Nemésio tem razão, o amigo de Onésimo não
Na crónica de Abril na Revista Ler Onésimo Teotónio de Almeida refere uma conversa com um seu amigo sobre a Margarida de Mau Tempo no Canal que vai à missa em Sexta-Feira Santa, coisa impossível pois (segundo esse amigo) esse dia não tem missa.
Não é bem assim. Tenho a meu favor dois argumentos: a minha memória pessoal e um livro editado em 1850 – Horas da Semana Santa. Nasci em 1951 e lembro-me bem de, com dez anos de idade, ajudar á missa em dia de Sexta-Feira Santa. Era aquilo que em linguagem simples (de sacristão) o meu avô chamava missa seca pois não tinha nem consagração das partículas nem comunhão aos fiéis. Apenas o celebrante tomava uma partícula consagrada no dia anterior. E era naturalmente uma missa muito mais rápida dos que as outras. A minha memória não me deixa mentir.
O livro de 1850 que obviamente estava em vigor quando Nemésio concebeu o romance, ele que nasceu em 1901 e veio para Lisboa em 1919 fazer a tropa, o livro explica textualmente «E omitindo tudo o mais que se pratica nas outras missas prossegue, dizendo: Pai nosso que estás nos céus…» Refere assim na sua página 372 esse «salto» na liturgia pois passa por cima da consagração e a comunhão fica restrita ao celebrante. Conclusão: Nemésio tem razão, o amigo de Onésimo não.
Para mim este episódio vem recordar um dos mais belos salmos que eu tenho memória de ouvir: «Meu Povo, que te fiz Eu ou em que te contristei? Responde-me! Porque te extraí da terra do Egipto, preparaste uma cruz para o teu Salvador.»
Toda a tragédia do Mundo em duas linhas de versos…
Toda a tragédia do mundo em duas linhas de versos. Isso podia ser uma cadeia daquelas em que cada pessoa tentava os seus dois. Assim de repente e numa onda pascal um tanto reaccionária vem me à cabeça o Augusto Gil:
(…)
Mas as crianças Senhor,
Porque lhes dais tanta dor?
(…)
Foi o que consegui arranjar:)
Para uma versão mais longa de um tragédia mas essa nacional e sem fim à vista sugiro http://tinyurl.com/cyu7e5, um sistema que precisava de um terramoto.
desculpem voltar mas o que descobri e listei aqui http://tinyurl.com/c33zbm
mostra que Portugal tem hoje um genuino partido fascista. Eu sugeria que se avançasse com uma petição ao PR.
se tem, tem. :-)
(á por à – 6ª linha. não consigo ficar calada, desculpa. não zangues.)
Sim, mas quem não sabe os salmos, diz que é por morrer uma borboleta aqui que há um tremor de terra acolá. Às tantas estou a inventar o sustituto do salmo, mas a ideia é a mesma.
JCF,
O texto «Meu Povo, que te fiz eu? Ou em que te contristei? Responde-me! Porque te extraí da terra do Egipto, preparaste uma cruz para o teu Salvador» não é um salmo.
É um texto cristão, e mais exactamente um dos “Impropérios”, lidos ou cantados nos ofícios de sexta-feira santa.
Chamar-lhe “salmo” é, em proporção, chamar “cantiga de amigo” a um poema de “Os Guarda-redes Morrem ao Domingo”.
Sim, está errado, foi como se tivessa chamado antífona ou outra palavra errada. Falhou mas foi um bocado da pressa, estava de partida de Lisboa para a provincia profunda. Peço desculpa, errei.