Coincidiu com a chegada ao poder da areté de Sócrates a queda da folha geracional. A geração que em 74 estava no fulgor vitalista, a virar para os trinta, trintões pujantes, e quarentões aí para as curvas e regaços, está agora nos 60, 70 e 80. Estão velhos, fartos, azedos. E por excelentes razões: o tempo não volta para trás. Porém, se voltasse, eles iriam repetir o que fizeram, o qual consistiu em encher a pança ― a própria, a da família e a dos amigos. Por isso, ao falarem do presente, da situação, dos que governam, eles limitam-se a imaginar que são todos iguais, que se faz agora o que eles fizeram antes. A única diferença é a de que neste tempo, por se verem acabados, permitem-se falar no assunto; enquanto nos 30 anos anteriores eram cobardes ou gulosos demais para denunciar fosse o que fosse. Há excepções? Inúmeras, mas essas quase que não aparecem na TV.
Na TV aparecem omnipresentes o Pacheco, o Crespo e o Medina. São três variações da caducidade, entre tantas outras, cada uma com encantos próprios. A mais espectacular é a do Medina. E a última edição dos Negócios da Semana fica como um Nec plus ultra.
Síntese do que o entrevistado disse:
– Os partidos são organizações que se dedicam ao assalto da riqueza pública, não servindo para mais nada.
– Portugal devia ter um Governo preenchido por figuras exclusivamente do círculo presidencial, as únicas que são honestas e competentes.
– As empresas e os bancos corrompem os Governos.
– Devia ser instituída a censura para evitar 80% das notícias.
– Em 3 meses é possível resolver o problema da economia nacional, desde que se chame um craque (Silva Lopes) para estudar o assunto.
– Em 3 meses é possível resolver o problema da corrupção, desde que se chamem três craques (Carlos Alexandre, João Palma, Carlos Anjos) para estudar o assunto.
– Sócrates está a enriquecer a economia espanhola porque, ao distribuir dinheiro em apoios sociais, leva os portugueses a fazerem compras no El Corte Inglés.
O que o Medina perora não são novidades, fazem parte do Piqueno Livro Laranja da decadência nacional. Da SEDES a publicistas como Rui Ramos e Joaquim Aguiar, passando pelos fogareiros, a direita ranhosa repete as suas máximas catastrofistas e delirantes. O que vão cozinhando em banho-maria é um frentismo sem tomates, para jornalista ver. E é neste pântano, de areias movediças, que o Presidente da República anda a pastar, rodeado por valentes guardiões da honestidade e competência. Eis o espectáculo da senilocracia.
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Para mais malhação no Medina
A questão da censura…. faz-me lembrar o inqualificável Salazar que:
– com uma mão ‘apontava’ -> está aqui uma arma… tu és homem para lutar até à morte pela Pátria…
– e ao mesmo tempo, com a outra mão ele ‘apontava’ -> há é verdade, tu não és homem para possuires a liberdade de dizeres aquilo que pensas…
A minha homenagem ao melhor jornalista económico da televisão portuguesa, que junta a sabedoria à isenção e à cortesia, José Gomes Ferreira. Foi tratado de «papagaio» por Merdina Carreira durante a entrevista de anteontem nos Negócios da Semana!
P.S.
—> A questão do endividamento… é uma questão pertinente! De facto, andam por muitos BANDALHOS cuja lógica é: vamos curtir… e quem vier a seguir que feche a porta (leia-se, quem vier a seguir que pague as dívidas que nós contraímos).
O diploma que o PR enviou para o Tribunal Constitucional e causou alguma celeuma, entre várias entidades não vejo qual o motivo. Uns dizem que é por tirar competência ao tribunal decisor. Não sabem que logo que o processo transite em julgado essas funções passam para o Tribunal de Execuções de Penas. (TEP) Se os juízes do TEP dizem que tem muito que fazer e até atrasam alguns pareceres de liberdade condicional, não percebo tal alarido. Vejo os sindicatos dos juízes todos apreensivos com esta situação, mas não os vejo com a mesma apreensão no não cumprimento dos prazos. Assim como vejo o Sr. PR, muito aflito, menosprezando e não confiando em todos os que fazem parte dos Conselhos Técnicos dos Estabecimentos Prisionais. Pessoas que devem merecer confiança, se a não merecem então mandem todos embora que ali não estão a fazer nada. Entre estes está o Director do Estabecimento, os Técnicos do Instituto de Reinserção Social, da Educação e Ensino e Chefia da Guarda. Ainda assim há o parecer do Director Geral dos Serviços Prisionais. Eu se fosse Director Geral ou de um E.P., punha o meu lugar ao dispor do Sr. PR. Se estes intervenientes tivessem atrás de si um sindicato não sei se PR não os temia como temeu o SMMP. Aqui também censuro o Sindicato Nacional Corpo da Guarda Prisional, por não tomar uma posição em defesa dos seus Chefes e seus Directores. Porque à mulher de César não basta ser séria. Assisti e, tomei parte de muitos Conselhos Técnicos, quer fossem com os juízes ou os chamados internos e sempre eram decididos por maioria. A maioria dos Directores dos E.Ps não merecia esta desconfiança. Pode o PR dizer que não é essa intenção mas que fica essa ideia e quem não se sente não é filho de boa gente. Vão analisar se todos os reclusos que beneficiaram desta regalia no tempo de Cavaco Silva, como primeiro-ministro, se não era assim que se procedia. Não sirvas a quem serviu e não peças a quem pediu.