Nas linhas onde o comboio já não anda
Só ecos do rumor de gente nas estações
O poema principia na voz de Fernanda
Versos são socalcos de pedras e canções
Nos seus lábios, palavras são rebanhos
Que se unem à Terra como quem reza
O santuário, o ritual parecem estranhos
O altar já está escolhido, é esta a mesa
Aqui juntamos no cálice todo um mundo
Paisagem povoada por lentos lavradores
Nos seus braços existe um saber profundo
Repetido tanta vez entre pedras e sabores
O vinho bebido longe, no café da cidade
É líquido e mais que líquido é resultado
Da lenta fermentação de uma diversidade
Junta paisagem, luz, suor, tudo registado
Aqui chega o aroma perfeito e suspenso
Há no copo um silêncio que não termina
Prazer está no sabor, no aroma, é imenso
Castas Aragonês, Arinto e Malvasia Fina
Outras são Touriga, Verdelho, Folgazão
Celebradas num lagar em nova liturgia
Cada vindima é o fruto de uma paixão
Repetida cada ano numa ansiosa alegria
De súbito Leandro, menino de dois anos
Quer deixar de ser apenas um espectador
Embrulha-se na azeitona, nos seus panos
Como já tinha procurado andar no tractor
Na poda, na empa, o trabalho é empresa
Joaquim, Nuno e Nely cuidam do tesouro
Tempos depois a garrafa trazida à mesa
Tem o frio e o calor das terras do Douro
Se tivesse sabido que virias cá acima, ter-te-ia convidado para almoçar em minha casa.
À sua saude, poeta !
Este é o vinho que o meu avô fez, o calor, os socalcos, a terra magra,
as curvas da nacional 222 e o Doiro ao fundo, do Pinhão a Ourozinho, às quatro e meia da tarde, a carreira da viúva, curva, contra-curva, curva.
À nossa saude poeta. À Felicidade de seus netos !
Jnascimento
gostei da casta nely frutado, muito rica em aromas martelados, que nos transpõe para os ambientes metasulfiticos da fermentação franciscana. pr’á coisa ficar perfeita só falta a benção da bio-moça do metano. se esta casta desaparece, lá vão os gajos do inem para o desemprego.
Bebido o luar
Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.
Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.
Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.
Sophia de Mello Breyner Andresen
devia chamar-se vinho grosso. tenho uma prima que conta: todos os Natais bebe disso e engrossa. :-)
Ó pá tu não és nada da Poesia, tu és maluco! Volta para o Telhal…
Mal sabes tu, grande asno, que os meus dois primerios livros de Poesia estão no mesmo catálogo da Sophia. E dos outros – Jorge de Sena, José Gomes Ferreira, Pedro Tamen, Vitorino Nemésio, David Mourão Ferreira, João Miguel Fernandes Jorge, Joaquim Pessoa.
e o que fazem os asnos? asneiram.:-)
Os asnos dão coices e levantam nuvens de pó mas há cada vez menos burros no campo…
E tu a dares-lhe zézinho! Tu podes estar no mesmo catálogo, pois podes. Mas não quer dizer que sejas bom como os outros! Numa lista, catálogo ou colecção, há bom e mau. Tu, meu, és mau poeta. Não deixas dúvidas a ninguém. Basta ler aqui no aspirina os versos que escreves. Ficas retratado. E vê lá, pensa bem: tu sabes a quantidade imensa de pessoas que visitam diariamente o aspirina. Já pensaste na triste figura que fazes perante tanta gente? De um lado, os teus poemas, tão mauzinhos. Do outro, as tuas respostas mal-educadas dirigidas aos comentadores. Já viste a imagem que dás aos outros? Eu, tinha vergonha!