«Música de viagem» de Cristino Cortes
Neste conjunto de 77 poemas, nesta «sinfonia poética» (como lhe chamou António Salvado) o autor revisita poemas de Pasolini, Francisco Sá de Miranda, Almeida Garrett, António Nobre, Guerra Junqueiro, Pascoaes, Vitorino Nemésio, Jorge de Sena, Florbela Espanca, Miguel Torga, Alberto Pimenta, Cesário Verde, Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Luís de Camões e Manuel Simões, em Veneza:
«Deusa vivendo da beleza própria e exterior, Veneza / A aumenta e mantém com seu perfume, invencível filtro / De amor atraindo o tempo e os deuses, os da música / Aérea e aquática fluindo em força da natureza».
Música de viagem porque viaja entre o «eu» e o «Mundo» mas também viagem ao lado de dentro da construção do poema:
«Em todo o sítio a encontro, nas viagens que abraço / Ou imagino, também entre as pregas da rotina / Desse fluir diário, qual face de vulgar esquina / Com ela vivo e decerto que bem pouco faço! / É uma inconsciência quase, específica forma / De respirar, um pressentimento, um vago aroma / Na atmosfera se evolando ou pressentindo, oh dona / De magia e mistério, sem fixar regra ou norma! / Ela é fado ou destino, uns dirão graça ou bênção / E outros, talvez, falha, falta ou maldição, depende / Da perspectiva, objectivos em que alguém se entende / – Estes anos em que por algo bate o coração… / Ando com ela, sou-lhe fiel, e não saberia / Fugir-lhe ou deixá-la, mistério, aragem esguia.»
(Edição: Papiro Editora, Capa: Ana Machado, Apresentação: António Salvado)