A culpa do Mello

livro_409.jpg

Quando o major Vítor Pinto vê passar na rua uma criança descalça, fica com raiva ao senhor Jorge de Mello porque acha que é por culpa dele que há crianças descalças na rua. Esta característica, substância de uma maneira de ser da esquerda em Portugal, entremeia com uma segunda característica, substância de outra maneira de também o ser. Quando o major Vítor Pinto vê passar na rua o próprio senhor Jorge de Mello dentro de um BMW novo em folha, torna a ficar-lhe com raiva porque acha que é por culpa dele que os majores divorciados não podem aspirar a mais que Escorts em segunda mão.

A. B. Kotter (José Cutileiro), «Bilhetes de Colares», Semanário, 10 de Dezembro de 1983

Quanto se sabe, o «major» é figura ficcionada. De resto, a citação nada tem a ver com o livro acima, que está aí à míngua de fotografias do empresário.

3 thoughts on “A culpa do Mello”

  1. FV
    O mundo, já de si, anda de máscara, por causa dos múltiplos venenos. E o citado Bilhete de Colares já me está fora de alcance.
    É por isso que a escassez do seu post me deixa perplexidades.
    Entende-se que coisa representa a criancinha descalça. E também, facilmente, o sr. Jorge de Mello. Mas o sr. major Vitor Pinto, que é divorciado e central na questão, é quem, e a que vem? A representar características da esquerda? A compaixão e a inveja? A que propósito?
    O que é que nos esconde o seu veneno, a que chamou a culpa?

  2. Jorge,

    Admito que haja veneno no texto original, e que a mensagem (a insinuação…) seja que, na Esquerda, os gajos nunca estarão contentes.

    E admito, também, que há um meio-veneno na adução do texto, aqui, e que a mensagem (a insinuação, tá bem) seja que há uma Esquerda Menor, mas talvez maioritária, a do protesto, a do pequeno descontentamento. Uma Esquerda com que pouco se constrói. E em termos de futuro, nicles.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *