Há uma declaração de Paulo Raimundo, em Janeiro deste ano, que diz tudo o que de essencial há para dizer sobre o PCP: Segundo o secretário-geral do PCP, o partido está empenhado em “transformar a CDU naquilo que ela é, uma grande força popular”.
Se a CDU já é uma grande força popular, então não há transformação possível sem que a CDU deixe de ser uma grande força popular. E se a CDU precisa de ser “transformada” para ser uma grande força popular, então a CDU actualmente não é uma grande força popular, o que cria uma contradição de identidade. Estamos perante uma violação do princípio de identidade em lógica formal: A = A (uma coisa é idêntica a si própria). A expressão sugere simultaneamente que A = A e que A ≠ A. Este oxímoro, entretanto, tem mais de 50 anos de presença na retórica dos comunistas portugueses porque eles consideram-se a si próprios como os legítimos proprietários (e monopolistas!) do 25 Abril. Há ponderosas razões para tal, com muito sofrimento e heroísmo nas biografias dos seus militantes e simpatizantes na luta contra a ditadura, a que acresce uma ideologia com a densidade do Antigo Testamento e a simplicidade dos Evangelhos. Naturalmente, estabilizada a democracia, quando os eleitores de imediato passaram a preferir ser governados ora pelo PS, ora pelo PSD, eles sentiram-se roubados. O povo é deles mas não são eles que tratam do povo. E é nesse estado mental que se mantêm até hoje. Preferem passar fome (de poder) a perderem a pureza religiosa que é só o que lhes resta para suportar o sentido da vida.
O PCP não queria que o PS ganhasse as eleições. Se quisesse, ou tinha aceitado o convite para a Viver Lisboa ou desistiam de participar e mandavam a sua gente votar nos socialistas. Mas o PCP também não queria ganhar as eleições, pois para tal teriam de começar a agitar as bandeiras do PS, do PSD e do Chega, todas ao mesmo tempo enquanto metiam a sua cassete numa gaveta, na loucura de esperar receber votos desses eleitorados. Impossível, apenas aqui deixo a caricatura para ilustrar o argumento. Então, que queria o PCP para Lisboa nestas eleições autárquicas? Resta só uma resposta: queriam o que veio a acontecer.
Ter o PCP na Viver Lisboa levaria a uma outra dinâmica de campanha, recuperando-se o prestígio e a esperança dos tempos de excelente memória de Jorge Sampaio. Ao mesmo tempo, caso fosse vitoriosa a coligação, tal daria a João Ferreira quatro anos de intensa promoção de imagem, naturalmente deixando-o nas melhores condições possíveis para suceder ao banana Raimundo e conseguir chegar a eleitores que desconhecem completamente qual a história do PCP antes e depois de 1974. Pelo meio, o PCP estaria a influenciar decisivamente as políticas da Câmara, assim cumprindo o que apregoa fanaticamente, essa entrega aos verdadeiros e profundos interesses do povo mais povo. Mas lá no Comité Central votaram noutro caminho, dado serem todos cientistas da História. Optaram por um futuro sem contaminações burguesas, longe desses traidores do PS e quejandos. Assim impunha a luta de classes como processo dialéctico.
A dialéctica fez-lhes a vontade: por 11 votos, perderam um vereador e ficaram atrás do Chega. Se não fossem uma grande força popular, as coisas poderiam ter sido bem piores.
A meu ver, quiseram mostrar que tinham alguma força em Lisboa e uma “estrela” para apresentar. Que, em suma, não são velhos nem estão moribundos. Além disso, depois de escaldados com a geringonça, optaram pelo purismo. Do ponto de vista do PS, se o João Ferreira tivesse entrado no “caldo” da coligação, era mais um argumento para o “radicalismo” de que o Moedas acusou as esquerdas, radicalismo acrescido do desvario anti ucraniano e pró-russo do PCP. Por isso, não sei se o PCP iria fazer mais mal do que bem à coligação. Quanto aos votos, era provável que a sua figura se diluísse entre os membros da coligação e os votos que conseguiu sozinho não viajassem para lá tal e qual.
Mas sobre o teu ponto, o PCP está há muito numa de ou são puros ou desaparecem. Sendo puros, acham que têm o charme de uma relíquia. Deve ser isso.
O PCP deve fazer o que é melhor para o ps? E isso porquê? O ps, os candidatos do os, são alguma coisa que mereça a subordinação de alguém? O objetivo da existência do PCP é ser muleta do PS?
Isto só lido mesmo.
Penélope se a esquerda (principalmente o PS) continuar a apresentar candidatos ou introduzir temas para debate com base/medo no que a direita lhes pode chamar então aí será a confirmação do fim da esquerda em Portugal. O Moedas iria sempre chamar de radical o PS nem que para la fosse o Seguro, não porque tem alguma coisa a ver com a verdade mas porque na verdade ele não tem mais nada para apresentar. Os partidos de esquerda se querem sobreviver tem de apresentar candidatos que os seus apoiantes querem apoiar, e não os que os candidatos de direita e comentadores das tvs gostam.
Este arrazoado é escusado e estéril. Tirando um ou outro iluminado, todos conhecemos as mas razões pelas quais o pcp não se quis coligar. O que seria util, seria conhecer, se elas existem, as boas razões que impossibilitaram os outros membros, a começar pelo ps, de mostrar ao pcp que as razões da secessão eram mas, e que existiam melhores razões para ele entrar numa coligação. As boas, digo, não as mas. estas ultimas também são conhecidas e, alias, faceis de adivinhar: é porque foram estupidos, uns e outros, como prova o resultados alcançado, por uns, e por outros.
Boas
@ Valupi,
Compreendo-te: a transicao do estadio actual (P sem S) para o precisivel e precisto novo estadio (Sem P tambem), e visceralmente dolorosa.
No curto prazo, perdido que estas nesse labirinto intelectual de Neoliberalismo Zombificado e OTANizado, so te posso receitar Rennie.
No longo prazo ha duas opcoes: (1) continuas por ai e receita-se Pentotal. (2) sais dessa zona de conforto intelectual e ca te esperamos para conversar.
Boa sorte.
*previsivel e previsto
pensava que tinhas posto este link, val
https://www.rtp.pt/noticias/pais/lider-do-pcp-diz-que-coligacao-em-lisboa-so-se-ps-fizer-ato-de-contricao_n1629986
mas depois comecei a ler e vi que era impossivel porque te estragava a narrativa.
quanto ao resto, para além da falta de cultura democrática que demonstras à saciedade, fica a pergunta se nos outros municipios em que ganhou a AD, o PSD ou o Chega também foi o PCP que não quis a coligação ou se foi o PS. pergunta aí na sede e informa-nos, por favor.
eu sei que devem estar todos bastante nervosos porque se lembram do PCF e do PASOK mas vê lá se arranjam um tempito pra te explicar.
Yo, o que é isso? Que raio de raciocínio sobre as coisas, sobre a política, sobre os interesses da sociedade no seu conjunto!
“O PCP deve fazer o que é melhor para o ps? E isso porquê?” – suas questões.
Não! Não, porra! Pois é claro que não!!!!!!!!!!
O PCP, o que DEVE, DEVE, DEVE, DEVE, DEVE, DEVE, FAZER!!!!!!!!!!!!!!!!, para justificar a sua existência, é pôr os interesses dos portugueses acima de tudo.
Neste caso, seria numa coligação com o PS. Foi os interesses das pessoas que o PCP deitou fora.
Resultado? A câmara ficou entregue, para usar uma expressão usada, às vezes, nesta caixa,
a um pobre coitado. Um merdas!!!! Onde é que está a dúvida?
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Mas o problema também esteve nisto:
1 – A senhora Leitão não seria, talvez, a melhor candidata.
2- Uma coligação com o BE significou atirar, definitivamente, a vitória pela porta fora. Este partido ´de uma merda!
(O PS sozinho talvez ganhasse. Muitos votantes do PC e desse BE de torquemadazitos votariam PS, mais certo com outro cabeça de lista- sei lá)
AH , Ah , ai Fernando , você não existe ! : é do interesses dos portugueses em bloco eleger a leitão? vá dar banho ao cão.
e o pcp é de esquerda , vai-se coligar a um partido ni por alma de quem ? do marx?
Yo, sim, do Marx. Do marxismo.
(não do marxismo-leninismo. Lenine cometeu erros que nunca mais acabaram, cujas consequências estão aí à vista de quem queira abrir os olhos. A via em 1917 não era a que defendeu, segundo as teorias de Marx. Os seus camaradas mais próximos diziam-lhe para não ir por ali)
Mas falemos do real. Do concreto. Da realidade concreta. Do nosso país.
Dos interesses, primeiro, IMEDIATOS, depois, dos relacionados com a deliciosa utopia.
Ai a porra!
Penélope, todas as eleições são imprevisíveis. Em 2022, o PS obteve a segunda maioria absoluta da sua história, sem ninguém a antecipar, pelo contrário. Três anos depois, o PS é a terceira força no Parlamento pela primeira vez na sua história, atrás de uma coisa fascistóide. Esta imprevisibilidade multiplica-se nas eleições autárquicas, como se viu com os resultados do Chega e noutros casos, inclusive com o PS a ganhar câmaras que eram do PSD há décadas. Donde, não sabemos o que iria acontecer caso o PCP estivesse coligado com o PS em Lisboa.
Todavia, sabemos que os votos contados para o PCP teriam dado a vitória à Viver Lisboa. E é muito mais previsível o cenário de esses votantes continuarem a votar no mesmo sentido com o PCP coligado do que estarem a mudar o seu voto ou a deixarem de votar. As especulações de que uma coligação com o PS diminuiria o voto do eleitorado comunista pede um argumentário complexo, quando não contraditório, que indicia estar a ser espelho de raciocínio motivado. Os números dos votos, e o passado autárquico e até comunitário, tornam muito mais previsível a expectativa de uma vitória de Alexandra Leitão com o apoio do PCP.
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Jota, exactissimamente.
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joão viegas, intuo que há uma qualquer ideia no teu comentário. Para ajudar a esse parto, vou indicar-te a passagem que tens de trabalhar melhor: “O que seria util, seria conhecer, se elas existem, as boas razões que impossibilitaram os outros membros, a começar pelo ps, de mostrar ao pcp que as razões da secessão eram mas, e que existiam melhores razões para ele entrar numa coligação.”
Pode ser que isto não queira dizer nada, como parece. Mas mesmo que se confirme esse diagnóstico, a frase tem mérito estético por ser um gongorismo.
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Lowlander, larga o vinho.
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se o pcp é muito importante para ti, preenche uma ficha de militante, caso venhas aqui colocar os nomes de todas essas pessoas que “nos outros municipios em que ganhou a AD, o PSD ou o Chega” estiveram envolvidas nos processos de decisão, poderei responder com rigor e gosto à tua importante questão.
adoro a tua sonsice, val. quanto mais disfarças e evitas responder ao essencial, mais mostras a fragilidade da tua narrativa.
se quiseres podes começar pelo porto, sintra, cascais, aveiro e beja. queres que envie os nomes de todas as pessoas envolvidas nas candidaturas? nas conversas e reuniões? numero de telefone, morada e contribuinte?
Há uma expressão popular, mais popular que o PCP, para este texto do volupi: bater em mortos. Cheios de complacência e ‘smugness’, do alto da sua superioridade xuxa – superioridade em votos, em militantes, em tachos, em subvenções – volupi e Penélope dão uns descontraídos pontapés ao cadáver comuna que insiste em levantar-se, como num mau filme de zombies, sempre que há eleições.
Sim, há dez anos meteram uma mola no nariz e abraçaram-se ao cadáver (e ao não menos odiado BE) para revogar a humilhante derrota para o PSD da austeridade e da Troika; mas isso foi diferente; isso já lá vai. Quanto menos se falar disso melhor. O PS governou e mamou como quis, o Bosta obteve a sua euroteta, tudo acabou bem. E, como esperado, PCP e BE só perderam com a Gerimbosta.
Era também de esperar que o PSD voltasse ao pote uns tempos, é assim a ‘alternância democrática’ desta partidocracia podre, mas a moral anda baixa no Largo dos Ratos: o chunga Chega cresceu e até utrapassou a sucata, o Pedro do Porsche confirmou-se um banana, o Carneiro é outro borrego, a leitoa Leitão perdeu Lisboa, Porto e Sintra também se foram… a coisa não está fácil, cheira a PASOK.
Que faz um cobarde quando leva no focinho? Bate em alguém mais fraco; se possível num morto. Gosto em particular desta passagem: “Naturalmente, estabilizada a democracia, quando os eleitores de imediato passaram a preferir ser governados ora pelo PS, ora pelo PSD, eles [PCP] sentiram-se roubados” – com o trauma do PCP pode o país bem; o problema é que o país foi também roubado.
Desde a “estabilização da democracia” que somos chulados, roubados e gozados pela escumalha PS-PSD e pelo seu apêndice azul-cueca. E agora está aí o centrão 2.0, o herdeiro da escumalha – o chunga Chega. A queda da esquerda, o tiro no pé woke, a crescente ignorância e contaminação de tudo pelo capitalismo tornam difícil ou impossível sair desta espiral. E foi o PS que nos deixou aqui.
Gongorismo é o teu post que explica que o pcp é estupido porque é sectario e sectario porque é estupido. Ja o era no tempo do Sampaio, ou não? Logo, o que falta compreender aqui é o que é que faltou, desta vez, para eles compreenderem o interesse que podiam ter encontrado na coligação. Mas ja sei o que vais dizer, faltou eles deixarem de ser estupidos (e sectarios). Ainda bem que o Sampaio procurou uma resposta um pouco mais inteligente na altura, e que graças a ela obteve um resultado diferente, como creio que sabes.
bem me parecia, faz isso. E rápido, para poderes ter as respostas por que anseias.
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joão viegas, mas tens alguma pista sobre esse assunto? Porque essa é a promessa de teres uma ideia no comentário.
Não. Uma coligação do PS com o PCP poderia diminuir os votos no próprio PS. Mas tudo são especulações, claro.
A minha grande deceção (deixou-me trucidado) nestas eleições, foi a derrota de Ana Mendes Godinho em Sintra. Gosto muito dela. São gostos.
Vejam só:
A coligação do PSD ganhou por 3551 votos.
A CDU obteve 7.537 votos.
Desde Abril que o PS, sempre que ganhou as eleições neste concelho, atribuiu pelouros importantíssimos ao PCP. Sempre! Sempre! E realizaram em conjunto, num concelho que em Abril mergulhou num caos, obra valorosa.
(A sua derrota deve-se também a uma desastrada campanha nas redes sociais. Estive para lhe enviar um email a alertá-la para a desgraça, mas não ligariam. Diariamente, mais que uma vez, despejavam vídeos, em que, frequentemente, mais parecia uma tontinha, maluquinha destravada, destruindo a sua personalidade, bastas vezes acompanhada das mesmas carantonhas, algumas delas muito conhecidas. Só vendo. É que só vendo. O responsável pela sua campanha nas redes sociais não tinha a mínima noção do que estava a fazer. Mas o PS está cheio de merda dessa)
Na maior freguesia do concelho, Algueirão-Mem Martins, o PS (e a Aninhas) perde por 203 votos. A CDU obteve 1 549 votos. Não ia em nada à bola do gajo que lá estava.
É só para reflexão.
Nos dias de hoje, com fascistas e nazis a ganharem poder, exige-se bom senso dos democratas e dos partidos que se declaram representantes do povo.
(De contrário, ……………………… – não escrevo – haja maneiras)
Penélope, como é que tal seria possível? Se os votos do PS já aconteciam apesar do BE, por maioria de razão – a memória de Jorge Sampaio e de António Costa em 2015 – seriam os mesmos (ou até mais!) com o PCP.
Bom, a pista consiste em tentar saber até que ponto se procurou definir um programa para Lisboa que pudesse satisfazer o PCP, que (de memoria) não propunha instalar um gulague na Musgueira nem re-baptizar o parque Eduardo VII com o nome de Putin. Mas ja sei que vais responder que a pista foi explorada até se compreender que eles são estupidos e sectarios, pelo que a ideia era gongorica (Gongora gostava de vinho?)…
Boas
a memória que retenho de antónio costa em 2015 é ter ficado na dúvida se avançava mesmo após todos os outros lideres partidários já lhe terem dito que o apoiavam.
a outra memória que fica de antónio costa é em 2019 e em 2023.
e agora na europa a apoiar israel.
memórias
joão viegas, ignoro tudo a respeito das negociações entre PS e PCP, à excepção de ter vindo a público que o PS ofereceu a João Ferreira o lugar de vice-presidente da autarquia.
Para além disto, tendo em conta a dimensão pragmática da gestão de uma câmara, não imagino que fosse impossível ao PCP fazer o que fez com Jorge Sampaio.
só pode afirmar que ignora tudo acerca das negociações entre PS e PCP, quem se recusa a enfrentar a realidade das DECLARAÇÕES PÚBLICAS de um dos intervenientes nessas negociações com uma lista de exigências, já aqui postadas anteriormente nesta mesma conversa:
https://www.rtp.pt/noticias/pais/lider-do-pcp-diz-que-coligacao-em-lisboa-so-se-ps-fizer-ato-de-contricao_n1629986
ah, e a respectiva ausência de PÚBLICA RESPOSTA acerca do mesmo assunto.
assim, claro, é tudo um mistério