«Deserto de todas as chuvas» de Sidónio Bettencourt
O ponto de partida deste livro é o lugar da infância («ouço-te desse lugar longe que não habito») o espaço ao qual é difícil voltar: «a custo se regressa ao berço, à escola, à casa, à velha igreja». Porque a infância não é hoje o paraíso perdido mas sim «a nostalgia da casa desabitada e a família dividida». A memória fica repartida entre a monotonia da paisagem («lá vão, a carroça, a bilha do leite, o cão, a missa, o vapor, tudo aceite») e as figuras que a povoam: «carregaste sacos, garrafas, cimento e gás / trouxeste e levaste embrulhos e a carne do talho para todos os doutores / rachaste a lenha do forno e cozeste o pão que o diabo amassou / riste de tudo e viveste entre quarto paredes despidas duma casa de cal e sol / partiste sem os braços quentes duma mulher».
Este retrato do «menino Jaime» é uma fórmula subtil para o poeta introduzir o tema do amor e dos seus desencontros: «não sei se te encontrarás algum dia e se me vires não digas palavra / saberei dizer-te no olhar o que me escondeste dos olhos e da voz calada sentirás o poema da partida». Quando o ponto de partida é a infância o da chegada é o regresso a esse lugar: «nunca tive outra pátria, outro rio, outra casa, outra rua, nunca tive outra terra, outro mar, outra mãe, outra mulher, nunca tive outra coisa qualquer».
Pelo meio fica a respiração entre o deserto («o porto é o deserto / a gente / a fome / a gritaria») e a festa possível: «enquanto houver uma farda branca de clarinete, um pacote de amendoins, uma lâmpada entre dois mastros de bandeira e esta saudade imensa, o tio João Alves pode cortar o cabelo para a festa».
(Editora: Salamandra, Capa: Marta Figueiredo, Desenhos: Emanuel Garcia, Prefácio: Eduardo Bettencourt Pinto, Nota da contracapa: Carlos Melo Santos, Apoio: Câmara Municipal das Lajes do Pico e Direcção Regional da Cultura)
Gostei. E vou ler.
Pode parecer cínico, mas é sincero: eu estive a olhar para os actores da peça de teatro da próxima semana em Londres. E comecei pelo elefante: http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/03/principais-actores-do-g20-india-i.html
CS
Felizmente
aqui há luar
e já não se fala do penalty
e das suas gravissimas sequelas!!!…
qdo os menos maus
são os mesmos que perdem horas naquela discussão
perde-se moral para falar assuntos sérios
aqui fica meu desabafo…
abraço
Tudo é importante porque tudo faz parte da vida: entre o precário do amor e o inevitável da morte o homem procura resgatar a sua fagilidade cantando. Mal de mim se fosse restringir ao meu ângulo de observação apenas aos livros. Os livros são importantes mas não são tudo na vida. Entre o caso very light e um livro de poemas – nesse intervalo estou eu, inteiro, indivisível e apaixonado. E quando não estiver é porque a morte venceu.
O livro do Sidónio é de facto digno de ser lido.
Somos realmente o reflexo do local a que pertencemos, embora possamos andar pelos mais diversos locais, não nos conseguimos libertar da essência daquilo que somos, das vivências que nos forjaram aquilo que somos hoje. Somos o resultado de tudo isto, e o Sidónio registou-o de maneira sincera e afectiva, neste seu livro.
Ao lê-lo revejo-me também no meu local tão diferente e tão igual.
Um abraço ao Sidónio.