Aprendizes de feiticeiro

Com a decisão de Pinto Monteiro, entregando a Cândida Almeida a investigação do caso da licenciatura de Sócrates, todas as vozes se calaram sobre o assunto. Porquê? Porque foi a pior notícia que poderiam ter recebido. A intervenção da Procuradoria-Geral não se limitou a alterar as regras do jogo, veio anunciar que se estava perante um jogo completamente diferente. Muitos dos que tinham gozado o prato de finalmente terem algo para entalar o Primeiro-Ministro, chafurdando na lixeira com gosto e empenho, estarão agora receosos. É que a vantagem passa para Sócrates, que se vê com um inesperado trunfo nas mãos. Se as eventuais tropelias — cometidas num contexto de inevitável promiscuidade de poderes, o académico e o político — se resumem a tratamentos de favor, o critério apanhará centenas de potenciais outros casos, em todos os partidos. E todos ficam expostos a retaliações. Se nada se provar de conclusivo, a investigação irá ilibar moralmente o suspeito, reforçando a sua imagem. E dará azo a vinganças planeadas com tempo e inteligência. Ou seja, por causa de supostas irregularidades formais num processo de licenciatura armou-se este banzé, tentou-se atingir a honra do visado por mero oportunismo político. Então, perante os casos de contínuo conluio entre os partidos e os corruptos, corruptos da alta e da baixa finança, ao molho — casos esses que correm de boca em boca em todos os sectores da economia —, poder-se-á começar a observar cabeças rolando pela corrupção abaixo, em tamanho e número nunca vistos em Portugal. E se tal acontecesse em consequência do caso da licenciatura, não poderia ser mais refinada a ironia socrática.

52 thoughts on “Aprendizes de feiticeiro”

  1. Além disso, um director(?) da Judiciária, arguido por violação do segredo de justiça em Setúbal, por ter passado ao Independente, nas vésperas das eleições de 95, a cacha do Freeport contra Sócrates, acaba no tribunal a declarar-se “traído” por um tal chefe de gabinete de Santana Lopes.
    Aprendizes de feiticeiro é um título muito honroso para tal gente!

  2. Pois está bem visto sim senhor. Eu acho que o país lucrou com esta baixaria, percebeu-se como nunca se tinha percebido a promiscuidade entre os poderes de que falas, político e académico.

    E o país subserviente e nesquinho dos ‘engenheiros e doutores’ levou uma facada, a que sucede uma longa hemorragia.

    Agora cá para mim o homem, que se arroga do rigor e determinação, também levou com uma mácula, o que também só lhe faz bem para redimensionar o bater de bola.

  3. Py,

    De acordo com os regulamentos deste blogue, é proibido fazer mais de dois comentários consecutivos. Violaste esse princípio, logo passaste à lista dos nossos doentes mais necessitados de ajuda…

  4. Valupi,

    Boa, excelente, bola.

    Sininho,

    Mme. la Premier Ministre. Ça vous dit quelque chose?

  5. Fernando, o Sarkozy é que podia agarrar nesta tua ideia…

    Queres pôr o Engenheiro Sócrates a andar!?
    Valupi, era essa a tua ideia?

  6. é a cabala, não é?
    “por causa de supostas irregularidades formais num processo de licenciatura armou-se este banzé, tentou-se atingir a honra do visado por mero oportunismo político”?
    Deves é querer tacho no governo!

  7. Valupi,

    Não concordo nada com o teu texto, que aliás, começa com um pequeno erro de nomeada, é Pinto Monteiro.

    Insistir na decência deste País de favor e conluio, é sempre um acto de coragem, dignidade e louvor. Todo o resto, é para mim, conversa fiada.

  8. Anonymous 5

    Bem observado.
    __

    py

    Talvez.
    __

    Fernando

    Merci.
    __

    sininho

    A Ségolène podia vir para o PSD. Para embelezar a paisagem.

    Pôr o engenheiro a andar? Mas porquê?…
    __

    josé fontes

    Apanhaste-me.
    __

    Mao

    Muito obrigado pelo reparo.

    Quanto à tua discordância, é também muito bem-vinda.

  9. Sim, porquê? É isso que eu pergunto ao Fernando.

    Agora para o PSD… e se fosse até à Madeira, para animar o Baile?

  10. Para melhor esclarecer o nosso amigo (e ingénuo) Valupi:

    in “O Caricas”

    PROFESSOR QUE SÓCRATES NÃO CONHECIA, NÃO CONHECEU NEM QUER OUVIR FALAR

    CHAMA–SE ANTÓNIO JOSÉ MORAIS E É ENGENHEIRO A SÉRIO; DAQUELES RECONHECIDOS PELA ORDEM (não é uma espécie de Engenheiro, como diriam os Gatos Bem Cheirosos).

    O António José Morais é primo em primeiro grau da Dra. Edite Estrela. É um transmontano tal como a prima que também é uma grande amiga do Eng. Sócrates. Também é amigo de outro transmontano, também licenciado pela INDEPENDENTE, o Dr. Armando Vara, antigo caixa da Caixa Geral de Depósitos e actualmente Administrador da Caixa Geral de Depósitos, grande amigo do Eng. Sócrates e da Dra. Edite Estrela.

    O Eng. Morais trabalhou no prestigiado LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil), só que devido ao seu elevado empreendedorismo canalizava trabalhos destinados ao LNEC, para uma empresa em que era parte interessada.

    Um dia foi convidado a sair pela infeliz conduta.

    Trabalhou para outras empresas entre as quais a HIDROPROJECTO e pelas mesmas razões foi convidado a sair.

    Nesta sua fase de consultor de reconhecido mérito trabalhou para a Câmara da Covilhã aonde vendeu serviços requisitados pelo técnico Eng. Sócrates.

    Daí nasce uma amizade.

    É desta amizade entre o Eng. da Covilhã e o Eng. Consultor que se dá a apresentação do Eng. Sócrates à Dra. Edite Estrela, proeminente deputada e dirigente do Partido Socialista.

    E assim começa a fulgurante ascensão do Eng. Sócrates no Partido Socialista de Lisboa apadrinhada pela famosa Dra. Edite Estrela, ainda hoje um vulto extremamente influente no núcleo duro do líder socialista.

    À ambição legítima do político Sócrates era importante acrescentar a licenciatura.

    Assim, o Eng. Morais, já professor do prestigiado ISEL (Instituto Superior de Engenharia de Lisboa) passa a contar naquela Universidade com um prestigiado aluno – José Sócrates Pinto de Sousa, bacharel.

    O Eng. Morais demasiado envolvido noutros projectos faltava amiúdes vezes ás aulas e naturalmente foi convidado a sair daquela docência.

    Homem de grande espírito de iniciativa, rapidamente colocou–se na Universidade Independente .

    Aí o seu amigo bacharel José Sócrates, imensamente absorvido na política e na governação seguiu–o “porque era a escola, mais perto do ISEL que encontrou”.

    E assim se licenciou, tendo como professor da maioria das cadeiras (logo quatro) o desconhecido mas exigente Eng. Morais. E ultrapassando todas as dificuldades , conseguindo ser ao mesmo tempo Secretário de Estado e trabalhador estudante licencia–se, e passa a ser Engenheiro, à revelia da maçadora Ordem dos Engenheiros, que segundo consta é quem diz quem é Engenheiro ou não, sobrepondo–se completamente ao Ministério que tutela o ensino superior.

    Eis que licenciado o governante há que retribuir o esforço do HIPER MEGA PROFESSOR, que com o sacrifício do seu próprio descanso deve ter dado aulas e orientado o aluno a horas fora de normal, já que a ocupação de Secretário de Estado é normalmente absorvente.

    E ASSIM FOI:

    O amigo Vara, também secretário da Administração Interna, coloca o Eng. Morais como Director Geral no GEPI, um organismo daquele Ministério.

    O Eng. Morais, um homem cheio de iniciativa, teve que ser demitido devido a adjudicações de obras não muito consonantes com a lei e outras trapalhadas na Fundação de Prevenção e Segurança fundada pelo Secretário de Estado Vara (lembram-se que foi por causa dessa famigerada Fundação que o Eng. Guterres foi obrigado a demitir o já ministro Vara (pressões do Presidente Sampaio), o que levou ao corte de relações do Dr. Vara com o Dr. Sampaio – consta até que o Dr. Vara nutre pelo ex-Presidente um ódio de estimação.

    O Eng. Guterres farto que estava do Partido Socialista (porque é um homem de bem, acima de qualquer suspeita, íntegro e patriota) aproveita a derrota nas autárquicas e dá uma bofetada de luva branca no Partido Socialista e manda–os todos para o desemprego.

    Segue–se o Dr. Durão Barroso e o Dr. Santana Lopes que não se distinguem em praticamente nada de positivo e assim volta o Partido Socialista comandado pelo Eng. Sócrates E GANHA AS ELEIÇÕES COM MAIORIA ABSOLUTA.

    Eis que, amigo do seu amigo é, e vamos dar mais uma oportunidade ao Morais, que o tipo não é para brincadeiras.

    E o Eng. Morais é nomeado Presidente do Instituto de Gestão Financeira do Ministério da Justiça.

    O Eng. Morais homem sensível e de coração grande, tomba de amores por uma cidadã brasileira que era empregada num restaurante no Centro Comercial Colombo.

    E como a paixão obnibula a mente e trai a razão nomeia a “brasuca” Directora de Logística dum organismo por ele tutelado a ganhar € 1 600,00 por mês. Claro que ia dar chatice, porque as habilitações literárias (outra vez as malfadadas habilitações) da pequena começaram a ser questionadas pelo pessoal que por lá circulava.

    Daí a ser publicado no “24 HORAS” foi um ápice.

    E ASSIM lá foi o apaixonado Eng. Morais despedido outra vez.

    TIREM AS VOSSAS CONCLUSÕES

  11. Anonymous 7

    Mas é essa eventual situação que se pode tornar trunfo de Sócrates. Porque é uma prática corrente, o compadrio. Só que já há muito que se deixou escrito: ou há moral, ou comem todos. E não tem havido moral, para ninguém, e como sabemos.

    Assim, da Procuradoria não saem empates, nem derrotas, só vitórias. Ou ganham os que acusaram Sócrates, ou ganha Sócrates. E, se ganharem os que acusaram Sócrates, o templo pode vir abaixo. Porque não faltam alvos.

    Eu não teria seguido essa estratégia sem ponta por onde se lhe pegue. Acho é que ninguém, dos que ladraram, contou com este desfecho.

  12. Sinhinho,

    Espera-se que a Ségo ganhe as legislativas de Junho. Será, então, primeira-ministra. Depois do cenário presidencial, apetece alimentar este. E é que fariam um bom par, ela e o Sarko.

    Eu, se francês, teria antes apostado De Villepin. Mas o destino é cego.

  13. Anonymous

    Quando comecei a trabalhar, porque mudei de cidade, fiquei durante uns mesitos a viver em casa dos meus tios. Até arranjar casa.
    Foi aí que descobri que as telenovelas eram vistas pelos meus primos e tio, pelos homens da família.
    Foi uma risota!
    (desculpa lá a lenga-lenga mas parece-me que gostas)

    Será que não podemos juntar esforços e pôr este país a andar para a frente?
    Que interessa um canudo? Deve ser o lado fálico da coisa, só pode.

  14. É provável que Anonymus tenha razão na detalhada descrição da coisa.
    A qual só vem demonstrar o que já era sabido: o PS nunca foi a virgem impoluta que César justamente reclama.
    Há por lá muitos esqueletos no armário. É mau, mas não admira, numa terra que é um cemitério.
    Mas nada disso tira razão à lógica de Valupi!
    E sobretudo, SOBRETUDO, nada disso resolve a questão ingente, e ÚNICA, de sininho: pôr isto tudo a fazer alguma coisa que se veja.
    Aí, a canalhada que morde as canelas de Sócrates é, há muito, em absoluto, imprestável.
    Eu prefiro um tipo que me saca impostos mas mexe com alguma coisa, do que os que me sacam ainda mais e vão às putas.
    O Sócrates não conseguirá pôr magistrados a trabalhar! Mas alguma coisa tem feito.

  15. Mas Sininho, não é um canudo, isso não interessa nada, é a leviandade de usar e deixar usar um título indevidamente, quando se exige rigor aos outros. É uma mácula indelével, parece. Agora o país ganhou com a história, acho.

    Botar para a frente acho bem, mas com mais honestidade, etc.

  16. Anonymous 8

    Exactamente. O aspecto obsceno, nojento e odioso do caso não é a eventual tropelia na conclusão da licenciatura – é, isso sim, a hipocrisia daqueles que atacam Sócrates por aí, como se eles não fossem conhecedores (e, nalguns casos, cúmplices) de casos de gravidade inaudita e lesiva dos próprios fundamentos do Estado de direito.

  17. Valupi,

    A decência não se negoceia, e pouco me importa a hipocrisia dos outros. Os “ataques”, se visados pela verdade e deontologia (como fez o Público, e muito bem), deverão ser sempre reputados de bem vindos e bem intencionados a uma democracia que se quer séria e justa; mais não seja, pelo efeito dissuasor e de exigência que infere à vida pública.

    Dá até a sensação, que preferias que nada se soubesse!?

    Acredito que não.

  18. Mao

    Tens razão. Mas não tens a razão toda. Contudo, na parte em que tens razão, ela é absoluta. E, indo direito a esse aspecto, claro que importaria conhecer qualquer falcatrua relativa ao processo académico de Sócrates.

    Dito isto, não temos o direito de nos imaginarmos virgens tontas. A esse nível, onde alguém numa instituição universitária terá dado “um jeito” a alguém com algum poder, os casos serão às centenas, se não forem aos milhares ao longo das décadas. Isto porque a lógica da cunha é transversal a toda a sociedade portuguesa, e constitui-se como uma estrutura e sistema profundamente enraizados nas trocas sociais e no entendimento do acesso aos bens.

    Obviamente, esse tipo de lógica atinge o seu paroxismo nos partidos do poder, ou no poder autárquico, estatal e académico. Na prática, em qualquer tipo de exercício de poder, incluindo os pequenos poderes.

    Assim, a questão, para mim, é a seguinte: aqueles que se agarraram aos indícios de irregularidade no processo da licenciatura estão sem pecado? E, a não estarem, que pecados escondem, de que pecados são cúmplices? É que com o eventual pecado académico de Sócrates (e resta ainda saber se existiu, por mais previsível que seja uma situação de favor) posso eu, e muito bem, viver.

  19. Valupi,

    Vejo que não há discordância, há, isso sim, critérios de exigência bem díspares entre nós. Eu não vivo bem numa democracia de favor. E luto contra ela. Ponto final.

    Ps. Votei em Sócrates.

  20. pessoal, basex! Por poucos dias em princípio, mas realmente por tempo indeterminado, nunca se sabe.

    boas para vocês

    py

  21. Mao,

    É, de facto, curioso. Porque eu não votei em Sócrates, nem nunca votaria. Desde o Mário Soares que não voto PS (ou seja, por causa dele deixei de votar – ou melhor, proibi-me de votar), o mesmo para o Cavaco e para o PSD. E agora, depois de saltitar por todas as forças políticas minimamente inteligentes (isto é, que prometeram inteligência), a escolha parece impossível. Faltam novas ideias e novas pessoas que as assumam.

    Quanto à exigência, concordo: critérios bem díspares entre nós. Porque eu exijo que se comece pela alta corrupção, não pela poeira que cega e disfarça, não pela arraia-miúda.

  22. Valupi,

    Perdoa-me a franqueza, mas a tua resposta é uma desilusão. Nem a percebo, sequer. Paciência, será problema meu.

  23. Mao

    Se a minha resposta é, para ti, uma desilusão, ainda bem. Não é coisa boa andar iludido.

    Quanto ao que não percebes, terás de ser mais explícito, se pretenderes que eu me explique melhor.

  24. Caro Valupi,

    A tua última resposta é ainda pior que a anterior. Francamente…

    Aqui vai o meu “explícito”:

    1. Arraia miúda uma investigação ao Primeiro-Ministro de Portugal!!?

    2. Poeira!!? – É só ler os factos contraditórios de todo o processo. É tudo menos poeira.

    3. “Faltam novas ideias e novas pessoas que as assumam.” – completamente fora do contexto e quase risível a banalidade.

    4. Por fim: Valorizas ou desvalorizas a intrasigência, e sublinho intransigência, na decência da coisa pública?

  25. Mao

    Obrigado pelas tuas questões.

    1- Sim, porque o assunto em causa é despiciendo. Mesmo que se conclua pela falha, faltará sempre assacá-la a Sócrates. E mesmo que se estabeleça nexo, o âmbito é moral, não legal ou político. Por isso os ataques, e subsequentes “análises”, apontavam para a dimensão do “carácter”, e com ela estavam satisfeitos.

    2- Poeira, porque enquanto nos entretemos com este caso não nos ocupamos de outros. Acima de tudo, deste caso não virá nenhum benefício para Portugal e para os portugueses, seja lá qual for o desfecho.

    3- Rir é o melhor remédio, segundo a sólida sabedoria do Reader’s Digest.

    4- Desvalorizo toda e qualquer forma de intransigência, à excepção das intransigências na defesa da vida, do amor e da liberdade. As intransigências estão sempre sob a ameaça de se transformarem em moralismos e/ou imbecilidades.

    Quanto a este caso, é bom conhecer a verdade – mas só porque é bom conhecer toda e qualquer verdade. Porém, os que são rápidos na denúncia da pequena falha alheia talvez não revelem a grande falha própria. E sobre este jogo de aparências na arena pública e moral já um antigo (e rebelde) nazareno deixou sábias lições.

  26. Caro,

    A intransigência é a Lei.

    A decência deve ser o mínimo de civilidade exigível à prática pública democrática. Sempre.

    Dispiciendo!? – Se esteve em causa a própria demissão do PM dentro do núcleo duro do PS.

    Se ficas pelo mero jogo das aparências.

    Eu prefiro, aplaudo e registo a grande lição de jornalismo e maturidade democrática dada por uma boa parte da sociedade civil que não se resigna à “poeira”.

  27. Mao

    Qualquer órgão de imprensa que tenha investigado o caso, sem excepção, terá correspondido ao que se espera ser a imprensa numa democracia: o 4º poder. Isto é, um último reduto de fiscalização e denúncia, em prol da justiça e da comunidade. Eu, pelo menos, gostei da existência dessa investigação.

    Contudo, é na esfera dos políticos da oposição que está a hipocrisia. Porque todos sabem – e, em especial, os que têm currículo de poder – das promiscuidades geradas pelo usufruto e desfrute da “coisa pública”.

    A Lei não é intransigente. A Lei é, até, muito maleável… E espanta-me esse arroubo de indignidade perante um caso onde se permitiu a investigação minuciosa dos documentos. Até se teve o visado perante o juízo dos jornalistas e da comunidade, na televisão, dando a cara. Que fica? Que Sócrates está a mentir, que é um pantomineiro? Bom, cuidado com o que se diz. Enquanto se faziam calúnias com base em indícios, todos gozavam o prato. De facto, para lançar uma suspeita não se exige mais do que uma ambiguidade, um equívoco, um fragmento de informação. Mas agora, com a Procuradoria em versão Pinto Monteiro, todos se expõem a ser os próximos. E isso, a meu ver, não foi previsto pelos políticos que atacaram. Nem pelos jornais.

    Falas em resignação à poeira? Então, falas de Portugal e do facto da sociedade se moldar pela corrupção. Se pensas que a exposição deste caso é sinal de regeneração, pois parece-me bem o contrário…

  28. Não gosto de me intrometer em conversas de gente inteligente.
    Mas faço apenas notar o seguinte: aqueles que provocaram a arruaça não o fizeram por amor à lei, nem à ética, nem à transparência democrática.
    Sem receio de fazer processos de intenção, sei que o fizeram pelo poder que não têm.
    E tendo-o, como já tiveram, estar-se-iam nas tintas para todos esses empecilhos morais, que nunca os incomodaram muito.
    É isso que a mim, cidadão pagador de impostos, me atinge em 1º lugar.
    A “poeira” chateia-me, claro! Às vezes também caio na intransigência, e apetece-me ir viver para Marte. Ou para a Europa do Norte, onde há, apesar de tudo, outros princípios.
    Mas lembro-me das sardinhas assadas e da luz de Lisboa (quando lá vou)… e passo uma escova no fatito.

  29. Valupi,

    Continuas muito confuso.

    Qual ataque, quais indícios, quais suspeitas? O Público, o Expresso e a Renascença, entre outros, iam investigar exaustivamente o PM de Portugal baseado apenas em calúnias e boatos, ou meras suspeitas e indícios fátuos. O caso é grave, e muito grave. Tão grave, que teve a resistência que teve por parte do Gabinete de Sócrates, e uma investigação em curso pela Procuradoria. Atrevo-me até a concluir, que o PM só não se demitiu pelo superior interesse nacional, dada a instabilidade política recente. E fez bem, não chegar a esse extremo.

    O que fica, e ainda bem, repito, é o efeito dissuasor, a vigilância pública, e a maturidade democrática com a qual também me bato todos os dias.

  30. Anonymous, 8, 4.57 PM

    Exactamente, mais uma vez.

    Mao

    Devolvo-te a apreciação: confuso me pareces tu. O Primeiro-Ministro foi à televisão reclamar inocência. Ora, será crível, perante um caso prestes a entrar numa investigação da Procuradoria, que Sócrates o tenha feito para tapar o Sol com a peneira? É o que decorre da tua tese. E, se assim for, pois para mim será uma surpresa. Todavia, será uma boa surpresa, pelo acrescento de verdade.

    A resistência do Gabinete de Sócrates consistiu em quê? Perseguições, ameaças, tareias, chantagens, raptos, bombas, venenos? Não. Foram exercícios de negociação: tentaram convencer alguns jornalistas a desvalorizarem um caso que era problemático para a imagem do Primeiro-Ministro. E, isso, é legítimo e lógico. Compete aos jornalistas terem os seus critérios, compete aos políticos terem as suas agendas. Tudo normal numa democracia, pois.

    Entretanto, qual é, a teu ver, a gravidade do caso? Que importa que a licenciatura esteja maculada por irregularidades várias, ou uma sequer? Como se não existissem as mais variadas irregularidades nas universidades, e desde sempre! Como se da investigação se esperasse alguma conclusão relevante para qualquer dos problemas com que lidamos a nível governativo. Como se fosse possível apanhar Sócrates por causa deste episódio onde a responsabilidade está do lado dos serviços e sistema da universidade.

    Sinceramente, ao achares grave este caso, que achas dos casos em que há corrupção nas autarquias, nos financiamentos dos partidos, nos grandes negócios com as grandes empresas, nas polícias, nas forças armadas, na destruição do parque ecológico, na indústria alimentar, no sistema de saúde e sei lá que mais? Por que razão não aplicas essa energia na perseguição aos que estão na sombra a mexer os cordelinhos?

  31. sininho

    Não conheço nenhuma limitação/obrigação académica para se ser detentor do cargo. Nem parece que faça sentido.

  32. Caro Valupi,

    (vou tentar ser ainda mais conciso e explícito)

    Com certeza que estarei sempre contra qualquer ílicito público, por mais simples e insignificante que seja.

    Com certeza que importa toda a lícitude no percurso académico do chefe de estado.

    Com certeza que este caso denuncia, de forma muito eficaz, até pelo seu grande mediatismo e debate, toda a promiscuidade que falas do poder político.

    Com certeza que todos temos a ganhar à pedagogia do caso. A própria avaliação das universidades vai ser revista à luz de mais exigência e transparência.

    Com certeza que o mundo não é, nem vai ser perfeito.

    Com certeza que estarei sempre do lado da decência por um Portugal de todos, cada vez melhor.

  33. Caro Mao

    Mas isso fica-te bem, e milhões de portugueses comungam desse espírito (acho… ou melhor, espero!).

    Só que o difícil nesta existência de humanos não é a destrinça entre o bem e o mal, capacidade que até os animais exibem. O que nos torna trágica e alegremente humanos é a capacidade (enfim, e o dever…) de distinguir entre o mau e o pior, entre o bom e o melhor. E, aí, nessas complexidades, nessas subtilezas, nessas ambiguidades, há muita ocasião (e muita tentação) para as mais escabrosas vilanias.

    Se Sócrates foi conivente com uma situação de favor no seu percurso académico, será mancha que afecta gravemente um político. Porém, tudo neste caso – onde incluo a investigação jornalística, as explicações dadas pelo suspeito e a entrada em cena da Procuradoria – indiciam estarmos perante a exploração política de uma situação ambígua o suficiente para atingir a honra de uma figura pública.

    Para mim, a Procuradoria vem em auxílio de Sócrates. Ou seja, Sócrates tem vantagem em que se descubra a verdade e se anule a mais pequena dúvida. De resto, é também bizarro que Sócrates, naquela fase da sua vida política, já madura, se deixasse comprometer numa mixórdia de manhas académicas. Seria preciso estar falho de inteligência.

    Dito isto, e obviamente, sei bem que tudo é possível. Incluindo os mais imbecis disparates.

  34. A Manuela Ferreira Leite dizia, numa entrevista para a televisão (não me lembro qual canal), que não era aconselhável tornar pública a consulta do IRS (ou a situação financeira) de cada cidadão. Porquê? Porque temos um histórico pidesco. Rapidamente podemos degenerar a acusar o vizinho do lado por simples inveja.

    Conheço inúmeros casos de pessoas que fizeram os seus cursos sem irem às aulas, a copiar e, sobretudo, sem interesse algum por aquilo que “estariam” a aprender e do qual se “viriam” a licenciar. Porque ir à faculdade não é só o acto de lá ir, marcar presença. Mas, dessa mentira muitos calam… e enquanto não forem apanhados, prevalece o título. O dito canudo.

    Nada tenho contra a verdade que possa advir da investigação do título de Sócrates apenas me chateia que o interesse maior seja esse. Ser ou não ser engenheiro… não seria melhor ser ou não ser bom PM? É que ele não está lá para ou por ser engenheiro.

  35. sininho

    A questão não remete tanto, sequer principalmente, para a “qualidade” ou “regularidade” da licenciatura, embora nesses aspectos se constitua o caso. O problema de fundo é o ético, aquele que pode acabar com a carreira política de Sócrates.

  36. se o problema de fundo é um problema ético, será preferível que se conheça a integridade do nosso PM, pelo que a coisa ter vindo a lume e estar a ser investigada só pode ser bom. do oportunismo político e eventual avalanche de casos em todas as trincheiras: é habitual, mas, igualmente, sempre gratificante vermos um feitiço virar-se contra o feiticeiro.

  37. Não é a questão ética que move os inquisidores.
    Não ficaria admirada que se provasse a autenticidade da licenciatura em Engenharia do Sócrates mas que, eticamente, ele não esteja confortável com a sua licenciatura.

  38. Nâo é preciso fazer apresentaçôes todos os conhecem,todos os dois.Nâo dà nàda bater em férro frio,jà exprimentaram em varios lados do planeta por varios meios mas continua na mesma!Ele chama-se Paulo Wolwfowitz,é director do banco Mundial e grande amigo de Bush,por interésses claro:o Financial Times foi um dos primeiros adeclarar publicamente que nâo éra o tipo cérto para esse lugar,o Bush decidiu que ele ficava. .Mesmo que o Alberto Jardim nâo quizesse ele fica!A moral da historia,as Brazileiras ainda nâo perderam o seu Fair Play.Ele fica disse deus bush,o papa vai ao Brazil tranquilizar os Brazucas da finança

  39. Está tudo em banho Maria mas, estou certo, o inimigo Público ainda fará ressuscitar a questão. É que a questão é… a dor de corno de quem manda no Público. Esperemos para ver

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