Eduardo Mourato (fotógrafo nascido em Portalegre no ano de 1966) expõs no Centro Comercial Fonte Nova de Lisboa um conjunto de fotografias sobre uma actividade artesanal que está hoje em dia quase em vias de extinção. As salinas são locais onde se desenrola uma espécie de serena liturgia da paciência. Numa solidão extrema e com a utilização de utensílios muito rudimentares, homens sem rosto e quase sem voz, organizam de madrugada o trabalho que os raios de sol são convidados a realizar durante o dia. A água salgada vai, num processo muito lento, dar origem ao sal, um produto tão velho na Terra como o próprio Homem. Tão antigo que a palavra salário deriva do seu nome, um nome assim antigo e cheio de peso. Muitos soldados recebiam o seu pré em sal e o salário nunca mais deixou de ser uma palavra nobre, o preço do suor, o valor do esforço, a contrapartida para a silenciosa abnegação de quem trabalha junto às matérias mais elementares do Mundo – a água e a terra.
As fotografias de Eduardo Mourato são uma serena recusa do bilhete-postal. Nelas não surgem salineiros em esforço mas antes as lentas etapas da construção das pirâmides brancas, ponto de encontro entre a força dos homens e o poder da Natureza.
São essas as emoções pressentidas que, qual música sem nome nem destino, povoam as salinas do Algarve que estas fotografias trazem de volta para todos nós numa cidade onde tudo (ou quase tudo) é hostil, frenético e veloz.
José do Carmo Francisco
Eu diria até que o “produto” é bem mais velho que o Homem. Aliás nem será do “sal de mar” que provém a origem do palavra “salário”. Ao cloreto de potássio deve caber talvez essa honra, dai Salzburgo, a cidade que todos ouvimos falar. Da Idade Média chegam-nos histórias de falta de sal que levaram a uma espécie de vampirismo, única forma de sobrevivência. Cuidado, o “sal” é um dos maiores segredos da gente encoberta. Aposto que o fotógrafo nem sabe dsso…
Por este Portugal (rural) fora, ainda hoje se mantém a oferta de sal em cumprimento de promessas aos santos padroeiros que se celebram nas romarias. Casos, entre outros, de S. Bento da Porta Aberta (Rio Caldo, Terras do Bouro, «por ser o sal muito do agrado do santinho», diz-se ali) ou de S. João de Arga (Caminha).
“Símbolo do Baptismo e do início da Vida”, nas Argas costuma(va) ser levado à cabeça, e colocado numa arca existente na Casa das Promessas ou das Ceras, edificada no século XVIII.
O sal era (e é) vendido depois em leilão, outrora destinado à salgadeira dos porcos.
Na serra de Arga (três aldeias) podem observar-se ainda pequenas casas, antigamente com telhados de colmo, onde se armazenavam as carnes salgadas…