«O “terrorismo estocástico” é um termo cunhado no início deste século e define-se pelo uso de “linguagem hostil por indivíduos influentes que aumenta estatisticamente a probabilidade de violência sem apelos explícitos.” A cartilha de procedimentos é mais ou menos sempre a mesma. Primeiro, define-se um inimigo. Depois, desumaniza-se: já não se trata de pessoas, mas de pragas, cancros, invasores; wokes, marxistas culturais ou mesmo de sicários. Investe-se na retórica do nojo (politics of disgust); reduz-se o outro a coisa repulsiva, ilegítima, indesejável e perigosa para as sociedades, e que, portanto, é preciso combater.»
Todos os artigos de Valupi
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Dominguice
Charlie Kirk tinha uma iniciativa que começa por parecer um bom serviço à cultura política. O formato “Prove me wrong” expunha-o a perguntas e diálogos imprevistos vindos de uma audiência universitária política e moralmente opositora às suas ideias. Fixe, né? Só que não. Quem aceitava participar aceitava só isso, ser um participante. Participar num espectáculo assimétrico onde Kirk controlava o ambiente e o desfecho. Seria impossível alguém provar que estivesse errado, fosse no que fosse, dado as questões na berlinda serem dilemáticas. Exemplo: aborto. Quem optar por um dos lados do dilema muito improvavelmente virá a mudar de opinião, não existindo argumentos capazes de operar tal mudança visto a opção prévia obrigar a desconsiderar essas linhas de raciocínio alternativo. Podem ser escutadas, e até entendidas, mas não são pensadas. Isto é, não geram uma experiência de pensamento crítico. Daí só restar o ataque e a indiferença como respostas numa eventual discussão. Para o que Kirk fazia, era até irrelevante se ele acreditava no que dizia pois estava a produzir um espectáculo onde os participantes seriam transformados em figurantes através do raciocínio motivado da estrela no palco e do aparato da encenação. Era eficaz para a sua agenda? Claro que sim. Era um acto de amor à cidade? Népias.
Kirk praticava uma arte muito antiga, inventada pelos gregos no tempo em que também inventaram a filosofia: a erística. A sua deusa não é boa conselheira.
Perguntas simples
Burger King
“Agora digam-me o quão ridículo isto é” pic.twitter.com/ttyOGWOJN1
— volksvargas (@volksvargas) September 11, 2025
As coisas como elas é
A cultura MAGA, nos EUA, é antidemocrática. Não querem estar sujeitos à liberdade de voto. Consequentemente, não querem pensar. Passam a abominar o que não conseguem compreender, entender, perceber. Essa alteridade que os cerca, que cresce assustadoramente na relação directa em que os MAGA atrofiam para uma identidade cada vez mais fanática, mais paranóica, mais delirante. Mais ditatorial. Tirânica.
O Chega é igual. Quem se aliar ao Chega, ou dele se servir, igual, igual, igual.
SICários
No Código Deontológico dos jornalistas portugueses — aprovado no 4º Congresso dos Jornalistas a 15 de janeiro de 2017 e confirmado em referendo realizado a 26, 27 e 28 de outubro de 2017 — não há a mais vaga referência a qualquer temática ou problemática de saúde mental. Imagino que os jornalistas responsáveis pela elaboração e aprovação do código dirão não terem de assumir deveres nesse domínio, dado não serem médicos nem familiares das pessoas com quem interagem para produzirem e realizarem o seu trabalho de jornalistas — o chamado, porque suposto, jornalismo.
Os jornalistas, por atacado, estão-se a marimbar para o seu código deontológico, tenha lá ele o que tiver escarrapachado. Por uma simples razão: é impeditivo do modelo de negócio que lhes dá emprego. Então, por que perdem tempo a aprovar versões da coisa com décadas de intervalo? Aqui imagino que perante essa interrogação os jornalistas ficariam em silêncio. A farsa é de uma dimensão tal que provoca algum pudor, até nos caluniadores profissionais.
Acresce que a psiquiatria é a disciplina médica que exige a maior complexidade informativa e cognitiva para chegar a diagnósticos e tratamentos. Porque convoca conhecimentos que vão da neurologia e da neuropsicologia até à sociologia, antropologia, história. E porque lida com o que é objectivamente um mistério: a subjectividade humana. É também a prática clínica onde a ética é um imperativo do princípio ao fim da relação entre médico e paciente.
Para cúmulo, a tradição milenar cristã é responsável pelo estigma que ainda rodeia a doença mental. A somar à falta de escolaridade e às iliteracias reinantes a respeito da ciência e da medicina, esta juliana cultural e sociológica leva o jornalismo para uma inumana devassa. Filmar e meter o microfone à frente de pessoas que estão sob o efeito de choques emocionais, potencialmente traumáticos, para lhes fazer a ignóbil pergunta “como se sente?”, ou deixar pessoas afundarem-se em estados de raiva e/ou delírio com a cumplicidade de um entrevistador, é o pão nosso de cada dia nas televisões. O espectador aprova, consome voraz esse tipo de violação da fragilidade alheia, lambuza-se com a miséria moral. A violência como espectáculo de massas não começou com os romanos nem deixou de nos distrair desde eles.
Vem este relambório a propósito de uma decisão de Ricardo Costa, Chief Content Officer na Impresa: voltar a chamar, agora em 2025, Manuela Moura Guedes para falar sobre Sócrates.
[para continuar]
Exactissimamente
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NOTA
É tão estúpido ir buscar o termo “sicário”, porque resulta numa automutilação, que acho possível ter sido engano. A ser, acho provável que tenha nascido do texto do Ricardo Costa saído na quinta-feira, Porque Sócrates nunca vai mudar, onde no último parágrafo aparece esta expressão: “pequena falange se sequazes” [sic, vai aqui com a gralha que lá está, e tudo, porque ela regista o frenesim do ódio].
O mano Costa não identifica quem são os elementos da temível falange de Sócrates, ’tá claro. É uma boca para o ar, a expressão da sua gana em dar cabo do último organismo na Terra em que detecte a presença do socratismo. Porém, o uso do termo “sequazes” tem impacto, alia a erudição ao insulto. É coisa para impressionar um fulano especialista em baixa política nas vésperas de dar uma entrevista em que vai lavar as mãos e despejar sujidade para cima do PS.
A memória do Moedas poderá ter-lhe pregado essa rasteira, nunca o saberemos. A ironia é a de, a partir desta entrevista, ele ficar como o mais eficaz sicário contra a sua personalidade de político. Apontou ao carácter, veremos se foi fatal.
Começa a semana com isto
Uma pergunta: @Moedas sabe o que significa “sicários”? Se sabe, é muito grave.
— Isabel Moreira (@IsabelLMMoreira) September 8, 2025
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Dominguice
Realmente, não nos devia admirar que a democracia liberal fosse um dos mais difíceis conceitos nascidos da civilização. Entender os seus fundamentos implica compreender a história da filosofia desde os gregos e do direito desde os romanos. Por isso, só o escol a poderia inventar — nessa paradoxal intencionalidade de permitir ao pulha e ao bronco o acesso igualitário ao poder. Um risco inevitável, que vale a pena correr pois a alternativa é pior. Nos outros modelos onde o pulha toma todo o poder para si, ou onde o bronco herda todo o poder para si, a malta sofre muito mais.
Donde, governar corre sempre mal, nem que seja por não poder correr sempre bem. Mas sabemos que pode correr pior. Sabe o pulha, e quer. Não sabe o bronco, por isso também quer.
Montenegro urbano, Montenegro rústico
«Desde que Imelda Marcos, a primeira-dama das Filipinas entre 1965 e 1986, se aplicou a constituir uma colecção privada de sapatos, guardada em segredo no palácio presidencial e descoberta pelos filipinos que invadiram o palácio e submeteram à concupiscência e ao espanto dos cidadãos os 1200 pares de sapatos da extravagante colecção, feita com a cabeça e não com os pés, nunca mais tinha havido notícias de uma paixão coleccionista ter assaltado qualquer figura eminente do governo ou da presidência de um país. Até que apareceu o nosso actual primeiro-ministro que colecciona 55 – cinquenta e cinco – prédios, uns urbanos, outros rústicos. Não se percebe o pudor do Luís coleccionador, que tudo fez para não contar publicamente, nem deixar contar, “cinquenta e cinco” em voz alta, número muito mais pronunciável do que os mil e duzentos que a pobre Imelda manteve em silêncio. A ambos podemos apontar o exemplo do libertino Don Juan que sem ligar ao juízo de Deus e à moral dos homens contou em voz alta o número da sua colecção de conquistas: mille e tre. Toda a colecção suscita uma contagem e impõe-se pelo número.»
O deus dos católicos é muito ingrato
«Lembro-me como se fosse hoje das primeiras palavras que o Papa Francisco me dirigiu: “Obrigado pela tua resistência. Obrigado aos lisboetas".Foi no Vaticano a 22 de abril de 2023, a cem dias da JMJ. Desde então tornou-se no Papa que ficará sempre no coração de Lisboa: que aqui deixou uma marca que não esqueceremos, que connosco partilhou momentos únicos que fizeram de Lisboa a cidade de “todos, todos, todos”. Acima de tudo, transmitiu-nos esperança. Em Lisboa saberemos honrar o seu legado, o legado do Papa da esperança.»
Ter estômago para trocadilhos em cima da desgraça, é notável
Tartufo encardido
Voltou o julgamento de Sócrates, voltou o festival de hipocrisia, sonsice e pura perfídia na claque e clique dos acusadores. Os acusadores estão dentro e fora do tribunal, dominam o ecossistema mediático. Não me é possível dar conta de todos os episódios, limito-me aos favoritos.
Há dois meses, Pacheco Pereira assinalou o início do julgamento com esta peça: Os efeitos perversos do processo de Sócrates e outros “marqueses”. A ocasião era solene, simbolicamente muito importante para quem disse publicamente de Sócrates o que o Pacheco disse durante tantos anos. Sendo dos mais influentes comentadores políticos na terrinha, alguém que se apresenta como historiador, personagem que já exerceu funções políticas de relevo, seria natural que pudesse ter aproveitado para fazer um balanço do que ficámos a saber desde a detenção no aeroporto, em 2014, e o calendário em que estamos, 2025. Porque ficámos a saber muito, sendo que o mais grave nesse conhecimento diz respeito não a respostas mas a perguntas, questões. O tribunal onde agora se tenta fazer justiça dará uma qualquer resposta inequívoca, que fará o seu curso na Justiça e na História. Mas para quem, do alto do enorme privilégio de ser uma vedeta do comentariado, sente a pulsão para se posicionar acerca da inocência ou culpabilidade de Sócrates, há nesta fase questões cruciais que definem o carácter de quem as coloca e de quem não as coloca. São, obviamente, demasiadas para o gasto neste pardieiro.
Seguem os exemplos a que dou maior relevância:
— Se Sócrates for condenado por corrupção, quais deverão ser as consequências para todas as pessoas que participaram nos seus Governos, parte das quais continuou a participar nos Governos de Costa e pertencem ao partido? Quais deverão ser as consequências para o PS? Se Sócrates for absolvido, quais deverão ser as consequências para o Ministério Público? E para as leis portuguesas?
— O facto de a Operação Marquês apresentar as características típicas de ser um processo político, ainda antes do espectáculo montado para a detenção de Sócrates e dos abusos e violências que se seguiram nestes mais de 10 anos, não tem importância? O lawfare ululante é para esconder debaixo do tapete?
— Nas 4000 páginas de despacho acusatório, 53 000 de investigação, 77 000 de documentação anexa, 8 000 de transcrições de escutas telefónicas, nos 13,5 milhões de ficheiros informáticos, nas 103 horas de vídeos de interrogatórios e 322 horas de depoimentos áudio de testemunhas, qual a informação que se pode extrair acerca de um qualquer acto de corrupção com governantes, ou que fosse com meros cidadãos — um só? Um, apenas um à escolha.
Nada disto aparece no texto do Pacheco. O artigo começa e acaba a dizer que Sócrates é culpado. De quê? Não fazemos ideia. O Pacheco nada de nada diz sobre a matéria da acusação, recusa pronunciar-se para não ter de tomar partido, para não dar razão a Sócrates seja no que for. Tenho a certeza de que não leu nem uma página do processo, daí estar sempre a repetir a patética cassete de um documento rasurado no qual tropeçou quando era deputado. Esse tempo para si traumático, em que era toureado no parlamento e em que ajudou a Dra. Manuela a fazer uma campanha caricata para as legislativas de 2009, não passou. Sócrates é o único culpado do seu sofrimento, da sua humilhação.
O miolo do artigo consiste na defesa da presunção de inocência e dos direitos da defesa, de forma convincente como é seu apanágio. Um caso paradigmático de dissonância cognitiva. Esperar que o Pacheco se dê conta da contradição será desconhecer que os moralistas soberbos são tartufos encardidos.
Sr. Feliz e Sr. Contente
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Dominguice
É estranho, ou tão-só irónico, ver os putinistas todos assanhados contra Netanyahu. Os putunistas, que também curtem bué do tirano Trump quando este permite que a destruição e carnificina na Ucrânia continuem até que o imperador russo esteja saciado, caso prezassem a coerência estariam apaixonados pelo actual primeiro-ministro de Israel. Porque ele está a seguir o exemplo de Putin. A única diferença é que Putin não consegue um grau de violência totalitária e absurda igual apenas com armas convencionais, dado haver alguma capacidade de defesa nos ucranianos. No resto, a lógica é a mesma: matar e roubar, enquanto se quiser. Nada mais importa, seja a lei internacional ou os princípios do humanismo.
Mas os putunistas, e os pulhas em geral, não podem ceder à coerência. Quando lhes aparece a racionalidade pela frente puxam logo da pistola.