Canção breve para Vó Mam (1918-2010)

Numa tarde que continua
Não se pensa a despedida
Multidão que enche a rua
Projecta a lição de vida

Avó e mãe sem horário
Disponível todo o dia
Na folha do calendário
Numa teimosa alegria

Contra tudo contra todos
Teimosia convocada
Uma energia a rodos
Força sem dar por nada

2 rapazes, 5 meninas
Era a vida uma manhã
Fazia luvas pequeninas
Passa-montanhas de lã

Seus olhos as bandeiras
Seus cabelos estandarte
Voz de palavras inteiras
Ouvia-se em toda a parte

Nasceu no fim duma guerra
Morreu só na Conservatória
A moral que a tarde encerra
Faz duma derrota a vitória

Um amor não perdido
Multiplicado por nós
Vai dar um novo sentido
À memória da sua voz

Que todos vamos guardar
No coração bem fechada
Parece a força do mar
Não tem medo de nada

3 thoughts on “Canção breve para Vó Mam (1918-2010)”

  1. Os meus sentimentos ao filho, ao neto, à nora e a si, poeta, se o interpreto bem.
    O Algarve, onde me encontro com avós da mesma idade, pode muito bem ser o Céu que as igrejas abrem, neste Inverno frio, aos seus fiéis enregelados.
    Um céu de apanhar a suave luz do Sul e de fazer luvas de netinho e passa-montanhas de mais crescidos. Se a encontrar por cá assegurar-me-ei que está bem e de livre vontade !
    Um abraço
    Jnascimento

  2. Um abraço caro Joaquim Costa de África. E obrigado. O mar daqui é o da Vieira de Leiria. Diferente do de Albufeira. Ou talvez não.

  3. Não há que ficar triste, uma pessoa quando “morre” passa à próxima plana. Científica e shamanisticamente provado há muitos anos.

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