O senhor que me serve o café já reparou em mim. Nada de particular. É um bom empregado. No seu registo profissional, eu sou aquele fulano que aparece por ali quando lhe dá na telha, isto é, servindo um perfeito caos estatístico.
O que ele não sabe é que, todos os dias que Lisboa tem de aguentar-me no lombo, a minha chávena de café é feita ali. Não porque a qualidade do produto seja grande. Mas sou eu que, numa vida certinha, acabo dando chances ao irracional.
O Fernando é discreto, mas muito observador.
Por acaso em Londres durante algum tempo o meu melhor amigo era empregado de mesa. É uma profissão que exige uma personalidade muito especial …
O mau aspecto dá sempre nas vistas !
Como, de resto, se nota!
Fazes parte da estatistica que dá alma ao lugar.
E já agora, é bica, italiana, café curto, pingado ou… um café, por favor!?
E, é claro e óbvio que tinhas que escolher uma pastelaria… suíca! Senão, até parecia mal.
Outra posta saudavel, Fernando. E que linda cena: a bica, o homem e o vício, a pastelaria do costume e a visita dependente da telha que de ora em quando assalta o seu hemisfério dominante. O que esqueceu foi mencionar (está perdoado) o pasquim, ou livrório, que estaria a ler na altura. Ou só lá foi para apreciar as mamas das meninas e as sobrancelhas densas e negras dos rapazes?
Mas muito em breve, suponho, terá que optar pelo cantinho isolado dos párias fumeantes ou outros locais públicos para ensaiar o manso estro com ajuda de cafeínas, porque o ritual irá sem dúvida sentir-se das novas alterações (http://jn.sapo.pt/2007/05/02/nacional/comerciantes_de_denunciar_fumadores.html) previstas pelo neo-fascismo montante para a cadelinha submissa lusa. Que saudades que alguns de nós, os mais velhotes, irão ter do fascismo salazarista que nunca ousou declarar cafés e pastelarias como postos compulsórios de vigilância de cidadãos insubmissos.
Sugestão de título de livro que venderá bem no futuro: “Como denunciar o seu vizinho ou irmão sem ficar com remorsos”. A si, que anda, aparentemente, de boas relações com as editoras que mais (se) vendem.
Ah! Eu gosto deste Anonymous : )
Segues uma espécie de distribuição de Poisson…
Gostava de conhecer esse empregado; deixei de lá ir por achar o serviço francamente mau, o que é uma pena.
Saboroso postal do Fernando. Obrigado.
A habitual intervenção trans-silvânica, tardeira como de costume, du comte Valupi – o tal da “aristocracia ética, suprema realização da democracia”.
a distribuição de Poisson era chamada lei dos acontecimentos raros
Pois é a lei dos acontecimentos raros. Ele só lá vai quando lhe dá na telha…