«Contos» de Hélia Correia
Entre Natureza e Cultura – estas duas palavras podem definir, além do talento, a escrita de Hélia Correia. Tendo vivido a infância e a adolescência na Estremadura (serras, planícies e praias) ficou entretanto apaixonada pela cultura grega (teatro, poesia, pensamento) e esse fascínio é uma das características da sua escrita. Este recente livro de contos engloba seis segundo uma escolha pessoal da autora: Eirene, Capadores, Nessa noite, Sul, Doroteia e A compaixão, este último resvalando já para o formato de novela. Vejamos um excerto de Capadores: «A Europa mandava o seu dinheiro, especialmente destinado àqueles que deixassem morrer os animais. Os pastores levavam os rebanhos para o relento e a seguir embebedavam-se para não os ouvirem a chamar. Os camponeses viam os pomares e os favais cobertos pelo mato e só passados uns instantes conseguiam sorrir para a paisagem. Mas passara. Passara tudo. Uma justiça inesperada, quase ofensiva, se exercera sobre as classes sem, no entanto, descobrir a mão. De facto toda a gente se vestia de modo semelhante e, mais do que isso, todos desfrutavam do enorme serão televisivo que não apenas irmanava a noite de pobres e de ricos mas também lhes irmanava os próprios pensamentos. Estavam todos nas mesmas circunstâncias, preocupados com inundações e um pouco divertidos com as guerras que não ameaçavam chegar perto. Tinham todos o mesmo futebol e os mesmos enredos de ficção.»
(Editora: Relógio de Água, Capa: Paulo Scavullo, Foto: Graça Sarsfield)
Gosto da Hélia, caro Jcf. É um enorme prazer ler estas palavras que lhe dedica.
Forte abraço.
Ok basta um leitor para justificar um texto…