EPC e a Blogosfera

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Eduardo Prado Coelho conseguiu escavar um pequeno mas notório nicho nos media tradicionais muito graças a questões de forma, não de substância. No “Público”, as suas colunas quase diárias usam um registo peculiar, onde referências à actualidade se cruzam com alguns morceaux choisis de cultura contemporânea num embrulho estilístico (algo devedor de Jean Baudrillard) semi-poético, semi-factual.
Olhem à vossa volta: não é esta uma boa definição da prosa que encontramos em muitos dos nossos blogues? E, suprema ofensa, tudo à borla, tudo desprovido da chancela do “grande autor”, tudo oferecido numa espécie de feira chunga onde nada é eterno nem merecedor de avenças. Hoje em dia, bastam uns cliques para se encontrar a mesma mescla de observação e reflexão, os mesmos ademanes floridos… ainda por cima com uma enorme variedade de autores e temas. Como é que o EPC poderia dar as boas-vindas a semelhante desgraça?
Esta reacção adversa à inopinada subalternização tem mais casos célebres: Sousa Tavares, com o seu estilo agressivo e de denúncia desabrida, encontra com facilidade dúzias de sósias por esta blogosfera afora; vai daí, trata de declarar tonitruante que a Internet lhe interessa “zero”. Vasco Pulido Valente é um exemplo antípoda: a sua prosa não é mera fancaria cromada, é mesmo the real deal, brilhante, bem recheada, inconfundível.
Em suma: a súbita ira de EPC não é o uivo do dinossauro que se adivinha a um passo da extinção. Muito pelo contrário: é a lamúria do mamífero que acorda um dia num mundo repleto de criaturas igualmente felpudas e adoráveis. Aí, ele sabe-se desvalorizado, banal, redundante.
Não, Fernando: julgo que nunca ele se arriscará a emigrar para a blogosfera. O pedestal faz-lhe falta demais.

4 thoughts on “EPC e a Blogosfera”

  1. peço desculpa pela pergunta inconveniente mas gostava de saber o que se passou com o EPC. estava habituado a vê-lo há já algum tempo na televisão, mas desde há uns tempos para cá parece não vejo a mesma pessoa. agora vejo uma pessoa à beira do autismo, que não diz as coisas da mesma maneira que dizia antigamente, com expressões faciais desconexas, com paragens e sorrisos no meio do discurso e que diz as coisas como se estivesse a arrancá-las de dentro dele tal é a força e o esforço que faz cada vez que abre a boca. isto apenas avaliando a forma, não o conteúdo. é que se antigamente conseguia ouvi-lo apesar de não me rever no que dizia, agora simplesmente não suporto sequer ouvi-lo mais do que algumas frases. terá tido algum problema de saúde? é que o envelhecimento não explica tudo.

  2. Precisamente porque me parece doente( e muito), também acho de bom tom que se dê um desconto e se desejem as melhoras ao homem, e que o escriba ressurja com a mesma verve para ser possível assestar-lhe umas bordoadas semânticas e em figuras de estilo.

  3. Eduardo Prado Coelho – é voz corrente – tem, efectivamente, um problema de saúde, genético, que já afectou o pai. Simplesmente, e porque o admiro, e porque ele na escrita não parece nada alquebrado, não vou começar por «dar desconto».

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