Passos Coelho tem um problema assim um bocadinho para o aborrecido em quem pretenda fazer carreira como líder partidário e chefe de Governo: quando fala, desaparece. Quer-se dizer, as suas declarações levam a que metade da audiência adormeça e a outra metade deixe de estar acordada. O período de vigília no espectador não chega aos 10 segundos, não importando o assunto na berlinda. A sua oratória, de um convencionalismo soporífero nessa simulação oh tão artificial da gravitas, terá parte da responsabilidade, mas não é causa – a causa é o vazio de ideias. Se o seu discurso tivesse alguma relevância, mesmo que mínima, alguém iria interessar-se o suficiente para superar a barreira dos 10 segundos de atenção. E eu, que não tenho a pretensão de saber mais de política do que este antigo presidente da JSD, muito menos quero cometer a indelicadeza de lançar suspeitas acerca das suas capacidades intelectuais, culpo aqueles que o aconselham, sejam eles quem forem, pela sucessão de calinadas de palmatória desde que substituiu aquela senhora do abalozinho.
Veja-se este caso da moção de censura do BE. Para além de ter sido um desvario do alucinado Louçã, foi igualmente um ataque à dignidade do Parlamento ao se anunciar com um mês de distância, assim pervertendo o seu sentido ao serviço de um tacticismo rasteiro e imbecil. Mas pior: no dia seguinte, o BE acrescentava que não queria que ela fosse votada favoravelmente por parte da oposição, o que é uma inovação legislativa nacional absoluta, talvez estreia parlamentar mundial. E o pior do pior: o BE apontava a moção também contra parte da oposição. Meus amigos, não se pode errar mais – isto é, corrijo apressadamente, pode; e pode muito.
Começou pelo CDS, em que Portas admitiu votar a favor desta aberração se viesse a concordar com o texto. Continuou com o CDS, que se antecipou ao PSD no anúncio da abstenção. Temos aqui dois erros: a abstenção e a antecipação. Os que se abstêm não se afirmam, por um lado, e quem se antecipa pode acabar precipitado, pelo outro. Felizmente para o CDS, está a lidar com o PSD; ou com este PSD, sejamos justos, embora este, no que à inteligência política diga respeito, seja igual aos do passado desde a fuga do Barroso. É que o risco para Portas era enorme, a baliza estava escancarada e o guarda-redes estatelado no meio-campo.
Se Passos tivesse decidido votar contra a moção de censura do BE, teria conseguido atingir três objectivos cruciais num só momento: (i) afirmava-se como baluarte do regime democrático, castigando quem o ameaça nos seus fundamentos, (ii) de caminho, reduzia o CDS à abjecção dos mornos, dos que perderam a alma e (iii), como corolário não menos importante, conquistava uma autoridade no partido que o começaria a blindar contra a oposição interna, pois teria dado provas de ser um verdadeiro líder ao exibir a sua força onde outros apenas mostrariam uma inevitável mediocridade. O facto de ter perdido aqui mais uma ocasião de se destacar perante o partido e o País não surpreende, porém. É que estar rodeado de abstencionistas do pensamento faz mal a muito boa gente.
Nem mais, caro Val.
Eu ouço ( ou pelo menos tento ) ouvir o Passos Coelho. Seja nos noticiários seja nas entrevistas que lhe fazem.
Reconheço que mal acaba a entrevista e não me lembro de uma única ideia que o homem tenha transmitido.
O defeito deve ser meu, admito.
Cumprimentos
Nem mais. As semelhanças com George W. Bush nesse aspecto são espantosas. PPC é um veículo para fazer passar as ideias dos outros, que alguém julgou que venderiam melhor com um packaging “jovem” e “moderno”.
E é neste ponto que é mais espantosa a total e completa falência intelectual de muita direita: alguma elite, encabeçada pelo Pacheco Pereira, entendeu que a melhor maneira de fazer damage control às medidas corajosas do governo e a uma óbvia eficácia do primeiro-ministro era procurar passar a ideia de que seriam apenas propaganda, marketing, era tudo falso, mentira. Invenções para enganar o povo. A ideia pegou em muitos círculos, não só pela nossa ainda enraizada tendência de desconfiar das boas novas, pela quantidade e velocidade de medidas e reformas que foram encetadas (muitas contra corporações que não estavam claramente habituadas a ser confrontadas), o que permitiu passar aquela ideia de “isto não pode ser verdade, devem estar a inventar”, pelo facto de muitas das medidas serem tomadas com horizontes a médio e longo prazo, logo sem resultados imediatos que se vissem, e finalmente, e ironicamente, pela inépcia comunicacional do próprio PS, governo e primeiro-ministro.
Resultado da estratégia: o PSD e a sua “politica da verdade” tiveram praticamente o mesmo resultado que em 2005, tendo o PS perdido a maioria para a esquerda.
Depois deste desastre, acho que houve muita gente na direita que, incapaz de perceber que a “politica da verdade” não passava de uma estratégia rasteira de criticar o governo sem criticar as medidas (a grande maioria das criticas era que as medidas não estavam realmente a ser tomadas, não que eram as medidas erradas), começaram a convencer-se que a ideia da “propaganda” era não só verdade, mas que pelos vistos resultava, que ganhava eleições, que o “propagandista” Sócrates era a prova que não era preciso ter ideias concretas, mas umas vagas, desde que fossem bem vendidas. E chegamos a este ponto, em que temos duas variantes da direita: a cínica que se convenceu que é preciso é enganar o povo, e a burra que se convenceu que o povo quer ser enganado. Spin puro, encarnado em Pedro Passos Coelho. Eis a herança de Pacheco. Espero que esteja orgulhoso.
Certeiros, o Val e o Vega.
Por mim, quando ouço os passos do Passos no corredor, abandono a sala de conferencias.
Não imaginava que Louçã perdesse a máscara tão cedo. E não foi por falta de meiguices da Direita, desde que se tornou a oposição “querida” do ex-maoista Durão Barroso, aliás caniche de Bush e de Merkel.
A Direita usou-o e botou fora, como usa Carrilho, Alegre, Cravinho ou Henrique Neto. E estes senhores que já têm idade para ter juizo, não resistem a ser alguém nos media pelo tempo que os “donos” entenderem útil. Caniches de estimação.
E neste tempo de crise, de gritaria para que o FMI venha acudir à bancarrota do País do PS, ninguém, nem o Aspirina, recorda, a quem esqueceu, ou ensina a quem não era nascido ou maior de idade, que o mesmissimo FMI veio cá para tirar o País da bancarrota a que os governos da AD (dois seguidos), pela mão de dois distintos ministros das finanças
Cavaco Silva
e
João Salgueiro
atiraram Portugal.
Pelo menos tu, Valupi, atiça a memória do povo! Ou será que vamos continuar a ouvir que os males da democracia começaram em 1995, como dizem O Barreto, o Medina e o cavaquismo em altos berros?
E com a berraria abafam a verdade histórica!
Não permitas, ASPIRINA! Pelo menos tu.
O Passos Coelho comporta-se como uma espécie de príncipe da direita, isso das ideias para governar o País não lhe faz falta nenhuma. As sondagens convenceram-no de que é o legítimo herdeiro do Poder, o qual lhe chegará “no momento certo”, como ele diz. Só é pena que pelo meio tenha de haver eleições, o que implica uma campanha eleitoral com o respectivo programa, debates com os outros candidatos, enfim, uma maçada nada digna de um príncipe…
se fosse só o passos , estávamos nós bem. o problema é que não é só ele. estou fartinha das prioridades – probabilidades ? – e apostas ( na educação , na energia alternativa , na tecnologia , nas exportações , nisto e naquilo e bla bla bla ) sem nunca ganhar nada de jeito , gasta-se sempre 10 euros para ganhar 2.
se se dedicassem ao trabalho em lugar do jogo era capaz de não ser má ideia : o euromilhões não era uma hipótese , claro , mas os rendimentos eram seguros e proporcionais ao esforço.
António P., até a Judite, esta noite, se mostrou exasperada com a vacuidade do homem.
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Mário, a vinda do FMI nos anos 80 tem sido muito falada na comunicação social, não é um assunto esquecido ou encoberto. Quanto a achares que este blogue tem alguma influência na “memória do povo”, és um ultra-romântico.
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guida, é um príncipe com o encanto político de um sapo.
as pessoas deixam de ter em conta a oipinião de alguém quando percebem que ela diz , por mais desfeito que estiver o penteado , que o cabelo está bem bonito.
é-se lesto em publicar excertos de coisas que se não tivermos o cuidado de ir às fontes podemos avaliar assuntos com informações erradas , é-se completamente desleixado? em publicitar cenas valter lemos ou juros ao nível da grécia…
é por isso que eu não ligo pevide à publicidade e por mim publicitários morriam à fome. gosto de informação correcta e prestada tipo Desidério. informação que me serve e não me quer por a servir.
olhem os passarinhos e os lírios…tudo o que precisamos é grátis , requer apenas o trabalho de apanharmos uns pauzinhos , uns insectos e tal e/ou fazermos a fotossintese.
Val,
ouvi sim senhor falar dessa segunda vinda, mas não me recordo de ter ouvido claramente dizer quem o trouxe: a AD de Cavaco e Salgueiro, ministros responsaveis pelo descalabro das finanças.
Pedro Passos Coelho mete alguma pena. Desgosta-me ter de reconhecer que é de facto uma autêntica nulidade política, sendo que, como pessoa, até me inspira alguma simpatia, ou talvez melhor, compaixão. Aquele ar triste dele é uma coisa de meter dó. Não vou ao ponto de dizer que é um pateta triste, como já vi escrito por aí, mas se fosse amigo dele aconselhava-o a seguir uma carreira de autarca, local ou regional (daria talvez um bom Presidente da Assembleia Legislativa da Região Metropolitana de Lisboa), já que não iria a tempo de lhe aconselhar uma carreira no voluntariado internacional (por que não na A. M. I.?), ou então sacerdotal, ou mesmo missionária, que me parece lhe iria assentar na perfeição. Como Cidadão e Pai consciente, só espero é que nunca passe de Sub-secretário de Estado da Juventude…
Também a mim me faz dó ver a sua carinha de jota assustado. Aquele olhar meio languido não sei se é de tristeza se é de medo. Uma coisa me parece certa: está fodido por ser assim e porque os cavaquistas não o topam. Provavelmente já têm o seu substituto na manga. E também penso que só por isso os cavaquistas ainda não deram a tal rasteira ao governo de Sócrates. E quando a derem o Capucho já sabe que não vai ser assinalada falta nem mostrado cartão amarelo ao infractor, porque o arbitro está comprado e bem comprado.
E se tudo der outra vez para o torto, como na história das escutas?
“O povo é sereno”
Ah, Mário, também estás a pensar no Capucho? Pois é…