O murro no estômago que a política tantas vezes é, esse murro de ser nítido no ator político a hierarquia dos seus valores encimada pela respetiva salvação eleitoral, ficando o país, e as pessoas que nele vivem, reduzidos a retórica.
Há pessoas com mais jeito do que outras. A comunicação de Paulo Portas foi extraordinária na sua articulação, no dar às pessoas a esquecida “explicação das coisas”, no posicionamento o mais próximo possível de quem já não aguenta os efeitos da austeridade, poupando o Governo e colocando a odiada Troica ao nível dos “eles”, do embaraço nacional, puxando a soberania da nação como justificação para um repudiado segundo resgate.
Um discurso límpido, uma adesão ao novo pacote de austeridade, mas, de repente, ao fim de dois anos, “um limite ético”: o CDS não quer ver um “sobressalto grisalho”; o CDS (Partido dos pensionistas e do contribuinte) diz que afirmou, junto de um PM que “percebeu”, que de todas as medidas do novo pacote de austeridade, os democratas-cristãos, que até sabem que os velhos são há muito uma nova segurança social nacional, não admitem mais uma contribuição extraordinária sobre os reformados e pensionistas. Não! Os democratas-cristãos têm um limite ético, perdão, têm esse limite ético.
Acabado de ouvir o reduzido a “mais um Ministro de Estado”, poderia parecer que naquele momento nascera uma esperança. Mas é desesperança.
O CDS é responsável, tal como o PSD, pelo sofrimento a que política, para além da austeridade pedida, inutilmente vetou milhões de pessoas.
O CDS é responsável por uma política que falhou em todos os seus objetivos: passados dois anos de coligação, passados dois anos de medidas aprovadas a duas mãos no conselho de ministros, o desemprego é histórico, o défice disparou, a dívida aumenta todos os dias, temos decrescimento económico, falências diárias, novos pobres, fome infantil.
Limite ético? Então, mesmo só falando em gente “grisalha”, onde estava o CDS quando por lei orçamental roubaram duas pensões/reformas aos pensionistas e reformados, tidos por milionários a partir de 601 Euros mensais? Não saberá Portas que logo ali deu-se a quebra de todos os princípios que proclamou na sua declaração? Não se matou, logo ali, a tal confiança no Estado que queremos de bem? E valeu de alguma coisa? Não, mesmo com essas receitas declaradas inconstitucionais a execução do OE de 2012 foi o que se sabe.
Depois de o TC ter aludido à igualdade proporcional em 2012, onde estava o limite ético do CDS quando no OE de 2013 roubaram uma pensão/reforma aos tais dos “grisalhos” e instituíram uma contribuição extraordinária de solidariedade? Tudo isto a somar à maior subida de impostos (revelada inútil) que conhecemos.
Sim, CDS, os reformados e os pensionistas andam com a corda na garganta com o vosso apoio que comovidamente recua quanto a um limite que Portas não pode ultrapassar: a TSU dos reformados. Portas aguenta que se roube o dinheiro alheio a partir de 601 Euros, mas descobriu, “de bem consigo”, um limite.
Portas quer que o Estado corte no próprio Estado. O que significa isso? Portas não sabe que não temos, de acordo com todos os estudos, funcionários públicos a mais? Portas vive bem com um apagão de 30 mil seres humanos após um falso “mútuo acordo” ou mobilidade especial, finda a qual não há destino?
Não sabe Portas que os cortes previstos para cada Ministério não vão atingir sabonetes, mas a essência da segurança social, da saúde e da educação? Talvez aqui desapareça o CDS democrata-cristão e apareça o CDS liberal, do mérito, do desmantelamento do Estado, essa coisa que também é, nos seus serviços, rendimento familiar e pessoal.
Não sabe Portas que este pacote significa mais recessão?
Sabe. Mas Portas vive o dilema de muitos políticos e, pensando no seu eleitorado, clama, como se não houvesse responsabilidade para trás, pelos “grisalhos”, por acaso já de cabelos brancos.
Eis o limite (combinado com o PM). Limitadíssimo.
Equívocos e nevoeiro: o “CDS democrata-cristão” desapareceu há tanto, mas tanto tempo, que já ninguém compreende de que se está aqui a falar.
Misturar os qualificativos “liberal” com “mérito” e “desmantelamento do Estado”, tudo à molhada, só aumenta a confusão das pobres almas já sem Norte.
Sim, o CDS e Paulo Portas são de um cinismo insuportável e de um oportunismo insuperável, como sempre (qual é o espanto?), mas fugir à discussão de que em Portugal as reformas de certos ex-Funcionários Públicos atingiram valores incomportáveis e disparatados, desde o laxismo cavaquista neste aspecto e mesmo quando comparados com os Países mais desenvolvidos do Euro – Alemanha incluída – é uma outra forma de oportunismo, de “boa consciência”, e mais uma forma de fugir ao debate do essencial.
Cara Deputada Isabel Moreira, qual é a sua escolha: manter as Reformas dos Funcionários Públicos (as mais altas, claro) em níveis estratosféricos e os filhos e os netos a serem sustentados por eles, ou a terem de emigrar? É isso?
Se é isso, diga-o claramente, para sabermos que a alternativa à Direita cínica e insensível é a Esquerda irresponsável e demagógica. Que só pode ter como resultado o regresso ao passadismo da Direita!
Ou os seis anos de Guterres não chegam para o demonstrar?
Caro Conde de direita, ou será Marquês de extrema-direita disfarçado?
Diga a Excelência quantas reformas estratosféricas há neste pobre país, e que valor têm, individualmente e no seu conjunto.
Para que conste: sou médico, funcionário público aposentado, trabalhei 42 horas por semana em exclusividade, leu bem 42 horas por semana, nos últimos 15 anos, nos outros anos trabalhei 36 horas com disponibilidade permanente (o que é isto? é ser chamado ao serviço a qualquer hora do dia e da noite, qualquer dia, domingos e feriados incluídos), – calões estes fuincionários públicos -, atingi o topo de carreira e reformei-me com o tempo de serviço completo.
Fiz toda a minha formação pós-graduada exclusivamente por minha conta e estudava em casa, depois do serviço.
Onde apliquei o meu investimento profissional pessoal?
Trabalhando para o Estado e não estou arrependido.
Fiz todos os descontos determinados pela lei (CGA, ADSE, etc.).
Recebo “limpos”, pouco mais de 2.000 €, leu bem, pouco mais de 2.000 €!
É isto estratosférico?
Um servo seu (o tanas!).
Não há «um programa, dois governos». Há um único programa de governo que, por sinal, não foi sufragado. Um programa cuidadosamente escondido do povo português naquele tão distante ano de 2011. E quem diria que já passaram dois anos?
Há um governo que executa um único programa; e enquanto o CDS suportar este governo com os votos dos seus deputados, o CDS é co-responsável.
Para apimentar isto, aqui vai o conto da quadrilha coelho, gasparster e paulinho.
(Qualquer semelhança entre esta narrativa e a realidade é pura coincidência)
Havia uma quadrilha que havia sido contratada por usurários estrangeiros para saquear, à mão armada, um pequeno reino à beira mar plantado. Após quatro anos de roubos, que semearam morte e destruição, a quadrilha foi finalmente presa e levada à presença do juíz do reino; um juíz muito barbudo e façanhudo, que era pacato mas quando se zangava a sério fazia um manguito aos arguídos e aplicava-lhes penas pesadíssimas.
O paulinho, aflito porque o juíz dava mostras de grande irritação quando ouvia a descrição dos actos criminosos da quadrilha, levantou-se e disse:
— Sr. juíz, tenha piedade de mim! Eu era um tipo simpático; não matei ninguém; não era eu que disparava as armas, sr. juíz, eu só carregava as armas e as munições, quem as disparava era o coelho e o gasparster. E eu avisei sempre o coelho, e isto foi antes de o morteiro TSU ter saído desgovernado e ter esbardalhado o coelho, pobrezinho, no estado em que ficou já nem para alancar munições servia. Depois o gasparster passou a mandar sozinho no gang, e eu repetia ao gasparster para evitar metralhar os velhinhos. Eu avisava-o, sr. juíz. Só que o gasparster entusiasmava-se, achava bonito ver tanto sangue a escorrer, tanta gente a gritar, por isso não foi por minha culpa que o gasparster matou tanto velhinho. Ele é o assassino, sr. juíz. Eu só alombava com as armas e as balas (e depois do coelho se ter esbardalhado, sr. juíz, tenha piedade de mim, vª exª nem sabe o quanto esse trabalho me custou, em dores lombares…). Também sou uma vítima, sr. juíz, por isso compreendo bem o sofrimento dos coitadinhos dos velhinhos que foram para o jardim das tabuletas antes do tempo… EU NÃO TENHO CULPA NENHUMA!!!
Moral da história: o mínimo que se pode exigir de Paulo Portas é que, das duas uma: ou sai, ou se fica que não seja cobarde e assuma, como Gaspar, a «beleza» do que anda a fazer.
Excelente, Isabel.
Caro servo (o tanas!),
não há aqui disfarces, nem pode haver qualquer dúvida: o seu caso (que, pode ficar a sabê-lo, não será muito distante do meu) NÃO é óbviamente o exemplo de uma pensão estratosférica. Longe disso, até…
Mas é claro que, à falta de uma discussão séria e fundamentada sobre este assunto, os mal-entendidos só podem suceder-se.
Como sabe, os pensionistas da C. G. A. (ex-Funcionários Públicos) são um universo muito heterogéneo e diversificado, pelo que logo à partida não são aconselháveis generalizações.
Se assim fui entendido, penitencio-me desde já e esclareço que, ao falar em níveis estratosféricos, estou a englobar situações bem conhecidas como as de Educadoras de Infância e Professores, viúvas de militares de alta patente, magistrados e outros casos mais escandalosos, como ex-dirigentes da Administração Pública.
Já para não falar dos ex-detentores de cargos políticos e gestores públicos.
E remato: por nunca se querer ter discutido os excessos e as clamorosas injustiças, é que agora servidores do Estado de MÉRITO, como o caro Dr., e tantos outros bons e dedicados profissionais (mesmo não sendo Técnicos Superiores) sofrem a crueldade de terminar as suas vidas com remunerações inferiores ao que merecem.
Mas a malta gira prefere assobiar para o lado e descartar-se com um boçal “Excelente, Isabel”…
E para estes nem uma palavrinha? Nem Presidente, nem Passos, nem Portas…
“O número de desempregados em Portugal continuou a subir a um ritmo elevado durante os primeiros três meses do ano.
De acordo com os dados publicados nesta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de desemprego passou de 16,9% no final de 2012 para 17,7% no primeiro trimestre deste ano, um novo máximo histórico em Portugal. A taxa de desemprego é agora 2,8 pontos percentuais mais alta do que em igual período do ano anterior.
Feitas as contas e usando o critério oficial do INE, existem 952.200 desempregados em Portugal. Este critério não considera, por exemplo, as pessoas que, apesar de não terem emprego e de estarem interessadas em ter um, declararam ao INE não ter procurado emprego durante os últimos 30 dias. Se fossem consideradas essas pessoas, o número de desempregados já ultrapassaria o milhão de pessoas.”
Desenvolvimento aqui:
http://www.publico.pt/economia/noticia/taxa-de-desemprego-sobe-para-177-1593850
Caro «Conde de Oeiras e Marquês de Pombal», vai por aí grande sofisma, ou grande deficiência cognitiva, ou ambas as coisas ao mesmo tempo… Acha que não há como pagar serviços públicos e segurança social. Diga pois ao povo o que o espera quando os serviços públicos forem parcialmente extintos ou financiados por «portagens», como nas SCUTS. Eu dou uma ajuda: pagar mais de 6000€/ano, em qualquer grau de ensino. É melhor começarem a explicar isso bem explicadinho, particularmente a quem ganha menos de 500€/mês. Explique que, depois disso, certas profissões vão passar a ser acessíveis apenas a uma elite e que os salários correspondentes serão exorbitantes para as condições económicas do país.
Quanto às reformas, onde está a justiça em saquear o fundo de pensões que sempre foi sustentável (pelo menos antes de Gaspar), e para o qual contribuiram os actuais reformados, por anos a fio. E não deixe de explicar, também, que tal saque aos actuais reformados se destina a pagar juros de usura aos nossos credores. Diga igualmente ao Zé Tuga que os nossos credores acreditam no «darwinismo social»: acreditam que vivemos num mundo de predadores e de presas, e que o predador tem direito a tomar posse dos bens da presa simplesmente porque é o mais forte.
Quando diz «não há dinheiro», deveria antes dizer «não há economia». Quem teve a culpa da integração europeia feita de forma desastrada? Cavaco Silva, não é verdade? E a seguir, em vez de se corrigir o rumo, não se continuou a lavrar no erro? Permitiu-se que o erro cobrasse juros, tendo-se assim desgraçado a economia e as finanças do país.
Convém corrigir o erro.
Caro joaopft,
só para lhe garantir que assumo totalmente as minhas deficiências cognitivas (de que V.ª Ex.ª será um excelente avaliador), mas não o “grande sofisma”.
Para não nos perdermos por atalhos lamacentos, misturando tudo e nada no mesmo comentário, e nos atermos ao fulcro do que estava a discutir aqui com outro comentador, recordo-lhe que apenas me manifestei pela necessidade de se discutir, em moldes realistas, o complexo sistema remuneratório dos pensionistas do Estado herdado do facilitismo pretérito (em especial dos tempos idos do cavaquismo e do guterrismo), não dei acordo nenhum ao esbulho perpetrado – inconstitucionalmente, aliás, – por este “guverno”, que abomino, nem muito menos sugeri que essa discussão deva ter efeitos retroactivos, note bem.
Apenas me parece inevitável reduzir em certa medida os níveis das atuais pensões, de uma forma evidentemente proporcional e ponderada, se quisermos ter por onde defender quer os serviços públicos que conseguimos já criar, quer as oportunidades dos mais novos.
Claro que tudo isto pressupõe um pacto nacional, inter-Partidos, inter-geracional, sobre esta matéria delicada, que não vejo ninguém a tratar com o cuidado e a seriedade que merece, pelo menos desde que Vieira da Silva saíu de Ministro.
E é claro que todas as alterações a definir (e contra o meu próprio Futuro falo…) deverão ter efeitos para os próximos Reformados, não para aqueles que aceitaram o jogo com as regras que tinha e que, agora, vêem ser torpedeadas. Isso é imoral e infame.
Mas como tenho dois putos menores, também não me satisfaz a ideia de que o seu Futuro depende de eu os poder ajudar com a minha reforma, num ambiente de desprezo total do Estado por tudo quanto é Juventude, que também me indigna e preocupa.
Prefiro viver com menos, mas ver o Futuro dos meus filhos mais risonho. Atualmente, nem uma coisa, nem outra.
sr .conde.v.exa.argumenta como a troika.se não houvesse tambem guterres as mulheres em portugal ainda andavam como no tempo de salazar, com um chinelo no pé e o outro no avental,para utilizar quando viesse o policia e quando o outro já estivesse gasto.é esta realidade que os fdp da troika ainda não entenderam. a nossa situaçao de partida para entrar na ue,estava a milhas de distancia dos outros paises na altura em que fizeram, e como tal havia que recuperar de uma forma afirmativa o nosso atraso.porque será que 4 paises que estão em dificuldade vieram de ditaduras? a alemanha não tem memoria,e como tal esquece,a forma como foi apoiada depois de guerras provocadas por si!
estimado «Conde de Oeiras e Marquês de Pombal», o seu discurso pareceu-me demasiado bem articulado para alguém com dificuldades cognitivas; mas, como o seu argumentário sobre pensões me foi incompreensível e, quiçá, eivado de absurdo, desconfiei (e, ao ler a sua resposta, mais ainda desconfio agora) que brinca connosco; como um gato faz, a uma presa que não vai comer. Brinca connosco com sofística. Convirá aqui fazer-me um desconto, pois também eu fiquei fortemente afectado pela febre «grândola, vila morena», após ter levado nas fuças com todos os projécteis do coelho (menos o que saiu desgovernado, graças a Deus). Mas, adiante…
Explico então por que o seu raciocínio me é incompreensível. O actual sistema de pensões está rigorosamente indexado tanto aos salários auferidos durante toda a carreira contributiva do pensionista, como ao número de anos que (estatisticamente) o beneficiário irá receber a pensão. Terá que me explicar o que é que há para rever, aí. A mim me parece que a fórmula é tão perfeita quanto o pode ser uma fórmula. O único problema remanescente é que o Estado não paga TSU ao fundo de pensões dos FP, que é a CGA (isto não é rigorosamente verdade, pois os organismos com gestão financeira autónoma (p. ex., as universidades) pagam uma contribuição tipo TSU à CGA).
Não necessita de ter medo pelos seus filhos, pois o actual declínio dos salários vai-se reflectir, na mesma medida, na despesa total com as pensões futuras. Pode mesmo acontecer que se o país se converter na gasparlândia, caso em que levará pr’aí uns vinte «belos» anitos a voltar ao crescimento vigoroso, possamos vir a ter o problema oposto. Isto é, teremos então uma população de pensionistas com rendimentos demasiado baixos para o nível de vida do país; nessa altura, o estimado conde irá precisar da caridade dos seus filhos para poder viver condignamente, e não o contrário. A não ser que, durante esse percurso cuja «beleza» Gaspar tanto almeja, possa beneficiar de rendimentos de capital, daqueles que o povo e as ex-classes médias da gasparlândia nunca porão as mãos em cima.
As dificuldades actuais da segurança social são meramente conjunturais, não são sistémicas. Essas dificuldades prendem-se com o aumento do desemprego. Isso já foi explicado vezes sem conta, não vou repetir.
Não acredito , nem um pintelho, no que Portas disse…. Deu uma explicação, marcou uma linha, mas quando chegar a altura, vai roer a corda e desculpar-se com a crise e o dever patriótico de a evitar…. Isto está tudo combinado… Limpinho, limpinho, limpinho!
Perfeitamente de acordo, mas pior he a vontade de Francisco Assis abraçar Portas tal como he expressada hoje no Publico.
apres on parle sobre em que he que ficamos.
O conde menciona “estou a englobar situações bem conhecidas como as de Educadoras de Infância e Professores, viúvas de militares de alta patente, magistrados e outros casos mais escandalosos, como ex-dirigentes da Administração Pública.
Já para não falar dos ex-detentores de cargos políticos e gestores públicos”
Alguns destes casos são sobejamente conhecidos por fugirem às fórmulas dos comuns normais. Porque há-de continuar a ser assim? Tou com o conde, alguém me explique porque se defende que de futuro se mantenham estas excepções. Conde, desconheço a situação das educadoras de infância e professores em regime de privilégio – sem ironia. Gostava que explicasse melhor.
joaopft e edie,
para não haver mal-entendidos, não vou aqui argumentar com nenhumas “explicações”, até porque não sou nenhum especialista nesta área (nem tenho rendimentos de capital, já agora…). Apenas recordo aqui duas pistas e depois sigam-nas, se assim entenderem:
1ª) a reforma estrutural do Ministro Vieira da Silva, no 1º Governo Sócrates, que foi no sentido daquilo que acho justo, que é o da sustentabilidade do sistema, e que corrigiu já muitas das “disfunções” corporativas herdadas dos períodos anteriores – algo que hoje, inevitávelmente, terá de ser aprofundado, mas com o mesmo equilíbrio, não a arrasar a eito como os atuais “guvernantes” pretendem;
2ª) a introdução do sistema de avaliação na Função Pública (embora ainda com muitas insuficiências, mas foi um princípio), sobretudo no tocante ao Ministério da Educação, e que por isso mesmo tantos dissabores causou a Maria de Lurdes Rodrigues.
Sintetizando: ninguém pode continuar a sustentar um sistema em que, por exemplo, qualquer Docente com capacidades medianas e desempenho sofrível na sua função chegue à Reforma no topo da carreira, como vinha sendo até há poucos anos (coisa que, aliás, nunca aconteceu em qualquer outra situação da Função Pública, note-se).
Em termos programáticos, por outro lado, defendo o princípio de que o caminho para o Progresso e o Desenvolvimento não é o da acumulação de vantagens corporativas à custa da robustez do Estado, fazendo de nós todos “ricos” pindéricos num Estado roto e miserável. Isto é o oposto da Alemanha e da Escandinávia, que encetaram outro rumo há cem anos e as diferenças estão à vista.
Por outro lado, parece-me que os recursos que hoje são usados pelos Pensionistas, já em estado de desespero, a suportar a falta de soluções e de horizontes das gerações dos seus descendentes deveria ser mais equilibrado, em favor de quem quer começar a sua vida, montar um negócio, encontrar colocação compatível com o que aprendeu, ou mesmo casar e ter filhos.
Não estou nada a ver o País a caminhar para uma situação em que os jovens possam sustentar os seus pais e avôs, vai-me desculpar o joaopft…
joaopft e edie,
(…)
Não estou nada a ver o País a caminhar para uma situação em que os jovens possam sustentar os seus pais e avôs, vai-me desculpar o joaopft…
Ah, claro, excepto se emigrarem! Mas isso é uma outra forma de violência, porventura pior ainda do que ser pobre, mas viver na sua terra…
Esclarecida e continuo de acordo.
conde: «Não estou nada a ver o País a caminhar para uma situação em que os jovens possam sustentar os seus pais e avôs, vai-me desculpar o joaopft…»
Daqui a uma geração (que foi o que eu disse) não está a ver que as reformas não vão valer nada?! Aconselho-o a analisar a evolução de países que já passaram por isto.
joaopft,
desculpa, mas não entendi, a que reformas te referes? Se a coisa é para ser indexada ao contributo, que seja uma regra para TODOS. Isso é que é a reforma. Este “diálogo” está a deixar de fazer sentido.Parece que há comentadores de esquerda que defendem que nem todos são iguais em direitos perante os deveres (contributos). Há coisas que não devem ser analisadas à luz de clubismos ideológico-partidários, mas sim à luz da ética e da justiça social. Estou disposta a desenvolver,se quiseres, joaopft. Mas deixo um pequeno lastro: se eu contribuí o mesmo que o outro, porque é que o outro recebe mais do que eu?
“… se eu contribuí o mesmo que o outro, porque é que o outro recebe mais do que eu?”
porque os professores são uma classe à parte, não há dinheiro que pague os imensos sacrifícios que fazem pelo país, ensino e filhos dos outros. tirando isso são uma cambada de hipócritas, correram com a lurdes, ajudaram na festa bota abaixo socras e agora assobiam fininho, não passou nada e continuam vítimas, mas agora em versão passiva, não vão ser escolhidos os mais activos para a mobilidade.
ignatz,
é que não são só os professores…olha as regras e regalias de reforma/pensão para o funcionalismmo público, todo ele, e compara com a pária…Reformam-se aos 50 e antes disso com ordenado por inteiro ou quase. E eu, pária, tenho de ir até aos 66, para ter o mesmo. Atão como fica a constituição da igualdade e equidade? Porque é que não se submete esta merda ao tribunal dos direitos constitucionais? Eu sei a resposta, mas não digo já.
edie,
As pensões no público e no privado foram harmonizadas para quem se refornou a partir de 2005; o próprio Passos Coelho reconheceu-o, hoje, no parlamento. Vão aplicar, isso sim, cortes retroactivos nas pensões antigas. O único objectivo disto é tapar o buraco de 4 mil milhões criado pela austeridade excessiva.
Entretanto, a OCDE vem dar uma palestra a Passos Coelho sobre “o aumento da produtividade, melhorias das qualificações e criação de emprego e o papel do Estado no suporte ao crescimento inclusivo”. Ou seja, para a OCDE o ensino é prioritário. A organização pretende que os cortes nos salários da função pública incidam essencialmente sobre os funcionários menos qualificados e que sejam acompanhados de um aumento do horário de trabalho…
Estas recomendações são algo parecidas com as do FMI. Afinal o Estado produz o que produz, e essa parte do Estado que faz coisas nunca foi para morrer. Só que a troika foi para a cama com a direita saudosista do nacional-analfabetismo… Como se poderia depois ganhar dinheiro num país com o ensino destroçado? Por isso estão em cima da mesa estes cortes brutais nas pensões e o despedimento dos que a informatização e a baixa taxa de natalidade tornaram dispensáveis. É um bombardeamento cirúrgico do Estado Social, destinado a não destruir o que tem algum valor para o ocupante.
ignatz,
A estratégia do sócrates para o professorado foi politicamente errada, pois atacou uma parte influente do próprio eleitorado do PS. Mas, enfim, aceitarei se disseres que sócrates estava pressionado pela OCDE, e que sempre tentou acomodar as exigências da OCDE com uma dignidade que a direita nunca teria. Só que a gestão democrática (autónoma) das escolas havia sido implementada na sequência do 25 de Abril, em reacção ao modelo autoritário do salazarismo. Na altura, a derrota dos professores criou grandes ressentimentos.
edie, não é assim para quem está no activo. A partir de 2005 houve harmonização das regras.
Nota: apenas as carreiras correspondentes a orgãos de soberania, justiça, forças de segurança e forças armadas têm regras diferentes.
esta luta pela igualdade de tratamento foi a minha luta durante anos.escrevi a socrates para dizer-lhe que era injusto este tratamento diferente entre publico e privado, que vai desde mais dias de ferias,serviço de saude (adse )privado,artigos, que permitiam faltar, e uma reforma maior mesmo descontando menos.o gabinete de socrates acusou sempre a recepçao o de passos coelho,nunca o fez. recordo-me de um artigo no correio de leitor de um jornal em que uma professora portuguesa na alemanha dizia: que tinham mais horas de trabalho,mais alunos por turma,e as reuniões de professores eram sempre depois do horario de trabalho.sair com a media dos melhores 10 anos dos ultimos 15,não é a mesma coisa do que sair com o ultimo salario 100% com reduçao suave de 2% ano durante 5 anos para chegar aos 90% .no privado para ter direito a 80% tinha que trabalhar 40 anos de serviço,no publico essa condiçao não existia.socrates mesmo em minoria tomou medidas nesse sentido,e por isso pagou caro.
“A estratégia do sócrates para o professorado foi politicamente errada, pois atacou uma parte influente do próprio eleitorado do PS.”
concordo, a estratégia política deveria ter sido isentar os socialistas das medidas tomadas, os outros aderiam logo ao partido e ganhavam a dois carrinhos, mais militantes e uma reforma que não se aplicaria, mas que serviria para mostrar o papel à ocde.
“Mas, enfim, aceitarei se disseres que sócrates estava pressionado pela OCDE, e que sempre tentou acomodar as exigências da OCDE com uma dignidade que a direita nunca teria.”
tamém concordo que foi a dignidade que tramou o socras
“Só que a gestão democrática (autónoma) das escolas havia sido implementada na sequência do 25 de Abril, em reacção ao modelo autoritário do salazarismo.”
na altura o nogueira diziam que eram 300 mil, agora queixa-se que a coisa baixou para 10 mil e que deixou de controlar os que não são comunas. pelos vistos eram todos psd e agora estão com o governo e são pela mobilidade.
“Na altura, a derrota dos professores criou grandes ressentimentos.”
e vai demorar muito tempo a passar, tu próprio atribuis a culpa do que se passou ao sócras e continuas a ignorar a realidade.
moral da história: não queriam trabalhar, nem serem avaliados, agora têm exactamente o que pediram. deixem-se de hipócrisias.
“é que não são só os professores…olha as regras e regalias de reforma/pensão para o funcionalismmo público, todo ele, e compara com a pária…Reformam-se aos 50 e antes disso com ordenado por inteiro ou quase. E eu, pária, tenho de ir até aos 66, para ter o mesmo. Atão como fica a constituição da igualdade e equidade? Porque é que não se submete esta merda ao tribunal dos direitos constitucionais? Eu sei a resposta, mas não digo já.”
claro que não, a tropa é bem pior, faz zero, custa bués e ninguém fala disso com medo de um golpe militar. tamém ando a ler um livro que tem respostas para isso tudo, mas agora estou mais focalizado em fazer puré de batata sem as ditas e estou prestes a concluir que a ideia só é rentável onde não houver batatas ou em ambientes esterilizados.
“carreiras correspondentes a orgãos de soberania”
assim como o governo e todos os seus ministérios, por exemplo? E isso não constitui centenas de milhar de excepções?
É que ainda o ano passado tive conhecimento directo de muitos casos (acho que no total foram dezenas de milhar) de reforma aos 49/50/51 anos, com 90% de reforma. Casos de funcionários de repartições de finanças, câmara municipal, tribunal, etc.
Continuo a perguntar: porque é que eu contribuo mais para ter menos e para que os que contribuem menos recebam mais?