Há coisas que não lembram ao diabo. Mas Miguel Relvas lembrou-se perfeitamente de um “clipping” de Silva Carvalho sobre a visita de George W. Bush ao México. Tão prontamente que, na primeira audição, o deu como exemplo de notícia inócua e desinteressante, igual a tantas outras com que lhe inundavam a caixa de mensagens contra sua vontade.
A notícia em si nada tem de grave nem de comprometedor para Miguel Relvas. Mas, o facto de se lembrar de ter recebido uma notícia de 2007 depois de ter afirmado ter travado conhecimento com Silva Carvalho apenas em 2010 suscita imediatamente algumas questões: por um lado, mostra que um “clipping” com esse teor lhe foi mesmo enviado, caso contrário não o mencionaria (não inventou em plena Comissão de Inquérito um acontecimento verídico relativo ao antigo presidente norte-americano). Por outro lado, passa automaticamente a ser legítimo perguntar, como era intenção da jornalista do Público, se a relação com Silva Carvalho afinal não data de bem antes de 2010. Se assim for, quereremos saber tudo, pois os últimos anos poderão ser revisitados e interpretados a uma luz bem diferente. Acresce que é quase inevitável pensarmos na ingenuidade de Sócrates ao querer ser generoso com os seus adversários: lembro-me que na EDP manteve Mexia, na Caixa, Faria de Oliveira, no Banco de Portugal e em plena guerra política substituiu Constâncio por Carlos Costa, na CMVM manteve Carlos Tavares e no SIED, pelos vistos, colocara uma pessoa que liderava uma equipa de colaboradores ao serviço (desde sempre ou a partir de uma dada altura) de Miguel Relvas e depois da Ongoing. Céus. Afinal a culpa é mesmo do Sócrates… Não leu devidamente os livros de John Le Carré.
Duas notas para destacar uns debates de ontem na televisão. Luís Delgado, na SIC-N, e Campos Ferreira, na RTP Informação, defenderam Relvas com unhas e dentes, Delgado perdendo completamente o sentido da objetividade por força da amizade com o ministro e Campos Ferreira vociferando no estúdio sem deixar falar mais ninguém, arriscando uma apoplexia no meio de mais um ataque de partidarite aguda. Contra a parcialidade de Luís Delgado, o jornalista Filipe Santos Costa manteve uma admirável segurança e clareza ao enumerar as contradições e omissões do ministro. Já antes, num outro canal, um outro jornalista, de que não me recordo o nome, chamara a atenção para o facto de Miguel Relvas ter ido, de imprevisto e com grande pressa, depor na Parlamento após o debate quinzenal, não por ter sido acometido por um ataque de transparência e disponibilidade, mas porque, simplesmente, a revista Visão sairia hoje com a notícia dos seus encontros com Silva Carvalho e convinha controlar os danos antes disso. Um berbicacho sem fim à vista para o Governo, politicamente nas mãos de Relvas.
Dependemos do bom jornalismo, o que arriscar dar provas de isenção, para esclarecer todo este caso, que suscita muitas interrogações. Entretanto, gostaria de saber se a investigação do Público ficou ou não suspensa após as ameaças de Miguel Relvas. Percebeu-se que a Direção exercia um grande controlo nesta matéria. A história da visita de Bush ao México tem mais importância do que possa parecer.
Tá tudo mais que na cara, mas na terra da gente “séria” agora não se podem tirar conclusões sem se “provar” tudo e mais um par de botas.
Nos tempos dos anteriores Governos, pelo contrário, tiravam-se conclusões DEFINITIVAS e crucificava-se qualquer governante na praça pública sem necessidade de provar nadinha de nada, e mesmo quando as “alegações” eram absolutamente mirabolantes!!!
É assim, na terra da gente “séria”. Caso para dizer: metam essa “seriedade” toda no cu!
Importante ver o trabalho do Provedor do Público
http://blogues.publico.pt/provedordoleitor/2012/05/27/verdade-e-verosimilhanca/
Para além do “clipping” o que trama o “facilitador” Relvas é o facto de ser, ele sim,
um mentiroso compulsivo como ficou provado na Comissão da A.R.!
Mais grave, é a cobertura que lhe dá o p. ministro que, já foi dizendo que não viu
o depoiamento prestado pelo seu ministro na Comissão…o que nos pode levar a
pensar que padece do mesmo mal e, vai assobiando para o lado!!!
“Dependemos do bom jornalismo, o que arriscar dar provas de isenção, para esclarecer todo este caso, que suscita muitas interrogações.”
Penélope, com esta singela frase, retiraste-me qualquer réstea de esperança que, por cqso, já não existia. Em geral ,os comentadores e blogers em geral esquecem-se de um pequeno pormenor que ultrapassa todo o conhecimeto acumulado nas respectivas áreas de especialização. Isto é Portugal. Portugal, capisce? as regras não se aplicam. è um povo de merda, já aqui disse mais de seis vezes. Contra um povo de merda não há jornalista nem comentador nem pensador que resista.(Quantos já se finaram a ltra contra o impossível?) Este povo é patológico, burro, estúpido e não consegue ligar as causas às consequências. E não me dá prazer nenhum dizer isto, antes uma grande agonia que vem da falta de esperança.
Edie: Ainda tenho uma ligeira esperança de que os jornalistas não debandem todos das redações e, se debandarem, que denunciem a censura a que estão sujeitos. Ainda tenho esperança, a tal que é a última a morrer.