Vinte Linhas 339

E dizia o parvalhão «O sal de Rio Maior não salga!»

A cena tinha algo de patético: o emigrante português em Paris desde 1979 nunca tinha ido a Rio Maior, não conhecia as salinas e acabava de oferecer um saco de plástico com sal de Rio Maior a uma prima quando o marido da dita cuja, parvalhão até dizer chega, se saiu com um inesperado «O sal de Rio Maior não salga!»

Vivemos tempos complicados, a nossa civilização apresenta sinais de óbvia doença como por exemplo a excessiva atenção dispensada aos animais desprezando ao mesmo tempo as pessoas ou a febre da chamada «bricolage» que leva milhares de pessoas a desprezarem o saber e a competência dos pintores, ladrilhadores ou carpinteiros para fazerem eles mesmos aquilo que deveria ser feito por profissionais competentes. Outra doença é a mania de ter opinião como se ter opinião fosse um valor acrescentado na nossa vida – e não é. Há mesmo pessoas que perdem tempo a responder a inquéritos sobre Pinto da Costa, Carolina Salgado, o caso Freeport, o treinador do Benfica ou outros assuntos afinal não prioritários porque não dependem nem deste escrutínio nem desta opinião avulsa. É neste contexto geral que eu vejo a frase do parvalhão, marido da prima do emigrante a quem eu, ingénuo português de Portugal, fui mostrar as salinas de Rio Maior. Esse parvalhão tentou passar por cima da memória de todos nós que (como eu) conhecem o sabor do sal das salinas de Rio Maior desde a infância ou os camiões que levam para toda a Europa comunitária o excelente sal nascido daquele poço tão especial e tão antigo. Esse parvalhão não percebe que a sua opinião não conta para ninguém nem talvez para ele mesmo. Conclusão definitiva: para falar por falar é melhor estar calado.

11 thoughts on “Vinte Linhas 339”

  1. «Outra doença é a mania de ter opinião como se ter opinião fosse um valor acrescentado na nossa vida – e não é.» (JCF)

    Forte candidata a bacorada do mês.

  2. Bem Claudia para repetir o outro é mesmo melhor estar calada. Só vale a pena falar se isso for um valor acrescentado. Tu agora és o relógio de repetição do «nik»?

  3. jcfrancisco, ele tem razão! E as ideias dele, muitas vezes, coincidem com as minhas. Até é um favor que ele me faz. Poupo palavras.
    Tu dizes cada asneirola… O que é que queres?

  4. Olha por exemplo essa de dizeres do sol na cabeça… Só revela descaramento; nada tem a ver com a crónica que eu escrevi. Mal de mim se estivesse à espera de uma pergunta tua para fazer o que quer que seja… Não tinha feito nada. Safa!

  5. “Mal de mim se estivesse à espera de uma pergunta tua para fazer o que quer que seja… Não tinha feito nada.” (JCF)

    Também não se ia dar pela falta.

    Safa!

  6. Ainda bem, assim já não sou eu sozinha a dizer que o sal de Rio Maior não salga. O jcfrancisco deve lá ter algum interesse no poço, não?

    É que aquilo não salga mesmo. Será sal neo-realista?

  7. Há muitos meses que visito este blogue e nunca comentei, exactamente por achar que não tenho nada a acrescentar, pelo que me tenho limitado a ler-vos. Acontece que desta vez não me posso ficar. O meu avô foi salineiro nestas salinas, não proprietário, são coisas diferentes. Na minha infância convivi de perto com estas corajosas pessoas, digo corajosas porque o trabalho era e é bastante árduo. Confesso que nunca tinha ouvido em lado nenhum que o sal de Rio Maior não salga. Penso que cloreto de sódio é cloreto de sódio e que salga todo da mesma maneira. Acontece é que este provém de uma água cuja salinidade é 7 vezes superior à da água do mar, tem um grau de pureza de 97,94% de cloreto de sódio, sendo por isso bastante utilizado na indústria farmacêutica entre outras.
    Conclusão: o sal de Rio Maior não salga, queima, pelo menos a pele das pessoas que lá trabalham. Na dúvida, visitem o local que não dão o tempo por perdido.

  8. Já agora, e por causa do comentário da guida, refiro que conheço as salinas de Rio Maior. Vale bem o passeio, realmente.

  9. Obrigado Guida, excelente comentário. Já agora recordo que as paredes das «casas» dos salineiros são feitas com oliveiras, coisa espantosa do meu tempo de menino que ainda hoje se mantém. Obrigado Val se o passeio de alguém se realizar pelo meu texto e se um novo interesse surgir perante o caso – valeu a pena. Vou tentar mandar outro texto sobre o tema.

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