Anteontem, num zaping lento, detive-me a ouvir um pequeno cantor angolano de grande sucesso. Pedrito do Bié era um menino pobre. Por ser franzino para a lavoura, partiu para Luanda à procura de trabalho. Mal teve contacto com uma guitarra de três cordas tornou-se músico. Passa agora uma mensagem positiva para as crianças do seu país, em espectáculos que canta com alegria e convicção.
Na conversa que se seguiu, Sofia Pinto Coelho convidava Bonga para comentar o fenómeno. Entre generalidades sobre a música angolana e os ritmos mais característicos, a entrevistadora procurou, repetidamente, obter do cantor declarações sobre o futuro do país e, sobretudo, o estado da nação e situação actuais. Bonga ia respondendo. O futuro teria que unir todas as facções que se tinham guerreado, o presente era a ponte entre o passado e o que se desejava para o país, falava da sua música e projectos próximos. Responder às perguntas, só pelo contorno.
Sobre a comparação da sua experiência com a dos meninos a crescer nas ruas do seu país retive este fragmento: Eu tive os velhos do meu tempo, da minha educação da rua. Que não precisavam de ser da família, para nos ensinarem os nossos provérbios, a nossa tradição, e também para nos repreenderem. Frisou a importância desta autoridade perdida.
Foi dele que hoje me lembrei, porque a derrota também se dança. Com uma lágrima no canto do olho.
(susana, estou descaradamente a apanhar uma boleia do teu post…)
z,
“ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal”… os tipos parece que nos ouviram! http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=321332
Que será que nos faz gostar de coisas tristes quando delas se faz arte?
olá Teresa, só agora vim aqui. Sim, estas coincidências blogocoisas são muito práticas, desde que não batamos com a pinha na cércea nem com uma shelob no caixote :-)
já estás a querer mexer na cércea? Quanto a Shelobs deixa-te estar sossegadinho que nem de falar gosto… e, cá para mim, não é novidade!
daniel, fazer arte das coisas tristes é mesmo uma forma de resolvermos a nossa tristeza e de nos relaccionarmos com ela, separando-a de nós.