O Senhor Professor Paulo Otero justifica todos os esforços

Não tenho escrito. Não posso. Se durante a campanha eleitoral não há um minuto livre, após um assalto violentíssimo à minha residência que resultou no furto de tudo o que tenho de valor – a começar pelo computador – e na destruição porque sim de muita coisa, é-me impossível escrever. Repito que não tenho computador e, como é fácil de imaginar, ando há dias e dias perdida na burocracia pós-furto.

Feita a introdução, devo dizer que tenho acompanhado há tempos a coragem de assistentes, de professores, de alunos e de funcionáros que fizeram o que devia ser um acto normal: apresentaram uma lista à Assembleia da Faculdade da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL)  (conhecida por “Clássica”). A lista foi a votos e ganhou e – imagine-se (!!!) – tinha e tem ideias que passam pela democratização da Faculdade.

Tudo isto seria normal, se não existisse de facto, naquela casa, e isto deve ser denunciado, um clima de intimidação, por parte dos Exmos. Senhores Professores avessos a votações e dados a decretarem. Tudo isto seria normal se naquela casa todas as ilegalidades que testemunhei não acabassem em nada, num “apagão” jeitoso difícil de impugnar.

Dei onze anos de ensino em tantas salas cheias de alunos que eram a minha vida, fiz lá a minha tese de mestrado e toda a gente sabe que desde o dia em que publiquei o livro com um parecer técnico sobre o CPMS a minha vida foi-se transformando num inferno. É bom ser-se mestre promissora com 18 valores até ao dia em que gente como Paulo Otero “detecta” que a tal da mestre que já tem o doutoramento aprovado e tudo defende “pecadores”.

Mas hoje não vou contar a minha história, nem a forma “totalmente livre” como rescindi o contrato com a FDUL; hoje quero comovidamente saudar os meus para sempre colegas, que têm teses para discutir, contratos para renovar, concursos por fazer e que disseram “basta” arregaçando as mangas e fazendo uma loucura: propostas.

Um desses meus colegas já fez o doutoramento e tem pela frente vários graus na carreira. É uma ameaça para o sistema de comadres da FDL.

O que fez Paulo Otero?

O mesmo que havia feito com o CPMS.

Usou os alunos, ignorou a sua função pedagógica, e elaborou um teste de direito administrativo no qual todas as datas e acontecimentos “coincidem”  com a carreira daqueloutro professor.

Um teste provocador e ameaçador.

A  tal da Assembleia da Faculdade aprovou uma resolução condenando a situação e, na expressão “mais uma vez”, vai a ligação ao que se passou com o CPMS.

O que fez o Conselho Científico?

Nada.

Eu tenho o material todo em papel, mas felizmente o mundo de Paulo Otero, bem como a cumplicidade silenciosa de outros, está aqui.

Senhor Professor, espero que tenha aprendido de uma vez por todas, porque mesmo que haja Professores famosos, semanalmente famosos, que votam contra a resolução, a maioria aprovou-a, e desta vez a sua instrumentalização do ensino para guerras pessoais veio ao de cima como nunca.

Aprenda: há quem não tenha medo de si, sejam quais forem as consequências.

E faça-me um favor: se eu acabar o meu doutoramento, esteja no júri.

16 thoughts on “O Senhor Professor Paulo Otero justifica todos os esforços”

  1. fui ao psicolaranja ver a historia deste senhor,

    ignorava poder existir tal tipo de ivertebrados no mundo de hoje da academia

    Força Isabel, faça mesmo o seu doutoramento, “destrua” este verme doutorado…

    abraço

  2. ele já chegou ao top. não é só doutorado. os doutorados que não concordam com ele são formigas, tal como os mestres, os alunos, quem quer que seja. ele não sabe que no debate de ideias somos todos iguais. de resto, a AR que aprovou a resolução – por favor leiam-integra docentes, alunos e funcinários. é a chata da democracia.

  3. Se algum dia fizer um mesa redonda de casos bicudos da academia, darei o meu contributo com todo o gosto. Não imagina como entendo o que diz “… e toda a gente sabe que desde o dia … a minha vida foi-se transformando num inferno”. Brava Isabel, na denúncia destas aberrações.

    Lamento muito o assalto.

  4. Que bom existir a internet, quanto mais não seja para tomarmos conhecimento da existência destas criaturas de carácter inqualificável!

  5. (espero que o “violentíssimo” tenha sido apenas aos bens materiais – antes isso do que ficar estendida ao comprido)

    A academia (qualquer uma) está cheia de exemplos desses. Um dos professores mais brilhantes e fascinantes que eu tive durante o tempo em que fingi que andava a tirar um curso superior, foi capaz de mentir deliberadamente sobre o conteúdo abrangido por um exame – quando interrogado, no próprio dia, disse mesmo “menti”. De caras.

  6. pois é Isabel, eu também tenho uma história parecida às costas, chama-se um despedimento tempestivo, ilegal e inconstitucional pelo que me disseram, e aguardo há 6 anos por uma resposta do tribunal que, pelo que sei, não existe, sobre uma questão aparentemente muito simples. Lutar contra interesses poderosos instalados tem custos pessoais muito elevados, mas pode ser que tenha a graça da proteção dos deuses (ao abrigo do novo acordo ortográfico). No meu caso o meu amor pela Natureza foi letal, mas que se lixe, esse foi o meu primeiro amor de menino e será o último.

  7. Sobre a FDL, que no fundo é personagem desta estória e de outras mencionadas no texto, o que achar de uma escola cuja larga (enorme) maioria de docentes tem pressuposto um trilho naquela «escola», licenciatura, mestrado e doutoramento (em regra sem hiatos, pois esses deixam de ser da «casa»).
    Não é caso único, mas não deixa de constituir a base do problema, e aí partilham um mesmo ideário «diferentes» listas.

  8. Eu andei na FDL naquela altura em que, como diz o Prof. Marcelo, só se atribuía nota superior a 14 (2 anos antes do António Costa) se, no dizer de alguns como o Paulo Otero, o aluno fosse “ariano”. Ou seja de direita.
    Eram muito poucas as excepções! Lembro-me de fazerem “orais” á Bebé Beleza á porta fechada e depois davam-lhe 16. Foi meu colega de turma o namorado de uma prof. que também fazia orais ás escondidas etc.
    Lembro-me de alguns colegas meteram cunhas ao Charneca para serem lançadas notas estranhas na pauta, etc. e e tal.
    Lembro-me de ter que recusar notas de monitores que tinham medo que lhes tirassem o lugar e coisas assim.
    Embora convidado por um professor para ficar na sua equipa de monitores recusei com alguma mágoa, porque precisava ganhar a vida e, porque, sinceramente, o ambiente académico não me agradava. E, como não era “filho de algo”, senti que não tinha condições para progredir. Esta é a FDL que conheço, e da qual a Isabel fala com mágoa, mas que, provavelmente, nunca conheceu no seu pior. A única coisa que estranho é que sendo a Isabel filha de quem é, mesmo assim, tenha razões de queixa! Fará os outros!

  9. Uma coisa é certa: o 25 de Abril ainda não chegou à FDL.
    Este estado de coisas, esta incompetência recorrentemente protegida por uma corporação quase mafiosa sempre foi assim, e assim continua e continuará.

    A tudo isto acrescem curricula absolutamente desligados da prática elaborados por dinossauros que não sabem nem sonham o que se passa no mundo fora das paredes da Faculdade.

    Mais: nunca ninguém disse àqueles professores que “varrer” uma turma inteira a notas entre o 3 e o 7 não significa que o professor é bom. Pelo contrário, significa que é incompetente, pois não conseguiu transmitir aos alunos aquilo que lhes devia ensinar e que é pago para fazer.

    Talvez esta votação, que não deixa de ser uma afronta ao Paulo Otero, signifique que finalmente alguma coisa começou a mudar.

    Parabéns, Isabel: uma vez mais és uma lufada de ar fresco nesta modorra que não há meio de mudar!

  10. Este Senhor, de seu nome Paulo Otero, devia ter vergonha pois atitudes como estas não só descridibilizam a profissão que exerce, como ainda, e em última análise, envergonham a própria condição humana.
    Permite-se e, pior permitem-lhe, usar em prol dos seus ideais fundamentalistas perigosos e obsoletos o uso do ensino e a nobre instituição que é a FDL onde tive orgulho de me licenciar, para usar e expandir a sua natureza ressabiada e alimentar guerras e ódios pessoais. Mas não é difícil perceber: teme quem brilha e não aguenta ver que há mais mundo para além do seu.
    Coitado do pobre homem, ainda vive no antigo regime e julga que a ditadura é a melhor forma de exercício do poder.
    Devia ser posto na ordem e impedido de exercer a sua profissão.
    A criatura é, de facto, ridícula, mesquinha e digna de dó.
    Ó “Professor”, use antes a chibata para se autoflagelar. Talvez, assim, Deus lhe perdoe e se possa redimir dos seus pecados… Olhe-se ao espelho!!! É isto que lhe ensinam na Obra?!

  11. Cara Isabel Moreira,
    lamento em primeiro lugar a violência de que foi vítima e espero que só tenham sido bens materiais os afetados pois os outros são impossíveis de substituir, resta-nos a mágoa da recordação.
    Quanto ao Otero professor, embora não me sinta admirado por existirem ainda coisas desse jaez que dizem ministrar ensinamentos, mostra à saciedade quão verde é ainda a nossa democracia e como os corporativismos não foram maculados pela revolucão do século passado.
    Louvo-lhe a coragem e sinto-me feliz por poder comentar o que escrevi.
    A liberdade que me concederam foi, para além da vida e do amor, o bem mais duradouro que recebi, e veio-me principalmente do ambiente familiar – veio-me através do leite materno e das palestras do meu falecido pai e de um tio que na época era para mim um herói, pois lia o República e teve a coragem de sózinho ter arrostado com o todo-poderoso ministério das Corporações que se vergou à sua simplicidade, passando pela que me foi transmitida por alguns professores e alguns clérigos que não se importavam de enfrentar o regime da altura.
    Infelizmente, o compadrio, a clubite partidária e o medo de ver a carreira estraçalhada sem dó nem piedade permite a que estas mesquinhas personagens se movam com o à-vontade que há muito lhes deveria permitido mas fora das instituições oficiais.
    O ensino deve ensinar não apenas a bíblia mas também as outras religiões, mas não pode usar qualquer delas para os seus fins particulares e perversos.
    Esperemos que o exemplo da Isabel frutifique e que tenha êxito, pois o meu neto agradece.

  12. Ola !

    Não li tudo.

    Abandonar a carreira académica sempre foi uma decisão sensata em todas as latitudes. Hoje, acresce que, salvo rarissimas excepções, é também a unica decisão compativel com o respeito pelo que devia ser a instituiçãouniversitaria e com a fé na liberdade de pensamento e no valor do saber.

    Vai ver que não se vai dar mal…

  13. Isabel Moreira, é claro que vai fazer o seu doutoramento e de forma brilhante e convincente. Estou estupefacto com o “sentido de humor” do Paulo Otero, personagem que conheci no final dos anos 80 na FDL e que todos sabíamos ser adepto de uma certa Obra, mais papista que o Papa…
    Opus Dei, Opus Gay- é-me indiferente, desde que as pessoas não se sirvam dos cargos e das funções para proselitismos e perseguições.
    Infelizmente, a história da FDL está recheada destes episódios, de Ana Prata a Saldanha Sanches, e quando se pensava que a lei da vida ia afastando os excelentíssimos dinossauros ( Manos Albuquerques, O.Ascensão etc ) logo surgem novos espécimes dispostos a prosseguirem a lenda negra da FDL.

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