«Memórias vivas do Jornalismo» de Fernando Correia e Carla Baptista
As 17 entrevistas com gente dos jornais dão-nos, neste livro de 423 páginas, uma aproximação ao um tempo que acabou. Homero Serpa recorda a passagem do chumbo para o offset: «Foi um salto muito grande, os operários deixaram de engolir diariamente aqueles quilos de chumbo que matou muitos.» Tempo de alguns jornalistas se sentirem marginalizados: «O jornalismo desportivo não era considerado bem jornalismo, nós não éramos do Sindicato dos Jornalistas.» Problemas também para os fotógrafos, como Eduardo Gageiro: «Você não acha que dá uma má imagem de Portugal? Há paisagens tão bonitas, porque é que você não fotografa paisagens?».
Tempo de mudanças, também. As técnicas: «O offset praticamente acabou com os tipógrafos. Houve uma oposição muito forte.» As políticas: «O chefe de redacção no dia 25 de Abril nunca deixou de enviar os textos do Diário Popular à Censura até que o estafeta disse: «Ó Sr. Dr. já não está lá ninguém!». As humanas: «No caso de A Capital havia uma certa desconfiança, alguns olhavam de esguelha para os mais jovens: «Estes miúdos das universidades com a mania de que sabem tudo…».
Duas memórias curiosas: os sinaleiros («O trânsito parava para deixar passar o carro do Popular») e a Volta a Portugal: «Ainda há pouco tempo, nas voltas a Portugal, e eu fiz dezasseis, nós encontrávamos bandeiras do Benfica, do Sporting e do Porto e a verdade é que nenhum deles tinha equipas a correr».
(Editora: Caminho, Fotos: Alexandra Silva excepto Acácio Barradas, Capa: Rui Garrido)
Já vai sendo tempo de os verdadeiros jornalistas se demarcarem dos jornaleiros desportivos. Tivessem os primeiros tomates para arcar com os ataques dos segundos.