Manuel María, poeta galego contemporâneo, termina assim a sua “Balada ós meus pequenos enemigos”:
Meu querido enemigo: agradecido estou
a túa incompreensión, ó teu pequeno odio
inofensivo, a tua língoa en miniatura,
ó teu cativo leite que non coalla:
así vas ben, tí descansas i eu tamén.
Dificilmente conseguimos alcançar a perfeição de oferecer a outra face a quem nos bate, mas o desprezo teria quase o mesmo efeito. O orgulho, porém, é muitas vezes mais forte que o nosso desejo de paz. Ou até nos apetecem mesmo algumas guerras, para provarmos que somos capazes de enfrentá-las ou de atiçá-las. No entanto, e à semelhança do que de outro modo disse o poeta galego, as palavras do ódio não são nunca proferidas por uma língua eloquente.
Muito, muito, muito bom :)
Como seria possivel aos teus colegas neste blogue meterem as cabeças de fora sem o buraco providencial da tua braguilha com éclair traiçoeiro? Fecha o buraco ao menor sinal de coalho ou requeijão nos leitinhos das suas eloquências. Não vale guilhotinar sem chorar depois.
Daniel, meu amigo:
Sempre em forma, pelo que vejo.
E oportuno, no que me diz respeito. Perdoarás mas hoje mesmo te vou citar, mai-lo teu galhego que sabe das coisas dos ódios.
Bom rapaz e respeitador que sou, citar-vos-ei, pressupuesto.
Boas linhas.
rvn
Ó RVN,
E se te dissessem que «galhego» e «pressupuesto» [por supuesto?] é tão estranho ao galego como é ao português?
Porque hás-de espanholar o que não o é, nem quer sê-lo?
Abraço na mesma.
fmv:
Começando pelo fim: provavelmente porque me soou bem aos dedos, em primeiro lugar. Coisas que a gente faz quando não está com a preocupação de ajeitar a gravata, que o tio culto está a olhar..
Mas, indo ao princípio, se me dissessem o que reza a tua pergunta, provavelmente pararia para pensar nas figuras tristes que faço de quando em vez, quando me atiro ás graças como gato a bofe sem olhar em volta. Matutada a coisa, escreveria finalmente umas linhas compostinhas e sem sal ao meu amigo Daniel e só despia a roupinha de ver-a-deus em casa, longe dos olhares da família.
Mas aí, querido amigo, teria perdido eu a oportunidade de aprender contigo e tu a oportunidade de constatar e corrigir a minha ignorância. O que, diga-se, empobreceria bastante esta nossa noite de sexta feira. Não achas?
Quanto aos abraços é pacífico: aceita também um dos fortes. Préçupuéstu.
rvn
Inês Leitão: muito, muito, muito obrigado.
Zapatairo: uma das diferenças entre os animais irracionais e os seres humanos é que aqueles não costumam voltar aos lugares de que não gostam. Por isso sei que não lerá esta minha resposta.
RVN e FMV: Este diálogo entre vocês foi mesmo a prova de que tenho alguma razão no meu pequeno texto.
Obrigado.
Daniel:
Espreita http://setevidascomoosgatos.blogspot.com/2007/10/ento-hoje-fazemos-o-qu.html
Eu avisei, não foi?
Lindo poema. Boa reflexão. Mas melhor assim:
Meu querido inimigo: agradecido estou
à tua incompreensão, ao teu pequeno ódio
inofensivo, à tua língua em miniatura,
ao teu cativo leite que não coalha:
assim vais bem, tu descansas e eu também
Perdeu-se o espírito, a alma, a intenção, o miolo, o fundamento, a língua, a música, o objetivo, a função galeg@s? Não, Manuel Maria também escreveu (e editou) assim:
TERNURA
Pouco importa que a ave da esperança
ou a faísca amarela do desejo
cruzem por nós como um salouco
para converter-se em névoa
ou sombra esvaída na lembrança.
O que de verdade importa,
amada e irrenunciável companheira,
é a chama delicada da ternura
coa que acendemos o lume
no que queimamos a monótona
tristura dos dias e onde arde,
serena e mansamente, a árvore
fiel e rumorosa da nossa própria vida.
«A Luz Ressuscitada» AGAL 1984 I.S.B.N. 84-398-2305-3
Boa tentativa de tradução, meu caro Vaga-Lume, mas com um mais que provável erro. Há dias eu disse ao FV que talvez voltássemos ao tema do Galego, por causa das influências no desenvolvimento da língua. É que duvido muito de que Manuel María tenha usado aquele “cativo” com o sentido que tem em Português. Tal como em Italiano (neste caso só há um significado), o primeiro significado de “cativo, em Galego, é “ruim”. Ora veja:
“cativo -a adx. 1. De mala calidade, que vale pouco ou non ten boas calidades. Unha froita cativa. Un escritor cativo. SIN. malo, ruín. É cativa, non é moi guapa. 2. Privado da liberdade, que foi feito prisioneiro. Estivo tres anos cativo nos alxubes do castelo. Tamén s. Pedían a liberdade dos cativos. SIN. preso. 3. fig. Sometido a unha paixón, ós encantos de alguén, etc. Cativo do amor dunha fermosa dama. // s. 4. Rapaz de pouca idade. Xogos de cativos. SIN. neno, pequeno, pícaro. CF. meniño.”
É por isso que eu defendo convicto que a dobragem em televisão e cinema é um dos maiores atentados que se podem fazer à cultura de um povo, qualquer povo. Sem beber na fonte não se conhece água pura. O mesmo assunto, meus amigos. Mesmo que possa parecer que não.
“Afinal o Coelho confessou que recebeu várias prendas do Américo: garrafões de 5 litros de Azeite de Estremoz. Já é um indício. Mais tarde irão chegar ao xadrez e ao apartamento!” R.I.A.P.A.
Alguns não vêem o mar nem desde o faro…