Não há bela(s) sem senão(s) II

Pegando numa outra ponta da meada, ou seja, na sequência do meu texto anterior, gostaria de acrescentar que a senhora ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, sugeriu, referindo-se ao programa em causa, “A Bela e o Mestre”, da TVI, “que a Comissão para a Igualdade dos Direitos das Mulheres (CIDM) deveria ter uma palavra a dizer sobre o assunto”.

E assim foi. Inspirada nas palavras da ministra, a Comissão informou “estar a preparar uma queixa junto da Entidade Reguladora”, por achar “inadmissível nos dias que correm haver um programa deste tipo”. Mais. “Programa que desconstrói todo o trabalho que tem sido feito no sentido de promover a igualdade de oportunidades e acabar com a discriminação com base no género.”. E a presidente do CIDM, Elza Pais, acrescenta: “O nosso objectivo é claro: fazer com que o programa seja suspenso.”

Será, pergunto eu? Ou todo este burburinho não acabará, isso sim, em benefício (ou publicidade) ao reality show, acima citado? É bom lembrar que as audiências são sempre o que mais interessa aos canais…
Minhas caras senhoras (e com todo o respeito), as “belas” foram, por acaso, obrigadas a concorrer? Não. As “belas” ficam, por acaso, tristes quando são eliminadas do concurso? Sim. As “belas” sentem-se, por acaso, desconsideradas pelo “pessoal” da Endemol, pelos apresentadores, pelo júri, pelo público, que as aplaude entusiasticamente? Não. As “belas” (qualquer uma) gostaria, por acaso, de ganhar os tais 100 mil euros no final do programa? Sim.

Só existe um “pequenino” pormenor: as “belas” não têm a mínima “vocação” para aquilo a que chamamos cultura geral. E não se envergonham. Assumem. Para isso é que as “belas” lá estão (no concurso), certo?
Assim sendo, tudo corre sobre patins. Já repararam nas reportagens de rua, em que os entrevistados sabem na ponta da língua os nomes das “belas” e dos seus “mestres”? Os portugueses mostram que vêem e apreciam o concurso e a Televisão somente oferece aos portugueses aquilo que os portugueses apreciam e merecem!
Cancelar o programa, só porque nos é dado constatar a realidade que confrange uma minoria? Porque está ali uma parte da juventude feminina que temos? Cancelar o programa para “tapar o Sol com a peneira”? Para “vender gato por lebre”? Para esconder, do sexo oposto…Isso não vale!

Agora, não me venham escrever alguns cronistas (eu li) que a culpa desta incultura feminina é deste ou daquele ministro da Educação de há uns anos atrás. Tenham dó! Política, mas não tanto…

Voltando à senhora ministra e à Comissão, penso que não têm que se preocupar. Em vez de pedirem ao José Eduardo Moniz para cancelar o programa (ele que investiu um dinheirão no projecto!), peçam, sim, um outro programa do mesmo género. Com a diferença de que os nossos jovens devem ficar no lugar das “belas”. Escolhem-se alguns Adónis (nunca houve tantos, quem sabe à procura de uma oportunidade), e, minhas senhoras, podem ter a certeza de que a equidade entre sexos, no que concerne a cultura geral, é perfeita. Não há igualdade mais igual!

Sejamos realistas e menos ingénuos. Neste país, quase ninguém pode nada, contra nada nem ninguém – só alguns e esses são poucos. Poucos e não estão integrados em Comissões. Estão interessados, perdão, integrados noutras coisas…

P.S. Acabo de ser informada de que no “Correio da Manhã” de hoje, vem uma notícia a dar-me razão. Está previsto um novo programa na TVI onde os “belos” tomam o lugar das “belas”. Não tenho bola de cristal, mas “nada acontece por acaso”, como diz uma amiga minha…

Soledade Martinho Costa

15 thoughts on “Não há bela(s) sem senão(s) II”

  1. … é que esta coisa do CO2 deu um aquecimento global, mais propriamente um esquentamento global, e agora paciência, vai-se na onda e seja os que os deuses quiserem (?)

  2. “Sejamos realistas e menos ingénuos. Neste país, quase ninguém pode nada, contra nada nem ninguém – só alguns e esses são poucos. Poucos e não estão integrados em Comissões. Estão interessados, perdão, integrados noutras coisas”.

    Estas piadinhas para a geral com a Maçonaria em mente não são permitidas em dias de júbilo crístico como o de hoje. Para a próxima, agradeço que faça uso de adjectivos com mais pestilência e lama pútrida para descrever estes games de belas e adónises.

    A televisão é para enmerdar os cérebros dos telespectadores. É triste que acabe quase sempre por enmerdar também os dos seus críticadores.

    Viva a Libertad, Soledade!

  3. Foi essa a parte do texto que mais o incomodou, caro “3 enes” ? Ainda bem. Eu sabia que alguém, algures por aí, iria ficar incomodado…Mas não vou fazer-lhe a vontade, como me pede. Não vou mudar os meus adjectivos para os trocar por uma linguagem grosseira como a sua.
    Já agora, a qual liberdade se refere? Se é à liberdade em que estou a pensar, olhe que você foi bem mais longe e mais claro do que eu…

  4. Cara Soledade,

    Mil perdões por ter reparado apenas nessa pérola de três linhas que cintilava no fim do seu post. O resto do seu escrito pareceu-me, poderei estar enganado como qualquer especialista de cultura, que batia nos criticadores do programa e que nem todas as estaladas que lhes lançava os apanhavam em cheio: algumas estampavam-se nas faces das pobres e incultas “belas”, cuja ignorância e iliteracia você não se cansou de sublinhar. Ora, se você fosse grosseira como eu teria dito tudo em três linhitas que poderiam ser diferentes daquelas a que me agarrei. Teria dito, por exemplo, que a televisão é uma merda do rabo à cabeça. Fazia como o meu amigo João de Paço dArcos: cobre o aparelho com uma manta, já desde o tempo do Salazar e ainda está rijo, apesar duma idade avançada.

    Prossiga, no entanto. Nunca se sabe o que é que poderá sair duma pluma tão ligeira como a sua.

  5. Cara Soledade,

    Fui ver o programa. Perdi uma hora de sono (eu vivo noutro fuso), mas não me queixo. Posso agora, com alguma segurança interior, ter opinião. Só não podia imaginar – sabendo o que lhe tinha lido, a si – que a miséria fosse tanta.

    Até, veja lá, me sinto um tanto afectado pessoalmente, ao ter de constatar que o autor do formato – o meu compatriota John de Mol, da ENDEMOL – anda agora por patamares assim, ele que divertiu com garbo uma geração.

    Eu já via pouca TVI, tirando o (razoável) jornal matutino. Agora, sinto-me mais avisado.

  6. Mais vale andar com um fuso a mais do que com um parafuso a menos. Em princípio, não sei.

  7. Claro que o formato do programa assenta na ideia da “exploração” de um certo tipo de imagem da mulher como corpo desprovido de cabeça. Mas as pseudo exploradas são pagas para o efeito e ninguem as obriga a estar lá. Se são tão ignorantes como parecem também é certo que foi por isso que foram escolhidas.
    Não me parece que o programa em si fomente qualquer semente que vá contra a igualdade de género, logo, não há razão para histerias. Também já houve concursos em que apareciam meninos de cuequinhas a fazer de hércules e ninguem se queixou!

  8. Para o “vizinho de cima” (Anonymous ou Norberto Nobre da Nóbrega, tanto faz):

    Não estava nada virada para responder-lhe outra vez. Mas resolvi enviar-lhe mais algumas “pérolas cintilantes” da minha escrita. Tanto mais, que, por fim, chegou à conclusão de concordar comigo!
    Não é novidade para ninguém que os homens são muito menos subtis do que as mulheres. Até no que toca aos blogues. Muitos há que enveredam por utilizar palavras agressivas, grosseiras e mesmo ofensivas.
    Sempre assinei os meus escritos com o meu verdadeiro nome. Estranho, por isso, os pseudónimos ou iniciais que escondem a identidade de quem, nos comentários, dá opiniões, elogia ou critíca os textos dos blogues. Este assunto já foi debatido num programa televisivo. Mas os adeptos do “ocultismo” preferem assim. Funcionam como uma espécie de carta anónima a fazer lembrar outros tempos. Há mesmo quem use mais do que um, como no seu caso.
    Mas, diga-me: então você esconde-se atrás de um pseudónimo e atira para a “ribalta” o nome de um amigo seu (com apelido e tudo), desvendando os seus hábitos particulares, isto é, aquilo que o seu amigo João de Paço d’Arcos faz na privacidade da sua casa!?
    Será esta a liberdade que defende? É capaz…Ele pode ser seu amigo, mas você…Nem a “idade avançada” do senhor Paço d’Arcos lhe merece respeito?

  9. Prezado Fernando Venâncio:

    Grata pelas suas palavras (a dar razão ao que escrevi) e pelo “espaço” que gentilmente me concede no seu “Aspirina B”.
    Não vi o programa de domingo. Não conheço, como o Fernando, o senhor John de Mol. Conheço a Endemol de nome. Lamento (talvez) informá-lo de que se trata da mesma produtora que “permite” (há muitos meses) o “…SERÃO tu e eu…” no genérico musical da tal telenovela da TVI.
    E não leve a mal por voltar à primitiva forma, ou seja, à critica primeira do meu primeiro post…
    Um abraço!

  10. Fernando Venâncio:

    É com um certo alívio que lhe digo não ter a Endemol, nada a ver com a telenovela “Tu e Eu”, como, por lapso, informei. A produtora é, sim, a NBP (do grupo Fealmar).
    Aqui fica a rectificação, com as minhas desculpas. «O seu, a seu dono», como costuma dizer-se…

  11. Convenceste o Fernando a trocar os sonos para ver o dito programa, o que me parece um feito. Estás a contribuir para aumentar o nível de audiência de “As belas e o Mestre”…
    Não, não me vais convencer… mesmo com as belas questões que aqui colocas (estou a falar a sério quando digo que são belas, as tuas questões).

    Por vezes não é preciso provar merda para se saber que é merda! Este, é um desses casos.

  12. Sininho,

    Aqui vai mais uma vantagem de não veres. Se (como é o meu caso) tens alguma consideração pelos escritores Rui Zink e Clara Pinto Correia, poupas-te a visão degradante (degradante de ti e de mim) de vê-los a júri daquela coisa.

  13. FV:
    É esse, entre todos, o mais ruidoso lado da questão.
    A chafurdice geral que move as audiências (e os distribuidores da raçãozinha de entretenimento) já não pode surpreender ninguém.
    Mas ver aqueles dois ali, naquela funçanata… isso é uma demasia.
    É por isso que tenho grande apreço por quem, em altura de crise, vai lavar escadas num bairro qualquer. Mas não baixa as calcinhas da alma!

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