando se deitam. Tomam banho uma vez por mês e limpam o cu às sacas de cimento. Um deles uma vez foi a correr para o médico com uma prisão de ventre com cerca de 3 semanas. O médico verificou que com o uso das sacas de cimento se tinha formado uma parede de betão que teve que ser retirada a escopro e martelo.
Pois esses tais serventes de pedreiro procedendo assim vai-se agarrando a merda aos pelos do cu e aquilo faz uma comichão dos diabos. De maneira que vão procurando tirar a caca puxando e vão assim formando umas bolinhas amarelas.
Ora a poesia que se segue é precisamente sobre essas tais bolinhas a que as pessoas não dão importância mas que têm muito a ver com a vivência dos serventes de pedreiro.
Aliás o jffrancisco como está no Bairro Alto podia oferecer esta minha poesia a um fadista dessa área. Está à vontade para a dar com a única condição de dizer que é de minha autoria.
TRÊS BOLINHAS A MARELAS
Numa festa em ALMEIRIM (tá a ver, cá está Almeirim)
O Manel vê o Jaquim
e mostra-lhe uma caixinha,
com três bolas redondinhas,
pequenas, amarelinhas,
veja lá se adivinha.
O Jaquim pega na bola
que entre os dedos enrola,
cheira e mete na boca.
Oiça lá oh seu panaca
esta bola sabe a caca
tá-me a enfiar a touca!
Oh homem não seja assim
diz o outro pró Jaquim
eu sei qu’isso não se come.
Que sabe a merda eu sei
pois foi do cu que as tirei
só quero saber o nome.
Por acaso o meu amigo também não sabe o nome dessas tais bolinhas. Procurei no dicionário mas n ão encontrei nada sobre o assunto.
onde foste buscar aqui o amor, Zézinho, que não o vejo? ou então, vejo assim: onde não está, por ser escolhido, não morre, o amor. :-)
Eu não inventei nada – em 1956 uma rapariga «enganada» era um caso sério de «amor» por engano. Tudo aquilo é verdade. O amor nunca morre, penso eu de que…
vamos ver se eu percebo o que até agora não percebi: amor proibido? e, por isso, por engano?
Levou-a ao engano, Olinda !
Nunca ouviu dizer ?
Jnascimento
não, Jnascimento, por isso pergunto. mas o Zézinho hoje está choco e não me explica.
explicas tu? :-)
Apesar de enganada, ela dava-lhe uma hipótese de ele lhe escrever – mas não havia ainda o código postal.
O que o Zé Francisco quer dizer é que o “rapaz da Portela” meteu o testículo na virilha da Amélia e cavou. Furada, a Amélia ia ter dificuldade em arranjar outro rapaz que quisesse casar com ela.
Que raio de tempos esses…
assim, sim, Zézinho.:-)
ah, Jonas, então percebi à primeira: não há amor no foder e cavar – assim como no terem de lhe escolher o casar: faz todo o sentido ser furada – a desunião de sexo com amor. afinal a Amélia foi ardida – e o Portelês um estupor. :-)
Moral da história, Olinda !
Jnascimento
Ó Jonas deixa-te de tretas e não tentes misturar o que eu digo e o que eu transcrevo. Vai fazer demagogia para a tua rua!
Conversa do caraças.
“Apesar de enganada, ela dava-lhe uma hipótese de ele lhe escrever – mas não havia ainda o código postal.”
Isto é a chamada f*da por correspondência.
Na América era por diligência. Iam os dois na mesma carroça e às tantas apanhavam o cocheiro distraído com a paisagem e lá vai disto. E também deixavam a marca, isto é, o selo.
Agora jcfrancisco o código postal não era preciso para nada.
Por exemplo, a minha prima ia numa dessas diligências, teve um grande acidente e ficou debaixo do cocheiro.
Quer saber? Ao fim de 9 meses nasceu um crianço.
E a propósito do meu fadinho. Já fez alguma diligência?
Eu quando frequentava o Bairro Alto dava-me com os fadistas da época. O meu conterrâneo Fernando Farinha escrevia muitas vezes à mesa do café em S. Pedro de Alcântara. Almocei algumas vezes com o Alfredo Marceneiro que juntava na tasca os seus amigos, comia-se uma carapauzada e passava-se a tarde a cantar o fado. Quem chegasse para almoçar era bem recebido.
Tempos!
o xxxxfodias no locupetanço do corner franciscano.
falta um l mas ninguém dá por isso