“As certezas do brilhante amor”, por João Miguel Tavares

O recente debate sobre a co-adopção permitiu que nos confrontássemos com os nossos valores mais profundos: o que é uma família?, o que entendemos por “lei natural”?, qual o verdadeiro interesse superior da criança? São questões fundamentais, que merecem uma boa discussão. E por isso nesse debate eu estive – e estou – convictamente do lado da aprovação da lei, que me parece um caso elementar de direitos humanos, valorizando relações afectivas já existentes em detrimento de preconceitos antinatura.

Este não é o local certo para avançar com demorados argumentos filosóficos e políticos, mas é o sítio certo para reflectir sobre a perplexidade que sempre me acompanhou ao longo deste debate: ver os opositores da co-adopção por homossexuais defenderem, com absoluta certeza, que a família perfeita – a única, no seu entender, que assegura o crescimento equilibrado de uma criança – é aquela que replica a estrutura da família tradicional, sugerindo que tudo o que se afasta desse cânone é disfuncional ou, pelo menos, desaconselhável.

Como por esta altura o caro leitor já saberá, encontrar uma família mais tradicional do que a minha não é tarefa fácil. Eu não só sou um monogâmico praticante com quatro filhos, como namoro com a mesma mulher desde 1992, tinha eu uns ridículos 18 anos e ela nem isso. Mas o facto de me ter casado com a minha primeira namorada, e de até hoje me considerar muito feliz com essa decisão, não me faz andar por aí a pregar que esse é o único, nem necessariamente o melhor, caminho para a felicidade

O orgulho que sinto pela minha família, e a felicidade que, apesar de inúmeras confusões e frustrações, sinto no seio dela, dá-me para a gratidão – não para a imposição. Eu agradeço a todos os santinhos a imensa sorte que tive, mas não me passa pela cabeça achar que existe uma fórmula fechada para se construir uma família equilibrada ou que as certezas sobre o meu mais brilhante amor são facilmente extrapoláveis.

Nós vivemos ainda numa extraordinária ignorância sobre o funcionamento da nossa cabeça e sobre a matéria de que são feitos os nossos sentimentos. E por isso, tenho para mim que a atitude mais sábia é manter uma permanente modéstia e seguir o conselho de Santo Agostinho: “Ama e faz o que quiseres.” Este deveria ser o primeiro artigo de todas as leis da República. E esta é a única certeza que aqui deixo.

Ontem, na revista do CM

6 thoughts on ““As certezas do brilhante amor”, por João Miguel Tavares”

  1. Sempre pensei que este Totó Tavares tinha traumas de infância ou adolescência graves.
    Está confirmado, por ele próprio.
    Pela conversa parece correligionário do Morgado do CDS

    “O acto sexual é para ter filhos – diz ele”

    Já que o coito — diz Morgado —
    tem como fim cristalino,
    preciso e imaculado
    fazer menina ou menino;

    e cada vez que o varão
    sexual petisco manduca,
    temos na procriação
    prova de que houve truca-truca.

    Sendo pai de quatro rebentos,
    lógica é a conclusão
    de que o viril instrumento
    só usou — parca ração! —

    quatro vezes. E se a função
    faz o órgão — diz o ditado —
    consumadas essas exceções,
    ficou capado o Tavares.

    (Saudosa Natália Correia, adaptada)

  2. O Tavares é objectivamente um imbecil (não por este texto onde diz coisas acertadas) mas o Contumaz objectivamente não pode ter lido o texto, pois de contrário não diria o que diz.

    Releia mas é a prosa e explique lá devagarinho onde é que estar “convictamente do lado da aprovação da lei, que me parece um caso elementar de direitos humanos, valorizando relações afectivas já existentes em detrimento de preconceitos antinatura” atira o Tavares para o CDS-PP e para a peugada do Morgado.

    Se anda interessado em achar uma sucedânea cómica do antigo deputado do CDS, tem neste e noutros campos em maria teixeira alves, grande repórter do Diário Económico, um caso prolixo e inconsistente a merecer cuidada atenção.

  3. Caro nm
    Por amor de Deus (?) não me sugira que leia de novo o texto, pior só poderia ser sugerir-me que ouvisse os discursos do Farsola de Massamá.
    Evito, a todo o custo, ler os textos do rapaz. Li este pela curiosidade de vir transcrito no Aspirina B.
    Não foram as observações sobre a lei que me levaram a compará-lo com o Morgado.
    O rapaz enfatua-se muito por ser casado com uma médica e ter quatro filhos.
    É um brilhante amor, poderá não ser um amor brilhante, ele tem ar de encaroçado.
    Daí parecer-me que é correligionário do Morgado em certas opções de vida (acho que no CDS não).
    Vou procurar seguir a MTA do Diário Económico.

  4. Caro Contumaz, Tem razão, não se deve recomendar a ninguém que leia Tavares, mas ele aqui mostra-se favorável à co-adopção. De qualquer forma o amor é sempre bonito e não sei se Morgado amava.

    Quanto à MTA é um gozo lê-la também nos blogues onde actua e onde diz que não disse o que disse e que não escreveu o que escreveu. Uma pândega ao nível dos melhores osamas e evangélicos.

  5. os comentadores parecem não estar à altura do post. A Isabel anda tão desesperada que já recorre ao J.M. Tavares e ao CM para reforçar a sua posição, e leva como resposta esta falta de compreensão. É injusto. E logo ela que defende que as opiniões sobre o assunto deviam ser eliminadas ou reduzidas (???) em prol dos pareceres científicos e jurídicos…

    O que fica aqui escarrapachado é que se está borrifando se as opiniões são de imbecis ou não, desde que vão de encontro ao que ela própria pensa. Para hipocrisia fascisóide não está mal. Será que a senhora se dá conta da asneirada? Só posso ir pelo ignatz e achar que o produto tá marado. E o PS, mais ridículo.

    p.s. sou a favor da co-adopção, mas o fanattismo chateia-me.

  6. nm: «de qualquer forma o amor é sempre bonito».

    E bem verdade, nm!

    E onde ou quando a Ideia platónica de beleza e perfeição abre brechas, o amor cai, derrotado, em crise depressiva, amarga ou virulenta, que frutifica na forma de letargia profunda… É assim, este portugal em versão neoliberal.

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