As semelhanças com George W. Bush nesse aspecto são espantosas. PPC é um veículo para fazer passar as ideias dos outros, que alguém julgou que venderiam melhor com um packaging “jovem” e “moderno”.
E é neste ponto que é mais espantosa a total e completa falência intelectual de muita direita: alguma elite, encabeçada pelo Pacheco Pereira, entendeu que a melhor maneira de fazer damage control às medidas corajosas do governo e a uma óbvia eficácia do primeiro-ministro era procurar passar a ideia de que seriam apenas propaganda, marketing, era tudo falso, mentira. Invenções para enganar o povo. A ideia pegou em muitos círculos, não só pela nossa ainda enraizada tendência de desconfiar das boas novas, pela quantidade e velocidade de medidas e reformas que foram encetadas (muitas contra corporações que não estavam claramente habituadas a ser confrontadas), o que permitiu passar aquela ideia de “isto não pode ser verdade, devem estar a inventar”, pelo facto de muitas das medidas serem tomadas com horizontes a médio e longo prazo, logo sem resultados imediatos que se vissem, e finalmente, e ironicamente, pela inépcia comunicacional do próprio PS, governo e primeiro-ministro.
Resultado da estratégia: o PSD e a sua “politica da verdade” tiveram praticamente o mesmo resultado que em 2005, tendo o PS perdido a maioria para a esquerda.
Depois deste desastre, acho que houve muita gente na direita que, incapaz de perceber que a “politica da verdade” não passava de uma estratégia rasteira de criticar o governo sem criticar as medidas (a grande maioria das criticas era que as medidas não estavam realmente a ser tomadas, não que eram as medidas erradas), começaram a convencer-se que a ideia da “propaganda” era não só verdade, mas que pelos vistos resultava, que ganhava eleições, que o “propagandista” Sócrates era a prova que não era preciso ter ideias concretas, mas umas vagas, desde que fossem bem vendidas. E chegamos a este ponto, em que temos duas variantes da direita: a cínica que se convenceu que é preciso é enganar o povo, e a burra que se convenceu que o povo quer ser enganado. Spin puro, encarnado em Pedro Passos Coelho. Eis a herança de Pacheco. Espero que esteja orgulhoso.
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Nem de propósito, Vega, parece que estavas a adivinhar que agora, que tudo indica que a execução orçamental está a correr como previsto, se agarrariam às reformas estruturais. Passos Coelho, e também Paulo Rangel, tenta passar a ideia de que o Governo é incapaz de as realizar, e que eles sim estão prontos para as levarem a cabo. Claro que não concretizam absolutamente nada, é como dizes, lançam a ideia de forma vaga, pode ser que pegue. E não se percebe que não concretizem, nesta e noutras matérias, afinal, parece que são centenas de pessoas no Gabinete de Estudos do PSD a produzirem ideias…
Isto quase me leva a discordar de ti quando dizes que Passos Coelho é um veículo para fazer passar as ideias de outros, ou toda essa gente não produz uma ideia que valha a pena transmitir ou o veículo, ainda mal começou a corrida, já está empanado. :)
Num certo sentido fui «obrigado» a ouvir a entrevista e aquilo é sempre o mesmo – Passos Perdidos… O esplendor do vazio.
eheheh guida, acho que concordo contigo. Não há por ali grandes ideias entre os apoiantes de Passos, mas uma sucessão de banalidades e liberalismo de cábula mal sabida. Mas é uma lógica circular, não é? Se tivessem ideias que se vissem, não eram apoiantes dele.
Enfim, acho que isto resume bem a coisa ;)
(Val, mais uma vez, obrigado pelo destaque)
Sim, Vega, na maioria dos dias concordo que essa imagem resume bem a coisa, mas em dias como o de ontem, em que vi Passos Coelho reagir de forma patética e desesperada à notícia da redução do défice, acho que o Ken não merece tal comparação. :)